Publicado originalmente no site EXPRESSÃO SERGIPANA, em 19
de dezembro de 2019
Sorvete: Sabor, História e Memórias
Por Osvaldo Ferreira Neto
Muita gente desconhece a origem do sorvete. Existem várias
teorias sobre o surgimento desta iguaria. As mais interessantes são:
O primeiro relato sobre o sorvete data de mais de 3 mil anos
atrás, e tem sua origem no Oriente. Os chineses costumavam preparar uma pasta
de leite de arroz misturado à neve, algo parecido com a atual raspadinha. O
Imperador Nero, há cerca de mil e novecentos anos atrás, mandava seus escravos
às montanhas buscarem neve, que era utilizada para o congelamento do mel, polpa
de frutas ou sucos. Alexandre o Grande (356-323 a.C.), é considerado o
introdutor do sorvete na Europa. Acredita-se que o líder trouxe do Oriente uma
mistura de salada de frutas embebida em mel, guardada em potes de barro
enterrados no chão e mantidos frios com a neve do inverno.
Em sua viagem à China em 1271, o veneziano Marco Polo teria
encontrado grande variedade de cremes congelados de frutas. As receitas vieram
em sua bagagem, mas não saíram da Itália até meados do século XVI, quando certo
Buontalenti, cozinheiro de Catarina de Médici (1519-1589), introduziu a
requintada sobremesa na corte francesa. Em 1670, o siciliano Francisco Procópio
abriu em Paris um café que vendia sorvetes – a primeira sorveteria da história.
Mesmo com todo o sucesso do sorvete, sua fabricação ainda era relativamente
difícil. Isso foi resolvido em 1846, quando a norte-americana Nancy Johnson
inventou um congelador que agitava a mistura dos ingredientes.
Em 1851, o leiteiro Jacob Fussel abriu em Baltimore a
primeira fábrica da história do sorvete, se tornando o primeiro a produzi-lo em
larga escala.
Após tais aprimoramentos, o sorvete ganhou uma popularidade
ainda maior e os EUA se consolidaram como os maiores produtores do mundo. Foram
os americanos, inclusive, que no fim do século XIX criaram as três receitas
mais famosas de sorvete: sundae, banana split e ice cream soda, os quais fazem
sucesso até hoje e são símbolos culturais do país. Já o picolé foi inventado em
1905, na Itália, por um menino de 11 anos chamado Frank Epperson, que esqueceu
no quintal um copo de refresco com uma colher dentro durante uma noite de
inverno. De manhã, ele notou que a bebida e a colher haviam congelado juntas.
Em 1920, um fabricante de Ohio, Harry Burt, pôs à venda o primeiro picolé dos
Estados Unidos. No mesmo ano, Christian Kent Nelson lança o Eskimo Pie, o
primeiro picolé recoberto de chocolate norte-americano.
No Brasil
Foram os cariocas os primeiros brasileiros a experimentar a
delícia gelada que já fazia sucesso em boa parte do mundo. No dia 23 de agosto
de 1834, Lourenço Fallas inaugurava na cidade do Rio de Janeiro, na época a
Corte real portuguesa, dois estabelecimentos – um no Largo do Paço e outro na
Rua do Ouvidor – especialmente destinados à venda de gelados e sorvetes. Para
isso, importou de Boston (EUA), pelo navio americano Madagascar, 217 toneladas
de gelo, que aqui foi conservado envolto em serragem e enterrado em grandes
covas, mantendo-se por 4 a 5 meses. Não demorou muito para os sorvetes
brasileiros ganharem um toque tropical, misturados a carambola, pitanga,
jabuticaba, manga, caju e coco.
Na época não havia como conservar o sorvete gelado, por isso
ele tinha que ser consumido logo após o preparo. Por isso, as sorveterias
anunciavam a hora certa de tomá-lo. Em São Paulo, a primeira notícia de sorvete
que se tem registro é de um anúncio no jornal A Província de São Paulo de 4 de
janeiro de 1878, que dizia: “Sorvetes – todos os dias às 15 horas, na Rua
direita nº 14”. No Brasil, antes do sorvete, as mulheres eram proibidas de
entrar em bares, cafés, docerias, confeitarias. Para saboreá-lo, entretanto, a
mulher praticou um de seus primeiros atos de rebeldia contra a estrutura social
vigente, invadindo bares e confeitarias, lugares ocupados até então quase que
exclusivamente pelos homens. Por isso, entre nós, o sorvete chegou a ser
considerado o precursor do movimento de liberação feminina.
A evolução do sorvete no Brasil deu-se a passos curtos, de
forma artesanal, com uma produção em pequena escala e em poucos locais. A
distribuição em escala industrial no País só aconteceu a partir de julho de
1941, quando, nos galpões alugados da falida fábrica de sorvetes Gato Preto na
cidade do Rio de Janeiro, foi fundada a U.S. Harkson do Brasil, a primeira
indústria brasileira de sorvete. Contava com 50 carrinhos, quatro conservadoras
e sete funcionários. Seu primeiro lançamento foi o Eski-bon em 1942, seguido
pelo Chicabon. Seus formatos e embalagens são revolucionários para a época.
Dezoito anos mais tarde, a Harkson mudou seu nome para Kibon.
Em Sergipe:
Os primeiros espaços que chegaram os sorvetes na terra das
mangabas, foram nas residências, engenhos e casarões da elite sergipana no
início do século XX. Só em 1915 os sorvetes chegam aos hotéis na capital como
uma sobremesa fina e cara devido a refrigeração que na época era uma tecnologia
onerosa.
Em 1921 é fundada a primeira sorveteria de Aracaju, a
sorveteria Confiança que ficava na esquina da Rua São Cristóvão com João Pessoa
era inaugurada com seus três sabores: creme, morango e chocolate. Em 1923, o
micro empresário espanhol Vicente Salvador Ortega, que estacionava diariamente
na esquina da Igreja de São Salvador ao lado do cartaz do Cinema Rio Branco, um
pequeno carro de madeira, coberto e dotado de uma sorveteria manual, da qual
extraía os melhores sabores de frutas daqueles tempos.
Sorveteria Ponto Chic
Em 1932, quando Sizenando Vieira Leite era proprietário do
Ponto Chic, na rua João Pessoa, começou a fabricar picolés deliciosos que
fizeram tanto sucesso que foi parar nos jornais de Salvador-Bahia como o “Foia
do Roceiro”. Os picolés de Sizenando foram fabricados até 1942, quando o
racionamento de alimentos prejudicou a fabricação dos picolés.
No ano 1936 é fundada a Sorveteria Primavera que tinha como
seus proprietários o simpático casal Acioli e D. Glorinha, era mais elegante e
mais luxuosa da nossa cidade, entravam na Primavera para deliciarem o Dust
Miller, o Sundae e o famoso sorvete de ameixa. A Sorveteria Primavera serviu
suas delícias até 1963, quando foi incorporada a nova Sorveteria Iara, criada
no final de 1944 que iria ser sorveteria de dia no térreo e boate a noite no
primeiro piso até a sorveteria entrar em decadência no final dos anos 60 e
fechou no ano 1979.
Famosa Cinelândia
A Cinelândia foi fundada nos anos 1956, na rua Itabaianinha,
n.29, vizinho ao IHGSE. Renovando a técnica de fazer sorvete, a sorveteria
Cinelândia deu aproveitamento a todas as frutas comuns em Sergipe, como a nossa
amada mangaba e manteve num percentual menor das essências. Anos no início dos
anos 1980, a Cinelândia abre um quiosque na então Praia de Atalaia, mas o
quiosque além de ser o endereço na praia para se saborear um ótimo sorvete, se
tornou point da juventude, dos surfistas, do bom papo sobre a política e da
turma alternativa. Hoje a extensão de praia onde ficava o quiosque da sorveteria,
dá o nome a famosa Praia da Cinelândia. Sorveteria Cinelândia fecha o quiosque
no ano 1994 e a matriz da Cinelândia fecha no final dos anos 1990.
Nos dias de hoje
Os sorvetes e picolés a partir dos anos 80 saíram de locais
específicos na área central de Aracaju, para ocupar os bairros e outras
localidades. Outras sorveterias surgiram como; Rivage, Moniery, Vi Sabor,
Bambino, Friberg, Frut. Sabor, Tchê Sorvetes, Sorveteria Castelo Branco e a
D+Um, muitas dessas em bairros mais afastados do Centro. Sorvetes e picolés
poderiam ser encontrados em qualquer local da nossa Aracaju e de forma mais
acessível. Mais recentemente o conceito de “gelato” no modelo tradicional italiano
a partir desta visão surgiu: a Trupe Sorveteria, Il Sordo e a Gelateria
Moderna, essa por sinal resgatou uma marca familiar de 1959 que existiu na
cidade de Propriá.
Portanto podemos observar que sorvete além de ser uma delícia,
foi símbolo de resistência feminina, um grande produto de divulgação do nosso
amado Sergipe e um point nos domingos a tarde, sair para tomar um sorvete com
quem amamos, pode até pegar uma fila, mas no final fica tudo mais saboroso.
Assim finalizo essa história de verão, fiquem ligados, pois a série: “Histórias
de Verão” vai trazer muitas memorias para essa estação.
Texto e mosaico fotográfico reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br
Veja + no blog Imagem da Televisão > https://bit.ly/2QRIcrn
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