domingo, 6 de julho de 2025

A história de Sergipe exposta nas gravuras de Rosa Faria

A Ponte do Imperador, em Aracaju, pelo olhar de Rosa Faria






Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 6 de julho de 2025

A história de Sergipe exposta nas gravuras de Rosa Faria

Um “pincel do tempo” capaz de gravar, em pratos, louças e azulejos, as mais lindas paisagens e histórias das terras e das gentes da nossa terra. Ele foi manejado com capricho e beleza por Rosa Moreira Faria, uma capelense que se consagrou como uma das maiores artistas plásticas de Sergipe. Em seus 70 anos de vida, e pouco mais de 50 de carreira, ela produziu mais de 5 mil obras, entre quadros, gravuras, louças, azulejos e fotografias, que retratavam os mais variados aspectos das cidades e da vida cotidiana no campo e nas cidades sergipanas.

“Rosa Faria ocupa um lugar singular nas artes sergipanas. Sua obra representa uma justaposição entre o físico e o onírico, uma expressão poética da realidade vivida e imaginada. Ela soube traduzir com sensibilidade a identidade e a memória do povo sergipano, conectando sua arte às raízes culturais e históricas do estado”, define a museóloga Sayonara Viana, diretora do Memorial de Sergipe Professor Jouberto Uchôa.

Nascida no dia 28 de abril de 1917, Rosa era filha de João Guimarães Faria, o “João da Luz”, um artista plástico bastante conhecido na cidade, e dona Arminda Moreira Faria. Desde criança, ela tomou gosto pela pintura e pelas artes, inspirando-se no pai e na avó materna, uma professora de ascendência portuguesa. Estudou o Magistério no Colégio Imaculada Conceição, em Capela, e passou um tempo trabalhando como professora em povoados do município, antes de se mudar para Aracaju, em 1946.

Ao longo da década de 1950, Rosa fez cursos de especialização em Psicologia, Extensão Universitária e Artes aplicadas à Educação, passando por instituições como Departamento Nacional de Aprendizagem Industrial, no Rio de Janeiro, e a antiga Faculdade Católica de Filosofia, em Aracaju. E com grandes intelectuais brasileiros entre seus professores, incluindo o arcebispo católico Dom Hélder Câmara (1909-1999), o escritor Alceu Amoroso Lima (1893-1983) e o matemático Malba Tahan (1895-1974). Em paralelo com o magistério e com os estudos, a artista também foi telegrafista dos Correios, taquígrafa, poeta, escritora, pesquisadora e jornalista.

Todas essas atividades foram conduzidas sob as cores e traços do pincel, que a própria Rosa costumava definir como “pincel do tempo”. Em suas obras, ela não apenas reproduzia as paisagens e os retratos das pessoas, mas também escrevia textos concisos, porém detalhados, com as informações e descrições sobre o que foi pintado. “A artista se destacou por seu domínio da pintura em louça e azulejo, com um uso expressivo das cores e formas. Suas obras revelam um estilo próprio. A técnica de Rosa Faria se caracteriza por traços delicados, riqueza de cores e registros históricos”, lembra Sayonara.

Um exemplo disso foi a série “Sergipe Passo a Passo pela sua História”, composta por 122 paineis de cerâmica sobre fatos e personalidades que marcaram a história de Sergipe e do Brasil. Mas esses detalhes também aparecem nas centenas de louças e pratos de cerâmica e porcelana que ela produziu ao longo da vida. São obras que retratam cenas de Aracaju e das cidades do interior sergipano, como engenhos, ruas e prédios históricos. “Rosa Faria retratava com frequência cenas da vida cotidiana sergipana, paisagens do interior, manifestações populares e referências religiosas, a partir da própria vivência e da observação de regiões de Sergipe. Não se trata apenas da estética, mas da narrativa que essas obras constroem sobre o tempo, a memória e a identidade”, acrescenta a museóloga.

Como forma de perpetuar e divulgar esses trabalhos, Rosa Faria fundou, em março de 1968, a Galeria Rosa Faria, que depois passou a se chamar “Museu de Arte e História Rosa Faria”, que funcionou por quase 30 anos na Praça Olímpio Campos, centro de Aracaju. Mesmo mantido com poucos recursos próprios, ele foi bastante frequentado por professores, estudantes, intelectuais e todo o público interessado em história e cultura sergipana. Também foi espaço para algumas celebrações cívicas da cidade e do estado, como o Aniversário de Aracaju (17 de março) e a Emancipação Política de Sergipe (8 de julho). E passou a abrigar todo o acervo produzido pela artista.

Pelo seu trabalho dedicado à educação e à cultura, ela recebeu uma série de homenagens em vida, como o título de Cidadã Aracajuana (da Câmara Municipal de Aracaju), a Medalha de Honra ao Mérito da Prefeitura de Aracaju e a Ordem do Mérito Serigy (do governo do Estado). Rosa Faria morreu em 1º de maio de 1997, poucos dias depois de seu aniversário. O seu último desejo ficou bastante conhecido, por se referir à duas grandes dedicações de sua vida: “Eu quero morrer ocupando minhas mãos. Em uma delas, levarei o terço que é a minha profissão de fé; na outra, levo o pincel, meu eterno e inseparável companheiro, e, lá de cima, eu ainda quero pintar”.

Acervo preservado

Em julho de 1997, todas as obras pertencentes ao Museu Rosa Faria foram incorporadas ao acervo artístico da Universidade Tiradentes (Unit), após tratativas com a família. “Rosa Faria dedicou toda a sua vida a preservar a memória do Estado. Essa pessoa, que era de uma situação econômica e financeira pequena, deixou e renunciou aos prazeres para que a história de Sergipe ficasse registrada e marcada por esse monumento que nós temos aqui”, destacou na ocasião o reitor Jouberto Uchôa de Mendonça, amigo e admirador de longa data.

Desde então, o material faz parte do Memorial de Sergipe, que ao ser reaberto em sua nova sede, na Orla de Atalaia, dedicou um espaço exclusivo de sua Pinacoteca para preservar esse acervo, em exposição permanente e aberta ao público. Em destaque, estão os paineis e pratos de suas coleções, além do pequeno forno a lenha que ela usava para fazer o acabamento das suas obras.

A sala que abriga a Coleção Rosa Faria permanece como um núcleo expositivo central do Memorial. “O espaço foi concebido para apresentar ao público sua biografia e sua produção artística, permitindo uma imersão na História de Sergipe. A ambientação convida à reflexão sobre Rosa como mulher, artista e intelectual que dedicou sua vida à registrar a história do nosso estado em suas louças e azulejos”, descreve Sayonara, definindo a exposição permanente como “uma excelente oportunidade para conhecer mais sobre a arte sergipana e, em especial, sobre o legado de Rosa Faria, que continua a inspirar gerações”.

Serviço

O Memorial de Sergipe funciona de terça a sábado, das 10h às 16h. Os ingressos para a visitação, que podem ser adquiridos neste site, são de R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (estudantes e professores da rede privada, estudantes do Ensino Superior e pessoas a partir de 60 anos). O acesso é gratuito para crianças de até 6 anos, estudantes e professores da rede pública, militares, PCDs, museólogos e guias de turismo.

Grupos escolares e instituições podem agendar visitas mediadas, através do telefone (79) 3218-2312, do whatsapp (79) 98108-1866 ou do e-mail atendimento@memorialdesergipe.com.br.

Fonte e fotos: Portal da Unit.

Texto e imagens reproduzidos do site desquenoticias com br

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