Créditos imagens: Foto1 - Lineu Lins (1992) e Foto2 - Sérgio
Andrade
Publicado originalmente no site F5 NEWS, em 20 de setembro de 2020
Revisitando o Mercado Municipal de Aracaju aos 20 anos de
sua reforma
Cores, sabores e sons nos envolvem na viagem pela cultura
nordestina dos mercados
Por Ana Libório*
E lá se vão exatos 20 anos do longínquo 2000 quando foram, enfim,
concluídas as obras de restauro dos Mercado Modelo Antônio Franco e Mercado
Auxiliar Thales Ferraz, complementando a intervenção urbana na área das
atividades do Mercado Municipal de Aracaju, pois que a construção do complexo
Mercado Novo Gina Franco e a traumática remoção dos feirantes, fora realizada
dois anos antes, em 1998. E o que mudou de lá pra cá?
Podemos dizer que a intervenção, apesar de eventuais problemas, foi altamente benéfica para a cidade. Em primeiro lugar, Aracaju redescobriu a sua história e o antigo cenário urbano se descortinou. Dois fatos nos marcaram na ocasião: os depoimentos dos mais idosos, que tiveram enfim a memória reavivada, e a redescoberta pelos mais jovens de ruas que jamais suspeitaram existir.
E a partir disso passamos a integrar as políticas de preservação, uma vez que Aracaju, cidade nova e sem passado colonial, nunca era incluída nos programas nacionais de conservação do patrimônio histórico. Desde então tivemos vários monumentos restaurados, como o Museu Palácio Olímpio Campos, o antigo Atheneuzinho funcionalizado para Museu da Gente Sergipana e, mais recentemente, a antiga Alfândega, onde funciona o Centro Cultural de Aracaju.
Em resumo, Aracaju apaixonou-se pela cidade de Aracaju, ganhou em autoestima e o nosso Mercado Municipal passou a ser nosso mais visitado cartão postal.
Com a desocupação e reestruturação urbana, através da demolição das construções que ocupavam ruas e calçadas, áreas foram redesenhadas para grandes concentrações e bolsões de estacionamento que, pela proximidade, servem também como estacionamento para a área do comércio formal totalmente reativada. Antes da obra, os imóveis estavam fechados em função da ocupação de ruas e calçadas.
Outra área remanescente de suma importância para a cidade foi a grande Praça de Eventos Hilton Gomes, criada entre os mercados e que, desde então, serve como palco para as grandes manifestações públicas e festas, a exemplo do Forró Caju que, qual o Pré Caju, introduziu Aracaju, mais uma vez, no calendário nacional dos grandes eventos.
Deste modo revisitando a obra, 20 anos depois de concluída, entendemos que as principais soluções pensadas no projeto se consolidaram e frutificaram sendo, hoje, um dos espaços mais movimentados e economicamente dinâmicos da cidade. O Mercado Municipal é hoje o mais importante shopping popular da cidade. Ali o aracajuano compra roupas, conserta sapatos e relógios, faz feira completa de frutas da estação, verduras, legumes e farinha. Compra ervas, beijus, tapiocas, castanha, queijos e todos os demais produtos típicos das feiras nordestinas em prédios construídos para esse fim, enquanto os turistas se perdem pelas lojas de artesanato de palha, cerâmicas e bordados. No final todos degustam a verdadeira culinária sergipana com carne do sol, macaxeira e pimenta, ao som de sanfoneiros como o famoso Zé Américo de Campo do Brito, que tem restaurante por lá.
Portanto, o objetivo principal do projeto de resgate da paisagem urbana do início do século XX, com a manutenção das funções de mercado como parte integrante do Centro comercial da capital, foi atingido. Porém, especialmente agora, depois do isolamento causado pela pandemia, já se evidencia aos poucos a volta da ocupação irregular, com um número crescente de camelôs, exatamente nas proximidades da Associação Comercial e Empresarial de Sergipe (Acese)..
Outro fator preocupante, também, é a necessidade de obras rotineiras de manutenção, apesar dos prédios estarem organizados internamente. E os Mercados antigos, Antônio Franco e Thales Ferraz, que estão sendo devagarinho descaracterizados com danos evidentes à obra, de certa forma recente em se tratando de investimento público de porte significativo. Esse processo é o pontapé inicial para a situação de caos e desordem urbana que um dia se instalou por ali.
Mas no geral o cheiro, cores, sabores e sons típicos das feiras nos envolvem naquela viagem pela cultura nordestina que só os mercados sabem ter.
A elaboração do projeto - e principalmente a implantação da obra - foi uma grande aventura, verdadeira epopeia, realizada a quatro mãos. Eu fui a porta-bandeira, contando com o talento de Gândara Jr, a experiência de Osiris Souza Rocha (in memoriam) e o perfeccionismo de Sheila Trope.
* É arquiteta urbanista, responsável pela reforma dos mercados centrais de Aracaju, obra realizada em 2000, nas gestões de João Augusto Gama na Prefeitura de Aracaju e de Albano Franco, no Governo de Sergipe.
Edição de texto: Monica Pinto
Texto e imagens reproduzidos do site: f5news.com.br
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