Foto: Armando Maynard
Reproduzida do blog SERGIPE EM FOTOS
Texto publicado originalmente no site 93NOTÍCIAS, em 02 de dezembro
de 2017
O Carrossel do Tobias e a Magia do Natal
Por Carlos Braz
Enfim chegou o mês de dezembro, e com ele a magia do Natal.
É tempo de celebrar o nascimento daquele que com seus ensinamentos transformou
o mundo, através de uma mensagem inovadora, que pregava amor e paz, em um mundo
dominado pela espada romana e seus deuses mitológicos.
As palavras do nazareno, paz na terra aos homens de boa
vontade, foram os pilares de uma instituição poderosíssima, a Igreja Católica
Apostólica Romana, que consolidou-se através dos séculos, congregando milhões
de seguidores em todo o mundo, que escolheram o dia 24 de dezembro para
relembrar a histórica noite onde a estrela brilhante apontou o caminho da
manjedoura.
As festas natalinas sempre foram um momento especial para o
universo cristão, e aqui em Aracaju não podia ser diferente. Realizadas desde o
século passado no Parque Teófilo Dantas, também conhecido como a Praça da
Catedral, tinham início no dia 8 de dezembro, dia que no calendário católico é
dedicado à Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, e estendiam-se até
a festa dos Santos Reis.
Ali eram armadas barracas com diversas finalidades. Para os
adultos, bancas de jogos de azar, baralho e roletas, e bares que vendiam
bebidas alcoólicas e tira gostos variados. Para os brincantes de folguedos
ancestrais, a Chegança de Zé do Pão era imperdível. E para as crianças, um
parque de diversões, com roda gigante, barquinhos, ondas, balanços, bem como
espetáculos de ilusionismo, onde a bela “virava” uma fera, para delírio e pavor
de tantos.
Mas a grande atração daqueles saudosos tempos, era,
indiscutivelmente, o Carrossel do Tobias, construído nos Estados Unidos,
composto por belos corcéis policromáticos, que puxavam carruagens, onde
príncipes e princesas materializavam essa magia transformadora, que
proporcionava à criançada momentos inesquecíveis e lúdicos.
Não pensem os mais novos, que Tobias era o proprietário
daquela máquina girante, que a todos inebriava.
Muito pelo contrário. Esse era o nome de um negrinho de sorriso farto,
construído em madeira, vestido em paletó branco, fixado ao centro da estrutura,
que mexia incansavelmente o pescoço e o braço, que acionava um apito
estridente, como a saudar a todos por estarem ali, brancos, pretos, pobres ou
ricos em alegre folia.
Andar no Carrossel do Tobias era o suprassumo daquelas
tardes e noites memoráveis, era o sonho de toda criança daqueles tempos, e a
felicidade presente naqueles espíritos pueris, era externada em sorrisos
genuínos, que ao brotar dos lábios, compensava os pais pela espera nas longas
filas para ter acesso à máquina dos sonhos.
O dono do carrossel era o vereador por Aracaju Milton
Santos, eleito por 8 magistraturas consecutivas, homem temente a Deus,
caridoso, exemplo de chefe de família e político interessado no bem-estar da
coletividade. Sua índole generosa manifestava-se através da distribuição de
milhares de cortesias para que os mais carentes pudessem usufruir naqueles dias
dourados dos equipamentos de sua propriedade instalados na praça, e em qualquer
ouro lugar em que houvesse festa.
A fama do carrossel atravessou fronteiras, levando-o à
Salvador, onde foi instalado por um curto período no antigo estádio da Fonte
Nova, para alegria dos milhares de crianças soteropolitanas.
Também foi cenário, em 1969, da produção cinematográfica da
obra de Jorge Amado, Capitães de Areia, e cartão postal da nossa capital.
Sobre o carrossel do Tobias, assim se pronunciou o saudoso
vereador Milton Santos: “Muito se tem falado em turismo, patrimônio histórico,
divulgação do folclore, etc., entretanto, não se compreende que, sendo o
Carrossel do Tobias” o único existente no mundo, construído na América do Norte
no século XIX, e tendo chegado à Aracaju em 1904, portanto, a mais de três
quartos de séculos, jamais tenha sido alvo por parte dos órgãos destinados a
preservarem e divulgarem o nosso patrimônio histórico, embora o Carrossel do
Tobias tenha sido o concentrador de atenções e o maior proporcionador de
inocentes alegrias a milhares e milhares de
crianças de várias gerações”.
Essas justas palavras não repercutiram nas mentes dos
gestores responsáveis pela memória social e patrimônio cultural sergipano.
Adquirido posteriormente pelo Governo do Estado, o carrossel teve seus últimos
dias de glória a girar no Parque da Cidade. Sem o amor e a dedicação do seu
ex-dono, foi abandonado em um galpão úmido, o que provocou sua completa
deterioração. Um final sem o brilho e sem luzes, tão próprios dos tempos de
Natal.
Texto reproduzido do site: 93noticias.com.br
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