sexta-feira, 25 de agosto de 2017

O teatro sergipano apresenta sua história

Apresentação do Grupo Mafuá no Mercado Thales Ferraz 
durante a I Virada Cultural de Aracaju.
Foto: André Teixeira.

Publicado originalmente no blog Em Pauta UFS, em 08/05/2010.

O teatro sergipano apresenta sua história.

Por Anne Samara Torres e André Teixeira.

Havia 50 anos de descoberto o Brasil quando nele chegaram os primeiros artistas do teatro. Vinham com a recém criada Companhia de Jesus e seu objetivo principal não era a atuação. A Companhia havia nascido para desenvolver trabalho missionário e hospitalar em Jerusalém, ou para ir aonde o Papa da época os enviasse. Não demorou muito a terem novo destino: o Novo Mundo, cuja missão era catequizar. A Igreja Católica enfrentava sua primeira grande crise. A Reforma Protestante de Calvino e Lutero forçaram-na a uma Contra-Reforma. Para isso era necessário aumentar o rebanho e desse modo encontraram nos jesuítas e nas artes cênicas trazidas em sua bagagem aliados perfeitos para convencer e converter. Assim, o teatro entrava no Brasil pela porta da frente como coadjuvante nas missões jesuíticas.

Imaginemos o ano de 1577. O palco, constituído basicamente pela exuberante vegetação nativa, não está vazio pela presença de alguns instrumentos musicais e máscaras sobre uma mesa. Ouve-se um cochicho imenso vindo detrás de um grande pano suspenso.  Está prestes a acontecer algo que a maioria dos que estão ali não sabe bem o que é. Presentes, sentados em cadeiras ou no chão, colonizados e colonizadores. Tupinambás bons cristãos, alguns curiosos liberados pelos patrões criadores de gado e alguns desses com suas famílias. Também na platéia os responsáveis pelo que está para acontecer, os jesuítas Gaspar Lourenço e João Solônio, autoridades políticas e alguns dos soldados que vieram acompanhando os padres a mando do governador Luís de Brito. Em tupi-guarani padre Gaspar fala com um índio e este vai correndo para detrás dos panos, que se abrem em seguida. Detrás deles sai um índio pintado de vermelho, chifres postiços na cabeça, e bem alto começa a dizer:

“É bom dançar, enfeitar-se

E tingir-se de vermelho;

De negro as pernas pintar-se,

Fumar e todo emplumar-se, e ser curandeiro velho.

Enraivar, andar matando

E comendo prisioneiros,

E viver se amancebando

E adultérios espiando,

Não o deixem meus terreiro.”

(Silêncio)

Guarixá, o rei dos diabos continua, agora mansamente, sua fala. Todos da audiência estão mudos e de olhos vidrados naquela novidade. São Sebastião e São Lourenço entram e a peça segue. Após a última fala, Gaspar e Solônio começam a aplaudir e logo são seguidos pelos demais na platéia. Fogos de artifício encerram aquele que seria o primeiro espetáculo teatral em terras serigy.

O trecho acima, que tenta retratar a primeira apresentação teatral em

Anchieta atuou no Brasil de 1553 a 1595. Foi poeta, gramático, historiador e teatrólogo. Escrevia em português, latim, espanhol e tupy. Sua obra é considerada a melhor do Quinhentismo brasileiro. 

Sergipe, é um misto de realidade e ficção. A fala do personagem Guarixá é do auto “Na Festa de São Lourenço”, do padre José de Anchieta. Os nomes, datas, povos, técnicas teatrais e até mesmo os fogos de artifício estão presentes nos relatos históricos, mas a documentação sobre a atuação dos jesuítas em terras sergipanas é parca. “Não há uma abordagem, um livro específico na documentação sergipana sobre os jesuítas.”, informou o historiador Antônio Lindvaldo, professor da Universidade Federal de Sergipe ao site EmPautaUFS (06/2009).

Os jesuítas usavam o teatro como forma de transformar aquilo que eles denominavam costumes pagãos em cultura cristã. De forma eficaz e fascinante misturavam costumes, máscaras e elementos do cotidiano indígena aos seus apólogos educativos para a catequização. “Críticas à antropofagia, poligamia e aos demais costumes considerados pagãos visavam construir uma nova sociedade, pautada em valores cristãos, tanto em relação à fé quanto à organização da sociedade como um todo. As missões (ou reduções) jesuíticas adquiriram importância na construção dessa nova forma de organização social.”, explicam os professores Cézar Arnaut, Flávio e Vanessa Ruckstadter, no artigo “O teatro jesuítico na Europa e no Brasil no século XVI”, publicado na revista on-line HISTEDBR, da Universidade Estadual de Maringá (UEM). O poeta José Paulo Paes ensina que “cultura não é aquilo que entra pelos seus olhos, é o que modifica o seu olhar”. Nesse viés, a missão jesuítica de modificar os hábitos e costumes do colonizado mostra a importância do teatro para a formação das bases e alicerces culturais do povo brasileiro, e, por conseguinte, do povo sergipano. É dessa forma e com esse objetivo que se narra os primórdios do teatro em Sergipe.

O teatro na nova capital

Seguindo a cronologia histórica, durante o período colonial temos um hiato de mais de dois séculos de estagnação na produção teatral. As razões podem ser explicadas pelos conflitos produzidos pelas invasões francesas e holandesas. “Mas sem dúvida, as modificações de ordem política verificadas no país contribuíram para a existência desse buraco negro”, explica o professor da Universidade Estadual de Goiás, Antônio Carlos dos Santos no artigo “Reminiscências do teatro no brasileiro”.

Em Sergipe, do século XVI pulamos para a Aracaju de meados do século XIX, quando ainda há pouco se tornara capital da província formada, em essência, por um agrupado de casebres. Foi nesse contexto que, no ano de 1868 a Companhia Dramática Santo Antônio foi contratada pelo empresário João Ferreira Bastos para atuações semanais em Aracaju e no interior, no entanto o contrato perdurou por apenas dois anos.

No ano de 1873, Sergipe vê nascer em sua capital suas duas primeiras organizações teatrais: a São Salvador, estabelecida à rua da Aurora, hoje avenida Rio Branco, e a União, localizada na rua Pacatuba. A rivalidade era patente entre ambas as companhias, que chegavam a disputar o pequeno público com uma peça nova a cada mês. Em maio de 1896, a Companhia Dramática, dirigida pelo ator G. Lessa, apresentou alguns dramas e a alta comédia “Lenço Branco”, no Teatro São José, que em dezembro do mesmo ano recebia a peça “Os três bonés”.

Na cidade histórica de Laranjeiras, além do Teatro São Pedro e do Cine-Teatro Íris, se destaca o Teatro Santo Antônio, construído no século XIX, no pleno apogeu econômico devido ao comércio de cana-de-açúcar, do coco, do gado e, principalmente, do porto. De 1841 a 1851 Laranjeiras foi considerado o maior centro cultural e artístico do estado, vindo a ser chamada de ‘Atenas sergipana’. O Teatro Santo Antônio funcionou por muito tempo abrigando espetáculos de companhias nacionais e internacionais e teve seu declínio no início do século XX, ficando durante certo tempo abandonado, vindo a funcionar inclusive como cortiço. Hoje abriga a biblioteca e laboratórios do campus avançado da UFS.

Peça encenada no campus da UFS durante o 35º 
Encontro Cultural de Laranjeiras em janeiro de 2010. 
Foto: André Teixeira

No início do século XX, novos artistas sergipanos adaptavam e montavam textos, formando o Núcleo Dramático Aracajuano, atuante grupo teatral com representações constantes, cujos sócios eram responsáveis pelo Teatro Santa Cecília, inaugurado em 1903 na rua Japaratuba, hoje rua João Pessoa, atraindo e mantendo público com peças variadas e entrada franca. Em 1904, o italiano Nicolau Pungitori inaugurou, com a audição de um gramofone, o Teatro Carlos Gomes, que em 1912 foi transformado no Cine-Teatro Rio Branco. Mais tarde, em 1920, o governo de Pereira Lobo mandou construir em Aracaju, mais precisamente na praça Olímpio Campos, um teatro para mil pessoas que recebeu o nome de Teatro São Cristóvão. O local seria onde hoje está o prédio da Prefeitura Municipal. Importante lembrar também do teatro Juca Barreto, montado pela Universidade Federal de Sergipe numa sala do antigo prédio da Faculdade de Direito, inaugurado em 1917, e que sedia atualmente o Centro de Cultura e Arte da Universidade Federal de Sergipe (Cultart). Seu nome homenageia o saudoso proprietário do Cine-Teatro Rio Branco, um dos incentivadores das apresentações teatrais aracajuanas.

Na década de 1940, alguns autores sergipanos assinavam pequenas comédias e ligeiras dramatizações históricas, apresentadas numa espécie de rádio-teatro através do programa “Teatro pelo Éter”, dirigido por Pedro Teles, e que ia ao ar no ano de 1944 pelos microfones da PRJ-6, Rádio Difusora de Sergipe.

Ainda surgiam nomes como o Teatro de Estudantes do Colégio Estadual de Sergipe, dirigido pelo professor Caetano Quaranta, que funcionou do fim dos anos 50 ao início dos anos 60.

 Teatro Atheneu antes do início da reforma. 
Foto: ASN.

A criação de novos grupos teatrais se deu mesmo depois de 1954, quando o Teatro Atheneu – o mais antigo espaço de espetáculo em atividade no estado – foi inaugurado como auditório do Colégio Estadual Atheneu Sergipense pelo governador Arnaldo Rollemberg Garcez. Entre estes novos grupos destacam-se os “Amadores de Sergipe”, os “Estudantes de Sergipe” e o “Teatro de Cultura Artística – TECA”, grupo teatral dirigido pelo professor João Costa, responsável pela montagem de diversas peças, dentre as quais Chuva, e Recital sem Opus, esta última de autoria de João Costa e Luiz Antonio Barreto, premiada nos festivais amadores da Paraíba e Rio de Janeiro, respectivamente em 1966 e 1968.

Nas décadas de 60 e 70, o Teatro Atheneu foi palco de resistência do movimento estudantil e político contra a ditadura. Fechou suas portas nos anos 80 e as reabriu em 1984. A partir daí passou por diversas reformas como a de 1990 e a de 1992. Desde agosto de 2008 o Teatro Atheneu está fechado para novas reformas. Em suas paredes ecoam os aplausos da sua última montagem, a peça “O Senhor dos Labirintos”, encenada pelo Grupo Imbuaça. Segundo a Agência Sergipana de Notícias (ASN), a entrega do teatro estava prevista para o mês de fevereiro de 2009, entretanto ainda continua de portas fechadas. Pelo o que informa a Secretaria de Estado da Cultura (Secult), o atraso se deve ao mau desempenho da empresa licitada para execução do convênio.

Teatro Lourival Batista em noite de apresentação teatral.
 Foto: André Teixeira

A fundação do Teatro Lourival Baptista, segundo o portal de cultura do Governo do Estado, aconteceu na década de 1960, com o intuito de atender ao Instituto de Educação Rui Barbosa (Escola Normal), que necessitava de um ambiente para o desenvolvimento das atividades extraclasse. Durante a sua gestão o Governador Augusto Franco transformou esse teatro em uma unidade cultural destinada ao desenvolvimento de oficinas de teatro, dança e música, o que proporcionou  o surgimento de vários grupos artísticos. 


Em 1977 surge a Companhia de Teatro Imbuaça – a mais antiga companhia de teatro de rua do país ainda em atividade – com apresentações baseadas na literatura de Cordel e em elementos da cultura popular. Dessa forma, Sergipe passou a ter um grupo de teatro acessível e atuante, surgido em meio à ditadura militar com um forte objetivo de resistência cultural. “A rua foi uma opção política e ideológica”, explica Lindolfo Amaral, um dos membros fundadores do grupo, em entrevista ao Portal Infonet. A partir daí a companhia não mais parou. Em seus quase 33 anos já montou mais de 30 espetáculos e participou de vários eventos nacionais e internacionais, além de se dedicar a projetos sociais junto a comunidades carentes da cidade, usando o teatro não só para formar artistas, mas também cidadãos.

Cena da peça “O Mundo Tá Virado, Tá no Vai ou Não Vai. 
Uma Banda Pendurada, a Outra em Breve Cai”, 
mais novo espetáculo do Imbuaça.
 Foto: André Teixeira

A atividade mais recente do grupo se deu na I Virada Cultural de Aracaju, organizado pela Funcaju em março de 2010, e que reuniu, entre diversas atividades culturais, 19 espetáculos teatrais de forma gratuita, onde participaram grupos de Aracaju e do interior do estado.

Imbuaça em 2010, durante a I Virada Cultural de Aracaju.
Foto: André Teixeira

Entre os personagens importantes não só para a história do Imbuaça, mas também para a história do teatro sergipano, está a atriz Valdice Teles, que morreu em março de 2005, aos 47 anos, vítima de um tumor no seio, mas sem antes deixar para a nova geração de atores um riquíssimo legado de textos e materiais. Seu trabalho artístico já era conhecido na época em que trabalhava como discotecária numa rádio da cidade, mas foi por meio das peças feitas no Colégio Atheneu que Valdice se entregou de corpo e alma ao Grupo Imbuaça e assim permaneceu até que sua doença não lhe permitisse mais subir aos palcos. Sete meses depois de sua morte, inaugura-se, em sua homenagem, uma escola de artes nomeada Escola de Artes Valdice Teles, que se dedica a ensinar a comunidade música, dança, artes cênicas e artes visuais. 

"Os Reis da Floresta de cimento", peça encenada em 1979 pelo grupo Raízes.

Mamulengo de Cheiroso em apresentação no 
35º Encontro Cultural de Laranjeiras. Jan/2010. 
Foto: André Teixeira

Juntamente ao Grupo Imbuaça, nasce outras companhias de teatro no estado, como o Grupo Raízes, fundado por Jorge Lins, ex-aluno do Colégio Atheneu e hoje autor e diretor de teatro além de responsável pelo projeto “Oficinas do ator”, que abre espaço para o surgimento de novos talentos sergipanos permitindo a aprendizagem de técnicas de interpretação teatral. Também o grupo de teatro de bonecos “Mamulengo de Cheiroso”, criado em 1978 pela professora Aglaé Fontes, ainda hoje cativa o público por onde passa, seja no interior, na capital, em outros estados e até mesmo na Europa, trabalhando o folclore e a cultura popular de modo vivaz e bastante musical.

O recente teatro sergipano.

Palco do Teatro Tobias Barreto recebendo a peça ‘O Mágico de Oz’, 
em produção da Nossa Escola. Outubro de 2009. 
Foto: André Teixeira

O Teatro Tobias Barreto, inaugurado em 2002 no dia do aniversário da cidade, 17 de março, é o mais recente teatro sergipano e também considerado um dos mais modernos do Brasil. Portador de muita tecnologia, espaço e conforto, ele tem sido palco de grandes espetáculos locais, nacionais e internacionais, além de conferências empresariais.  Mas é distante da sofisticação do Tobias Barreto, em meio aos mercados centrais de Aracaju, que surgem espaços como a “Rua da Cultura”, coordenado por Lindemberg Monteiro, ator e diretor da Cia de Teatro Stultífera Navis e mais recentemente o “Beco dos Cocos”, famoso pelos antigos cabarés. Ambos os espaços foram transformados por diversos artistas sergipanos em locais de manifestação folclórica, musical, circense e, é claro, teatral.

A jornalista e editora do jornal “O Capital”, Ilma Fontes, 63, contou-nos um pouco da sua experiência teatral, iniciada na escola. “Aos seis anos de idade experimentei o que uma atriz de verdade tinha direito: ensaios, nervosismo da estreia, luzes, aplausos e flores ao final.” Trabalhou com cinema e teatro profissional, onde ganhou os Prêmios Anchieta de Teatro, no Festival Nacional de São Mateus/ES, o Prêmio ASI de Direção de Teatro/1995 com a peça “As Criadas”, de Jean Genet e o Prêmio Arlequim de Mármore/UFS/1995, de melhor direção pela mesma peça. Ilma empresta seu nome ao Ponto de Leitura inaugurado em setembro de 2009 na Casa Rua da Cultura.

Além do Ponto de Leitura, a 27 de março do mesmo ano, a Casa  Rua da Cultura inaugurou o mais novo espaço para o teatro sergipano, a Sala Sergipana de Espetáculos. Seu diretor, o cearense Lindemberg Monteiro, formado em Direção pela Universidade do Rio de Janeiro – UniRio -, foi aluno da escola de teatro mais antiga da América Latina em atividade, a Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Penna, no Rio de Janeiro. Quando de sua chegada a Sergipe, em 1995, a cena teatral em Aracaju estava passando por um momento de pouca produção, com poucos projetos e poucas montagens. “Eu cheguei aqui com uma ideia, no início um pouco equivocada, de que montar um grupo e trabalhar com o teatro aqui fosse mais fácil, porque o mercado estava aberto, apesar de ser um momento infértil, existia algumas referências nacionais do teatro daqui como o teatro de rua do Imbuaça”, comenta Lindemberg.

Além disso, o diretor diz que a cena teatral atual é bem diferente e aponta uma tendência que vê como solução para melhorar ainda mais. “As companhias precisam se unir, criar uma consciência de coletivo e isso está acontecendo, o que é fundamental para o futuro do teatro no estado, estimulando mais grupos. Quando eu cheguei aqui era o contrário, um grupo queria derrubar o outro, eles não se relacionavam”, conta.

Cia Stultífera Navis durante ensaio na Casa Rua da Cultural.
 Foto: Anne Samara Torres

Questionado sobre momentos marcantes presenciados por ele na cena cultural sergipana, sem exitar relata: “Ainda estava no comecinho do projeto ‘Rua da Cultura’. Tinha uma família sentada no meio- fio: o pai, a mãe e 3 crianças que estavam morando na praça em frente ao colégio Ateneu, olhando os bailarinos dançarem. Aquela família jamais veria um pas-de-deux de bailarinos, se não fossem  ali na Rua da Cultura , porque infelizmente aquela família não tinha acesso ao teatro. Nunca teria acesso ao Tobias Barreto nem que fosse de graça,  porque a nossa sociedade consegue fazer uns apartheids que ainda são invisíveis, mas que estão presentes em nossa vida. Então, se a Rua da Cultura acabasse naquele dia eu já estava satisfeito.”

O teatro profissional

Em 2007 a Universidade Federal de Sergipe (UFS) abriu o curso de Licenciatura em Teatro no município de Laranjeiras, sendo este e os demais cursos lecionados num ambiente um tanto quanto precário para as necessidades de ensino, sendo transferidos em 2009 para o “Quarteirão dos Trapiches”, que faz parte do conjunto arquitetônico histórico da cidade. Tal conjunto foi restaurado com a finalidade de abrigar este novo campus e surgiu a partir da parceria com a Prefeitura Municipal de Laranjeiras, com o Governo do Estado de Sergipe e o Governo Federal, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Um dos projetos mais afamados desenvolvido pelos alunos desse novo curso é a “Mostra Trapiche de Teatro” que divulga para a comunidade local as atividades produzidas durante todo o semestre pelos estudantes, através de oficinas, palestras, exposições e espetáculos, sendo todas essas atividades gratuitas. Tudo isso revela uma nova fase no teatro sergipano, um teatro profissional, mas que não esquece a cultura regional.

Mas nem tudo são flores. Atualmente, o Estado de Sergipe está repleto de companhias de teatro, desde os já citados, que foram criados na década de 70 e ainda hoje encantam a platéia, como companhias mais recentes a exemplo dos grupos aracajuanos: Ôxente, Os Cênicos, Caixa Cênica, Stultífera Navis, Êxtase, Oguata; do grupo do município de Lagarto: Cobras & Lagartos; do município de Poço Redondo: Raiz Nordestina, entre tantos outros mais. No entanto, atores e companhias, ainda hoje, enfrentam uma série de dificuldades em relação a patrocínio, divulgação, quantidade de público, apoio e etc. Como diz Tarcísio Tavares, diretor do Grupo Oguata: “Nós juntamos atores que fazem teatro por amor e não por dinheiro, até porque isso é uma coisa que ator sergipano não pode esperar muito. Tivemos que nos virar sozinhos pra criar e sustentar a companhia porque é muito difícil conseguir apoio”.

Além disso, tanto as peças como os atores sergipanos ainda sofrem preconceito por  boa parte da própria sociedade que, infelizmente, termina por não dá o devido valor ao que é da terra, como explica o ator da Cia Stultífera Navis, Roney David.

Cia Stultífera Navis em novembro do 2009 
durante apresentação no Beco dos Cocos.
 Foto: André Teixeira

“Eu acho que não se dá essa valorização, até mesmo pela parte da platéia. Minha própria família já chegou a dizer que nunca tinha assistido uma peça sergipana boa e eu acabei mudando essa visão deles, mostrando que aqui tem montagens muito boas sim. Falando como ator, é bem desgastante e às vezes bem frustrante porque você passa muito tempo montando e ensaiando uma peça e às vezes a quantidade de público não é a esperada e chega uma peça de fora, passa dois dias e lota o Tobias Barreto cada dia”.

De certo que o teatro sergipano parece sim estar entrando numa nova fase, melhor que as anteriores, já que não somos mais obrigados a assistir e encenar peças de cunho cristão alienante, vivemos num período de liberdade de expressão e temos um crescente número de grupos teatrais locais. Então porque não aprendemos a apreciar o que temos? A história do nosso teatro é tão rica em acontecimentos, tão marcada pela força e coragem de nossos atores e mesmo assim ainda vemos pessoas que insistem em menosprezá-la. É impressionante como a cultura local ainda persiste. Talvez persistência seja mesmo a maior arma que nossos artistas possuem para continuar fazendo aquilo que há muito tempo fazem: encantar a todos com a maravilhosa arte do teatro.

Texto e imagens reproduzidos do blog: empautaufs.wordpress.com

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