terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Sorvete: Sabor, História e Memórias


Publicado originalmente no site EXPRESSÃO SERGIPANA, em 19 de dezembro de 2019

Sorvete: Sabor, História e Memórias
Por Osvaldo Ferreira Neto

Muita gente desconhece a origem do sorvete. Existem várias teorias sobre o surgimento desta iguaria. As mais interessantes são:

O primeiro relato sobre o sorvete data de mais de 3 mil anos atrás, e tem sua origem no Oriente. Os chineses costumavam preparar uma pasta de leite de arroz misturado à neve, algo parecido com a atual raspadinha. O Imperador Nero, há cerca de mil e novecentos anos atrás, mandava seus escravos às montanhas buscarem neve, que era utilizada para o congelamento do mel, polpa de frutas ou sucos. Alexandre o Grande (356-323 a.C.), é considerado o introdutor do sorvete na Europa. Acredita-se que o líder trouxe do Oriente uma mistura de salada de frutas embebida em mel, guardada em potes de barro enterrados no chão e mantidos frios com a neve do inverno.

Em sua viagem à China em 1271, o veneziano Marco Polo teria encontrado grande variedade de cremes congelados de frutas. As receitas vieram em sua bagagem, mas não saíram da Itália até meados do século XVI, quando certo Buontalenti, cozinheiro de Catarina de Médici (1519-1589), introduziu a requintada sobremesa na corte francesa. Em 1670, o siciliano Francisco Procópio abriu em Paris um café que vendia sorvetes – a primeira sorveteria da história. Mesmo com todo o sucesso do sorvete, sua fabricação ainda era relativamente difícil. Isso foi resolvido em 1846, quando a norte-americana Nancy Johnson inventou um congelador que agitava a mistura dos ingredientes.

Em 1851, o leiteiro Jacob Fussel abriu em Baltimore a primeira fábrica da história do sorvete, se tornando o primeiro a produzi-lo em larga escala.

Após tais aprimoramentos, o sorvete ganhou uma popularidade ainda maior e os EUA se consolidaram como os maiores produtores do mundo. Foram os americanos, inclusive, que no fim do século XIX criaram as três receitas mais famosas de sorvete: sundae, banana split e ice cream soda, os quais fazem sucesso até hoje e são símbolos culturais do país. Já o picolé foi inventado em 1905, na Itália, por um menino de 11 anos chamado Frank Epperson, que esqueceu no quintal um copo de refresco com uma colher dentro durante uma noite de inverno. De manhã, ele notou que a bebida e a colher haviam congelado juntas. Em 1920, um fabricante de Ohio, Harry Burt, pôs à venda o primeiro picolé dos Estados Unidos. No mesmo ano, Christian Kent Nelson lança o Eskimo Pie, o primeiro picolé recoberto de chocolate norte-americano.

No Brasil

Foram os cariocas os primeiros brasileiros a experimentar a delícia gelada que já fazia sucesso em boa parte do mundo. No dia 23 de agosto de 1834, Lourenço Fallas inaugurava na cidade do Rio de Janeiro, na época a Corte real portuguesa, dois estabelecimentos – um no Largo do Paço e outro na Rua do Ouvidor – especialmente destinados à venda de gelados e sorvetes. Para isso, importou de Boston (EUA), pelo navio americano Madagascar, 217 toneladas de gelo, que aqui foi conservado envolto em serragem e enterrado em grandes covas, mantendo-se por 4 a 5 meses. Não demorou muito para os sorvetes brasileiros ganharem um toque tropical, misturados a carambola, pitanga, jabuticaba, manga, caju e coco.

Na época não havia como conservar o sorvete gelado, por isso ele tinha que ser consumido logo após o preparo. Por isso, as sorveterias anunciavam a hora certa de tomá-lo. Em São Paulo, a primeira notícia de sorvete que se tem registro é de um anúncio no jornal A Província de São Paulo de 4 de janeiro de 1878, que dizia: “Sorvetes – todos os dias às 15 horas, na Rua direita nº 14”. No Brasil, antes do sorvete, as mulheres eram proibidas de entrar em bares, cafés, docerias, confeitarias. Para saboreá-lo, entretanto, a mulher praticou um de seus primeiros atos de rebeldia contra a estrutura social vigente, invadindo bares e confeitarias, lugares ocupados até então quase que exclusivamente pelos homens. Por isso, entre nós, o sorvete chegou a ser considerado o precursor do movimento de liberação feminina.

A evolução do sorvete no Brasil deu-se a passos curtos, de forma artesanal, com uma produção em pequena escala e em poucos locais. A distribuição em escala industrial no País só aconteceu a partir de julho de 1941, quando, nos galpões alugados da falida fábrica de sorvetes Gato Preto na cidade do Rio de Janeiro, foi fundada a U.S. Harkson do Brasil, a primeira indústria brasileira de sorvete. Contava com 50 carrinhos, quatro conservadoras e sete funcionários. Seu primeiro lançamento foi o Eski-bon em 1942, seguido pelo Chicabon. Seus formatos e embalagens são revolucionários para a época. Dezoito anos mais tarde, a Harkson mudou seu nome para Kibon.

Em Sergipe:

Os primeiros espaços que chegaram os sorvetes na terra das mangabas, foram nas residências, engenhos e casarões da elite sergipana no início do século XX. Só em 1915 os sorvetes chegam aos hotéis na capital como uma sobremesa fina e cara devido a refrigeração que na época era uma tecnologia onerosa.

Em 1921 é fundada a primeira sorveteria de Aracaju, a sorveteria Confiança que ficava na esquina da Rua São Cristóvão com João Pessoa era inaugurada com seus três sabores: creme, morango e chocolate. Em 1923, o micro empresário espanhol Vicente Salvador Ortega, que estacionava diariamente na esquina da Igreja de São Salvador ao lado do cartaz do Cinema Rio Branco, um pequeno carro de madeira, coberto e dotado de uma sorveteria manual, da qual extraía os melhores sabores de frutas daqueles tempos.

Sorveteria Ponto Chic

Em 1932, quando Sizenando Vieira Leite era proprietário do Ponto Chic, na rua João Pessoa, começou a fabricar picolés deliciosos que fizeram tanto sucesso que foi parar nos jornais de Salvador-Bahia como o “Foia do Roceiro”. Os picolés de Sizenando foram fabricados até 1942, quando o racionamento de alimentos prejudicou a fabricação dos picolés.

No ano 1936 é fundada a Sorveteria Primavera que tinha como seus proprietários o simpático casal Acioli e D. Glorinha, era mais elegante e mais luxuosa da nossa cidade, entravam na Primavera para deliciarem o Dust Miller, o Sundae e o famoso sorvete de ameixa. A Sorveteria Primavera serviu suas delícias até 1963, quando foi incorporada a nova Sorveteria Iara, criada no final de 1944 que iria ser sorveteria de dia no térreo e boate a noite no primeiro piso até a sorveteria entrar em decadência no final dos anos 60 e fechou no ano 1979.

Famosa Cinelândia

A Cinelândia foi fundada nos anos 1956, na rua Itabaianinha, n.29, vizinho ao IHGSE. Renovando a técnica de fazer sorvete, a sorveteria Cinelândia deu aproveitamento a todas as frutas comuns em Sergipe, como a nossa amada mangaba e manteve num percentual menor das essências. Anos no início dos anos 1980, a Cinelândia abre um quiosque na então Praia de Atalaia, mas o quiosque além de ser o endereço na praia para se saborear um ótimo sorvete, se tornou point da juventude, dos surfistas, do bom papo sobre a política e da turma alternativa. Hoje a extensão de praia onde ficava o quiosque da sorveteria, dá o nome a famosa Praia da Cinelândia. Sorveteria Cinelândia fecha o quiosque no ano 1994 e a matriz da Cinelândia fecha no final dos anos 1990.

Nos dias de hoje

Os sorvetes e picolés a partir dos anos 80 saíram de locais específicos na área central de Aracaju, para ocupar os bairros e outras localidades. Outras sorveterias surgiram como; Rivage, Moniery, Vi Sabor, Bambino, Friberg, Frut. Sabor, Tchê Sorvetes, Sorveteria Castelo Branco e a D+Um, muitas dessas em bairros mais afastados do Centro. Sorvetes e picolés poderiam ser encontrados em qualquer local da nossa Aracaju e de forma mais acessível. Mais recentemente o conceito de “gelato” no modelo tradicional italiano a partir desta visão surgiu: a Trupe Sorveteria, Il Sordo e a Gelateria Moderna, essa por sinal resgatou uma marca familiar de 1959 que existiu na cidade de Propriá.

Portanto podemos observar que sorvete além de ser uma delícia, foi símbolo de resistência feminina, um grande produto de divulgação do nosso amado Sergipe e um point nos domingos a tarde, sair para tomar um sorvete com quem amamos, pode até pegar uma fila, mas no final fica tudo mais saboroso. Assim finalizo essa história de verão, fiquem ligados, pois a série: “Histórias de Verão” vai trazer muitas memorias para essa estação.

Texto e mosaico fotográfico reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br

Veja + no blog Imagem da Televisão > https://bit.ly/2QRIcrn

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