sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Parque da Cidade Governador José Rolemberg Leite, em Aracaju



Parque da Cidade Governador José Rolemberg Leite, no Porto Dantas, Zona Norte
 de Aracaju. Parque com Mata Atlântica, teleférico e vistas panorâmicas, 
além de jardim zoológico e trilhas.
Foto: Governo de Sergipe - Reproduzida do site: se.gov.br

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Ponte Construtor João Alves sobre o rio Sergipe

Ponte Construtor João Alves sobre o rio Sergipe, vista
do píer da Orlinha do Bairro Industrial, em Aracaju.
Foto reproduzida do site: smiles.com.br

Avenida Otoniel Dória, em Aracaju

Avenida Otoniel Dória, em Aracaju, as margens do rio Sergipe, próximo ao 
Mercado Municipal. Destaque para o atracadouro dos barcos Tototós.
Foto: Marcelle Cristine/ASN
Reproduzida do site: clicksergipe.com.br

Antigos prédios na Avenida Otoniel Dória, em Aracaju

Antigos prédios na Avenida Otoniel Dória, construídos
na década de 1920, por José da Silva Ribeiro.
Conjunto de imóveis popularmente batizado de ‘Vaticano’.
Foto: Prefeitura de Aracaju
Reproduzida do site: ipatrimonio.org

Catedral Metropolitana de Aracaju, no Parque Teófilo Dantas

Catedral Metropolitana, com sua cúpula ornamentada
com belíssimas pinturas do Século XIX, situada no
centro do Parque Teófilo Dantas, em Aracaju.
Foto reproduzida do site: sergipemaislazer.yolasite.com

Escola Manuel Luiz, na Avenida Pedro Calazans, em Aracaju

Escola Manuel Luiz foi fundada no início do
século XX, no governo de Graccho Cardoso
Foto: Maria Odília/Seed
Reproduzida do site: seduc.se.gov.br

Vista aérea da Cidade Histórica de São Cristóvão

Foto reproduzida do site: scoopnest.com

Avenida Padre Nestor Sampaio, Bairro Luzia, em Aracaju

Foto: Marcelle Cristinne
Reproduzida do site: aracaju.se.gov.br

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Engenho Pedras, no município de Maruim

Engenho Pedras, no município de Maruim. Casa Grande do Coronel Gonçalo.
Foto reproduzida da Fanpage/Facebook Alphaville Galeria de Artes e Leilões

Vista aérea do Colégio Estadual Atheneu Sergipense, em Aracaju

Vista aérea do Colégio Estadual Atheneu Sergipense
Centro de Excelência Atheneu Sergipense
Foto: Maria Odília
Reproduzida do site: a8se.com

Centro Histórico da Cidade de Laranjeiras

Foto: JEFS.
Reproduzida do site: eufuierecomendo.com.br

Orla Pôr do Sol, Região do Mosqueiro, em Aracaju

Foto: JEFS.
Reproduzida do site: eufuierecomendo.com.br

Espaço Zé Peixe, na Av. Ivo do Prado, as margens do rio Sergipe.

O ESPAÇO ZÉ PEIXE > local presta homenagem a um ícone sergipano: 
José Martins Ribeiro Nunes, carinhosamente apelidado de Zé Peixe, era uma figura
 importante e habilidosa nas águas, que auxiliava na navegação do Rio Sergipe, 
tanto que ganhou uma estátua em sua homenagem. No espaço de dois andares 
há um memorial, com objetos e fotografias que contam a trajetória de bravura  desse homem.
 Em outro pavimento funciona restaurante, lojinhas de artesanato e doces típicos. 
Localizado na Av. Ivo do Prado, as margens do rio Sergipe.
Foto reproduzida do site: viajali.com.br
Informação de Legenda: Marta Stegani.

Antigo Hotel Imperial, no município de Propriá



Fotos reproduzidas do site: tripadvisor.com.br

Bonitos e bem cuidados recantos da cidade de Frei Paulo









Foto: Anny Rodrigues.
Reproduzida do site Sergipe Repórter.

Antigo Cartão Postal da Estação Rodoviária, em Aracaju

Antigo Cartão Postal da Estação Rodoviária
Governador Luiz Garcia, em Aracaju.
Foto: Acervo Ótica Santa Luzia.
Reproduzida do site: Google.

Antiga foto aérea da cidade de Aracaju

Foto reproduzida do Google.

Cidade turística de Pirambu

Foto reproduzida do site: sergipetradetour.com.br

Ponte Nova, no passado Ponte do Açougue, em Laranjeiras

Ponte Nova, conhecida no passado como Ponte do Açougue.
Construída em pedra e cal - Século XIX. Em segundo plano a
Igreja de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário.
Foto: Marcel Nauer
Reproduzida do blog: bolichodoamaral.blogspot

Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, em Laranjeiras

Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, na Praça Heráclito Diniz, 
no município de Laranjeiras (Século XVIII). Foi a primeira igreja da zona urbana 
do Município. Sofreu algumas reformas, mas preserva suas características coloniais.
Foto: Marcel Nauer
Reproduzida do blog: bolichodoamaral.blogspot

Rua Dr. Francisco Bragança, no município de Laranjeiras

Rua Dr. Francisco Bragança, no município de Laranjeiras.
Destaque para o calçamento em pedra calcária, séc. XIX.
Em segundo plano vemos a Igreja Nossa Senhora da
Conceição dos Pardos (construída pelos homens pardos).
Foto: Marcel Nauer
Reproduzida do blog: bolichodoamaral.blogspot

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Africanidades e resistências na Dança de São Gonçalo da Mussuca


Publicado originalmente no site SESC SP, em 29 de maio de 2019

Africanidades e resistências na Dança de São Gonçalo da Mussuca

Por Marcelo Rangel Lima*

“...padres, mulheres, frades, cavalheiros e escravos a dançar e pular misturados e a gritar a plenos pulmões ‘Viva São Gonçalo do Amarante’.” Gentil de La Barbinais

Ora viva e arreviva, viva São Gonçalo viva

A Dança de São Gonçalo da Mussuca foi descrita pela primeira vez em 1976, no estudo etnográfico que compôs o Caderno 9 da Coleção Cadernos de Folclore, lançado juntamente com um disco compacto em vinil com cantigas do grupo, integrante da série Documentário Sonoro do Folclore Brasileiro, editada pela Campanha em Defesa do Folclore Brasileiro (CDFB). Segundo a responsável por tais registros, a pesquisadora Beatriz Góis Dantas, a realização da dança em interiores de igrejas foi descrita pela primeira vez com espanto em 1718, em Salvador, Bahia, por Gentil de La Barbinais, um viajante francês. Banida dos templos católicos na mesma época, provavelmente pela sensualidade da dança e participação de negros, persistiu apenas em áreas rurais.

O rito origina-se a partir do culto a um santo português homônimo, como manifestação tradicional do catolicismo popular brasileiro, num conjunto que envolve as Folias de Reis, Congadas, Cavalhadas e outras. Ocorre em diferentes estados brasileiros, nas regiões sul, sudeste e nordeste, e destina-se, geralmente, ao pagamento de promessas feitas ao Santo. No entanto, no Povoado Mussuca, localizado em território quilombola na cidade de Laranjeiras, Sergipe, o culto a São Gonçalo diferencia-se pela exuberância dos traços de matriz africana, presentes em cada uma de suas 7 Jornadas, nome dado às partes que compõem a série de evoluções coreográficas executadas ao som de cantos específicos. Tais particularidades transformaram a dança ritual em elemento de construção de uma identidade cultural local e regional.

No estado de Sergipe também já foram registradas ocorrências do rito, em municípios como Lagarto, Nossa Senhora de Lourdes, Pinhão, Poço Verde, Riachão do Dantas, Simão Dias, Tomar do Geru e São Cristóvão. Na Mussuca, calcula-se que ocorra desde as primeiras décadas do século XIX, de acordo com as pesquisas de Wellington Bomfim (2014) sobre o São Gonçalo da Mussuca. Em outros municípios, apresentava algumas semelhanças com o modo como é praticado na Mussuca, mas os trajes e adornos coloridos, as influências africanas, os passos cadenciados e o molejo dos corpos masculinos renderam-lhe notoriedade e ampliaram sua representatividade étnica e comunitária em processos políticos, sociais e culturais de promoção da garantia de direitos que a Constituição Federal de 1988 prevê para comunidades remanescentes de quilombos. Além disso, foi objeto de estudo de variadas pesquisas acadêmicas, em diferentes perspectivas e áreas do conhecimento.


Quem não tem cama nem rede, dorme no couro da vaca

Atualmente, o único grupo praticante da Dança de São Gonçalo que se tem notícia em Sergipe é o da Mussuca, situada na zona rural de Laranjeiras. Vale destacar que o município teve o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de sua sede tombado em 1996 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por seu valor arquitetônico e histórico. Seguindo o rastro das tradições coloniais, a produção açucareira rendeu à cidade uma opulência econômica, erguida pela mão de obra escravizada que, como destaca Sharyse Amaral (2012), foi imprescindível para a produção dos engenhos de açúcar.

Embora tenha perdido importância econômica nas primeiras décadas do século XX, Laranjeiras sustenta seu legado histórico na arquitetura do casario colonial e nas heranças culturais dos negros, como ressalta Bomfim (idem). O autor salienta que os africanos escravizados, seus filhos e netos vivenciaram o terror do cativeiro e a restrição de acesso em espaços públicos e que as possibilidades de expressão de suas tradições - cantos, danças, indumentárias e ritmos – ficaram restritas às festas promovidas pela Igreja. Mas estas acabaram sendo incorporadas ao repertório cultural da cidade com o passar dos séculos. Um exemplo disso é a Festa do Lambe-sujo, uma representação popular que expõe anualmente as tensões e conflitos entre as etnias que formaram a cidade. Na perspectiva arqueológica territorial apresentada por Regina Santana (2008), o auto popular apresenta o papel dos negros na formação da cidade e a lógica perversa do regime escravagista, que gerou revoltas e a formação de quilombos, expondo a incorporação de referências africanas ao repertório cultural da cidade.


Adeus parente que eu vou m’imbora, pra terra de Congo, vou ver Angola

Nesta conjuntura social e cultural, o histórico da Mussuca de resistência à opressão e à servidão, bem como a vitalidade de suas expressões culturais, tem proporcionado visibilidade à comunidade, sobretudo a partir da primeira metade dos anos 1970, quando o Grupo São Gonçalo passa a participar da festa de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Na mais famosa festa religiosa da cidade, comemorada no dia de Reis, no início de janeiro, a ocorrência de expressões artístico-culturais populares de matriz africana, também chamadas de brincadeiras pelos laranjeirenses, remontam à passagem do século XIX para o XX, como indica Dantas (2015).

Tais práticas lúdicas foram sendo valorizadas pelo poder público ao longo do século XX até convergirem para a criação do Encontro Cultural de Laranjeiras (ECL), em 1976, que visa a divulgação e valorização da cultura popular reunindo manifestações culturais, pesquisadores e visitantes de Sergipe e do Brasil. Em 2020, o ECL chegará a sua 45a edição. O São Gonçalo da Mussuca tem participação destacada no evento, que foi consolidado, de acordo com Dantas (2013, 2015), a partir de políticas culturais de integração do turismo com aspectos culturais por meio da valorização do folclore, do artesanato e do patrimônio arquitetônico.

A notoriedade do Grupo São Gonçalo é apontada como fator preponderante da identidade étnica da Mussuca no Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) produzido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a partir de solicitação de uma associação local após a emissão da certificação de autorreconhecimento como comunidade remanescente de quilombos da Fundação Cultural Palmares (FCP), obtida em 2006. O estudo apresenta registros oficiais da existência da Mussuca desde 1836, a partir da escravização de africanos para trabalho nas fazendas e engenhos na região. A narrativa mais conhecida na comunidade sobre sua formação indica que a ocupação teria sido em função da doação de terras a uma escrava, Maria Benguela, pois esta teria feito o parto da filha do dono do engenho. Depois, outras famílias foram chegando e se estabelecendo nos arredores. Na atualidade, a indicação de seu atual líder para a composição do primeiro Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial em Sergipe também evidencia a representatividade do Grupo.

Ainda que não expresse mais a atual realidade populacional local, ainda é possível ouvir dos moradores mais antigos, a expressão “a Mussuca é uma família só”, que remete a um possível isolamento dos primeiros moradores e reflete uma estratégia, segundo Bomfim (idem), para atribuir singularidade à localidade. No entanto, no caso do Grupo São Gonçalo, os laços familiares são a tônica de sua formação.


Em de rê rê mamãe Zambi

O Grupo é liderado pelo Patrão, mestre que coordena o rito de louvor tocando uma caixa enquanto comanda a ordenação de cada uma das Jornadas. É ele que também conduz negociações sobre as necessidades do grupo para pagamentos de promessa feitas por devotos de São Gonçalo, bem como articulações com autoridades locais e produtores culturais para apresentações em eventos culturais e artísticos, hoje muito mais comuns que as promessas. Os trajes brancos de marinheiro que usa durante a dança remetem à origem do santo, que teria sido também um violeiro farrista que tocava com prostitutas para que não pecassem.

Há pelo menos 3 gerações de Patrões, a liderança tem sido repassada a pessoas com relações próximas de parentesco: o atual, Neilton Santana, é neto do mestre anterior, Seu Sales, que recebeu a incumbência de conduzir o grupo de um primo, Paulino, que era pai da atual cantora do grupo, D. Nadir, septuagenária que integra e lidera outros grupos culturais na mesma comunidade. Antes dela, os cantos eram entoados pelo Patrão e a única mulher que participava das atividades do grupo era sua esposa, chamada de Mariposa. Durante o ritual e as apresentações, é ela que carrega a imagem do santo dentro de uma pequena barca, em referência ao vínculo de São Gonçalo com o mar. O papel de Mariposa ainda cabe a D. Santaninha, viúva de Seu Sales, mas a esposa de Neilton sabe que assumirá futuramente esta tarefa.

O atual Patrão começou a dançar como Figura aos 8 anos e tornou-se líder do grupo juvenil aos 14 anos. Mais tarde, aos 21, foi indicado ao posto de Patrão do São Gonçalo a partir do momento em que seu avô, que liderava o grupo desde os anos 90, passou a ter sucessivos problemas de saúde. Neilton foi criado por ele como filho, mas seu pai verdadeiro é o integrante mais antigo ainda em atividade no grupo.

Embora com indumentária baseada em trajes e adornos femininos, uma referência às prostitutas que São Gonçalo teria salvo com suas cantorias nos portos de Portugal, a dança é executada unicamente por homens, os Figuras. As cores e estampas de suas vestes e o lenço branco amarrado na cabeça, bem como as pulseiras, brincos e colares multicoloridos, expõem referências a tradições religiosas africanas e influências árabes, como ressalta Dantas (2015). Tais referências também ganham forma na coreografia e na música, seja na base percussiva produzida pelo som da caixa e de reco-recos ou nas letras dos cânticos que compõem a dança ritual. Os cantos das Jornadas evocam Congo e Angola e é possível identificar vocábulos e expressões que remetem a línguas africanas em seus versos, ainda que tenham significado hoje desconhecido pelos dançadores da Mussuca.


Quem dança o São Gonçalo, tem de ter o pé ligeiro

Embora seja originariamente destinado ao pagamento de promessas, a popularidade do grupo tem se ampliado devido ao seu bailado envolvente, seus requebros sensuais e o encantamento produzido pela altivez dos Figuras. Em Sergipe, o grupo é recebido calorosamente em todo o estado e já é considerado por muitos como patrimônio cultural sergipano. O patrão anterior, Seu Sales, foi reconhecido, ainda enquanto vivo, como “importante referencial da Cultura Laranjeirense” através da Lei Municipal 909/209, que institui o Registro de Mestre dos Mestres da Cultura da Cidade. Sob sua liderança, o São Gonçalo da Mussuca criou mais 2 grupos de dançadores: o São Gonçalo Juvenil, no qual os integrantes tem idades entre 17 e 22 anos, e o Mirim, composto por crianças de 7 a 14 anos. Para participar deste último, integrantes são selecionadas em testes anuais abertos à comunidade.

Se as danças e cantos apresentados ao longo deste texto denotam o histórico de resistência cultural dos moradores da Mussuca, a trajetória recente do Grupo evidencia seu papel como agente de uma reconfiguração dinâmica de forças sociais, culturais e políticas. Valendo-se de uma tradição que incorpora referências ancestrais, tem atuado na promoção da inclusão e da visibilidade social de uma comunidade remanescente de quilombos, contribuindo para o fortalecimento de sua coesão social e a valorização do patrimônio cultural sergipano de matriz africana.
  
Fotos: Matheus José Maria
  
*Marcelo Rangel Lima é jornalista e gestor cultural, mestrando do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (PPGCOM/UFS), na linha de pesquisa Cultura, Economia e Políticas de Comunicação.

Texto e imagens reproduzidos do site: sescsp.org.br

domingo, 26 de janeiro de 2020

Cânion do Xingó, rio S. Francisco, em Canindé de S. Francisco.

Foto: xingoparquehotel.com.br

Salinas do Aracaju: ascensão e crise, séculos 19 e 20


Publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS 15 de março de 2017

Salinas do Aracaju: ascensão e crise, séculos 19 e 20

Aracaju foi, até a metade do século XX, um tradicional produtor salineiro

O Brasão de Aracaju, um dos símbolos oficiais da capital de Sergipe, um dos Estados da região Nordeste do Brasil, estampa em seu escudo, entre outras coisas, a figura de um cata-vento e porções de sal, simbolizando o extrativismo desse minério. E por que uma salina estaria, ali, no quartel superior direito dessa representação municipal?

Simplesmente porque Aracaju foi, até a metade do século XX, um tradicional produtor salineiro. Aliás, um dos topônimos fluviais da capital sergipana reclama essa atividade: rio do Sal, afluente do rio Sergipe, que separa o município de Aracaju do de Nossa Senhora do Socorro, antiga região salineira, zona norte de Aracaju. Assim, em tempos idos, produziu-se naquela área este importante condimento da cozinha universal.

Consideremos então a relação histórica entre Aracaju e as marinhas; sinônimo de salinas ou praias onde se represam águas salgadas a fim de que se evaporem, deixando o sal. Antes mesmo de se tornar capital da província, a área da povoação de Santo Antônio do Aracaju possuía tradição salineira. Um antigo testemunho de 1761, por exemplo, afirma que as margens do Sergipe eram “abundantes de salinas, das quais se provê toda a Capitania e algumas vizinhas” (JABOATAM, 1914: 52).

Além da fartura, do consumo interno e da exportação, outra velha fonte, de 1808, informa que o sal era produzido, como alternativa de sobrevivência em tempos de seca na lavoura, “escavando nas praias do Aracaju grandes fossos, onde, depositadas as salgadas águas e expostas por um mês aos excessivos calores do sol, evaporam de si as partes aquosas; e fica no fundo dos grandes receptáculos quadrados o sal cristalizado”. (SOUZA, 1878: 17). Segundo as fontes, apesar do método artesanal, produzia-se considerável quantidade de sal nas praias fluviais do Aracaju.

Além dos testemunhos anteriores, também confirma a abundância salineira da região o Imperador D. Pedro II, em sua visita à província em 1860. Escreveu o monarca: “Santo Antônio do Aracaju, antiga povoação de Aracaju, num alto a ¼ de légua, donde se goza de boa vista, vendo-se tabuleiros de salinas, que é gênero de bastante comércio neste rio”. Da mesma forma que o Imperador, outro testemunho corrobora, em 1881, a importância da comercialização e da produção de sal de cozinha às margens dos rios aracajuanos e circunvizinhança; desta vez, porém, com certa precisão quantitativa. Diz o documento: “… há o sal preparado nas salinas de Aracaju e Santo Amaro (…), artigo esse que dará lugar a importante comércio e que calcula em 20.000 alqueires”. (BUENO, 1881: 28 e 33).

Comércio intenso

Não só a produção e o comércio salineiro na região das praias do Aracaju no século XIX eram relativamente intensos, mas também o número de proprietários ligados à extração do sal era surpreendente. De acordo com o Catálogo dos Inventários Judiciais da Comarca de Aracaju, que abrangia os termos fronteiriços de Nossa Senhora do Socorro e da Capital foram levantados 178 (cento e setenta e oito) proprietários de salinas e suas benfeitorias (tanques, coalhadores, armazéns e alqueires de sal), ou seja, cerca de 34% dos inventariados entre os anos de 1811 e 1900.

Isto implica dizer que as salinas eram o meio de vida de muitos pequenos e médios proprietários rurais, uma vez que os bens declarados denotavam a pertença neste estrato social, com média, por exemplo, de 03 (três) escravos por inventariado. Desse modo, o sal era um produto estratégico não somente em tempos de estio, mas em todas as estações devido, por um lado, à demanda pelo produto; e por outro, à demasiada presença de áreas de mangues alagados e de riachos com água salobre; como a do rio do Sal.

Quanto à demanda pelo produto ela se verifica, por exemplo, através de uma queixa policial em 1870, na qual o sr. Isidio José de Faria Góes acusa o sr. João Francisco dos Santos de subtrair determinada quantia de sal do armazém localizado nas suas salinas em Aracaju. Desse modo, vê-se quanto o sal era um bem de significativo valor a ponto de ser aberto inquérito policial por sua falta. Esta importância se confirma também num Recurso de Apelação Judicial de 1893, no qual o apelado, Francisco da Silveira Rocha, é acusado de ser depositário infiel de alqueires de sal pertencentes à firma em liquidação Coelho & Maia, da qual é liquidante o apelante, José Rodrigues Bastos Coelho. O valor do sal como bem a ser protestado na Justiça deve ter varado certamente o século seguinte, até quando as salinas resistiram às aniquilações socioambientais pelas quais a região do rio do Sal passaria.

Entrando no século XX, a produção das marinhas em Aracaju é documentada por pesquisadores, cronistas e memorialistas. Nesse contexto, um dos maiores produtores e comerciantes de sal de Sergipe foi o mesmo do Recurso de Apelação impetrado em 1893, o sr. J. R. Bastos Coelho. Seu filho publicou em 1956 um livro de crônicas sobre a vida do salineiro e costumes de Aracaju do início daquele século, acentuando os negócios do pai. Segundo ele, “nos afluentes do rio Sergipe existem as mais numerosas e melhores salinas do Estado”.

Desde o final do século XIX que Bastos Coelho era proprietário de salinas na periferia de Aracaju (Bugiu, Getimana e Taiçoca). Tudo indica que ele e outros grandes negociantes compraram várias marinhas dos pequenos produtores do século XIX, os quais eram proprietários de terras com salinas naqueles arrabaldes. A venda das pequenas salinas para negociantes mais capitalizados não é improvável porque em significativa parcela dos Inventários do XIX aparecem dívidas a pagar.

A salina do sítio Bugiu (atual conjunto residencial), por exemplo, pertenceu a dois pequenos sitiantes, como se nota pela declaração de bens inventariada, possuindo o primeiro apenas um escravo e o segundo, somente dois. Já sob o controle de Bastos Coelho, a salina do Bugio possuía 160 (cento e sessenta!) coalhadores – enquanto as outras tinham de 20 a 40 -, e dezenas de empregados. O velho e rico salineiro também possuía várias embarcações. Seu maior barco era o “Salinas”, que suportou na viagem inaugural cerca de 2.500 (dois mil e quinhentos) sacos de sal. Pelo que se nota, apesar de ter outros empreendimentos, grande parcela da riqueza do negociante Bastos Coelho derivava do rio do Sal. (BASTOS COELHO, 1956: 16 e passim)

A riqueza econômica de Sergipe também contava com a significativa participação da extração de sal para exportação na primeira metade do século XX. No Álbum de Sergipe, de 1920, por exemplo, o sal aparece como o segundo maior produto em quantidade (Kg.) exportada, só perdendo para o açúcar. Com relação ao valor monetário adquirido com a exportação, ele vai para quarto lugar, perdendo para o açúcar, o tecido e o arroz. Isto se explica pelo baixo preço do produto no mercado. No entanto, o sal sempre se encontrava nos patamares dos produtos de maior exportação sergipana. Em 1917, conforme ainda Álbum, Sergipe produziu quase 15 milhões de quilos de sal, ou seja, cerca da metade da produção sacarina. Com certeza, a participação das salinas do Aracaju nesta estatística foi bastante significativa. (SILVA, 1920: 76-77).

Em 1948, por seu turno, o escritor Mário Cabral lembra que “no município de Aracaju existem cinquenta salinas, produzindo em média, anualmente, cerca de 200.000 (duzentos mil) sacos de sessenta quilogramas”. Após dar razão aos números, ele escreve liricamente: “É bonito, ao entardecer, o espetáculo dos grandes armazéns, dos carregadores, dos tanques e das marinhas, das gigantescas pirâmides de sal, cintilando, ao sol, como brilhantes alvadios engastados no aro escuro das bancas sem fim”. (CABRAL, 2001: 167).

Passados sessenta anos, no entanto, a bacia do rio do Sal sofreu enorme deterioração. Iniciou-se uma intensa e desordenada ocupação imobiliária de suas margens; formaram-se bairros da chamada “periferia desestruturada”. Por consequência disto, atualmente, a qualidade físico-química de suas águas apresenta altos índices de coliformes fecais que tornam o rio do Sal impróprio para o lazer e a pesca. Some-se a isto o alto grau de poluição decorrente do lançamento de efluentes industriais e residenciais ao longo de seu curso. (ARAÚJO; et al, 2006: 37-38).

No Aracaju, há poucas décadas, as salinas se extinguiram; e com elas toda uma cultura salineira. Resta-nos dizer que o tempo das salinas do Aracaju ficou apenas nas memórias como uma época evocada, por exemplo, nos poemas de Jacintho Figueiredo em homenagem a Aracaju de antanho. Dizia o poeta em 1955: “Outrora, o rio vinha docemente/ Beijar a areia … e hoje, não vem mais;/ Hoje ele encontra pedras, tão somente, / As pedras que se alinham pelo cais.” (FIGUEIREDO, 2000: 63).

As últimas salinas que resistem à ação do processo de ocupação desordenada da área da grande Aracaju são as que se localizam no município vizinho de Nossa Senhora do Socorro; contígua à área de nosso estudo. Lá ainda resistem as últimas unidades familiares que produzem sal para consumo local, cujo destino será certamente a extinção pelos mesmos motivos ocorridos na vizinha capital, a transferência do capital imobiliário e industrial para a região; além da ocupação ilegal de áreas de mangue pela população, sem nenhuma infra-estrutura sanitária. Com isto, vislumbra-se a ampliação da periferia desordenada na região metropolitana da capital de Sergipe.

Por Amâncio Cardoso (Instituto Federal de Sergipe).

Fonte: Blog do Ricco (Crédito/Grupo Minha Terra é Sergipe)

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br