Praia do Atalaia: De mirante a cartão-postal
Por Sílvio Oliveira (blog Infonet)
Você sabia que o maior cartão-postal de Aracaju foi um pequeno vilarejo longe do centro da Capital e que lá estava instalado um mirante para avistar embarcações? A praia do Atalaia ou praia da Atalaia tem uma história bem interesse e é lá onde se concentra um dos principais polos de interesse turístico da capital e produto turístico de Sergipe. De mirante “Atalaia do Cotinguiba” a vilarejo de pescadores, de farol do Atalaia a região mais turística da cidade, o bairro Atalaia é um dos que mais cresce e se verticaliza na atualidade, possuindo bons restaurantes, rede hoteleira, agências de viagens e uma das orlas mais estruturadas do Brasil.
O Tô no Mundo faz um passeio pela origem do nome da praia e mostra como a construção da orla à beira-mar é considerada um dos principais indutores de turistas para Sergipe.
Monumentos, lagos, calçadões, aparelhos de ginástica e de lazer, melhor rede hoteleira do estado, nada tem a ver com a Atalaia de outrora. Conta a história que o topônimo (nome de um lugar) Atalaia remete a pessoa que ficava a postos em um mirante a observar as embarcações que entravam e saiam na denominada barra do rio Cotinguiba. Nos idos de 1848 um “atalaia” (homem) ficava de espreita, de guarda e de guarida em uma plataforma coberta, visualizando um local ainda ermo, sem atrações e com um mar que sem ele prever seria um dos principais atrativos da localidade. Daí o nome de mirante do “Atalaia do Cotinguiba”.
Em 1854, por necessidade de resguardar a segurança da localidade, o presidente da Província de Sergipe, Inácio Barbosa, remeteu ao Governo Geral uma planta com o orçamento para construção de um farol na foz e margem direita do rio Cotinguiba.
Em 1860, foi encomendada da Inglaterra uma lanterna e acessórios para serem colocados em uma torre de madeira que servia de sentinela no mirante do Atalaia do Cotinguiba. A lanterna foi instalada em 17 de janeiro de 1861, sendo inaugurada no dia 12 de outubro do mesmo ano.
Em 1881, a atalaia de “madeira pintada de preto” ameaçou ruir. O diretor de Faróis, capitão-tenente Pedro Benjamim Lima, solicitou a substituição por uma torre de cantaria ou alvenaria com 25 metros de altura. O pedido não foi atendido.
Em 27 de março de 1884, um incêndio consumiu o mirante de madeira. No mesmo ano foi providenciada uma torre provisória que funcionou até 1886, quando teve início a construção de uma torre metálica que receberia um aparelho luminoso, ambos (ferro e equipamentos) oriundos da França. A nova estrutura foi inaugurada no dia 7 de setembro de 1888, denominada de Farol da Atalaia, hoje fincado no bairro da Farolândia.
“O farol consistia numa torre metálica de forma troncônica sob esteios de rosca (sistema Mitchel), tendo na base a casa dos faroleiros e no cume um aparelho lenticular que utilizava o querosene como fonte de energia. A luz branca cintilante poderia ser vista a 17 milhas da costa em tempo claro”, conta os pesquisadores Amâncio Cardoso e de Francisco José Alves no texto “Memorial da Atalaia”.
Aos poucos, a região paradisíaca do final do século XIX transformava-se numa povoação de casas de palhas de pescadores, lavradores, colhedores de coco, vendedores de beijus das feiras da Aracaju de outrora, que atravessavam de barco o rio Poxim para chegar na região mais central.
É somente a partir da década de 1930 que a bucólica Atalaia se transforma em frequentado balneário, e muitos afortunados da época passaram a construir suas casas na localidade para veranear.
Com as mudanças econômicas e culturais das décadas de 50 e 60, além da considerada transformação social do hábito de tomar banho de mar na cura das enfermidades para somente banhar-se por lazer e diversão, a região litorânea passa a ser mais valorizada e frequentada. Essa mudança de hábito ocorria em todo o mundo, não somente na pequena atalaia de outrora; e o que antes eram pontos de convergência de cidadãos querendo a cura de seus males, transformava-se em um grande ponto de convergência de pessoas procurando a balneabilidade por lazer.
A praça Alcebíades Paes, localizada ao centro do povoado da Atalaia, atraiu habitantes nas primeiras décadas do século XX e infraestrutura para mantê-los não veraneando, mas morando na localidade. Nesse local, o governo de Sergipe construiu o Palácio de Veraneio projetado pelo arquiteto alemão Altanech, que se estabeleceu em Aracaju e construiu diversas casas, mudando a face do pequeno povoado e até da cidade de Aracaju.
Uma construção de uma ponte velha de madeira sobre o rio Poxim, que futuramente daria estrutura para a construção da ponte que é hoje, na região do Parque dos Cajueiros, encurtou as distâncias e favoreceu a elite econômica, que tinha transporte, a iniciar também o processo de povoamento do povoado para transfigura-lo como o bairro Atalaia.
Só em 1954 que o povoado Atalaia, de sob jurisdição de São Cristóvão, passa a pertencer a Aracaju. A estrada e a ponte aquecem cada vez mais o balneário de veranistas e logo o que era um povoado de pescadores se transforma em um bairro de Aracaju, com relativa infraestrutura urbana.
Nos anos 70 e 80, a expansão urbana se deu por conta da instalação do Tecarmo – Terminal Marítimo de Carmópolis, além dos conjuntos habitacionais Beira-Mar e Santa Tereza. O loteamento Aruana e a Coroa do Meio vieram depois e são marcos também para a habitação do bairro Atalaia. Em 1977, a construção da ponte Godofredo Diniz foi erguida cortando o rio Sergipe para encurtar a distância de chegada do Centro para a Atalaia por um novo bairro a surgir na época, o bairro Coroa do Meio.
Entre os finais do século XX e início do século XXI, a Atalaia movimenta a construção civil com o aporte de hotéis, restaurantes, reurbanização de ruas e construção da orla, hoje considerada a principal área pública de lazer, tanto de sergipanos quanto de turistas.
O mirante do Atalaia deu lugar a outros equipamentos: à região dos Lagos, os monumentos dos Descobridores do Brasil, Passarela do Caranguejo, além da urbanização mais proveniente por conta da zona de expansão de Aracaju, já que o povoado Atalaia iniciava na margem do rio Poxim e ia até a desembocadura do rio Vaza-Barris.
Do Oceanário do Tamar a hotéis estrelados, de restaurantes com cozinha criativa internacional à regional, a Atalaia passa de reduto de pescadores à atração turística de Sergipe. Eis um bom motivo para conhecê-la.
Fonte principal: “Memorial da Atalaia”, artigo publicado no Jornal da Cidade de autoria dos pesquisadores Amâncio Cardoso (professor dos cursos de Turismo do IFS e sócio do IHGS) e de Francisco José Alves (professor do Departamento de História da UFS e sócio do IHGS).
Fotos: Domínio público/Internet/acervo sergipeantigo.com.br - Atuais: Silvio Oliveira
Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br
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