terça-feira, 29 de maio de 2018

O verdadeiro Birdman é sergipano















Publicado originalmente no site Catraca Livre, em 09/03/2015 

O verdadeiro Birdman é sergipano

Por Heitor e Silvia Reali, do site Viramundo e Mundovirado

O cenário é real. Serra de Itabaiana, Sergipe. Ali, distante 50 quilômetros de Aracaju, aninha-se a casa do verdadeiro Birdman. Ele não é personagem de HQs, nem de seriados de TV. Não levita, não voa e nem tem músculos fortes, aliás é bem magrinho. Nunca ganhou o Oscar, mas merecia levar todos os prêmios. E mais, sabe tudo sobre as aves. Ele é José Percilio Costa.

A cena do nosso primeiro encontro com o birdman, oops, Percilio, é daquelas que fazem a gente pular umas 20 casinhas no jogo da vida.

Descrevo-a tal como a vivenciei: em um plano aberto para o máximo de paisagem, à nossa frente estavam as montanhas. Dependendo da luz que dançava entre elas, ora eram de um dourado tom sépia ora verde azulado. Em nossa direção caminhavam, em meio a uma vegetação rasteira de arbustos retorcidos por ventos secos, uma galinha pardacenta, um urubu e uma seriema. O trio compunha o inusitado séquito de um jovem magro que sorridente vinha nos receber.
Fazendo voos rasantes um imponente carcará sobrevoava sua cabeça. Quando me aproximei para cumprimentá-lo, zuuuuum ... abaixei rápido a cabeça, pois uma coruja surgiu do nada para me bicar.

"Curcur não faça isso", pediu ele com voz fanhosa, e a ave imediatamente se bandeou vigilante para uma estaca.

Não foi preciso esperar pela segunda imagem para perceber que estávamos num lugar incomum. É preciso cuidado para relatar as histórias de Percilio, 36, criador do Parque dos Falcões, onde a irrealidade não dá refresco.

Sua vida baseia-se no amor aos pássaros, no mérito em dedicar-se de corpo e alma ao seu ofício, e de segurar a barra, pois a ajuda dos órgãos oficiais é insuficiente.

A história do nosso birdman começa 30 anos atrás. Ele era um menino franzino, tinha problemas para se expressar, gaguejava, era fanho, e não se interessava pelos estudos. Só por passarinhos. Seu maior sonho era ter um falcão. Aos sete anos ganhou um ovo dessa ave e conseguiu convencer o irmão deixar que a galinha deste chocasse. Após 21 dias todos os pintinhos eclodiram, menos o tal ovo. Percílio implorou para que ficasse por mais alguns dias sob a galinha e após uma semana, no dia de seu aniversário, nascia na palma de sua mão, Tito, um falcão carcará. Nascia ali também uma grande amizade, parceria e união de almas.

"Tudo que aprendi foi com meu professor carcará. Tito (Polyborus plancus) me ensinou que ovos de falcões eclodem com 28 dias, que gafanhoto é ótimo para problemas digestivos, que a gordura do sapo é eficaz contra infecções, que a respiração boca a bico é necessária em casos extremos, que é possível fazer implantes de bicos e ossos, e que se as aves forem adestradas ainda jovens não mais se acasalam, pois seu parceiro passa a ser o treinador. Tito enfim me mostrou todos os segredos da arte da Falcoaria. A maior diferença é que em todas as falcoarias do mundo, sendo as mais famosas as orientais, as aves são condicionadas pela recompensa com alimento, enquanto eu troco a comida por carinho. Assim consigo em quinze dias o que outros treinadores só realizam em seis meses", relata Percilio.

Percilio e o biólogo amador Alexandre Correia cuidam do Parque dos Falcões que hoje abriga mais de 350 aves de diferentes espécies. O parque é local de acolhida de aves machucadas, abrigo e treinamento de aves de rapina para apresentação de voo livre, para defesa pessoal, controle de fauna em aeroportos ou companhia.

Conhecer José Percílio, Alexandre e os falcões Tito, Chorão, Xaraque, Pimpão, a seriema Lambreta, o urubu Romualdo, o socó-boi Nicinho, as corujas Curcur e Lucinha, o anu Virgolino, a galinha chiadeira Bronquite, comprada por pena e que chocou os ovos dos gaviões Dara, Dedé, Pimpão, Coragem, Jurubeba e Azuma, e o insólito Mutante, meio galinha-de-angola, meio pavão, foi como entrar em uma arca de Noé exclusiva de alados.

PARQUE DOS FALCÕES
Onde: Povoado Gandu II, BR-235, km 46, Sergipe
Horário: Todas as visitas devem ser previamente agendadas e ocorrem somente às 9h e às 14h
Tel.: (79) 9962-5457/9885-2522/9131-3496

Texto e imagens reproduzidos do site: catracalivre.com.br

Rio Sergipe, visto do município da Barra dos Coqueiros

Foto: Julio Cesar
Reproduzida do site: aguasdobrasil.org

Rio Sergipe, no município de Aracaju

Foto reproduzida do site: a8se.com/sergipe

Museu da Gente Sergipana, na Av. Ivo do Prado, em Aracaju

Foto reproduzida do site: viajandonoblog.com

Artista faz pintura em 3D na barragem de Lagarto...



Artista faz pintura em 3D na barragem de Lagarto em homenagem aos 138 anos do município Fotos: Lagarto Como Eu Vejo

Publicado originalmente no site Lagarto Como Eu Vejo, 18/04/2018

Artista faz pintura em 3D na barragem de Lagarto em homenagem aos 138 anos do município

A barragem de Lagarto foi o local escolhido por artista lagartense para fazer homenagem ao aniversário de Lagarto que completa na próxima sexta (20), 138 anos.

Quem for visitar a Barragem Dionísio de Araújo Machado, vai se deparar com uma pintura em 3D de um enorme lagarto em uma pedra. A pitura é uma homenagem do artista lagartense Gorgulho Aerografia para o aniversário de 138 anos de Lagarto comemorado no dia 20 de abril.

Em conversa com o Portal Lagarto Como eu Vejo, o artista contou que começou a fazer a pintura no último sábado (14) e terminou no dia seguinte pela manhã. Ele conta que o gasto com as tintas foi do seu próprio bolso e o único apoio que teve foi o de o dono de um bar vizinho que cedeu o uso da energia para ligar o equipamento.

“Agradeço a Jesus Cristo por ter me dado esse dom.”

“Vi que haviam duas pedras na barragem, um espaço bacana para realizar o trabalho. Tentei fazer uma coisa que pudesse beneficiar o ponto turístico que está abandonado” disse Gorgulho que está surpreso com a repercussão positiva da pintura.

Mais arte

Está nos planos de Gorgulho pintar a pedra que fica ao lado, ação que poderá ser executada antes do aniversário da cidade ou até mesmo no dia para que as pessoas possam acompanhar de perto o trabalho sendo executado. Seu projeto pessoal é continuar realizando ações como essa em outros pontos da cidade.

O telefone de contato de Gorgulho é (79) 99818-4767.

Texto e imagens reproduzidos do site: clicksergipe.com.br

sábado, 26 de maio de 2018

Vista aérea da Igreja N. Senhora da Boa Viagem, na Praia do Saco

Vista aérea da igrejinha Nossa Senhora da Boa Viagem, 
na Praia do Saco, município de Estância.
Foto reproduzida do Facebook/Lúcio Prado Dias.

Barcos Tototós, atracados no município de Barra dos Coqueiros

Foto reproduzida do site: anf1.com.br

Ponte Prefeito Godofredo Diniz sobre o Rio Poxim, em Aracaju

Foto reproduzida do site: fanf1.com.br

Dudu Cordelista fala sobre a sua trajetória de vida...



Publicado originalmente no site Rever Online, em 15 de setembro de 2015

Rever entrevista: Dudu Cordelista – I parte

Dudu Cordelista fala sobre a sua trajetória de vida, seu contato com a poesia e a música

Por Geilson Gomes e Rafa Aragão

Trocar ideia com Dudu Cordelista é muito gratificante. Amante do cordel, violeiro, contador de história e professor, ele transmite em suas histórias a música,  a rima e as marcas do nordeste: belo, resistente e criativo. Ele é o espinho e a flor do mandacaru. É a poesia das bodegas, dos saraus e das encruzilhadas. É a sonoridade da chuva caindo, do reio do baião e da viola. É os traços da terra seca, da cidade e do calo na mão.

Nesta primeira parte da entrevista, Dudu nos conta, com leveza, sobre sua infância, o encontro com o cordel, o seu amor por Luiz Gonzaga e as suas principais referências na música e na literatura.

REVER – Vamos começar falando sobre sua infância…

Dudu – Eu nasci em Aracaju, no bairro Siqueira Campos, no dia 4 de junho de 1986. Depois eu descobri que era no mesmo mês de Lampião.

A minha infância era de menino da cidade. Meu pai tinha uma bodega na avenida Maranhão com a Rio Grande do Norte. Fui criado nesse ambiente de menino de bairro. Brincava no muro Daleste na Rio Grande do Norte. Brincava nas ruas com os meninos. Só não gostava de futebol e bola de gude, tudo que tinha bola eu não gostava, mas todas as brincadeiras de correr eu gostava. Pega-pega, se esconder…

Eu era ruim de futebol. Ainda hoje não gosto de futebol. Não jogava bem e os meninos me deixavam de escanteio. Aí não adiantava ir pro jogo pra ficar sentado vendo.

A minha infância é importante na literatura de cordel, porque, às vezes vou buscar inspiração em algumas coisas da infância. Como meus pais tinham uma bodega, o fluxo de gente que entrava e que saia era grande. Isso impressiona um menino de 10 e 12 anos. Ele fica impressionado com determinadas figuras que entram no armazém e a forma como o bodegueiro interage com essas figuras. Tive muito contato com os velhos. Eu sempre conversava com as pessoas mais antigas. Gostava de escutar as histórias. Até aí, eu nunca tinha escutado falar de literatura de cordel. A literatura de cordel só foi aparecer na universidade.

Mas eu acho que já tinha, nesse momento, alguma coisa que serviria para a literatura de cordel e que ia me dar uma direção. Agora, nessa época aí já estava adoidado no forró. Foi uma tragédia. Os meninos aprendendo violão e tocando Legião Urbana – as coisas que os jovens escutavam lá no Siqueira Campos -, e eu aferrado por Luiz Gonzaga. Sofria muito com essas coisas. Botavam-me apelido na escola. Quando era guri, todo mundo querendo comprar um violão e eu querendo uma sanfona.

Luiz Gonzaga é uma paixão. Passei muito tempo com Luiz Gonzaga e não aceitava outra coisa..

REVER – Você escutava Luiz Gonzaga onde?

Dudu – Eu escutava no toca fita do Jipe do meu pai. O Jipe que ele usava pra pegar farinha e os pacotes de kiboa. Eu gurizinho, escutava no toca disco de casa, mas às vezes o toca disco estava ocupado, com o irmão ou mãe escutando outras coisas lá. Painho gostava de Nelson Gonçalves, minha mãe Reginaldo Rossi, os irmãos gostavam de reggae. O Luiz Gonzaga era mais no toca fita do jipe. Botava as fitas de Luiz Gonzaga e ficava escutando na garagem, no escuro, imaginando o que Luiz Gonzaga estava dizendo. Eu sou de ficar muito tempo namorando uma coisa. Namorei muito com Luiz Gonzaga. Agora, nos últimos anos, eu tenho escutado os outros forrozeiros que foram cobertos pela fama de Luiz Gonzaga. Escuto, muito distante mesmo, Trio Nordestino, Abdias dos Oitos baixos, Gerson Filho, Clemilda.

REVER – O que acha dos forrós modernos?

Dudu – Eu não gosto muito de falar disso. É uma questão de gosto. Eu gosto do pé-de-serra. Essas modernizações têm em todo canto. Tem na literatura de Cordel. Agora é preciso saber como que faz essa coisa. Voltando à literatura do Cordel. Tem gente quer modernizar a literatura de cordel. Afirmam que o cordel agora vai ser poesia de alta classe, que nem as outras, vamos tirar a métrica e a rima. Aí eu digo: pronto, agora acabou o cordel. Que modernização é essa? Se tirar os elementos da coisa, a coisa deixa de ser a coisa.

Fiz treze cordéis, de 2011 pra cá. Venho guardando meus trabalhos por 4 anos. Durante esse tempo venho pelejando pra imprimir. É uma dificuldade. Tem que ter gente pra fazer a capa, gente pra diagramar. Tem erro de português e volta e refaz, depois eu desgosto da história e deixo de lado.

REVER – Esses trabalhos são inéditos?

Dudu – Sim. Vai sair tudo junto e vai sair numa bolsinha chamada “Os cordéis da Gaveta”, porque passaram quatro anos engavetados. Fiz um prelúdio explicando algumas coisas. Coisas simples, como que faz um cordel.

O cordel tem quer rima, métrica e oração. A rima é para rimar pão com balão, com São João. A métrica é a quantidade de sílabas poéticas. E a oração é o sentido do cordel. Começar uma estrofe falando uma coisa e terminar falando a mesma coisa. Isso é importante. Cordel é a busca desse sentido, com a rima e a métrica. Uma estrofe plena de sentido.

Eu venho preocupado com a forma com que as pessoas recebem o cordel. Dizem que as crianças não gostam de cordel. Veja bem, se você for apresentar o tradicional para uma criança? Ela quer ver um negocio bonito. As letrinhas bem claras. Venho tentando buscar uma forma de apresentação dessa literatura mais bonita. Não quero dizer que eu estou querendo ser perfeccionista.

REVER – Mas um cuidado estético…

Dudu – Um cuidado estético! A geração atual é muito do visual. Meus alunos estão direto no celular. Eles não leem, mas veem. Atualmente a gente vê mais do que lê, né? E o cordel é ler. É li-te-ra-tu-ra. Feito pra ler.

Para apresentar o cordel para ler de qualquer jeito é meio difícil. Tenho tentado fazer isso. Aí tem toda dificuldade. Não desenho e não diagramo. Tem que mexer com um e com outro. Sem verba. Aí pede para um amigo. O amigo faz e não tem tempo de terminar e deixa pela metade. Pego essa metade e dou para outro amigo. O outro amigo faz uma parte. Ai fica um processo bem lento.

REVER – E o primeiro cordel?

Dudu – O primeiro cordel que escrevi foi “Superstição uma Zorra!”. Esses cordéis aqui (mostra uma leva de cordéis) já foram publicados. Não teve grande publicação. Cheguei a vender os cordéis na orla e em alguns eventos.

Já escrevi ‘Superstição uma Zorra’, ‘Pré-história e referência do Passado Milenar’, ‘O fim do Mundo’, um cordel de mote – ‘Para que tantas flores no jardim se eu não tenho quem eu quero bem’. ‘Bonita assim desse jeito igual a você ninguém’.

Tem um que é pensando em criança. ‘A morte do jacaré a vingança da bicharada’. ‘O cordel da solidão’. ‘A moça que virou um pé de cereja’, ‘A história de Tito Roberto’.

E tenho dois que foram feitos para ganhar dinheiro. Um é a historia de amor de um casal. Como eles se conheceram no São João, a moça queria que no casamento tivesse uma literatura de cordel contanto a história de amor do casal. E o outro é a saga do ex-ministro Carlos Ayres Britto, que estava sendo homenageado no congresso brasileiro de direito em Salvador. Eles contrataram esse trabalho e eu fiz. A gente faz pra ganhar um dinheiro.

REVER – O que você faz pra circular esses cordéis?

Dudu – Tenho recitado em saraus e para os amigos. Tenho colocado na internet algumas coisas, no facebook. Tenho feito mais cordel, mas estes trabalhos eu escrevo no meu caderno esperando um bom tempo…

Pensando nesse negócio de apresentar a literatura de cordel, tentei que criar uma marca. Porque tudo tem que marca né? Tem que ser um negocio visual. Aí criei a ‘Vem das Nuvens’. ‘Vem das Nuvens’ poesias. Cordéis dos ‘Vem das Nuvens’. O Vem das Nuvens existiu. Era um boi de carro. Meu avô tinha uma junta de boi e um desses bois, segundo meu pai, se chamava Vem das Nuvens. Ói que nome? Mas por quê Vem das Nuvens? Os outros tinham nomes normais… Eu me perguntava o por quê Vem das Nuvens? Aí, meu pai disse que ele nasceu meio azul. Eu disse boi Azul?    É, é raro nascer um boi parecendo a cor do céu. Aí, eu fiquei impressionado com isso. Sempre escutava essa história e ficava impressionado com isso.

Quando resolvi fazer a marca eu disse vou falar no Vem das Nuvens, porque também os violeiros dizem que a inspiração vem de cima. Se a poesia vem de cima, a poesia vem das nuvens. Pronto. ‘Vem das Nuvens Poesias’. Fiz essa marca na intenção de publicar os cordéis da gaveta.

REVER – Você falou que só conheceu a literatura na universidade. E as outras literaturas? O que você lia antes do cordel?

Dudu – Eu li muitos romances. Sempre li. Esse ano eu li as poesias de Manoel de Barros. Que é fantástica. Me lembra muito a literatura de cordel. O mote é uma sentença, “Quem castiga um inocente não tem deus no coração”. “Para que tantas flores no jardim se não tem a flor que quero bem”. “Mil vezes ficar solteiro do quer casar sem amor”. Tudo isso é mote, são sentenças, a gente vai construir a poesia em cima daquela sentença. Manoel de Barros tem muito isso. A memória de infância é muito presente em Manoel de Barros. Ele me ajudou muito a fazer algumas coisas sobre a minha infância.

Os Corumbas e a Rua de Siriri são dois romances que li.

Mas na infância uma leitura que marcou muito foi os Trabalhadores do Mar, de Victor Hugo, aquele escritor francês. Eu já li quatro vezes. Gostei muito.

Outro livro que me marcou muito, isso eu já estava na universidade, foi Os Sertões, de Euclides da Cunha. Todo mundo devia ler. O pessoal dizia pra mim: você tem que ler Os Sertões. Você escreve cordel e gosta de forró.

As primeiras páginas são um horror. Euclides da Cunha era engenheiro. A primeira parte é ele falando da rocha e a geologia. Ele usa os termos técnicos. Castiga nas primeiras páginas, mas depois dessa parte o livro fica muito gostoso. Os Sertões é dividido em três partes: a terra, o homem e a luta. Quando ele fala do homem e da luta. Fica muito bom de ler. Me marcou muito.

Eu também escutei muita coisa, às vezes escutar determinadas coisas é como se fosse ler determinadas coisas.

REVER – A própria música também né? A letra é uma literatura…

Dudu – Exatamente. O pessoal não liga muito para as letras. Escutei e li o Auto da Catingueira de Elomar e fiquei impressionado. Um negócio que estou escutando agora – Elomar. Por causa da construção das histórias. Eu fico imaginando as construções das histórias.

REVER – Como foi exatamente o contato que você teve com a literatura de cordel? Você escrevia antes de conhecer o cordel?

Dudu – Eu tentava escrever umas poesias. Eu acho que tenho algumas poesias feitas antes da literatura de cordel. Mas eu nunca me agradei delas e ninguém se agradava delas. A gente faz muita coisa que não presta pra fazer uma coisa que presta. E às vezes as pessoas não aprendem que aquele cara está errando pra caramba porque ele está querendo acertar. Mas eu não considero mais essas poesias.

O cordel eu conheci quando fui fazer a disciplina história de Sergipe na universidade. O professor passou um trabalho para entrevistar uma figura da cultura popular. Eu não sei se todo mundo sente isso. Mas, aqui, a gente pensa: entrevistar quem da cultura popular? Quem dança um samba de coco, um reisado? Onde que a gente acha? Eu fiquei nesse dilema.

O meu cumpadi, Diego Couto, me disse: “entreviste meu padrinho, Seu Pedro, escreve cordel”. Entrevistamos Seu Pedro para fazer esse trabalho simples da academia. Depois da entrevista ficamos conversando um tempão. Seu Pedro Amaro é mestre, porque ele entende determinadas coisas que a gente nem vê. Aí ele disse que eu deveria escrever um cordel. Escrevi ‘Superstição uma Zorra’, que não ficou bom e apresentei para ele. Ele olhou e disse: “Que coisa linda, que maravilha, um negócio desse é fantástico”. Se ele tá dizendo que prestou vou escrever o segundo. O segundo foi a mesma recepção, o terceiro também. Hoje eu vejo que não era lá essas coisas toda. Fui perguntar a Seu Pedro por que é que ele dizia que aquelas coisas prestavam, aí ele respondeu: “se eu dissesse que era ruim você parava de fazer e não continuava”. Olha, repare como são as coisas né? Ele pensou até nisso. Essas coisas a gente vai aprendendo.

Ele disse que quando eu fui fazer a entrevista eu não ria. Agora sou uma pessoa que ri. Eu sorrio. Ele estava falando da dureza da academia. Do peso acadêmico, da busca da ciência. E a poesia é essa coisa mais leve.

Texto e imagens reproduzidos do site: reveronline.com

Vista aérea da cidade de Aracaju, destaque para o Rio Poxim

Foto reproduzida do site: reveronline.com

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Embarcação naufragada do século XIX é encontrada...


Fotos: Divulgação/Ascom FPI-SE

Publicado originalmente no site do Cinform, em 23 de maio de 2018

Embarcação naufragada do século XIX é encontrada no rio São Francisco

Por Julia Freitas 

A equipe de mergulhadores da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) localizou os restos do naufrágio de uma canoa de tolda, provavelmente de meados do século XIX, e fragmentos de cerâmica de vários períodos históricos na terra indígena Xokó, em Porto da Folha.

“Viemos investigar pois desde a última FPI recolhemos relatos de que aqui havia um naufrágio, inclusive porque peças haviam sido retiradas do fundo do rio”, explica o arqueólogo e membro da equipe de mergulhadores da FPI Gilson Rambelli.

Segundo o arqueólogo Paulo Bava, muitas cerâmicas encontradas foram feitas pelos indígenas, mas para serem comercializadas. O arqueólogo considera os achados importantes para entender as modificações na produção cerâmica ao longo da história. “São peças que caíram ou foram jogadas no rio. Também existe a possibilidade de o rio ter mudado de curso e coberto ocupações ribeirinhas”, acrescenta Leandro Duran.

O Cacique Bá, da tribo Xokó, acompanhou os trabalhos dos arqueólogos na terra indígena e comentou a importância e a felicidade dos achados. “Essas descobertas são muito importantes para o nosso povo, pois só vieram enriquecer o nosso passado e a nossa história, já que são uma prova de que nossos antepassados viveram aqui”, enfatizou.

Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br

domingo, 20 de maio de 2018

Seu Juremo, figura folclórica de Porto da Folha


Publicado originalmente no site FAN F1, em 19/05/2018

Neto leva trio pé de serra a sepultamento para prestar última homenagem a avô

Por Célia Silva

Seu Juremo era figura folclórica de Porto da Folha, município no sertão sergipano, distante a 190 km de Aracaju. Foi dono do primeiro cabaré da cidade e era “doido” por forró. Não perdia um sequer, e dizia que era o melhor forrozeiro da região. Nascido no povoado Mocambo, comunidade quilombola em Porto da Folha, morreu aos 81 anos na quinta-feira, 17, vítima de AVC. Foi velado em casa, como manda a tradição no interior sergipano, com rezas e rituais católicos, mas no meio do cortejo fúnebre, na manhã da sexta, 18, a caminho do cemitério paroquial, o fole roncou do jeito que seu Juremo gostava.

“Foi uma surpresa. Ninguém esperava. O caixão, ao despontar na praça Matriz, o fole roncou e o trio pé de serra começou a tocar. Tocou por uma hora. O caixão foi posto embaixo da tenda armada, as pessoas dançaram e depois, o trio fez o cortejo, entrou no cemitério e tocou até o sepultamento. Foi muito bonito, porque era o que seu Juremo gostava. Foi uma forma que o neto encontrou para homenageá-lo “, contou ao Fan F1 o professor de Língua Portuguesa da rede estadual de Porto da Folha e estudioso das tradições do município, José Ailton Braga. O neto a qual ele se refere é Salmo Lucas, conhecido como Salminho. 

Seu Juremo não perdia um forró, nem um concurso de forró. E dizia que ganhava todos! E na maioria das vezes ganhava, não só pela maestria nos passos, mas também pela irreverência e popularidade na cidade. “Era uma pessoa muito popular”, disse o professor, e muitas vezes conquistava o título porque era muito extrovertido.

Primeiro cabaré – Além de irreverente e bem humorado, seu Juremo era boêmio. Na década de 80, criou o primeiro cabaré da cidade. Era na localidade Lagoa Salgada. O bordel fez sucesso na região, mas logo ele se apaixonou por uma moça que lavava roupas para a burguesia de Porto da Folha.

Dona Lila era moça de respeito. Casou-se, fechou o bordel e com ela teve cinco filhos. Mas a boêmia parece que estava no sangue de seu Juremo, e dona Lila, já falecida, não aguentou as farras e do marido e se separaram.

Vieram mais duas mulheres e outros 15 filhos – seu Juremo morreu jurando que teve 23 filhos e não os 20 que a família alega que ele tem. Os outros três, que ninguém nunca viu, morariam, segundo seu Juremo, em Alagoas.

O último filho de seu Juremo tem 12 anos, fruto do relacionamento com dona Luzinete, a esposa com quem ficou casado até os últimos dias de sua vida.

Cismado – Boêmio, irreverente, extrovertido, popular e cismado, como um bom sertanejo. O professor Ailton conta que seu Juremo, para complementar a renda de servidor público municipal aposentado (ele foi durante muitos anos, motorista de ambulância) vendia arroz-doce e sopa preparados por dona Luzinete num carrinho de mão pelas ruas da cidade. “As pessoas já conheciam ele, aí tiravam uma brincadeira, dizendo que estava doce ou salgado demais. Ele não gostava e cismava”, disse.

Seu Juremo morreu em casa, cercado da família. Foi sepultado ao som da música que gostava e com a alegria que sempre lhe acompanhou. Era amigo das ex-mulheres e os 20 filhos, todos eles, segundo o professor Ailton, se respeitam e se consideram irmãos. Deixou o legado de que da vida se leva a alegria e que “com mulher direita, mulher séria e de respeito, não se deve mexer nunca”, era o que ele sempre dizia, falou o professor.


Texto, imagem e vídeo reproduzidos dos sites: fanf1.com.br  e youtube.com

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Povoado Passagem (SE): Vila operária e Velho Chico

Árvores dividem mão e contramão em ruas ainda sem calçamento

 Casas branca e azul



 Tranquilidade no povoado

 Praça principal homenageia família Gonçalves

 Antigo cinema da comunidade

Igrejinhas com imagens de Portugal

 Soneca

 Varal colorido

 Telefonista da fábrica de tecidos, Edinéia da Silva

 Dona Luiza

 Comunicação e transporte

Fotos: Silvio Oliveira

Publicado originalmente no site da Infonet - Blog Silvio Oliveira, em 26/04/2018 

Povoado Passagem (SE): Vila operária e Velho Chico

Empreendedorismo social e visão de futuro

Por Silvio Oliveira *

A Vila Operária da Passagem fica situada no município de Neópolis (SE), a poucos 119km da capital Aracaju, às margens do rio São Francisco. Trata-se de um complexo residencial para os operários da fábrica de tecidos Peixoto Gonçalves & CIA LTDA, fundada em 1907, e que até hoje mantém tradições e regras próprias. Vale a pena fazer uma visita em busca dessas tradições, conversar com seus moradores e clicar as casas pintadas em branco e azul.

Cinema, igreja, salão social, clube de festas, campo de futebol, creche e outros serviços para ser ali um povoamento com serviços próprios e independente. Assim é a Vila Operária da Passagem, fruto do empreendedorismo e visão de futuro da família Peixoto, empresários alagoanos que além de construir o empreendimento em solo sergipano, em 1907, também empreenderam alguns dos patrimônios econômicos e sociais em municípios alagoanos, a exemplo do hotel São Francisco, em Penedo.

Seus mais de 900 moradores residentes em casinhas enfileiras pitadas de branco e com detalhares em azul, que remontam às cores do município e da fábrica, são funcionários, filhos, netos ou pais de operários da fábrica de tecidos Peixoto Gonçalves & CIA, até hoje em funcionamento.

A localidade não tem tradição nem infraestrutura a contento, turisticamente falando, mas as histórias e a arquitetura urbanística fazem como que a Vila Operária sejam um forte apelo para visitá-la.

Pertinho do rio São Francisco, localizada no município de Neópolis, à frente da histórica Penedo (AL) e ao lado da Prainha da Saúde e da cidade de Santana do São Francisco - polo e entreposto de artesanatos e objetos de barro - quem visita a Passagem parece que observa um povoado que parou no tempo.

Poucos moradores nas ruas, alguns deles sentados à porta de casa, animais pastando livremente, morador tirando uma soneca em baixo da frondosa amendoeira. A igreja ao centro, e a partir dela, ruas que muitas nem chegaram a ganhar pavimentação, fazem do bucolismo local uma atração. Uma venda de produtos de cosméticos, bodega aos moldes de antigamente, árvores dividindo a mão dupla das ruas.

Descrever a Vila Operária da Paisagem é um modo de socializar um passado que Dona Luiza (84), mãe de 11 filhos e uma das moradoras mais antigas da localidade. Na casa 26 ela viu crescer todos os filhos para depois ganharem o mundo. Filha de pais operários da fábrica, também trabalhou lá e uma de suas filhas trabalha até hoje, o que garante que a casa continue a ser habitada pela família. “Só pode ser morador quem tem familiares na fábrica”, explica.

Ela lembra com muito respeito e saudosismo das festas, eventos e prédios construídos no povoado e diz que ali viverá sempre. “Nunca sairia daqui. Tenho filhos em São Paulo, em Aracaju, mas aqui é que viverei até o final”.

Quase que vizinha a ela mora a telefonista da fábrica, Edinéia da Silva, que para completar a rende, vende produtos de cosmético como consultora. Por conta disso, a casa vive sempre cheia de vizinhos em busca dos famosos produtos de beleza.

Dia de festa - Em dia de jogo, a Passagem recebe moradores de toda a região graças ao título que o pequeno estádio ostenta em ser o melhor de todo o Baixo São Francisco. As arquibancadas ficam pequenas e o vilarejo em festa, bem como em dias de Desfile Cívico, aniversário da fábrica e festas santas em homenagem ao padroeiro ...

Conta o estudioso do Baixo São Francisco, Luiz (Lulinha) que todas as imagens sacras da igreja  são portuguesas trazidas pelo engenheiro da família Peixoto que arquitetou a vila. De grande beleza e com respeito que merece a construção secular, a igreja é também o centro social onde acontecem, com orgulho dos moradores, os casamentos e batizados em dia de festa. Com festa ou sem festa, a tranquilidade da Vila Operária da Passagem, com suas casinhas brancas e janelas azuis, são um forte apelo para que o turismo aporte o quanto antes por ali. Vale a pena conhecê-la.

Dicas de viagem

> Caso queira se hospedar-se na região, a dica é o Privê Rio Belo localizado a 7km depois de Neópolis, no sentido Betume. Há uma placa indicado a esquerda o estabelecimento. As diárias com café da manhã para duas pessoas variam de R$ 200 a R$ 400, a depender se é chalé completo acoplado para duas pessoas ou para cinco pessoas. As reservas podem ser feitas diretamente no site do estabelecimento  http://priveriobelo.com.br/ ou através dos telefones (+55 79) 99902 0005 / 99972 3925 / (82) 98176-9004 priveriobelo@gmail.com.

> É permitido ao hóspede levar sua própria bebida e comida, a ser consumida nas instalações dos chalés.

> Há passeios no catamarã Olímpio Tour até a prainha Rio Belo e panorâmica pelas cidades ribeirinhas partindo do Privê com, no mínimo, 20 tripulantes e custa R$ 50. Há também a opção de só realizar o passeio até a praia ao custo de R$ 30. A consumação é a parte e dispõe de um cardápio com um bom custo/ benefício, a exemplo de refrigerantes e cervejas no valor de R$ 4 e pratos que variam de R$ 5 a R$ 20.

> Também é oferecido uma lancha para, no máximo, dez pessoas, alugada por R$ 1200 e que vai até a foz do São Francisco. É permitido o turista levar sua própria bebida.

> O passeio pode ser consultado através dos telefones 79 99823 -9662. Grupos terão valores e negociações especiais.

> Não deixe de conhecer também alguns atrativos da sede municipal, em Neópolis, como as Igrejas de Nossa Senhora do Rosário e de Santo Antônio, localizadas na praça central, a casa onde Maurício de Nassau morou por três meses e o mirante de Padre Cícero, onde se tem uma vista privilegiada da região do rio São Francisco com panorâmica da Vila Operária.

> Há também passeios terrestres para as praias fluviais de Piaçabuçu (AL), Foz do São Francisco por Brejo Grande (SE), city tour por Neópolis e Santana do São Francisco (SE). Consultar a recepção do Privê.

Gastroterapia

Surubim em posta do Privê Rio Belo

Ensopado de carneiro

Catadinho de charque

Guisado de carneiro ou escondidinho de charque? Um café da manhã para dar sustança e se energizar para conhecer o dia a dia dos ribeirinhos no Baixo São Francisco. Mas se preferir, gentilmente a equipe do Privê disponibiliza tapioquinhas de queijo coalho, cuscuz de milho feito na hora, bolos, pães e sucos. Na hora do almoço, não titubeie em solicitar o cardápio e escolha os frutos do São Francisco como ingredientes. Afinal, estar ao seu leito e não degustá-los em todos os seus sentidos é como ir à Bahia e não desfrutar das comidinhas baianas. A dica é o robalo ao camarão ou o surubim ao camarão, um dos carros-chefes da cozinha Riobelense, mas também há o salmão com ervas, entre outros pratos que podem ser individuais ou para até três pessoas.

O ensopado do robalo com camarão acompanha a farofinha d’água são-franciscana, com molho vinagrete, arroz e, se preferir, solicite outros acompanhamentos. Com gosto apurado dos temperos verdes e do coco, o ensopado pode ser pedido sem pestanejar. Há também uma carta de sobremesas que não deve ser desprezada como o pudim de coco com frutas da terra e a mousse de maracujá com geleia.

*Viagem realizada a convite do Privê Rio Belo e Catamarã Olímpio Tour

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* Silvio Oliveira - Jornalista, especialista em Gestão da Comunicação e responsável pela fan page Tô no Mundo. Escreve sobre Turismo para o Portal Infonet desde 2009. Atuou em jornais, a exemplo do Correio de Sergipe e cadernos especiais do Cinform, além do Portal F5 News. Passou por Assessorias de Comunicação e Agências de Notícias do Governo de Sergipe, Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão de Sergipe/ Projeto Mar de Sergipe e Alagoas e Prefeitura de Aracaju.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/silviooliveira