Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 8 de
maio de 2019
Memorial da Medicina de Sergipe
Por Lúcio Antônio Prado Dias (Blog Infonet)
O governo de Maurício Graccho Cardoso (1922-1926) foi um dos
mais estruturantes da história republicana de Sergipe. Difícil pontuar a sua
administração em ações isoladas, em função do programa amplo e arrojado, porém
integrado, com atuação em várias frentes. Seu espírito empreendedor transformou
o estado num canteiro de obras, entre elas as ações de saneamento básico da
capital, compreendendo água, esgoto, drenagem e instalações domiciliares,
iluminação elétrica, construção de açudes, represas e estradas, construção de
prédios escolares, entre outras realizações.
Além disso, Graccho Cardoso colocou a saúde pública como
prioridade absoluta de seu governo, promovendo transformações importantes
enquanto esteve à frente do executivo, mesmo enfrentando dois golpes militares,
em 1924 e 1926, que dificultaram sobremodo a execução das tarefas programadas.
No entanto, a determinação e o estoicismo de Cardoso foram determinantes para
os avanços obtidos na saúde pública.
O “Instituto Bacteriológico”, com a finalidade de pesquisar
e produzir insumos básicos, como vacinas, por exemplo e o Hospital Cirurgia,
que deu a Sergipe um “meio cirúrgico adequado”, tão reclamado pelo médico
Augusto Leite, foram estruturas basilares para o desenvolvimento da saúde pública
de Sergipe. Neste artigo, vamos nos ater ao primeiro.
Criado pela lei 836, de 14 de novembro de 1922, o Instituto
Bacteriológico foi concebido e sua construção viabilizada nos moldes exigidos
pelos novos conhecimentos, uma preocupação de Graccho Cardoso. Para tanto,
conseguiu trazer a Sergipe, em 1923, o médico Paulo de Figueiredo Parreiras
Horta, carioca, discípulo estimado de Osvaldo Cruz, diplomado pelo Instituto
Pasteur, de Paris e já um renomado cientista brasileiro.
O início da construção ocorreu em 23 de julho de 1923 e foi
inaugurado dez meses depois, um tempo recorde para a época, mais precisamente
em 5 de maio de 1924. Um mês antes, em 19 de abril, o Diário Oficial publicava
o decreto que regulamentava o Instituto e, numa iniciativa louvável, já
denominava o novo órgão de Instituto “Parreiras Horta”. O meio médico em
Sergipe estava em festa. Nos dois anos
que passou em Sergipe, o ilustre esculápio foi hóspede oficial do governo e
recebeu diversas homenagens, uma delas promovida pela Sociedade de Medicina e
Cirurgia de Sergipe, precursora da SOMESE, em 26 de abril de 1924, sendo
saudado pelo Dr. Jessé Fontes. “Veio, sacrificando talvez os seus interesses
profissionais, instalar o nosso primeiro instituto científico, que virá abrir
novos e luminosos horizontes à medicina em Sergipe”, ressaltou Fontes em seu
discurso.
Em dezembro de 1925, com o Instituto funcionando de forma
exemplar, como um verdadeiro Templo da Ciência, Parreiras Horta retornou ao Rio
de Janeiro, deixando no seu lugar o médico João Firpo Filho, que deu sequência
ao trabalho de forma eficiente. Por muitos anos, o IPH foi um centro de
excelência na realização de pesquisas médicas, de análises clínicas,
bacteriológicas e químicas, constituindo-se num centro científico modelar na investigação
dos principais problemas da saúde pública sergipana.
No início da década de 60, já no governo Luiz Garcia, o IPH
acolheu as primeiras turmas da recém fundada faculdade de Medicina de Sergipe,
o que exigiu a construção de salas anexas ao pavilhão principal da instituição.
No final do século XX, a instituição começou a sofrer com as constantes
mudanças da política de saúde pública nacional e regional, entrando em processo
de franca decadência. Sofreu ainda com a falta de atenção de alguns gestores,
que não se preocuparam em resguardá-la e prepará-la para os novos desafios. A
deterioração da estrutura ficou visível e terminou por receber uma interdição,
por parte da Defesa Civil, de parte da construção, por risco de desabamento,
justamente a área que contempla a sua mais expressiva representação
arquitetônica, a nave central com seu magnífico domo de estilo mourisco.
Por tudo que representa na história da Medicina de Sergipe,
ao longo de quase cem anos de existência e preocupada com o destino que a
instituição pode tomar, a Academia Sergipana de Medicina e a Sociedade
Brasileira de Médicos Escritores – Regional Sergipe, resolveram promover gestão
junto ao Governo de Sergipe no sentido da recuperação e revitalização da quase
centenária instituição, com a instalação de um museu médico, tornando-se assim
um centro difusor da memória médica do Estado.
Bibliografia:
1) Silva, Henrique Batista. “História da Medicina em
Sergipe”. Aracaju: Gráfica Editora J. Andrade, 2007.
2) Santana, Antonio Samarone. “As Febres de Aracaju – dos
Miasmas aos Micróbios”. Aracaju, 2005.
3) Barreto, Luiz Antonio Barreto. “Graccho Cardoso-vida e
obra”. Aracaju: Instituto Tancredo Neves, 2002.
4) Silva, Henrique Batista. “Parreiras Horta – Pioneiro da
Medicina Científica em Sergipe”. Aracaju: Academia Sergipana de Medicina, 2001.
Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br
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