Um dos principais pontos turísticos de Aracaju, o Monumento Tropical,
que fica na Avenida Ivo do Prado (Foto: PMA)
com nomes de pessoas está ligado à preservação da memória histórica
Foto: Portal Infonet
Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 17 de março de 2020
Veja quem são as pessoas que dão nome a grandes avenidas da
capital
Por João Paulo Schneider
e Verlane Estácio
Você conhece os sergipanos que dão nome a importantes
avenidas de Aracaju? Quem mora na capital certamente já passou por avenidas que
levam o nome de personagens históricos que foram importantes para a cultura e a
política do estado. Mas você já se perguntou quem foram essas pessoas? Porque
essas avenidas receberam esses nomes? Qual a importância delas para a nossa
capital? O Portal Infonet conversou com o historiador Reinaldo Rocha, que falou
sobre a trajetória de nomes como João Ribeiro, Hermes Fontes, Barão de Maruim e
Ivo do Prado.
Segundo o historiador Reinaldo Rocha, o ato de nomear vias
públicas com nomes de pessoas está ligado à preservação da memória histórica,
além de uma singela homenagem pela contribuição que deram ao estado ainda em
vida. “Todos esses citados tiveram uma grande relevância no cenário sergipano,
principalmente entre o fim do século XIX e início do século XX, pois
destacaram-se no campo político, histórico, cultural ou econômico”, comenta.
Veja abaixo um breve resumo sobre a trajetória das seguintes personalidades:
João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes
Natural do município de Laranjeiras, João Ribeiro foi um dos
principais
ideólogos e intelectuais do estado (Foto: arquivo nacional)
Natural do município de Laranjeiras, João Ribeiro foi um dos
principais ideólogos e intelectuais do estado. O historiador explica que Ribeiro
se notabilizou como um grande jornalista e escritor. Seus principais trabalhos
eram relacionados à crítica cultural, além da escrita de livros de história e
gramática para os ensinos fundamental e médio. “Foi um homem que atuou em
inúmeras áreas do conhecimento. Por isso que muitos intelectuais da época o
chamavam de polígrafo, isto é, aquele que escreve sobre assuntos diversos”,
conta Rocha.
O historiador relata também que o prestígio que João Ribeiro
adquiriu o fez conviver com os principais intelectuais existentes no Brasil
entre entre o fim do século XIX e início do século XX, como Sílvio Romero e
Machado de Assis. “João Ribeiro foi um dos primeiros membros da Academia
Brasileira de Letras (ABL), fundada em 1897, pelo Machado, no Rio de Janeiro”,
conta.
Outro grande feito do João Ribeiro foi conduzir o Almanaque
Brasileiro Garnier. Segundo o historiador, a almanaque buscava informar a
classe política e civil sobre os mais variados assuntos da vida republicana. “O
início da construção de uma identidade brasileira, voltada para o nacionalismo,
começou graças a esse belo trabalho que o João Ribeiro realizou”, salienta.
Hermes Floro Martins de Araújo Fontes
Segundo o professor, logo na infância Hermes já demostrava
grande intimidade
com a escrita, memorização e o desenho (Foto: arquivo
nacional)
Natural da antiga Vila de Boquim, atual cidade de Boquim,
Hermes Fontes foi um dos grandes poetas e jornalistas de Sergipe. “Hermes
Fontes é um daqueles casos típicos de pessoas que talvez a palavra gênio não
seja pretensiosa”, destaca Reinaldo. Segundo o professor, logo na infância
Hermes já demostrava grande intimidade com a escrita, memorização e o desenho.
Devido a essas habilidades, o pai o leva para a recém capital Aracaju a fim de
incentivá-lo a estudar. “Na capital, ele cai nas graças do Martinho Garcez, o
então governador de Aracaju da época, que o convida para estudar no Rio de
Janeiro”, relembra.
Na então capital federal da época, Hermes após longos
estudos se torna referência no quesito poesia brasileira no início do século
XX. “Ele lança uma série de livros poéticos que ganham uma projeção numa época
em que livros com essa temática era bastante consumido no Brasil”, destaca. Os
temas de suas poesias, conforme explica o historiador, relatavam a saudade da
terra natal – Sergipe. Além disso, Hermes também se tornou Bacharel em Direito
e passou a colaborar com algumas revistas da época.
João Gomes de Melo (Barão de Maruim)
Segundo o historiador, João Gomes recebe o título de “Barão”
pela sua proximidade com o império. “Foi um homem do partido conservador que
dava apoio ao governo de D. Pedro II”
Foto: arquivo nacional
Foi um grande proprietário rural, além de Deputado Geral
(equivalente a Deputado Federal) pelo estado de Sergipe. Segundo o historiador,
João Gomes recebe o título de “Barão” pela sua proximidade com o império. “Foi
um homem do partido conservador que dava apoio ao governo de D. Pedro II”,
destaca.
Enquanto político, Reinaldo Rocha explica que o Barão de
Maruim vai ter uma importância significativa em um dos processos históricos
mais importantes de Sergipe, que é a mudança da capital, de São Cristóvão para
Aracaju, em 1855. “Foi no engenho Unha de Gato, de sua propriedade, que vão ser
traçados os rumos e basicamente o apoio que os deputados deveriam dar a empreitada
de Inácio Barbosa, que tinha o desejo de mudar a capital de Sergipe”, relembra.
Ainda segundo o professor, o apoio do Barão de Maruim foi fundamental para que
a mudança pudesse ser concretizada.
O historiador detalha que a mudança da capital se deu por
razões econômicas. “Naquela época havia dois polos econômicos em Sergipe. Os
produtores de cana da região do Vaza-Barris e os produtores de cana do Vale do
Cotinguiba”, lembra. Os senhores de engenho do Vale do Cotinguiba (liderados
pelo Barão de Maruim), tinham o entendimento que a capital deveria está em um
lugar onde pudesse mais facilmente o açúcar ser exportado para a Bahia. “O
local no meio desse caminho seria Aracaju, que até então não existia enquanto
cidade, era apenas a Vila de Santo Antônio, que originou a cidade e também a
nova capital”, lembra.
Ivo do Prado Montes Piris de França
Foi essencialmente um militar alinhado à política. Segundo o
historiador,
além do campo militar e político, ele também foi protagonista do
campo intelectual
Foto: arquivo nacional
Foi essencialmente um militar alinhado à política. Segundo o
historiador, além do campo militar e político, ele também foi protagonista do
campo intelectual. “Ele se notabilizou em um grande intelectual por ter
discutido e criado uma obra chamada “Capitania de Sergipe: e suas ouvidorias”,
onde neste livro ele discute aquilo que era um dos assuntos mais prementes no
início do século XX: a questão de territórios e fronteiras entre Sergipe e
Bahia.
O professor diz que o estado baiano “garfou” boa parte do
território que deveria compor o estado de Sergipe. “Quando Sergipe passou a
reivindicar uma maior porção territorial a Bahia usou seu poder político e
econômico para afirmar que suas fronteiras eram bem maiores em relação ao que
os sergipanos alegavam”, destaca.
Foi então que Ivo do Prado entrou em cena para defender,
através de documentos históricos, o território sergipano. Alegando que o estado
deveria receber uma porção de terras maior em relação àquela que foi dada pela
Bahia. “Ivo do Prado foi um primeiros intelectuais a mostrar através de uma
série de mapas, imagens e cartas, a extensão do território sergipano. Mas no
final das contas, o desfecho dessa história é o que temos hoje: o menor estado
da federação. Prevaleu a força política da Bahia, que naquela época era muito
forte”, recorda.
Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br
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