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Publicado originalmente do site Expressão Sergipana, em 7 de março de 2019
Pesquisa estuda a cadeia produtiva do umbu
De Redação
O umbuzeiro é uma árvore símbolo do sertão nordestino e
típica da caatinga. Tem grande relevância ecológica e econômica. Armazena água
nas raízes e mesmo na época de estiagem floresce e coloca frutos. É também
fonte geradora de renda para a agricultura familiar. Proteger e produzir as
matrizes nativas deste fruto de forma sustentável é o objetivo da pesquisa
Diagnóstico da Cadeia Produtiva do Umbu (Spondias tuberosa Arruda), realizada
em parceria entre o Projeto Opará: águas do rio São Francisco e o Campus Sertão
da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
O estudo é realizado pelo projeto Opará, patrocinado pela
Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental e pelo Governo Federal,
com a proposta de subsidiar o planejamento da produção do umbu no Assentamento
Jacaré-Curituba, no semiárido sergipano, a partir de informações sobre o
cultivo, colheita e consumo dos frutos na região. A pesquisa partiu de uma
construção coletiva, entre integrantes da equipe do projeto Opará e
agricultores/as da região, por ocasião da primeira fase do projeto entre julho
de 2013 a março de 2016.
O estudo foi iniciado em novembro de 2018 com um inventário
florístico realizado por estudantes e professores da UFS em lotes irrigados e
sequeiros e áreas de reserva florestal ou em processo de restauração ambiental
para compreender a forma de distribuição das matrizes no assentamento
Jacaré-Curituba.
Na segunda etapa da pesquisa em janeiro deste ano, foram
mapeados 60 umbuzeiros, sendo 23 em área de sequeiro e 37 na área irrigada. Ao
total, foram catalogados 290 umbuzeiros, sendo 207 em lotes sem irrigação, e 83
em áreas de atividades produtivas com irrigação no assentamento. As árvores são
etiquetadas com placas de alumínio e caracterizadas fenotipicamente em relação
ao diâmetro a altura do peito (DAP), área de copa e altura. A partir do
levantamento da população, serão selecionadas algumas matrizes para que seja
realizado o estudo da fenologia da espécie.
A partir do mapeamento serão desenvolvidas novas ações
envolvendo matrizes de umbuzeiro a exemplo do plantio de 8 mil espécies nativas
em áreas de restauração florestal do projeto Opará: águas do rio São Francisco.
Além dos dados científicos, o estudo revela a organização
econômica dos produtores com o umbu. Um dos resultados obtidos até agora pela
pesquisa revela que entre os 62 agricultores cadastrados pelo levantamento, 10%
comercializam o umbu diretamente ou via atravessadores e apenas 1% faz o
beneficiamento com comercialização em feira livres. “Embora a região seja
detentora de um grande número de umbuzeiros, a fruta apresenta um potencial
econômico ainda pouco valorizado. Prova disso é que não existem dados
disponibilizados sobre o umbu por órgãos que contabilizam as produções, apesar
da sua relevância produtiva e ecológica”, destaca a coordenadora da pesquisa e
professora do Núcleo de Graduação de Agroindústria do Campus Sertão, Anny Kelly
Vasconcelos de Oliveira Lima, que estuda as propriedades do umbu há mais de uma
década.
A professora enfatiza que no período de baixa produção o
umbu dá uma média de 350kg de frutos em uma única árvore. Na época de safra,
entre janeiro a março, o fruto é muitas vezes desperdiçado por falta de uma
orientação para fins de processamento e exploração do seu potencial
socioeconômico. “Neste cenário, o diagnóstico pretende fornecer informações
sobre a cadeia produtiva do umbu, com dados sobre as plantações,
comercialização in natura nas feiras livres e supermercados. Através deste
mapeamento queremos oferecer cursos de beneficiamento sobre processamento da
fruta em doces, sucos e geleias, polpa e outros produtos que agregam valor
econômico e geram mais uma renda para o agricultor, além de fortalecer
experiências produtivas das mulheres no campo através de cooperativas”,
informa.
Para a professora, a pesquisa também promove uma intervenção
importante ao incentivar a integração local com as comunidades e levar
resultados com impactos socioambientais positivos estimulando a proteção dos
recursos naturais e o fortalecimento social e econômico da região. “É de extrema importância que este
conhecimento que adquirimos na Universidade saia dos seus muros e seja levado
para as nossas áreas de atuação na sociedade”, observa.
É o que pensa também o estudante do Campus Sertão e
estagiário do Projeto Opará: águas do rio São Francisco, Eugênio da Silva
Santos. Natural do município sergipano de Muribeca, o universitário estuda o
tema da cadeia produtiva do umbu no trabalho de conclusão de curso de
Engenharia Agronômica. “Mesmo não morando em região da caatinga, sempre fui
apaixonado por suas riquezas naturais como as plantas que sobrevivem em um
clima não muito propício. A pesquisa possibilita justamente trabalhar com o
umbuzeiro que tem importância econômica, social, ambiental e cultural”,
ressalta.
Para a estudante e estagiária do Projeto Opará: águas do rio
São Francisco, Marcia Ferreira Neri, que também participa da pesquisa, o estudo
sobre o umbu é uma oportunidade de experimentação prática que envolve o
conhecimento adquirido na universidade, a relação com os agricultores e
assentados e maior contato com as distinções geográficas e formas de cultivo
diferentes. “Trocamos experiências e saberes com os agricultores locais e percebemos
que o conhecimento científico em interação com as comunidades pode contribuir
para a prática de boas experiências socioambientais”, enfatiza.
Filha de assentados, Márcia observou em conversa com
produtores entrevistados que o umbu não é somente uma fruta, “mas usado de
forma sustentável também é uma fonte de renda, e sua preservação também
significa manter viva a identidade da cultura local. O umbuzeiro que dá frutos
também dá sombra e é um espaço no qual a família se reúne, conversa, interage.
É uma forma de socialização cultural muito própria da região e cultivada por
muitas gerações”, ressalta a estudante.
Participante da pesquisa, o agricultor João Pereira da
Silva, morador da Agrovila Pereira, faz questão de manter a tradição de
cultivar o umbuzeiro nos lotes da família. “Não tem árvore melhor no sertão. No
tempo de sol a caatinga pode ficar seca, mas o umbuzeiro é carregado de
folhagem que alimenta os animais. Quero que meus netos plantem umbuzeiros para
os filhos deles saberem que o umbu é o melhor fruto da região, que continuem o
costume de conversar embaixo de um pé de umbuzeiro depois do almoço. Ainda hoje
lá em casa é assim com meus filhos e netos.”, diz.
O agricultor Adagildo Andrade, que vende umbu nas feiras da
região com a família, gostou de saber através da pesquisa que é possível uma
nova forma de organização econômica do fruto. “Se a gente criar uma cooperativa
para o aproveitamento do umbu vai ser bom para toda a comunidade, mais renda
para as famílias. É uma árvore que dá muito fruto quando não chove e se a gente
aprender a usar o umbu o ano inteiro vai melhorar o nosso sustento”, comenta.
Texto e imagem reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br
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