Passarela sobre o lago que já foi ponto de encontro de
famílias,
casais e crianças no Centro de Aracaju
Foto: Lucas Honorato
Publicado originalmente no site MEDIUM, em 25 de setembro de 2019
As luzes antigas apagam e ascendem às memórias e fotografias
Por Lucas Honorato
Casas, praças, parques e sorveterias. Hotéis e rodoviária.
Todas essas construções juntas criavam o cenário de imponência e importância
social que a Região Central de Aracaju possuiu outrora
Publicado originalmente em 20.11.17 na 56ª edição do Jornal
Contexto
O local que respirava a multiplicidade de significados,
passou por processos de ressignificação que o restringiu a poucas atividades, o
fazendo perder a importância e o brilho que teve por anos. Os momentos que ali
aconteceram cristalizaram-se na memória de quem vivenciou aquela época,
enquanto que para os mais novos, as fotografias encantam e alimentam o
imaginário. Em comum, a imagem do abandono cultural e monumental que todas as
gerações veem.
Há 162 anos Aracaju foi elevada à categoria de cidade e
recebeu o título de capital. O projeto foi apresentado em 17 de março de 1855,
pelo então presidente da província, Inácio Joaquim Barbosa. Com a construção da
nova capital, por meio do projeto realizado pelo engenheiro militar Sebastião
José Basílio Pirro, começava a ser desenhados as ruas e quarteirões que mais
tarde seriam os endereços em que residiu a vida áurea do Centro.
O conjunto de elementos que davam o tom e as cores da
movimentação das pessoas pela região central à época era composto pelas praças
General Valadão, a leste, e Fausto Cardoso, a oeste, interligadas
principalmente pela Rua João Pessoa e também pela Rua da Frente, também
conhecida atualmente como Avenida Ivo do Prado. Ao fundo da Fausto Cardoso, a
Praça Olímpio Campos, conhecida também como Parque Teófilo Dantas. Ao longo do
tempo, encontravam-se diante dessas localizações os prédios da administração
pública, residências, catedral, lojas, sorveterias e hotéis.
Fernando Soutelo, membro e ex-presidente do Conselho
Estadual de Cultura, descreve como as famílias do início do século passado
aproveitavam o tempo livre quando chegavam os finais de semana. “No dia de
Domingo, as pessoas iam assistir à Missa, em seguida, atravessavam para a Praça
Fausto Cardoso. Alguns iam para as sorveterias, davam uma volta na praça e, em
seguida, se andava pelo Centro da cidade, pela Rua João Pessoa, olhando as
vitrines. Ao final, quem queria ficar, ia para as sessões de cinema”,
caracterizou.
Os passeios do domingo simbolizavam a união de famílias,
reunião de amigos e também o romantismo dos casais que por ali se formaram
dentre aqueles dias. Além disso, representava a convivência entre as diferentes
atividades que o Centro acolhia àquela época. Os órgãos públicos, as
residências, as praças e suas atrações, assim como o comércio. Mesmo após o
horário de enceramento das atividades das lojas, as vistosas vitrines bem
arrumadas continuavam fascinando àqueles que por elas passavam.
O professor e reitor da Universidade Tiradentes, Jouberto
Uchôa rememora com deslumbre a preparação das vitrines e o encanto que exerciam
aos olhos de quem passeava pelas ruas, em principal, a Rua João Pessoa. “Você
chegava a se encantar com o movimento das pessoas. Eu fui empregado de uma loja
chamada ‘A Moda’, onde a gente no sábado voltava de tarde, depois do expediente
para arrumar as vitrines. Quando chegava o domingo, as lojas todas abriam suas
vitrines, mostrando os produtos novos que chegaram na empresa. Você tinha todo
o tipo de loja, de tecido, relojoaria, casa de móveis. Era uma noitada
inesquecível”, recordou.
Diferentemente do que é possível presenciar nos dias atuais,
Jouberto Uchôa destaca que a movimentação das pessoas pela Região Central de
Aracaju se mantinha por horas após o fechamento das lojas. “Quando chegava 9
horas, sumia todo mundo. Era uma tradição, era um costume de que as coisas iam
até as 9 horas da noite”, enfatizou.
“Ninguém ama o que não conhece” — Jouberto Uchôa
A importância da Rua João Pessoa
A Rua João Pessoa era uma das poucas vias da época e fazia a
ligação entre as principais praças que compunham o Centro da capital sergipana.
Como a nomenclatura do logradouro menciona, o que atualmente é uma grande
calçada acompanhando as diversas lojas ali dispostas, antes era realmente uma
rua, onde por ela transitaram bondes e os automóveis e distribuíam-se
residências, lojas, instituições bancárias e cinemas. Jouberto Uchôa assinala a
relevância do endereço diante do prestígio da localização e da multiplicidade
de atividades que por lá eram encontradas. “A Rua João Pessoa era o ponto
chique da sociedade”, realçou.
O traçado que dos mapas sobressaia e que respirava desde o
início da manhã até meados do final da noite, não restringia-se a apenas uma
única atividade e nem tampouco a ida ocasional das pessoas para solucionar
demandas junto a órgãos públicos ou realizar compras. Fernando Soutelo também
ressalta a importância que a Rua João Pessoa tinha nas atividades cotidianas
dos aracajuanos e visitantes. “Ali estavam os bancos, as grandes lojas
comerciais, alguns bares que marcaram [época] e os dois cinemas, o Palace e o
Rio Branco”, acentuou.
No local onde funcionou o Café Ponto Central, nas primeiras
décadas do século XX, foi construído o Edifício Mayara, inaugurado no início da
década de 50. A edificação que é um dos primeiros prédios de quatro a seis
andares da capital sergipana, continua em funcionamento até os dias atuais. O
prédio que pertenceu a João Hora de Oliveira, abrigava em seus andares consultórios
médicos, escritórios de advocacia e representações empresariais. Anos mais
tarde, o visionário empresário inaugurou uma das principais lojas da Rua João
Pessoa, no térreo do edifício. A intitulada ‘A Moda’ incluiu-se na vivência dos
tempos áureos do centro de Aracaju. Além de ter selecionado seus funcionários,
moças e rapazes, pela boa formação, ostentava em suas vitrines a variedade e as
novidades que chegavam.
“A gente tem coisas que magoam e ferem a gente” — Jouberto
Uchôa
As praças de trabalho, lazer, religiosidade e romance
As praças nomeadas como Fausto Cardoso, Olímpio Campos e
General Valadão formam o conjunto das três praças históricas da Região Central
de Aracaju. Em grupo ou singularmente, carregam consigo diversas significações
e estavam presentes no cotidiano de quem morava nas proximidades. Dentro das
linhas que as constituem ou no entorno, estiveram presentes ícones, materiais e
imateriais, que compunham o cenário das épocas de destaque do centro da cidade.
Separadas por um trecho da Rua Itabaianinha, encontram-se a oeste as duas
primeiras. Durante décadas do século passado, ambas foram os locais de passeio
e comemoração de datas festivas.
No Parque Teófilo Dantas, como também é conhecida a Praça
Olímpio Campos, encontra-se a Catedral, rodeada de árvores e um gramado que se
destaca pelo verde. Mas, diferente de décadas atrás. Entre coretos,
restaurantes e sorveterias, como a Yara e a Cinelândia, passeavam as famílias e
grupos de amigos se encontravam. Ali, ainda havia mais um ponto especial, a
região dos lagos e a ponte que há entre eles, local onde moças e rapazes se
conheciam, conversavam e começavam a namorar. “Tinha um lago, local onde os
namorados iam para lá. Era um negócio lindo”, Jouberto Uchôa relembrou com
fascínio.
Jouberto Uchôa também destaca que o Parque era o local onde
as famílias se reuniam para a celebração e comemoração de datas importantes e
das festas típicas. Durante as festividades, o espaço recebia apresentação de
bandas e grupos folclóricos, brinquedos como o Carrossel do Tobias e bancas
para venda de comidas. “Nós tínhamos a Praça Olímpio Campos, que a gente chama
‘o Parque’, onde tem a Catedral. Lá tinha os acontecimentos principais, as
festas de São João e o Natal. As famílias colocavam seus bancos e ficavam assistindo
o desfile das pessoas passeando durante o evento”, caracterizou.
O Parque foi um dos principais endereços dos quais as
famílias da época frequentavam. Nos dias atuais, quem por ali passa consegue
apenas ver um pouco do que não foi destruído com a desconstrução do centro de
Aracaju. Fernando Soutelo explica que as grades que ainda estão presentes na
região do lago, que já não possui mais o brilho de outrora, ao fundo da
Catedral, já abrangeram uma maior parte do local, mas nem sempre estiveram ali.
“O parque foi construído sem as grades, foi gradeado quando Heráclito
[Rollemberg] fez uma reforma no anos 80, quando o Centro começa a apresentar
problemas. Almeida Lima quando foi prefeito tirou as grades”, expôs.
A Praça Fausto Cardoso, além de complemento dos passeios
noturnos e dominicais, com seus coretos e monumentos, como o Relógio de Quatro
Faces, em que era possível visualizar a hora certa de várias direções, tinha o
entorno sediado por palácios e órgãos da administração pública da cidade e do
estado. Jouberto Uchôa aponta a participação pública das pessoas na vida
política local ao assistir as sessões e pronunciamentos realizados naquelas
construções. “Na Praça Fausto Cardoso se situava o Palácio do Governo, se
instalava lá a Assembleia Legislativa, para onde naquela época, os debates eram
tão nobres e tão belos que os estudantes vinham das escolas e subiam para
sentar na arquibancada para assistir os debates de nomes consagrados como
Seixas Dórea, Pedro Barreto, Barreto Filho. Homens que marcaram a história de
Sergipe na política”, enfatizou.
A Praça General Valadão, considerado como o marco zero da
capital sergipana, localizada a leste da Região Central de Aracaju, apresentou
significativas mudanças em seu entorno, ao longo de sua existência. O local já
foi conhecido como Praça da Cadeia, em alusão a Cadeia Pública que existiu até
meados das duas primeiras décadas do século passado. Após a desativação, cedeu
espaço para o Palácio Serigy. Também com frente à praça, estava um dos
primeiros prédios da Alfândega e o Quartel do Exército, que mais tarde deu
espaço para um dos principais hotéis que a capital sergipana já teve, o Hotel
Palace.
Telas que completavam o passeio
A Região Central de Aracaju está repleta de histórias que
caberiam em inúmeros quadros de vários rolos de filmes, para serem exibidos em
grandes telas. Os cinemas estavam distribuídos por diversas partes do centro da
capital sergipana. Eles complementavam o brilho daquela época e completavam os
passeios noturnos.
Fernando Soutelo ilustra o cenário do circuito
cinematográfico aracajuano ao enumerar os cinemas presentes nas décadas de
prestígio do centro da cidade. “As Rua João Pessoa e Itabaianinha concentravam
a grande maioria dos cinemas de Aracaju. Você tinha na esquina da Travessa
Benjamin Constant com João Pessoa, o Cinema Palace, que é da segunda metade dos
anos 50. No outro trecho, o Rio Branco. Na Rua Itabaianinha tinha o Rex e mais
adiante, o Cinema Vitória. Na quarta quadra da Rua de Laranjeiras, você tinha o
Cinema Aracaju”, listou.
Dentre todos os cinemas, os principais eram o Cine Palace e
o Cine Rio Branco. O Palace se destacava pelos equipamentos novos e modernos,
tendo sido o primeiro a contar com ar condicionado em suas dependências. O Rio
Branco sobressaia por além de exibir filmes, também receber atrações nacionais
e internacionais, apresentações musicais e teatrais. “O Rio Branco não foi só
cinema, ele também tinha a função de teatro. Ali se apresentaram Bidu Sayão e
Procópio Ferreira, por exemplo”, contou Soutelo.
Após anos de maestria, assim como os filmes exibidos, a
história chegava ao fim. Mas, nesse caso, o desfecho não teve um final feliz.
Aos poucos, com o esvaziamento da Região Central de Aracaju, os cinemas de rua
foram encerrando suas atividades. Fernando Soutelo retrata e descreve em uma
palavra como foram os últimos minutos de atividade do Cine Palace. “Melancolia.
Eu assisti ao último filme que foi apresentado no Palace. Eu fui me despedir do
Palace. O cinema quase vazio. Ao fim do expediente, fechou a porta e já não
existia mais”, rememorou enfaticamente.
O último cinema de rua a encerrar as atividades na capital
sergipana foi o Cine Teatro Rio Branco. Em seus últimos anos de vida já não era
mais o mesmo e tinha mudado radicalmente seu público, deixava de exibir os
grandes clássicos do cinema para exibir filmes de conteúdo pornográfico.
Chegadas e hospedagens na capital sergipana
Nos anos anteriores à década de 60, os embarques e
desembarques dos ônibus que faziam a ligação entre a capital sergipana e outras
cidades, do interior e também de outros estados, não tinham um local com
estrutura para receber aqueles que chegavam por meio desse transporte.
Quem passa pela Avenida Ivo do Prado, no trecho que compõem
o centro, atualmente se depara com um grande fluxo de carros e de inúmeras
linhas de ônibus vindas dos mais variados lugares das quatro cidades que
compõem a Região Metropolitana. Muita gente sequer pode imaginar, mas esse
cenário atual faz uma analogia ao que se passou por aquela região. Fernando
Soutelo conta que antes da construção da Rodoviária o ponto de chegada e
partida dos ônibus à Aracaju ficava naquelas imediações. “Até então, os ônibus
que vinham do interior ficavam na Rua da Frente, as pessoas ficavam ao tempo.
Quando eu vim fazer meu curso de preparação ao exame de admissão em 1960, eu
ainda desci na Rua da Frente, de ônibus, e embarquei para Santa Luzia do
Intanhi, também na Rua da Frente”, relembrou.
Somente a partir do final de março de 1962, era inaugurado o
Terminal Rodoviário Luiz Garcia. As obras iniciadas no governo de Leandro
Maciel foram concluídas na gestão seguinte, que dá nome ao local. O prédio além
de organizar o fluxo dos ônibus, foi construído seguindo linhas arquitetônicas
de Brasília e oferecendo comodidade e novos serviços aos passageiros. “Leandro
Maciel fez uma grande obra demolindo o Morro do Bonfim e construindo a
Rodoviária que é um marco da arquitetura moderna em Aracaju. Além de ter o
embarque, tinha aquelas pessoas que você pagava para carregar a sua mala. Os
carregadores. Como se fosse em um hotel”, Soutelo detalhou.
Ao mencionar embarques e desembarques, adentra-se nos
hotéis. Na década de 30, a capital sergipana recebia aquele que foi considerado
seu primeiro hotel de alto padrão. Tendo passado por duas localizações na
Região Central, teve como a principal a Rua João Pessoa, próximo à Praça
General Valadão, onde hoje está situado o Edifício Cidade de Aracaju. “O Marosi
foi o primeiro hotel cinco estrelas daqui. Era o que recebia toda a sociedade.
Mas, com o tempo o hotel foi decaindo”, comenta Uchôa.
O Hotel Marosi encerrou as atividades em 1965. Além do
proprietário do local ter solicitado a entrega do espaço, também já estava em
funcionamento o imponente Hotel Palace, inaugurado em 1962 e localizado em
frente à Praça General Valadão, ao lado do Palácio Serigy, onde por alguns anos
funcionou a Rádio Difusora de Sergipe, em que diversos artistas se
apresentaram.
Jouberto Uchôa destaca com apreço a arquitetura e a
importância que o Palace teve diante da sociedade sergipana. “O Hotel Palace
foi feito a capricho. Além da hospedagem para quem visitava Aracaju, você tinha
os grandes acontecimentos sociais. Como tinha o Dia do Rotary, onde tinha as
reuniões almoço e jantar”, declara com empatia.
Soutelo complementa elencando algumas das personalidades que
se hospedaram no Hotel Palace. “Eram pessoas que chegavam a Aracaju, eram
executivos e pessoas encaminhadas pelo Governo do Estado. O presidente Médici,
ministros de estado, embaixadores e autoridades militares. Os artistas e
famosos, como Ronnie Von, Jorge Amado e times de futebol. Era o único hotel com
categoria para receber essas pessoas”, listou detalhadamente.
O Hotel Palace entrou em decadência no início da década de
90. Ao encerrar as atividades, seu restaurante ainda continuou de portas
abertas por algum tempo, assim como Fernando Soutelo relembra a partir da
própria vivência a notoriedade que tinha o restaurante localizado no terceiro
andar. “Em torno de 92 e 93 já não era o mesmo hotel. Embora o restaurante
ainda fosse o melhor de Aracaju naquela época. Eu cansei de aos sábados, descer
de casa à noite, passar em frente ao antigo Cinema Rio Branco para tomar a sopa
de aspargo que era servida no Hotel Palace”, enfatizou.
A perda da significação histórica e a queda das paredes
A Região Central de Aracaju perdeu a multiplicidade de
tradições e atividades que traziam vida, durante o dia, a noite e aos finais de
semana. Mesmo assim, algumas construções e monumentos recuperados colaboram
para uma tentativa de recuperação da importância que o Centro da capital
sergipana possuiu décadas atrás. Entre as lojas populares que ocuparam todos
aqueles espaços da Rua João Pessoa e de localidades ao entorno, praças, prédios
e monumentos históricos tentam guardar as memórias dos tempos áureos da região.
Do ponto de vista material, por mais que para muitos as
construções históricas que ainda resistem na localidade pareçam um retrato fiel
do passado da capital sergipana, Fernando Soutelo cita que diversas dessas
edificações não possuem as mesmas características de quando foram construídos,
mesmo durante os tempos áureos do centro de Aracaju, e que não são muitos os
que conservam a forma original. “São prédios que foram remodelados. Foram
concebidos sobre uma determinada forma e a partir da mudança de gosto artístico
do momento eles foram modificados. Os prédios foram sendo construídos e
reconstruídos. Só os mais modernos não foram alterados. Por exemplo, o edifício
Walter Franco mantém a forma de como surgiu, mas internamente sofreu
modificações. O edifício São Carlos, que é vizinho, também não sofreu
transformações. O Edifício Mayara não sofreu modificações”, explicou.
A arquiteta e urbanista, Ana Libório, que já esteve à frente
da superintendência local do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), menciona que a perda dos significados que as construções da
região possuíam é um processo que começa com as próprias pessoas. “Tenho
registrado isso direto. Primeiro, que as pessoas continuam modernizando as
fachadas. Quebrando as antigas para colocar azulejos, pastilhas, granito e
também destroem a nossa Aracaju. Também não estão conseguindo nem alugar e nem
vender as casas. Então, estão ficando abandonadas. Muitas delas têm tido as
janelas retiradas, colocado fechamento de alvenaria e depois o telhado vai
caindo. Depois quando vemos sobra apenas a carcaça”, lamentou.
Ana Libório também argumenta que a administração pública tem
responsabilidade nesse processo. “É uma política de estado. Primeiro foram
tiradas as repartições. A universidade foi para o campus. A construção dos
Centros Administrativos, o judiciário foi saindo. Quando você esvazia o centro,
começa a entrar em decadência. Ai as pessoas acham que entrou em decadência
porque é antigo. E não é nada disso. Para a gente fazer preservação precisa ser
usado. Precisa abrir as janelas. Tudo o que fica fechado, em pouco tempo entra
em processo de arruinamento”, declarou.
Com o processo de descaracterização da Região Central de
Aracaju foi perdida a multiplicidade de atividades que por ali eram exercidas.
A imponência e a importância passaram a fazer parte das memórias e fotografias.
“Até os anos 70 foi marcante a tradição histórica. A partir dessa década, o
crescimento foi mudando. As coisas foram se modificando e perdemos aquele ponto
atrativo. Você tinha coisas que encantavam e hoje eu sinto falta. Nós perdemos
essas coisas por causa do crescimento, por causa do desenvolvimento da cidade.
Era uma cidade romântica”, Jouberto Uchôa rememora com saudosismo.
“O Centro durante a semana além de comércio e moradia,
também servia de lazer, passeio e contemplação”- Ana Libório
Por Lucas Honorato | colaborou Karla Fontes
Texto e imagem reproduzidos do site: medium.com