Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em 22
de maio de 2019
100 anos de Dom Brandão e sua presença na luta pela terra
De Damião Rodrigues
O alto sertão sergipano já está marcado para sempre como uma
região que travou várias lutas pela reforma agrária nos últimos 40 anos, foram
vários enfrentamentos que camponeses e camponesas enfrentaram para conquistar
seu pedaço de terra para sobreviver e foi tentando se libertar da exploração
coronelista e latifundiária que esses trabalhadores enfrentou a repressão do
estado e dos fazendeiros. A luta iniciou com a forte presença da igreja e dando
continuidade até os dias atuais com MST e em meio a toda essa luta vários
personagens foram ganhando destaque na luta pela reforma agrária bem como
vários episódios dentro desse contexto foram surgindo e ficando marcado para
sempre na história como um grande símbolo de resistência. Um deles contarei
agora nessas poucas linhas onde Dom Brandão se fez presente como outros que vai
ser destacados aqui. Vamos aos fatos.
O ano era 1985 o pais ainda estava vivendo fortes vestígios
da ditadura Militar e era enorme a repressão no campo, dezenas de trabalhadores
e trabalhadoras rurais estavam acampados nas terras da fazenda Pedras Grandes
por vários dias foi que um desses dias que a força policial do estado foi até o
acampamento para retirar a força vários camponeses que ali estavam lutando pela
terra, nessa mesma época outro acampamento estava sendo formado na Barra da
onça e como um ato de solidariedade cerca de 50 acampados da Barra da Onça se
deslocaram em cima de um caminhão até a pedras grandes para em um ato de
resistência enfrentar a força policial. O clima começou a ficar tenso a medida
em que os trabalhadores iam resistindo a ficar na terra e determinados a
enfrentar a repressão foi ai que os polícias usando a força iniciou uma
sucessão de prisões, o primeiro foi Antônio ( Antônio de luzia) que foi jogado
no camburão do carro policial com fuzis apontados para ele e foi levado até
delegacia da cidade de Poço Redondo, após prenderam seu Cicero Nicácio que
estavam a frente do sindicato dos trabalhadores rurais, na delegacia iniciou-se
uma série de interrogações, os polícias queriam saber o paradeiro de outras
lideranças como a de Frei Enoque, Dionizio Cruz, Raimundo Eliete, Luiz Caetano,
João Sessenta entre outros, sem obter maiores informações os polícias
encaminharam os trabalhadores presos para cidade de nossa senhora da gloria e
foi nesse exato momento que o até então Bispo da Diocese de Propriá Dom José
Brandão de Castro interferindo diretamente no caso buscou apoio de alguns
advogados para agir na soltura dos mesmos, onde ao mesmo tempo outras centenas
de trabalhadores rurais foram para frente das respectivas delegacias para
repudiar a injusta prisão dos companheiros e assim com esse ato de resistência
os dois lutadores foram libertados da prisão e foram encaminhados de volta para
cidade de Poço Redondo.
Chegando na cidade centenas de pessoas esperava os
companheiros libertados e seguiriam em procissão até a igreja onde Dom Brandão
já estava com a igreja lotada para receber os lutadores e durante a missa Dom
José passou várias mensagens de resistência para que os trabalhadores e
trabalhadoras continuasse firme na luta pela reforma agrária e em uma de suas
frases mais tradicional ele terminou dizendo! “Eu quero a terra que o senhor
dos mundos fez para nela trabalhar” e assim prosseguiu a luta pela terra no
sertão e tantas conquistas foram surgindo e outras histórias foram escrita que
tentaremos em um outro momento para lembrar os 100 anos de Dom Brandão, um
pastor com cheiro de ovelha.
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Damião Rodrigues - Correspondente da Expressão Sergipana no Sertão Sergipano,
Comunicador Popular, Ribeirinho, Agente de Saúde do município de Poço Redondo e
militante do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA)
Texto e imagem reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br
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