Publicado originalmente no site da ALESE, em 18 de novembro de 2019
Amor pela música mantém tradição de bandas em SE
Amor pela música mantém tradição de bandas em SE
Por Aldaci de Souza – Rede Alese
O amor pela música
levada ao público através de bandas filarmônicas e de liras espalhadas em quase
todos os municípios sergipanos tem feito com que maestros, maestrinas e músicos
de um modo geral resistam às constantes ameaças de extinção.
Alunos da Filarmônica de Itabaiana (Foto: Divulgação
Infonet)
Eles lutam para não deixar morrer as lembranças das
tradicionais retretas realizadas nos coretos das principais praças públicas de
Aracaju e de tantos outros municípios. Isso além de participação em solenidades
políticas e eventos religiosos.
Em Sergipe, as bandas filarmônicas ensinam crianças e
jovens, impactando a vida social das famílias, elevando a autoestima, o civismo
e o empoderamento social. Atuam na preservação da cultura nacional, favorecendo
a formação das bandas de músicas. Um exemplo de iniciação profissional de
ícones da música brasileira é o cantor Luiz Gonzaga, que foi corneteiro de uma
banda da Polícia Militar.
Expressão musical
Gilberto dos Santos: “Fundamental mostrarmos a história que
não foi contada”
Foto: Jadilson Simões
O diretor da Filarmônica Santa Terezinha, do município de
Japaratuba, Gilberto dos Santos,
destacou quando da participação na manhã desta segunda-feira, 18, na
audiência pública sobre o assunto, promovida no plenário da Assembleia
Legislativa de Sergipe (Alese), pelo deputado Dr. Samuel Carvalho (CIDADANIA),
a importância de conhecer a função que exercem as bandinhas de músicas do
interior.
“É fundamental mostrarmos um pouco da história que ainda não
foi contada. Essas bandas de música trazem no seu contexto, a liberdade de
expressão musical de uma comunidade”, diz.
Para ele, além de trazer no seu conteúdo social, aquilo que
é de mais importante na comunidade, que é tirar as crianças e os adolescentes
de uma situação de precariedade, muitas vezes em famílias desestruturadas, as
escolinhas de música realizadas pelos componentes das filarmônicas,
proporcionam a custo zero, o aprendizado da teoria e da prática instrumental.
“É preciso reconhecer na pujança musical que nós temos, de
tantos mestres e maestros regentes e dar uma pequena condição de soerguer e
manter na estrutura das nossas bandinhas do interior, o caráter que elas têm,
na filosofia de trazer crianças, adolescentes, jovens e adultos para o estudo
da percepção musical, para a instrumentação e daí termos também, mais
proprietários do saber da música e grandes instrumentistas aqui em Sergipe,
fomentando no Brasil e em outros países, o que aprenderam nas nossas bandinhas,
surgidas no século XIX aqui no estado”, complementa Gilberto dos Santos destacando
que desde muito jovem trabalha com essas bandinhas em Japaratuba.
Seguindo o pai
Ruana Brito: “Nossa filarmônica pode não chegar aos 100 anos
de fundação”
Foto: Júnior Matos
A maestrina Ruana Brito, contou que desde muito pequena
vivencia o trabalho das bandas filarmônicas. “Meu pai é maestro da Banda
Filarmônica Santo Antônio, de Propriá e eu já acompanho de muito tempo essa
luta diária, a exemplo de tirar do próprio bolso para manter, ir buscar os
músicos em casa, até mesmo em outras cidades para as apresentações”, relata.
Integrante da Filarmônica de Propriá, Ruana também exerce a
função de professora e fala sobre a importância de dar continuidade à
profissão. “O problema maior enfrentado por essas bandas é a falta de
professores; muitas vezes chegam emendas parlamentares para comprar
instrumentos, as pessoas se interessam para aprender, mas falta o dinheiro para
pagar os professores e tem músico que casa, sai da banda, ou se muda para outra
cidade e a banda vai se acabando. Nós precisamos de alunos para manter as
filarmônicas vivas”, alerta.
A jovem maestrina disse ainda que assim como a maioria dos
músicos que tocam em bandinhas, filarmônicas e liras, ela é apaixonada pelo que
faz.
“A nossa filarmônica tem 92 anos de existência e a nossa preocupação
é de que não consiga fazer 100 anos. Mesmo amando o que fazemos, é preciso
entender que os músicos não podem continuar trabalhando de graça, muitos ainda
fazem isso, mas temos as nossas vidas. Em Propriá, meu pai é o maestro, eu sou
maestrina e domino a parte de palhetas, mas não recebo por isso; recebo por ser
sub-regente. Eu ensino a parte de palhetas e não tem quem ensine a parte bocal;
a gente pega um aluno que domina essa parte para ensinar, porque se não for
assim, não teremos alunos novos”, entende.
Filarmônica de São Cristóvão (Foto: Divulgação Alfredo
Ribeiro)
Em Sergipe, essas bandas estão presentes desde o século XIX
em municípios como: Itabaiana e Japaratuba, Aquidabã, Arauá, Barra dos
Coqueiros, Boquim, Brejo Grande, Campo do Brito, Capela, Carmópolis,
Cristinápólis, Estância, Frei Paulo, Gararu, General Maynard, Indiaroba,
Itabaiana, Itabaianinha, Itaporanga D’Ajuda, Japaratuba, Lagarto, Laranjeiras,
Malhador, Maruim, Muribeca, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora do Socorro,
Pirambu, Poço Verde, Porto da Folha, Propriá, Riachão do Dantas, Riachuelo, Ribeirópolis,
Rosário do Catete, Salgado, Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão, Simão Dias e
Tobias Barreto.
Cada uma delas com a sua história, desde os tempos áureos de
apresentações em praças e períodos natalinos; até as dificuldades e desafios
atuais. “Eu deixo de fazer qualquer coisa para assistir a apresentação de uma
banda filarmônica. Já estou aguardando a Cantata de Natal que sempre acontece
em dezembro na Praça Fausto Cardoso, na porta da Escola do Legislativo. Eu
volto ao meu tempo de adolescente em Itabaiana”, contou d. Maria de Lourdes
Ribeiro, quando acompanhava a audiência na Alese, nesta segunda-feira.
Fotos: Jadilson Simões/Júnior Matos
Texto e imagens reproduzidos do site: al.se.leg.br
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