Publicado originalmente no site FAN F1, em 24/11/2018
Natal: A árvore que ficou na memória do sergipano
Por Célia Silva
Há 10 anos, uma tragédia abalou o Natal dos aracajuanos – o
desabamento da árvore de Natal mais alta do mundo, segundo o Guiness Book,
matando quatro pessoas.
O monumento, que parecia flutuar no rio Sergipe, ainda
sobreviveu por mais duas edições, mas deixou de ser erguida a partir de 2011
por falta de um local estratégico para acolher a torre de 127,99 metros de
altura, o equivalente a um prédio de 45m.
Natureza agiu contra
Bico do Pato com a estrutura da árvore.
Foto: Domínio
Público
“Não foi o acidente que inviabilizou a árvore, mas o avanço
das águas. Infelizmente a natureza não permitiu a continuidade do projeto”,
relembra o jornalista Augusto Aranha, assessor de comunicação da Energisa na
época do desabamento. Ele acompanhou o desenrolar do projeto desde a primeira à
última edição da Árvore de Luz, como ficou conhecida.
A 1ª edição da Árvore da Energisa no Bico do Pato foi em
1999, dois anos após a privatização da Energipe. O lugar era perfeito: um banco
de areia na foz do rio Sergipe, entre os bairros 13 de Julho e Coroa do Meio e
o município da Barra dos Coqueiros. Podia ser vista de vários pontos da cidade
com um belíssimo reflexo nas águas do rio.
Grande Show
Lara Menezes aos seis anos e o pai, Gilvan.
Foto: Arquivo
pessoal
“Era muito linda! Me lembro dessa árvore, das músicas que
tocavam e dos fogos. Era uma festa que não perdia”, disse a estudante Lara
Menezes, hoje, aos 18 anos. Ela assistiu ao acendimento das luzes desde o ano
em que nasceu – 2000 – até o que antecedeu o desabamento.
“Tornou-se uma tradição da nossa família assistir àquele
espetáculo”, disse o pai, Gilvan Santos, que se juntava a milhares de outras
pessoas que lotavam o calçadão da 13 de Julho para assistir ao espetáculo.
Segundo Aranha, o projeto de lançamento da árvore começava
em setembro para findar com o acendimento das luzes, que geralmente era marcado
para o início do mês de dezembro ou até o feriado de Nossa Senhora da
Conceição, 8 de dezembro. A árvore era acesa todas as noites até o dia 6 de
janeiro, alguns anos se prolongando um pouco mais por conta do antigo Précaju.
Na inauguração, havia shows pirotécnicos e apresentações da
Orquestra Sinfônica, dos Canarinhos e outras atrações que variavam a cada ano.
Em 2008, a inauguração estava marcada para a primeira sexta-feira de dezembro.
A tragédia
Três operários morreram na hora e um quatro horas após a
queda.
Foto: Arquivo
Eram 15h20 de uma segunda-feira do dia 24 de novembro de
2008. Quatro operários da empresa terceirizada pela Energisa instalavam a
última das 12 hastes metálicas que sustentavam a árvore que seria entregue
pronta à concessionária, dona do projeto, na sexta-feira, 28, para ser
inaugurada no dia 5.
Jornalista Moema Lopes cobriu o desabamento.
Foto: Arquivo
pessoal
A jornalista Moema Lopes estava na redação do jornal quando
chegou a notícia. “Fui cobrir assustada, pois tinha dois amigos trabalhando na
montagem da árvore. Quando cheguei, vi os dois a salvo e um deles me disse que
havia acabado de descer da estrutura. Foi muito difícil fazer aquela matéria”,
relembra.
Sessenta dias após o desabamento, o inquérito policial foi
concluído, atestando que houve imperícia, imprudência e negligência na obra. O
responsável pela montagem da estrutura e o proprietário da empresa terceirizada
foram indiciados pelo crime de homicídio culposo – quando não há intenção de
matar.
Memória afetiva
A árvore de Natal da Energisa está para os aracajuanos mais
jovens como o Carrossel de Tobias está para os mais velhos. O Carrossel de
Tobias, patrimônio histórico do Estado, era um carrossel para mais de 300
crianças instalado na Praça onde fica a Catedral de Aracaju, no período de Natal
que fez a alegria da criançada entre 1904 a 1987.
Zineide Brito tem uma relação de amor com a Árvore de Luz e
todo o ano ela usa a foto que tirou em frente à antiga Praia Formosa como
perfil das redes sociais. “Um monumento que deixou saudade, ‘que causava’ e que
trazia muita beleza”, disse.
Maíra Oliveira Marques da Rocha fez o passeio de catamarã
por duas vezes para ver a árvore mais de perto e hoje a guarda na sua memória
afetiva. Ela lembra quando trabalhou no call center da Energisa dos elogios que
a empresa recebia pela árvore.
Zineide Brito usa esta foto em suas redes sociais nos meses de dezembro
Maíra com o filho fez um
passeio de catamarã duas vezes para chegar mais próximo da árvore
Fotos:
Arquivo pessoal
Locais buscados para instalar a árvore
A Árvore da Energisa irá ficar mesmo só na memória. É que segunda
a concessionária de energia elétrica, a empresa buscou outros locais para
tentar instalar a árvore, mas não encontrou.
“O Bico do Pato era o local mais estratégico por conta do
reflexo no rio”, disse André Brito, atual assessor da empresa.
Nos anos que sucederam o avanço do rio sobre o Bico do Pato,
a Energisa cogitou instalar a árvore em vários locais que coubessem os 1000 m
de raio de segurança: Barra dos Coqueiros, Coroa do Meio (atrás do shopping
Riomar e na área onde hoje ficam instaladas as barracas de fogos).
Natal Iluminado no Parque da Sementeira.
Foto: André
Moreira/PMA
Mas, nenhum desses locais davam a visibilidade e o efeito
que o Bico do Pato davam e foi então que a empresa decidiu apagar de vez as
luzes da árvore de Natal mais alta do mundo.
Para substituir o monumento, a empresa implantou o Natal
Iluminado no Parque Augusto Franco (Parque da Sementeira), zona sul de Aracaju,
com muitas luzes espalhadas em vários pequenos adereços.
Até 2007, a árvore tinha 110,11 metros de altura, o
equivalente a um prédio de 40 andares. A partir de 2008, ganhou mais alguns
metros e passou a 127,99 m de altura, conquistando o título do Guiness Book da
árvore de Natal mais alta do mundo.
A árvore seria inaugurada no dia 5 de dezembro com 2.630
lâmpadas strobes (que dão o efeito pisca-pisca) e 19.610 incandescentes.
Tinha 4.500 metros de cabos e 4.500m de cabos revestidos, 60
mil metros de cabos de 2,5mm – passando por 17 postes – e energia suficiente para iluminar uma cidade
do porte de Muribeca, com 2.210 domicílios, durante 30 dias.
Texto e imagens do site: fanf1.com.br
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