segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Peregrinação de Divina Pastora... tradição, fé e cultura sergipana





















Publicação compartilhada do site GOVERNO DE SERGIPE, de 15 de outubro de 2023

Fotos de Arthuro Paganini

Peregrinação de Divina Pastora é reflexo de história, tradição, fé e cultura sergipana

Considerado o maior evento religioso do estado e um dos mais importantes do país e, em volume de fiéis, na região Nordeste, a Peregrinação de Divina Pastora este ano chegou à sua 65ª edição

No leste do menor estado do Brasil, o município de Divina Pastora concentra, anualmente, milhares de cristãos e devotos da santa que dá nome à cidade. Considerado o maior evento religioso de Sergipe e um dos mais importantes do país e, em volume de fiéis, na região Nordeste, a Peregrinação de Divina Pastora este ano chegou à sua 65ª edição, e contou com o apoio do Governo do Estado, garantindo mais segurança e comodidade aos fiéis. 

A programação foi iniciada com a exposição da imagem de Divina Pastora para visitação no Santuário de São Judas Tadeu, em Aracaju, entre os dias 7 e 14 de outubro. Ainda no dia 14, foi realizada a missa com a imagem de Divina Pastora no São Judas Tadeu, de onde ela seguiu em carreata até a cidade de Divina Pastora. Já no município houve a Santa Missa de abertura da 65ª Peregrinação.

Neste domingo, 15, a manhã foi iniciada com a missa e benção de envio em Riachuelo. A programação teve continuidade com a saída da imagem da Divina Pastora com os peregrinos de Riachuelo para a Praça do Cruzeiro, em Divina Pastora; terço de Nossa Senhora; Santa Missa; animação e oração; adoração; show com Padre Adeilson Carlos; vinda da imagem da Divina Pastora da Praça do Cruzeiro para o palco; terço da Divina Pastora e consagração; Santa Missa e encerramento.

Fé e tradição

Vindos de todos os cantos do estado e até mesmo do país, cada um com suas crenças e promessas, os peregrinos da padroeira de Sergipe também carregam consigo história e tradição. No caso do funcionário público José Augusto Siqueira, de 59 anos, essa tradição vem do berço. Filho do município, José Augusto viveu a maior parte de sua vida em uma casa no entorno do Santuário de Divina Pastora, e viu de perto, a cada ano, a Peregrinação crescer cada vez mais - assim como sua fé.

“Eu e minha família toda somos devotos de Divina Pastora. Eu fiz a promessa há 40 anos, quando eu fiz o concurso no qual eu sou funcionário, que se eu fosse aprovado eu pagaria a promessa com a caminhada de Aracaju para cá. Saí de lá às 20 horas e cheguei aqui às 4h40. E hoje eu mantenho essa tradição, todos os anos eu venho caminhando”, contou.

Para a produtora de eventos Luzia Cláudia Souza, 47, a tradição também vem de família, pois, durante sua infância, seu pai a carregava na cacunda pelas ladeiras durante a peregrinação. De lá para cá, ela percebe que muita coisa mudou. “A gente percebe a fé, como era a dos meus pais, porque subiam essa ladeira antigamente. Há 42 anos essa ladeira era terrível. Hoje, graças a Deus, eu subi ela bem melhor, no asfalto”.

Natural de Malhador, no agreste sergipano, Luzia fez o percurso de Santa Rosa de Lima, no leste, até Divina Pastora a pé, para agradecer pelas bênçãos concedidas nos momentos em que mais precisou. “Hoje eu vim agradecer, porque eu passei por momentos terríveis. Mas Deus é tão maravilhoso, e eu pedi tanto a Nossa Senhora Divina Pastora e a Jesus Cristo, que Ele me honrou. Então por isso eu vim aqui hoje agradecer do fundo no meu coração. Estou muito feliz, muito feliz mesmo”, disse, sem esconder a emoção nos olhos.

Apesar da pouca idade, Ana Júlia, 13, já entende o valor de manter a tradição da sua família viva. Por isso, desde criança, ela e sua avó, Gedalva Silva, 76, saem de Rosário do Catete, município vizinho, para prestigiar a Peregrinação de Divina Pastora. “Venho para acompanhar minha avó, para ela não vir só, e também para ver. Acho muito legal”, relatou a jovem.

Quem também faz questão de acompanhar toda a família é o frentista Paulo Lima, 41, de Aquidabã, no médio sertão do estado. Ele contou que começou a peregrinar ainda aos 13 anos de idade, e desde então nunca mais parou. “Desde a primeira vez a gente se interessou e cada vez mais criamos gosto por essa peregrinação, e aí sempre que a gente pode a gente está aqui. É a busca para que Nossa Senhora nos interceda a Deus sempre e nos mostre o caminho”, pontuou.

Por isso, para ele também é fundamental que o poder público trabalhe para manter essa e outras tradições vivas no estado. “É importante ter a participação do poder público para não deixar morrer essa tradição, porque nós, peregrinos, já temos a nossa maior contribuição, que é a nossa caminhada, então é interessante sempre propor, cada vez mais, incentivos para não deixar esse povo perder a sua fé”, acrescentou Paulo.

Assim como ele, o lavrador Edvaldo Vieira, 74, sai de longe para prestigiar a Peregrinação de Divina Pastora. Vindo de Muribeca, no baixo São Francisco, ele contou que passou a frequentar o evento religioso há 23 anos, após passar oito meses sem andar devido a um problema na coluna. “Eu fiz uma promessa para Divina Pastora e aí eu passei cinco anos vindo descalço de Riachuelo para aqui. Ter essa tradição é muito importante, fazer sua confissão lá no pé da imagem. E nosso governo está ajudando cada vez mais”, disse o lavrador.

Para a merendeira Adriana Araújo, 47, de Propriá, no baixo São Francisco, a tradição foi iniciada há oito anos, também por influência da família. “São muitas graças que a gente pede e a gente vê. Para mim é tudo. Fico cheia de saúde, fico bem, e eu pretendo vir todo ano, até quando Deus me der saúde. E assim vem a próxima geração, este ano já trouxe a minha neta”, detalhou.

Divina Pastora, padroeira de Sergipe

De acordo com o Padre Jhonatan Michael, reitor do Santuário de Divina Pastora, a concentração de sergipanos de todos os lugares na Peregrinação de Divina Pastora justifica a escolha da santa como padroeira do estado. 

“Nossa Senhora Divina Pastora foi elevada à categoria de padroeira do estado de Sergipe em 2017 porque os bispos de Sergipe entenderam que aqui na grande peregrinação está representado todo o povo sergipano. O impacto cultural para os devotos é enorme, é fantástico, porque Sergipe se alegra em saber que tem uma padroeira e que ela é a Divina Pastora. O título de padroeira do estado não foi algo imposto, mas sim reconhecido pela Igreja que percebeu que aqui Sergipe inteiro já se faz representado, que o povo já tinha Divina Pastora como uma grande padroeira”, apontou.

Ainda segundo o padre, além de carregar um significado religioso, a Peregrinação de Divina Pastora também é motivo de orgulho para a população do município, dado o seu valor cultural. “É patrimônio cultural e imaterial de Sergipe, e se une aos outros dois patrimônios que nós temos aqui na cidade, o Santuário de Divina Pastora e a renda irlandesa”, acrescentou.

Além disso, ele aponta que, apesar de a peregrinação de outubro ser a de maior visibilidade, outros eventos religiosos ocorrem durante todo o ano no município, reforçando a presença dessa cultura e tradição no dia a dia da cidade. “Especialmente na Paróquia Santuário Nossa Senhora Divina Pastora, porque tudo nela gira em torno da devoção a Divina Pastora no nosso dia a dia com o povo da cidade. Essa peregrinação de outubro é a maior, mas durante ano nós temos várias outras, são pelo menos 12 peregrinações todos os anos, então a cidade sempre tem peregrinos e os munícipes sempre se envolvem para ajudar a acolhê-los”, concluiu.

História e cultura

A Peregrinação de Divina Pastora é reflexo da cultura sergipana, tendo sido até tema de pesquisas na Universidade Federal de Sergipe (UFS). E a relação da festividade com o ambiente acadêmico vem desde a sua origem, visto que a peregrinação foi iniciada com membros da Juventude Universitária Católica (JUC), a partir de iniciativa do Padre Luciano José Cabral Duarte, após retornar de viagem a Paris, na França, onde as peregrinações eram bastante difundidas.

“Dentre as inovações realizadas por Dom Luciano ao assumir a direção da JUC, sem dúvida a peregrinação à cidade de Divina Pastora foi a que persistiu no decorrer dos anos, passando por transformações que a consolidaram como uma das maiores manifestações de fé do estado de Sergipe”, aponta a pesquisadora Cristiane Batista Santos em sua dissertação ‘Caminho da fé: um estudo antropológico da Peregrinação ao Santuário de Divina Pastora/SE’.

De acordo com o estudo, o grande diferencial da Peregrinação de Divina Pastora em relação às demais romarias já existentes no estado era o fato de que não havia a tentativa de controle do clero sobre as práticas devocionais, o que justificaria o sucesso do evento, já que os fiéis se viam à vontade para expressar e praticar sua fé com maior com maior liberdade e conforme suas particularidades.

Texto e imagens reproduzidos do site se gov br

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