Foto: ASN
Emancipação
Política de Sergipe completa 199 anos: o que comemorar?
Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 8 de julho de 2019
O Estado de Sergipe completa nesta segunda-feira, 8, 199
anos de independência política da Bahia. Em quase dois séculos de emancipação,
a trajetória da ex-colônia baiana mostrou que os primeiros anos da conquista da
liberdade política trouxe o desafio de ‘andar sozinho’, com as ‘próprias
pernas’. O professor e historiador Luiz Fernando Sotelo afirma que a
independência da Bahia não foi um processo ‘automático’ e, por isso, nos anos
que se seguiram à emancipação, Sergipe e Bahia continuaram a manter relações
que até hoje deixaram algumas heranças.
Cópia do decreto imperial assinado pelo imperador D. João VI
(Foto: Portal Infonet)
O Decreto
O ponto de partida para a emancipação política de Sergipe
foi o decreto imperial de D. João VI, assinado em 08 de julho de 1820,
emancipando o estado sergipano da Bahia. Mas segundo o professor Fernando
Sotelo, a conquista da independência, nos âmbitos políticos, econômicos e
sociais, foi “doída’ e “demorada”. “Um ano depois do decreto, o primeiro
governador de Sergipe, Brigadeiro Carlos César Burlamaque, foi deposto por
tropas vindas da Bahia e levado para Salvador”, conta Sotelo.
Ele explica que a emancipação de Sergipe degradou ao governo
baiano porque o estado sergipano representava uma grande fonte de renda.
“Sergipe representava 1/3 das rendas da Bahia. Era uma porcentagem a menos de
receita para o estado baiano”, informa. Além disso, alguns importantes
industriais de Sergipe não apoiavam a emancipação, pois temiam sofrer grandes
perdas financeiras. “Alguns sergipanos que eram ligados aos interesses da Bahia
lutaram contra a emancipação”, reitera.
Escritor e professor Luiz Fernando Soltelo (Foto: Portal
Infonet)
Brasil e Sergipe
O professor explica que houve dois marcos importantes para o
reconhecimento da liberdade política de Sergipe. “O primeiro foi em setembro de
1822. A independência do Brasil se casa com a de Sergipe”, diz Sotelo. Em
virtude disso, as demais autoridades da época que aderiram a independência do
Brasil também passaram a aderir a emancipação política do território sergipano.
Ainda neste contexto de independência, Sotelo ressalta que
em 05 de dezembro de 1822 o imperador D.Pedro I, filho de D. João VI, reitera o
decreto assinado pelo pai em carta enviada ao governo baiano. “Numa
correspondência à junta governativa da Bahia, o imperador D. Pedro I disse que
o governo baiano tinha que ‘eleger um determinado número de deputados,
excluindo-se daí aqueles que serão eleitos por Sergipe, que é independente
desde Carta Régia de meu pai, datada de 08 de julho de 1820′”, resume o
professor.
Ele lembra também que o dia 24 de outubro foi muito
comemorado no passado, mas que por não haver consenso entre historiadores sobre
a importância da data ela foi abandonada. “Muitos acreditavam que este dia
teria sido a data de posse de Burlamaque, primeiro governador de Sergipe. Mas
escritos mostraram que na verdade ele havia tomado posse em 24 de julho de
1822; não em outubro”, argumenta.
Independências
A partir da independência política em 1820, Sergipe ainda
dependência da Bahia, que à época passou a ser o seu principal comprador de
produtos sucroalcooleiro (derivados de açúcar), portanto, seu principal
parceiro comercial. “Eu costumo dizer que a verdadeira independência veio aos
poucos durante os séculos”, conta. Em síntese, ele divide essa independência a
partir dos anos de 1850, quando o então governador Inácio Barbosa investiu na
produção de açúcar, ao invés de só comercializá-lo com a Bahia. “Como o
comércio daquela época era marítimo, durante o trajeto pelo mar o açúcar perdia
qualidade por entrar em contato com a maresia e o ar. Então Inácio Barbosa
decidiu pesar e vender o açúcar que era plantado no território sergipano”,
relembra.
Outro marco importante foi a descoberta de petróleo em
terras sergipanas na década de 60. “O que coroou nossa independência econômica
da Bahia foi alguns pontos de petróleo achados no município de Carmópolis.
Desde então, Sergipe começou a ter uma importante fonte de renda. Aumentando,
assim, seu poder econômico”, explica. E, por fim, segundo o professor, ainda a
década de 60 trouxe ao estado o primeiro grande polo de disseminação de
conhecimento. “Em seguida à descoberta do petróleo veio nossa independência
cultural com a criação da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em 1968”,
afirma.
Laços com a Bahia
Mesmo com esse panorama de separação entre os estados, o
professor Sotelo acredita que há mais coisas que os une em comparação com as
coisas que os separam. “Embora tenhamos conquistado nossa independência em
vários setores, há laços entre Sergipe e Bahia que duram até hoje”, acredita.
Ele faz referência as pessoas que moram na região Sul de Sergipe, como no
município de Estância, que ainda mantêm uma maior ligação com Salvador do que
com Aracaju. “Algo semelhante acontece com alguns municípios fronteiriços da
Bahia, a exemplo de Olindina, Coronel São João Sá, Jeremoabo e Paulo Afonso,
que têm uma ligação com Sergipe”, diz Soltelo. “Para algumas pessoas dessas
cidades é mais fácil vir a Aracaju para estudar ou trabalhar do que ir a
Salvador. Se há uma ligação nossa com a Bahia, há também uma ligação dos
baianos para com os sergipanos”, completa.
Por João Paulo Schneider
Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br
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