REGISTRO DE PUBLICAÇÃO DE 6 DE JUNHO DE 2019
Publicado originalmente no site JORNAL GGN, em 06 de junho de 2019
Nervuras: poesia em carne viva de Ilma Fontes
Não é figura fácil, defende suas posturas com a mesma
firmeza com que acolhe amigos oriundos dos quatro cantos do planeta.
Por Eduardo Waack
Ilma Fontes é figura legendária da literatura nacional, da
nordestinidade e do jornalismo alternativo. Mulher tão forte quanto bela,
partiu corações e fez muitos intelectuais reverem opiniões, embalados pela
clareza de sua presença iluminada e rara. Não é figura fácil, defende suas
posturas com a mesma firmeza com que acolhe amigos oriundos dos quatro cantos
do planeta. Tenho o enorme prazer de conhecê-la há 30 anos e ser seu fã de
carteirinha. Era um tempo em que as pessoas se escreviam longas cartas, que o
correio postal entregava e eram aguardadas com ansiedade.
Ilma vai até as últimas consequências para honrar seus
compromissos e sua posição. Lê-la é sentir-se vivo e atuante, é mergulhar num
oceano de sentimentos, memórias, audácia. Poeta exemplar, deixa Sergipe em
evidência no atlas nacional. Aonde ela vai, vamos todos nós, pois o que escreve
é literatura da melhor qualidade. Ilma é resistência ao ordinário, é cultura
popular independente e evolucionária. O destino nos uniu. Como disse-me certa
vez na USP o poeta concretista Augusto de Campos, referindo-se a Haroldo, somos
irmãos siamesmos. Ilma é referência obrigatória, é tendência, vanguarda e
história. Ela nos guia como um pastor conduz suas ovelhas.
E agora oferta um apanhado de sua produção poética, tecida
desde os anos 1960. “Nervuras, Poesia em Carne Viva” é um painel abrangente das
várias escolas, posturas e movimentos que ecoarão pelas próximas décadas. Neste
esperado livro, dedicado à professora Ana Lúcia Menezes, tudo é cru, forte,
ousado & intenso. A começar pela capa, assinada por Cícero Guimarães Neto.
Simples e direta. Ao longo de 92 páginas, encontramos aquilo que sabíamos
encontraríamos num livro assinado por Ilma. O melhor da poesia sergipana,
brasileira, universal. Alguns poemas já haviam sido publicados em primeira mão
pelo jornal O Boêmio e n’O Capital e outros constaram de antologias diversas.
Guerreira, decidida, visceral, imensa, se oferece
escancarada num gentil buquê multicolorido. Contraditória e verdadeira, secular
e espiritual, suave e arrebatadora: yin, yang & rang. Enfrentando todos os
medos, sem nada a temer. É como afirma num trecho: “heroico e mendigo rei que a
todos seduz / o amor faz coisas que o tempo não dilui”. Um dia sei que não
estaremos mais aqui. Porém fizemos a nossa parte, estamos fazendo, acertando e
errando, corrigindo. Sua obra permanecerá, sem diluições. Ilma é a serena lua
cheia que cruza os céus da poesia, e ilumina os apaixonados na longa noite
latino-americana. Ilma Fontes sou eu, eu sou Ilma Fontes.
Nervuras, o Lançamento — 12 de abril é o aniversário de Ilma
Fontes, mas quem ganhou o presente fomos nós, seus leitores. À partir das
17h00, o Centro Cultural de Aracaju, localizado na Praça General Valadão,
tornou-se centro de uma romaria de amigos, admiradores, intelectuais e
artistas. Ali acontecia o esperado lançamento de seu primeiro livro de poemas.
Após os autógrafos, houve a inusitada caminhada “Os Penitentes das Artes em
Sergipe”, que ganhou as ruas, valorizando e homenageando 70 personalidades
sergipanas que contribuíram para o fortalecimento do pensamento e da cultura
local, entre eles Araripe Coutinho, Iara Vieira, Tereza Prado, Mário Jorge,
Clarêncio Fontes, Giselda Moraes, Fernando Chaves e Maria Cristina Gama. Nestes
tempos de memória curta, modismos passageiros e distração geral, relembrar é
viver, dar vida novamente!
Texto e imagem reproduzidos do site: jornalggn.com.br
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