Banda Musical Luiz Ferreira Gomes
Foto: Prefeitura de Maruim
Publicado originalmente no site JORNAL DE MARUIM, em 21 de dezembro 2014
Sergipe, um celeiro de escolas musicais
Por José Vieira da Cruz
Doutor em História Social pela UFBA/Prof. da UNIT/SEED/SEMED
A música, combinação entre silêncio e sons, é uma arte
dinâmica e comunicativa. A beleza e a expressividade fazem parte de suas
formas, quer sejam elas folclóricas, líricas ou clássicas. Ela é uma linguagem
universal que atravessa o particularismo dos idiomas, melhora e congraça
espíritos sensíveis e habilidosos. O amor à música, por vezes, faz homens e
mulheres se reunirem em torno de suas letras, melodias e sinfonias. E em torno
deste objetivo se articulam seus praticantes, ouvintes e admiradores. Podem ser
citados como exemplos, dessa natureza, as filarmônicas, as bandas, as liras e
as orquestras. Denominações diferentes para instituições responsáveis pelo
enlace de músicos, maestros e do público em torno da cultura, educação e
profissionalismo.
Apesar de Sergipe está se notabilizando nacionalmente,
especialmente nas últimas décadas, como “o país do forró”. Em razão do seu rico
e diversificado campo cultural no qual os festejos juninos são expressões
consagradas, também é um traço característico de suas raízes culturais ser um
celeiro de instituições musicais cuja tradição é centenária. As apresentações
dessas instituições em procissões, momentos comemorativos, solenidades oficiais
e momentos de descontração já fazem parte constitutiva da cultura histórica
estadual. O cinema nacional reconheceu e
utilizou essa tradição no filme “Orquestra dos meninos”, aproveitando cenários
e atores locais para contar a história de um maestro, apaixonado pela música, e
que via na realização de seu sonho uma alternativa cultural e profissional para
jovens do agreste nordestino. Não obstante a narrativa da produção
cinematográfica ter sido inspirada em fatos reais ocorridos em outro estado, no
que tange à paixão pela música, a importância e a tradição das escolas de
música em Sergipe, reservadas suas particularidades, envolvem um rico mosaico
de narrativas. Contá-las nestas breves linhas seria um ato insano e
desmerecedor.
O grande número de bandas, filarmônicas, liras, associações
e orquestras têm apontado o estado como um celeiro musical responsável pela
formação de compositores, instrumentistas e maestros que atuam, tanto no
cenário local como para além de suas fronteiras. Vocação musical evidenciada,
em maior ou menor intensidade, desde o século do século XIX, em vários
municípios. Além de Aracaju, Capital do
Estado, e das bandas de instituições militares, municípios como Aquidabã com a
“Filarmônica Lira Senhora Santana”, Arauá com a “Filarmônica Municipal Nossa
Senhora da Conceição”, Barra dos Coqueiros com a “Filarmônica Municipal de
Barra dos Coqueiros”, Boquim com a “Lira Santana”, Brejo Grande com a
“Filarmônica Municipal de Brejo Grande”, Campo do Brito com a “Filarmônica
Municipal Nossa Senhora de Boa Hora”, Capela com a “ Filarmônica Nossa Senhora
da Purificação”, Carmopólis com a “Associação Musical Teotônio Neto”, Cristinópolis com a “Associação
Musical Aprobex”, Estância com a “Sociedade Musical Lira Carlos Gomes”, Frei
Paulo com a “União Lira Paulistana”, Gararu com a “ Filarmônica Eutichio Alves
da Cruz”, General Maynard com a “ Filarmônica
Municipal General Maynard”, Indiaroba com a “Nossa Senhora de
Indiaroba”, Itabaiana com a “Filarmônica Murilo Braga” e a “Filarmônica Nossa
Senhora da Conceição”, Itabaininha com a “
Filarmônica Nossa Senhora da
Conceição”, Itaporanga com a “Filarmônica Municipal de Itaporanga”, Japaratuba
com a “ Filarmônica Euterpe Japaratubense” e a “Sociedade Cultural Santa
Terezinha”, Lagarto com a “ Lira Popular”, Laranjeiras com a “Filarmônica
Municipal Coração de Jesus”, Malhador com a “Filarmônica Jacinto Figueiredo
Martins”, Nossa Senhora da Glória com a “Banda de Música Nossa Senhora da
Glória”, Nosso Senhora do Socorro com a “Filarmônica Municipal de Socorro”,
Pirambu com a “Filarmônica Municipal de Pirambu”, Poço Verde com a “Lira Santa
Cruz”, Porto da Folha com a “Banda de Música Antônio Carlos du Aracaju”,
Propriá com a “Filarmônica Santo Antônio”, Riachão do Dantas com a “Filarmônica
Nossa Senhora do Amparo”, Riachuelo com a “ Filarmônico Tasso Martins Bezerra”, Ribeirópolis com a “Filarmônica Municipal
de Ribeiropólis” e a “ Associação Musical Pedro Paes Mendonça” , Rosário
do Catete com a “Filarmônica Luiz Ferreira Gomes”, Salgado com a “Filarmônica
Municipal de Salgado”, Santo Amaro com a “Filarmônica Municipal de Santo
Amaro”, São Cristóvão com a “Filarmônica João Batista Prado” e a “Associação
Musical Genero Plech”, Simão Dias com a “Associação Musical Lira Sant’Ana”,
Tobias Barreto coma “Filarmônica Imperatriz dos Campos”, Maruim com a
“Filarmônica Euterpe Maruinense”, entre outros municípios, possuem ou já
possuíram algum instituição musical.
Por esta razão, a regência dos acordes deste ensaio
alimenta-se de algumas pesquisas já realizadas sobre o assunto em Sergipe. Na
carona desses trabalhos, a primeira nota, o dó, é dada por Acácia da Silva que
em seu estudo sobre o “Museu da Música de Itabaiana” destaca a importância da
“Filarmônica Nossa Senhora da Conceição”. Instituição musical considerada uma
das mais antigas em funcionamento no país, e reconhecida, também, como
instituição de utilidade pública nacional por resguardar uma parte da música
brasileira a partir do seu acervo e da trajetória dos seus componentes.
Neide Santana da Silva nos brinda com uma segunda nota, o
ré, ao resgatar no passado da cidade de
Laranjeiras, entre o final do século XIX e o desenrolar do século XX, a existência de pelos menos cinco bandas de música: A Santa Cruz, a União
dos Artistas, a do Comércio, Nossa Senhora da Conceição e a do Sagrado Coração
de Jesus. Silva em seu trabalho sobre as “Memórias Musicais: a trajetória da
Filarmônica Municipal Coração de Jesus” revela a importância cultural e social
desta filarmônica para a formação cultural e educacional de jovens talentos
locais. Não destoando desta melodia, Himpácia Gonçalves Costa Bezerra em seu
estudo sobre a “Filarmônica Tasso Martins Bezerra”, em Riachuelo, ao discutir a
contribuição dessa instituição enquanto agência de fomentação cultural,
educacional e profissional, faz soar a terceira nota, o mi.
Uma quarta nota, o fá, escreve-se semanalmente, aos
domingos, no programa “Hoje é dia de retrata” apresentado pelo jornalista Jairo
Alves de Almeida. Sua preocupação e sensibilidade para com o resgate e
divulgação das escolas musicais dos municípios sergipanos traçam um panorama
das bandas, filarmônicas, liras, associações e orquestras em atuação. Destaca
os talentos musicais e, sobretudo, estimula a valorização dessa tradição em
Sergipe.
Nos trabalhos em apreço verifica-se o esforço, a dedicação e
desafios daqueles que se aventuram pelas veredas musicais em terras sergipanas.
Esforço ora reconhecido pelos órgãos públicos e empresas privadas, ora
subsumidos pela política e o jogo de interesses pessoais. Mas, para além de
transitórios obstáculos, a produção musical destas instituições é nas palavras
do maestro, propriaense radicado no Rio de Janeiro, Antônio Guimarães, uma
brisa que passa como uma ondulação do ar com fragmentos divinos. Suas palavras
captam em grande medida o significado que essas escolas representam. Para ele
“sem música a vida será um erro sem alegria”.
Optando por resgatar essa alegria, mas não desejando cometer
omissões e erros. Neste ensaio, tocamos algumas notas desta melodia, esperando
provocar, quiçá, iniciativas outras para alargar o conhecimento das
experiências do rico passado musical em apreço. Passado cujos dilemas no
presente e expectativas em torno do futuro, destas escolas musicais e de sua
importância para a educação e cultura em Sergipe, devem ser repensados. Pois
não basta considerar as notas musicais isoladamente, é preciso considerar,
também, o jogo infinito de arranjos que as narrativas sobre elas podem
proporcionar para o conhecimento histórico e cultural do Brasil a partir de
Sergipe.
FONTE: CRUZ, José Vieira da. "Sergipe, um celeiro de
escolas musicais". In: Jornal da Cidade. 14/03/2010. Disponível em:
http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=58040
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldemaruim.com
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