Publicado originalmente no site FAN F1, em 29/03/2019
Festa do Vaqueiro do Porto de Folha (SE): tradição, que gera
negócios e transforma a realidade local
Por Leonardo Barreto
Há 48 anos o município de Porto da Folha (SE), no sertão do
estado de Sergipe, sedia a tradicional Festa do Vaqueiro. Em cinco dias de
festa, a população local aumenta pelo menos 10 vezes. São cerca de 70 mil
pessoas diariamente circulando pelo município, grande parte deles visitantes de
outros municípios de Sergipe e estados como Bahia, Alagoas e Pernambuco. A
festa já se tornou conhecida, inclusive, fora do Brasil, recebendo turistas da
Itália e da França.
Durante os dias da festa a movimentação econômica registrada
pela Secretaria Municipal de Cultura de Porto da Folha (SE) é de R$ 8 milhões
de reais. Recursos que contribuem de forma significativa com o desenvolvimento
da região.
Monumentos homenageiam a tradição da cidade - Praça do Boi
Foto: Ícaro Santana
Foto: Ícaro Santana
A comemoração que desperta curiosidade em quem chega para
conhecê-la, homenageia o vaqueiro, símbolo da cultura sertaneja e uma das
principais figuras responsáveis pela movimentação econômica na região, que gira
em torno da agricultura e pecuária. Ele é o trabalhador responsável pelo
cuidado do gado, mas que em Porto da Folha, todos os anos no mês de setembro
esse trabalho se torna uma verdadeira diversão.
É instalada uma maratona de festa. Paredões, muita gente nas
ruas, casas em festa, competições, shows em trios elétricos e em palcos.
Jovens, crianças, adultos e idosos, unem o que há de mais contemporâneo na
música à tradição de quase meio século que orgulha o povo nordestino.
Praça principal do município.
Foto: Ícaro Santana
Foto: Ícaro Santana
Praça principal de Porto da Folha durante a festa, às 5h30
Foto: Leonardo Barreto
Foto: Leonardo Barreto
Parque Nilo Santos lotado ao meio dia
Foto: Leonardo Barreto
Foto: Leonardo Barreto
“Pega de Boi no Mato”
A agitação que acontece o dia todo e durante a noite na
cidade, se repete na Zona Rural, na serra mais famosa da região, Serra dos
Homens. É nela que fica o Parque Nilo Santos, onde acontecem as competições,
chamadas de “Pega de Boi no mato”. Semelhante a vaquejada tradicional, esta
competição é realizada no meio da Caatinga e não em uma pista de areia como
normalmente acontece. No caso de Porto da Folha, o vaqueiro não precisa mais
derrubar o boi pelo rabo. Foi desenvolvida uma técnica, para evitar o sofrimento
animal, para isto, é colocada uma argola no pescoço do boi e quando o vaqueiro
sai da Caatinga, traz a argola, demonstrando que conseguiu pegar o animal.
Esta iniciativa demonstra avanço nas discussões que tramitam
no Congresso Nacional sobre a extinção da Vaquejada, apontada por parlamentares
defensores de sua extinção como uma prática de mal trato animal.
Um dos defensores da continuidade do esporte, o deputado
federal Fábio Mitidieri (PSD-SE) pontou que a manutenção da vaquejada é
fundamental para o fomento cultural e econômico no nordeste. “É uma prática
secular, que estimula jovens, crianças adultos ao contato com a cultura
nordestina. Movimenta milhões de reais e gera emprego. É possível dialogar e
encontrar caminhos que permitam sua continuidade sem prejuízos à qualidade de
vida do animal”, afirmou o parlamentar.
Certamente não é fácil por fim em uma tradição, que
impressiona visitantes e até que já está acostumado com a festa por seu tamanho
e sua beleza. Debaixo de um calor de mais de 40 graus, a competição ainda atraí
cerca de 20 mil pessoas, que se dividem entre uma olhada na “Pega de Boi” e uma
dança, já que vários cantores se apresentam em um palco montado ao lado das
área destinada à competição.
Negócios
A festa que movimenta o Sertão Sergipano muda completamente
o cotidiano do município, que tem 28.615 habitantes, de acordo com último senso
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
São apenas cinco pousadas em Porto da Folha, todas elas
ficam lotadas no período da festa. Empresários fazem inclusive novas
contratações para atender a demanda.
Foto: arquivo pessoal
Dona de uma pousada no município, a empresária Daiane Lima
informou, que desde quando inaugurou o estabelecimento, nunca ficou com um
quarto vazio no período da festa. O prédio tem 17 dormitórios. “Pelo menos um
mês antes da festa início toda a preparação e planejamento para atender aos
hóspedes. O faturamento triplica, se comparado com outros meses do ano”,
afirmou.
Apesar do esforço de empresários para acolher visitantes na
cidade de Porto da Folha, o município é carente no setor hoteleiro, mas tem
gente que tratou dar uma amenizada nesse problema, e é claro, futurar uma grana
extra.
Ícaro Santana (Foto: arquivo pessoal)
Morador do município, o assessor jurídico, Ícaro Santana,
aluga casas para quem chega e quer aproveitar a festa. Em cinco dias, ele
consegue faturar o valor referente a cinco meses de aluguel. “Eu tenho algumas
casas, que alugo por R$ 300,00 o mês. Vi na festa a oportunidade de melhorar minha
renda e os alugueis sobem para R$ 1,500, 00 nesse período. Como normalmente são
alugadas por grupos de pelo menos 15 jovens, não fica pesado para ninguém e
todo mundo consegue aproveitar a festa bem acomodado”, destacou.
Resultados
Na terça-feira, é o dia do balanço. Normalmente a festa
começa na quinta e vai até a segunda-feira, depois deste período, é hora dos
moradores da pacata cidade voltarem ao seu cotidiano, e contabilizarem o
resultado financeiro.
A gestão municipal, que tem um orçamento mensal de pouco
mais de R$ 4 milhões, no período da festa recebe o dobro na injeção financeira
do município, somando pelo pelos R$ 8 milhões.
Segundo o Secretário Municipal de Cultura de Porto da Folha,
Cristian, a festa é uma vitrine para o entretenimento e os negócios ligados ao
vaqueiro. Ele aponta que desde o motorista dos caminhões que trazem os animais
para cidade, até os cantores locais que se apresentam na festa, todo mundo é
beneficiado. “São cerca de 15 mil animais na festa, que precisam de
veterinários, tratadores, os seus donos, precisam de locais para dormir, para
comer, para se divertir. Portanto, temos vários seguimentos mobilizados
integralmente. Acredito que isto garante o sucesso da festa, que em breve
completará meio século”, pontuou.
Sejam os amantes da festa, ou até mesmo o que não curte
muito, todo mundo acaba envolvido e também usufruindo dos resultados gerados
por ela.
O trânsito, o comércio, a rotina, tudo passa por alteração e
os moradores fazem questão, de ajudar, de orientar e acolher os visitantes que
chegam dispostos a aproveitar cada minuto da festa.
Porto da Folha (Foto: Fan F1)
Quem mora em Porto da Folha é chamado de “Buraqueiro”, por
conta da posição geográfica da cidade, que se desenvolveu no meio de um vale às
margens do Rio São Francisco, sob influência da primeira aldeia indígena do
estado, de um quilombo e da colonização europeia de portugueses e holandeses.
É nesse “buraco”, que o nordestino revela sua riqueza
cultural e a suas estratégias para movimentar a economia.
Texto e imagens reproduzidos do site: fanf1.com.br
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