quarta-feira, 20 de março de 2019

164 anos de Aracaju III, por Ana Luiza Libório (17/03/2019)


Publicado originalmente no Facebook/Ana Luiza Liborio, em 17 de março de 2019

164 anos de Aracaju III
Por Ana Luiza Libório

Festejamos, hoje, mais um aniversário da cidade. E o que poderíamos dizer sobre ela ?

Eu menina do interior, vim de Lagarto, sempre tive uma relação de amor à cidade onde nasci.

Da infância tenho doces lembranças diáfanas:
Da colina do Santo Antônio com seus pés de sapoti e jenipapos.
Meu tio morava no alto, na casa da encosta, àquela de arquitetura quase normanda. Lá passamos férias memoráveis entre árvores frondosas e enormes esquadrias de caixilho de vidro.

Da Atalaia? O imenso coqueiral. Em 1967 veraneamos por lá. Toda manhã banho de mar na praia deserta, e a tarde pescar siri na maré do Apicum. Jamais esqueci!
A noite ficávamos no escuro, não tinha energia elétrica, aguardando atentos ao vai e vem da luz do antigo Farol.

Na adolescência verdadeiro paraíso, passear no comércio, visitar livrarias, lojas de tecidos, ir nos os armarinhos comprar contas pra maria Chiquinha e botões de madre pérola, rotina. O cachorro quente no Parque era programa certo dessas tardes descompromissadas.
Aos domingos Cine Palace, ir tomar sorvete na Cinelândia e na volta parar no relógio da Praça Fausto Cardoso. Passear na praça já não era moda na capital...
Sábado a noite o programa certo era o caranguejo na Atalaia e o Veludo seu mais famoso bar. Talvez o primeiro grande empreendimento. O Manequito era mais mocó e o Barraco para os descolados de então.

Das “boites” lembro das também matinees dominicais na Atlética, no Iate e da Oxente no Cotinguiba, pra gente grande, onde só enxergávamos os dentes e as roupas brancas.

Na juventude achei a cidade por demais pacata e extremamente provinciana. Desta fase não guardo boas lembranças, exceto do Baixo Barão.

E o que esperar da Aracaju do terceiro milênio?

Gosto de frisar que vivemos, ainda, na cidade da escala ideal. Enfatizo o ainda porque na pós moderna Aracaju já se delineia uma nova paisagem urbana.

Eu particularmente, prefiro a modernista Aracaju do Bairro São José, com suas casas máquinas de morar, segundo Le Corbisier, de platibandas retas, painéis de cobogó, venezianas de madeira e colunas de pastilha.

E os antigos casarões da Rua de Estância, a um passo do Rio Sergipe? Meu irmão, criado no Rio, não conseguia entender como alguém, proprietário de tais tesouros, opta por outro tipo de moradia.
Imagina para o sujeito criado no Rio o valor de morar no Centro, perto das praças, dos bancos, enfim, poder fazer tudo a pé. Luxo só! Essa é a verdadeira e democrática qualidade de vida, que permite ao cidadão flanar na cidade. Talvez a única que valha a pena.
E é como se houvessem várias Aracajus, a do Plano Pirro, a das invasões e a selva de pedra, desenhada para carros em alta velocidade, com ruas e calçadas estreitas, e avenidas completamente hostis para os pedestres. Um lugar onde, até pra comprar pão, é preciso pegar o carro.

E o que é pior cheia de distantes retornos. Uma cidade onerosa, um tabuleiro de xadrez com apenas torres e peões, o alto e o baixo. Nada de alturas intermediárias, sinuosidades ou curvas. Desenho muito pobre para um território plano.

Será mesmo essa a cidade em que desejamos morar? Vale a pena refletir pois ainda há tempo de interferir. O desenvolvimento nem sempre se constitui de arranha céus e metrópolis. As cidades européias, que todos amamos visitar, estão aí a nos provar.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Ana Luiza Loborio

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