quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Natal: A árvore que ficou na memória do sergipano


Publicado originalmente no site FAN F1, em 24/11/2018

Natal: A árvore que ficou na memória do sergipano

Por Célia Silva

Há 10 anos, uma tragédia abalou o Natal dos aracajuanos – o desabamento da árvore de Natal mais alta do mundo, segundo o Guiness Book, matando quatro pessoas.

O monumento, que parecia flutuar no rio Sergipe, ainda sobreviveu por mais duas edições, mas deixou de ser erguida a partir de 2011 por falta de um local estratégico para acolher a torre de 127,99 metros de altura, o equivalente a um prédio de 45m.

Natureza agiu contra

Bico do Pato com a estrutura da árvore. 
Foto: Domínio Público

“Não foi o acidente que inviabilizou a árvore, mas o avanço das águas. Infelizmente a natureza não permitiu a continuidade do projeto”, relembra o jornalista Augusto Aranha, assessor de comunicação da Energisa na época do desabamento. Ele acompanhou o desenrolar do projeto desde a primeira à última edição da Árvore de Luz, como ficou conhecida.

A 1ª edição da Árvore da Energisa no Bico do Pato foi em 1999, dois anos após a privatização da Energipe. O lugar era perfeito: um banco de areia na foz do rio Sergipe, entre os bairros 13 de Julho e Coroa do Meio e o município da Barra dos Coqueiros. Podia ser vista de vários pontos da cidade com um belíssimo reflexo nas águas do rio.

Grande Show

Lara Menezes aos seis anos e o pai, Gilvan.
 Foto: Arquivo pessoal

“Era muito linda! Me lembro dessa árvore, das músicas que tocavam e dos fogos. Era uma festa que não perdia”, disse a estudante Lara Menezes, hoje, aos 18 anos. Ela assistiu ao acendimento das luzes desde o ano em que nasceu – 2000 – até o que antecedeu o desabamento.

“Tornou-se uma tradição da nossa família assistir àquele espetáculo”, disse o pai, Gilvan Santos, que se juntava a milhares de outras pessoas que lotavam o calçadão da 13 de Julho para assistir ao espetáculo.

Segundo Aranha, o projeto de lançamento da árvore começava em setembro para findar com o acendimento das luzes, que geralmente era marcado para o início do mês de dezembro ou até o feriado de Nossa Senhora da Conceição, 8 de dezembro. A árvore era acesa todas as noites até o dia 6 de janeiro, alguns anos se prolongando um pouco mais por conta do antigo Précaju.

Na inauguração, havia shows pirotécnicos e apresentações da Orquestra Sinfônica, dos Canarinhos e outras atrações que variavam a cada ano. Em 2008, a inauguração estava marcada para a primeira sexta-feira de dezembro.

A tragédia

Três operários morreram na hora e um quatro horas após a queda. 
Foto: Arquivo

Eram 15h20 de uma segunda-feira do dia 24 de novembro de 2008. Quatro operários da empresa terceirizada pela Energisa instalavam a última das 12 hastes metálicas que sustentavam a árvore que seria entregue pronta à concessionária, dona do projeto, na sexta-feira, 28, para ser inaugurada no dia 5.

Jornalista Moema Lopes cobriu o desabamento.
Foto: Arquivo pessoal

A jornalista Moema Lopes estava na redação do jornal quando chegou a notícia. “Fui cobrir assustada, pois tinha dois amigos trabalhando na montagem da árvore. Quando cheguei, vi os dois a salvo e um deles me disse que havia acabado de descer da estrutura. Foi muito difícil fazer aquela matéria”, relembra.

Sessenta dias após o desabamento, o inquérito policial foi concluído, atestando que houve imperícia, imprudência e negligência na obra. O responsável pela montagem da estrutura e o proprietário da empresa terceirizada foram indiciados pelo crime de homicídio culposo – quando não há intenção de matar.

Memória afetiva

A árvore de Natal da Energisa está para os aracajuanos mais jovens como o Carrossel de Tobias está para os mais velhos. O Carrossel de Tobias, patrimônio histórico do Estado, era um carrossel para mais de 300 crianças instalado na Praça onde fica a Catedral de Aracaju, no período de Natal que fez a alegria da criançada entre 1904 a 1987.

Zineide Brito tem uma relação de amor com a Árvore de Luz e todo o ano ela usa a foto que tirou em frente à antiga Praia Formosa como perfil das redes sociais. “Um monumento que deixou saudade, ‘que causava’ e que trazia muita beleza”, disse.

Maíra Oliveira Marques da Rocha fez o passeio de catamarã por duas vezes para ver a árvore mais de perto e hoje a guarda na sua memória afetiva. Ela lembra quando trabalhou no call center da Energisa dos elogios que a empresa recebia pela árvore.

Zineide Brito usa esta foto em suas redes sociais nos meses de dezembro

Maíra com o filho fez um passeio de catamarã duas vezes para chegar mais próximo da árvore
Fotos: Arquivo pessoal 

Locais buscados para instalar a árvore

A Árvore da Energisa irá ficar mesmo só na memória. É que segunda a concessionária de energia elétrica, a empresa buscou outros locais para tentar instalar a árvore, mas não encontrou.

“O Bico do Pato era o local mais estratégico por conta do reflexo no rio”, disse André Brito, atual assessor da empresa.

Nos anos que sucederam o avanço do rio sobre o Bico do Pato, a Energisa cogitou instalar a árvore em vários locais que coubessem os 1000 m de raio de segurança: Barra dos Coqueiros, Coroa do Meio (atrás do shopping Riomar e na área onde hoje ficam instaladas as barracas de fogos).

Natal Iluminado no Parque da Sementeira. 
Foto: André Moreira/PMA

Mas, nenhum desses locais davam a visibilidade e o efeito que o Bico do Pato davam e foi então que a empresa decidiu apagar de vez as luzes da árvore de Natal mais alta do mundo.

Para substituir o monumento, a empresa implantou o Natal Iluminado no Parque Augusto Franco (Parque da Sementeira), zona sul de Aracaju, com muitas luzes espalhadas em vários pequenos adereços.

Números grandiosos

A árvore tinha 2.630 lâmpadas strobes (que dão
 o efeito pisca-pisca) e 19.610 incandescentes.
Foto: Arquivo

Até 2007, a árvore tinha 110,11 metros de altura, o equivalente a um prédio de 40 andares. A partir de 2008, ganhou mais alguns metros e passou a 127,99 m de altura, conquistando o título do Guiness Book da árvore de Natal mais alta do mundo.

A árvore seria inaugurada no dia 5 de dezembro com 2.630 lâmpadas strobes (que dão o efeito pisca-pisca) e 19.610 incandescentes.

Tinha 4.500 metros de cabos e 4.500m de cabos revestidos, 60 mil metros de cabos de 2,5mm – passando por 17 postes –  e energia suficiente para iluminar uma cidade do porte de Muribeca, com 2.210 domicílios, durante 30 dias.

Texto e imagens do site: fanf1.com.br

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