Publicado originalmente no site do Portal ALÔ NEWS, em 25 de
setembro de 2020
Barra dos Coqueiros: A cidade da intrínseca cultura
Por Hellen Tereza
Bem antes de os portugueses chegarem às terras que hoje
formam o Estado de Sergipe, os navegadores franceses já tinham fortes contatos
comerciais com os índios que aqui habitavam. Acredita-se que foram eles que
trouxeram para cá o coqueiro. Os primeiros registros da existência de
povoamento do território da antiga Ilha dos Coqueiros datam de 1590, quando da
conquista definitiva do território da Capitania de Sergipe d’El Rei.
O antigo município de Santa Luzia, que já foi um porto
seguro de navegadores franceses, só foi emancipado em 1952. A povoação se
desenvolveu envolta pelas embarcações que chegavam e partiam da ilha. Depois
que Aracaju aparece como capital, em 17 de março de 1855, a Ilha dos Coqueiros
é absorvida pela nova cidade. O início de progresso conquistado pelos moradores
da ilha ficou estagnado e tudo seguia para Aracaju, a capital. Mas 20 anos
depois, em 10 de maio de 1875, a povoação da ilha ganhou o status de freguesia
com o nome de Freguesia de Nossa Senhora dos Mares da Barra dos Coqueiros.
Em 1953 ocorre uma grande revisão do território de Sergipe.
Muitas freguesias e povoados já vinham brigando para se tornarem cidades
independentes. A Assembléia dos Deputados aprovou e o Governo sancionou a
criação de mais 19 municípios, dentre eles a Barra dos Coqueiros. Mais
precisamente no dia 25 de novembro de 1953, a Barra é elevada à condição de
cidade.
Mas a ilha que virou município demorou ainda para se tornar
efetivamente independente. Isso só aconteceu no final de 1954 quando 598
eleitores dos 1.105 inscritos votaram no primeiro prefeito da Barra dos
Coqueiros e nos cinco primeiros vereadores.
Hoje, a pequena e aconchegante cidade guarda o bucolismo de
tempos remotos, mas abre espaço para a modernidade já percebida em sua entrada
com a travessia da ponte Construtor João Alves, que permite uma bela vista do
Rio do Sal.
Mas a esteira a cultura da cidade não se limita a parâmetros
geográficos, mas, surge num e
noutro lugar como expressão de vida e interesses, interações
sociais, identificando um povo ou uma nação. A Barra dos Coqueiros pode ser
caracterizada como a cidade da cultura imaterial. Entende-se como patrimônio
cultural imaterial ou patrimônio cultural intangível uma categoria de
patrimônio cultural definida pela Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio
Cultural Imaterial e adotada pela UNESCO, em 2003. Abrange as expressões
culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua
ancestralidade, para as gerações futuras. São exemplos de patrimônio imaterial:
os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações, as festas e
danças populares, lendas, músicas, costumes e outras tradições.
Na Barra dos Coqueiros, participantes de grupos folclóricos,
canoeiros, catadoras de mangaba, pescadores, traduzem um modo de vida ainda
pouco conhecido. Além dos costumes do meio de vida vinculado ao rio e bens
culturais produzidos pela comunidade local, a beleza cênica da natureza fluvial
também contribui para o desenvolvimento do turismo. O pôr do sol da praça da matriz
e a vista de Aracaju, do outro lado do rio, também é um espetáculo para poucos.
Um traço marcante da cultura local são as catadoras de
mangaba, comunidades que se reconhecem como população tradicional, cuja
atividade consiste na prática do extrativismo e cultivo da mangaba em áreas de
restinga e tabuleiros costeiros. As comunidades tradicionais são portadoras de
culturas únicas voltadas à utilização sustentável dos recursos da
biodiversidade e os saberes destas comunidades locais podem ser considerados
bens integrantes do patrimônio cultural imaterial brasileiro.
É importante lembrar que conhecimentos tradicionais das
comunidades locais, dentre as quais as catadoras de mangaba, são bens culturais
imateriais que devem ser promovidos e protegidos pelo
Estado. Tais populações detém saberes que os identificam,
representando nicho cultural que
possui a capacidade de perpetuar suas crenças, valores e
formas de vida. De fato os saberes permeiam o universo cultural das populações
tradicionais.
Culinária
Os pratos típicos agradam ao mais exigente dos paladares.
Feitos à base de frutos do mar, o cardápio é rico em opções: moquecas, catados,
ensopados e fritadas. O carro-chefe, no entanto, é o caranguejo quebrado com
martelo apropriado.
Artesanato
O artesanato da Barra dos Coqueiros tem seu forte na
tendência hippie, o que se explica pelo fato de nos anos 70 e 80, a praia ter
sido reduto “bicho grilo”. As peças são confeccionadas com casco de coco,
palha, arame e metais. Bijuterias e objetos de decoração são feitos com muita
autenticidade.
Verão Sergipe
A praia da Atalaia Nova também é palco do Verão Sergipe, um
grande evento artístico, cultural e esportivo, que leva uma multidão de amantes
da boa música e da prática de esportes à areia da praia.
Tototó
As tototós são embarcações simples, construídas em madeira,
com cabine para seus passageiros, que viajam sentados, cuja principal função é
o transporte destes. Possuem cerca de três metros de largura e 15 metros de
comprimento e são batizadas com esse nome graças ao som característico emitido
por seu motor de popa. Muito tradicionais no uso, formato e estética, são
sempre avistadas na travessia de pessoas que cruzam as margens das cidades de
Aracaju e
Barra dos Coqueiros, fazendo parte da paisagem, memória e
identidade cultural da população do estuário do Rio Sergipe.
Santa Luzia
A festa de Santa Luzia, Padroeira do município, é um grande
evento religioso, que atrai milhares de fiéis de vários municípios do Estado.
Realizada no dia 13 de dezembro, é a festa cristã mais tradicional da cidade,
de modo que as comemorações têm início no começo do mês com as novenas e
missas, culminando com uma grande procissão.
Santa Luzia é conhecida como protetora dos olhos. Lúcia,
como se chamava na verdade Santa Luzia, nasceu em Siracusa, na Itália, em uma
família rica e cristã, no ano 283. Naquela época, o Império Romano não dava às
pessoas a liberdade de professar a fé em Cristo e a pena para quem o fizesse
era a morte. O pai de Lúcia morreu quando ela tinha cinco anos e ela foi criada
pela mãe.
O costume daquele tempo era que as famílias arranjavam o
casamento dos filhos e uma família procurou a mãe de Lúcia para que a jovem se
casassse com um pretendente. "Ela não quis se casar e disse que estava
prometida a Jesus. A mãe dela avisou à família do pretendente e ele, por
vingança, denunciou que ela era uma cristã". A partir daí começou o
martírio de Lúcia. O imperador Diocleciano mandou que a levassem a um
prostíbulo para que tirassem a virgindade dela. "Conta-se que dez soldados
tentaram tirar a virgindade dela, mas não conseguiram tamanha a força dela.
Depois ela foi jogada no fogo, mas permaneceu viva. Em seguida arrancaram-lhe
os olhos e diz a história que ela reapareceu com dois olhos perfeitos. Como
nada a atingia, por último, ela foi degolada. Ela morreu por não renegar a fé
em Cristo".
Texto e imagens reproduzidos do site: alonews.com.br