Publicado originalmente no Facebook/Ana Luiza Liborio, em 17
de março de 2019
164 anos de Aracaju III
Por Ana Luiza Libório
Festejamos, hoje, mais um aniversário da cidade. E o que
poderíamos dizer sobre ela ?
Eu menina do interior, vim de Lagarto, sempre tive uma
relação de amor à cidade onde nasci.
Da infância tenho doces lembranças diáfanas:
Da colina do Santo Antônio com seus pés de sapoti e
jenipapos.
Meu tio morava no alto, na casa da encosta, àquela de
arquitetura quase normanda. Lá passamos férias memoráveis entre árvores
frondosas e enormes esquadrias de caixilho de vidro.
Da Atalaia? O imenso coqueiral. Em 1967 veraneamos por lá.
Toda manhã banho de mar na praia deserta, e a tarde pescar siri na maré do
Apicum. Jamais esqueci!
A noite ficávamos no escuro, não tinha energia elétrica,
aguardando atentos ao vai e vem da luz do antigo Farol.
Na adolescência verdadeiro paraíso, passear no comércio,
visitar livrarias, lojas de tecidos, ir nos os armarinhos comprar contas pra
maria Chiquinha e botões de madre pérola, rotina. O cachorro quente no Parque
era programa certo dessas tardes descompromissadas.
Aos domingos Cine Palace, ir tomar sorvete na Cinelândia e
na volta parar no relógio da Praça Fausto Cardoso. Passear na praça já não era
moda na capital...
Sábado a noite o programa certo era o caranguejo na Atalaia
e o Veludo seu mais famoso bar. Talvez o primeiro grande empreendimento. O
Manequito era mais mocó e o Barraco para os descolados de então.
Das “boites” lembro das também matinees dominicais na
Atlética, no Iate e da Oxente no Cotinguiba, pra gente grande, onde só
enxergávamos os dentes e as roupas brancas.
Na juventude achei a cidade por demais pacata e extremamente
provinciana. Desta fase não guardo boas lembranças, exceto do Baixo Barão.
E o que esperar da Aracaju do terceiro milênio?
Gosto de frisar que vivemos, ainda, na cidade da escala
ideal. Enfatizo o ainda porque na pós moderna Aracaju já se delineia uma nova
paisagem urbana.
Eu particularmente, prefiro a modernista Aracaju do Bairro
São José, com suas casas máquinas de morar, segundo Le Corbisier, de
platibandas retas, painéis de cobogó, venezianas de madeira e colunas de
pastilha.
E os antigos casarões da Rua de Estância, a um passo do Rio
Sergipe? Meu irmão, criado no Rio, não conseguia entender como alguém,
proprietário de tais tesouros, opta por outro tipo de moradia.
Imagina para o sujeito criado no Rio o valor de morar no
Centro, perto das praças, dos bancos, enfim, poder fazer tudo a pé. Luxo só!
Essa é a verdadeira e democrática qualidade de vida, que permite ao cidadão
flanar na cidade. Talvez a única que valha a pena.
E é como se houvessem várias Aracajus, a do Plano Pirro, a
das invasões e a selva de pedra, desenhada para carros em alta velocidade, com
ruas e calçadas estreitas, e avenidas completamente hostis para os pedestres.
Um lugar onde, até pra comprar pão, é preciso pegar o carro.
E o que é pior cheia de distantes retornos. Uma cidade
onerosa, um tabuleiro de xadrez com apenas torres e peões, o alto e o baixo.
Nada de alturas intermediárias, sinuosidades ou curvas. Desenho muito pobre
para um território plano.
Será mesmo essa a cidade em que desejamos morar? Vale a pena
refletir pois ainda há tempo de interferir. O desenvolvimento nem sempre se
constitui de arranha céus e metrópolis. As cidades européias, que todos amamos
visitar, estão aí a nos provar.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Ana Luiza Loborio
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