Foto de 1935.
Foto de 2013.
Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Conceição
“Imaculada, Maria de Deus, Coração pobre acolhendo Jesus.
Imaculada, Maria do Povo, Mãe dos aflitos que estão junto à Cruz...” Há mais de
150 anos, eis o hino entoado pelos fiéis católicos na imponente Catedral
Metropolitana de Aracaju, monumento tangível, que não somente retrata em seu
ambiente as manifestações de fé do povo católico, como também evoca na memória,
uma história local. Criando assim, uma identidade cultural precisa e
despertando para a consciência que preservar, conservar, manter, é salvaguardar
nosso patrimônio espiritual e político-cultural para as futuras gerações. Em mais de um século de história, muitas
foram as significações em que a Igreja de Aracaju teve a oferecer para a
sociedade sergipana, visto que Sergipe nasceu e cresceu com a presença da
mesma.
Em pleno século XXI, em que as informações nos chegam
rapidamente ao mesmo tempo em que se vão, evocar o passado, realidade de
ausências, nada mais é do que tornar presente e perpetuar para as futuras
gerações a realidade da centenária catedral, como patrimônio ofertado a todo
Sergipe. Patrimônio na Antiguidade, precisamente na Grécia Antiga, denotava
herança deixada pelo pai. Hoje em dia, possui carga semântica similar que,
empregado aos bens culturais e em especial à Catedral Metropolitana é um
legado, uma dádiva de Deus Pai deixado para os católicos e para a população
sergipana.
A história da
Catedral de Aracaju se confunde com a realidade das demais construções
religiosas inseridas no surgimento das cidades. O insuspeito escritor Viriato
Correia diz que: “não há, talvez, país que tenha, como o Brasil, a sua vida
intimamente ligada às batinas e aos hábitos. A formação da nossa nacionalidade,
começa à sombra das virtudes cristãs dos padres, primeiros pedreiros do
monumento da vida nacional”. De fato assim é.
Há um tal, entrelaçamento entre a história da sociedade e a história da
Igreja, que não se pode separar uma da outra sem mutilação. Quando não foram as
primeiras casas que se levantaram ao lado das capelinhas, foram estas que se
levantaram ao lado daquelas. Esta é a história de quase todas as cidades
brasileiras, muitas das quais cresceram e se desenvolveram como São Paulo, que
cada dia se levanta por entre esplendores das suas vitórias e da grandeza do
seu progresso, numa demonstração inequívoca do maior trinfo cultural e
econômico do Brasil, senão da América do Sul. Do mesmo modo, não poderia ter
sido diferente com a próspera “terra dos cajueiros”.
Para júbilo dos cristãos católicos, no dia 22 de maio de
1856 foi festivamente batida a primeira pedra da futura matriz da nova capital
sergipana, cuja obra esteve a cargo do engenheiro Coronel Francisco Pereira da
Silva. Relatos revelam que, em virtude da urgência no levantamento da referida
igreja, foi alterada a sua primeira planta, admitindo-se um plano mais leve e
rápido para atender às necessidades religiosas e urgentes da população da nova
Capital, “até que as circunstâncias permitissem edificar-se uma matriz
correspondente à importância que breve teria a capital da Província”.
A Catedral Metropolitana de Aracaju localizada no Parque
Teófilo Dantas, no centro da cidade, é um dos mais significativos monumentos da
arquitetura religiosa de Aracaju. A
Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição foi construída em 1862, mas só foi
inaugurada em 22 de dezembro de 1875. Sendo que, teve sua obra interrompida por
algum tempo, devido a morte do fundador da nova capital, Ignácio Joaquim
Barbosa, e pela epidemia de cólera que dizimou centenas de cidadãos na mesma
época. Tornou-se Catedral em três de janeiro de 1910, quando foi elevada à
categoria de Diocese. (Pois, esmiuçando a palavra catedral deriva do latim
cátedra, que significa sede do bispo, cadeira de onde é assistido o culto
religioso e de onde é governada a diocese.) Para facilitar as necessidades
pastorais e melhor exercer o aprimoramento do trabalho de evangelização
católica e de formação humana que já vinha sendo feito em Sergipe, o Papa Pio
X, através da bula Divina Disponente Clementia, de 03 de janeiro de 1910,
desmembrou da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, a Igreja que estava na
província de Sergipe Del’Rei, transformando-a em Diocese que abrangia todo o
Estado de Sergipe. Sua instalação se deu no dia 04 de dezembro de 1911, com a
posse solene do seu 1º bispo, Dom José Thomaz Gomes da Silva. De fato, com a
instalação da Diocese e posse do 1º bispo de Aracaju, a presença da Igreja na
história de Aracaju e de Sergipe tornou-se cada vez mais efetiva. Sendo que, é
importante ressaltar que a Igreja Católica local teve grande contribuição para
o desenvolvimento da capital sergipana nos aspectos culturais, sociais,
intelectuais etc. Cinquenta anos mais tarde, a mesma passara à categoria de
Arquidiocese, com a criação e em sintonia com as Dioceses de Estância e
Propriá.
A sede católica dos fiéis de Aracaju, o velho templo, a
antiga matriz da Imaculada Conceição, elevada à categoria de Catedral com a
criação e instalação da Diocese de Aracaju, não estava condizente com o
progresso da cidade, tampouco com o título de catedral, com isto, a comunidade
católica de local desejava vê-la adaptada às novas condições da Capital. Seria
necessário adaptá-la aos novos tempos da época. Era necessário reformá-la em um
imponente templo, aprimorando sua beleza arquitetônica e artística remetida em
seu estilo gótico. Historiadores
encontraram em documentações precisas a informação de que a edificação, que é
símbolo histórico da capital e de bela arquitetura, é falha. Como foi atestada
segundo o relatório do Dr. José Bento apresentado em setembro de 1872, à
assembléia provincial, onde encontra-se a seguinte referência: “A matriz da
capital nunca será um templo perfeito, a sua planta é de mau gosto, contém
defeitos de arquitetura que não se podem mais corrigir, faltando-lhe sobretudo
as acomodações exigidas pelas necessidades de culto, são defeitos tão
salientes que não escapam ao olho menos
observador”. A necessidade de melhor embelezá-la se fez mister tanto pelo seu
significado, como para constituir-se o centro das atenções de quantos visitam a
bela e acolhedora capital, aderindo a uma fascinante impressão do povo
aracajuano. E eis que, dentre os “Padres de Dom José”, como assim eram
conhecidos, surge o culto e corajoso Mons. Carlos Camélio Costa, membro do
Cabido Diocesano, da Academia Sergipana de Letras e um dos seus fundadores.
Tendo sido nomeado Pároco da Catedral, recebe a permissão, a bênção e a
confiança de seu bispo, Dom José Thomaz, para iniciar as obras de restauração,
ou melhor, quase reconstrução da igreja. Foram 10 anos interruptos de
trabalhos.
Sua cúpula é ornada de belíssimas pinturas do século
passado, pois o imponente edifício com seu estilo neo-gótico, como conhecemos
hoje, nem sempre foi deste modo. Foi no início do século XX que artistas
italianos vieram da Bahia para reformá-la e dar o aspecto que atualmente é
apresentada, dentre eles estava Orestes Gatti (artista italiano, nascido em
1840, chegou a Aracaju como integrante da “missão italiana” em 1918, no governo
de Pereira Lobo, para a programação das comemorações do Centenário da Independência
de Sergipe em 1920. Foi responsável pela pintura do interior da Catedral
Metropolitana de Aracaju e da Catedral de Estância-SE). Internamente,
precisamente na nave central, para fascínio dos frequentadores da mesma, a sua
pintura é em estilo “trompe l’oeil” que dá um efeito de relevo ao jogar com
perspectivas luz e sombra. Acima do altar principal, havia uma pintura do
sergipano Horácio Hora, dedicada à Nossa Senhora da Conceição, padroeira de
Aracaju, e a quem a igreja está consagrada, ainda a mesma pintura já esteve no
teto e hoje, se encontra exposta na sacristia do templo, foi considerada pela
crítica artística do pintor como a pior de todas as suas obras, mas mesmo assim
possui uma peculiar beleza. No seu interior, precisamente no coro, há o órgão
de tubos, que hoje está desativado, o seu som era algo indescritível. A cúpula
das torres é revestida de pedrinhas e conchas do mar, para remeter à
regionalidade local, visto que Aracaju é uma cidade litorânea. Em São Paulo, há
uma cidade cuja igreja reproduz a nossa catedral, inclusive com as conchas na
torre. Ainda a capela lateral, conhecida como capela do Santíssimo, possui um
lindo trabalho em ferro na grade. Sem mencionar os sinos que com o passar do
tempo foram substituídos por som eletrônico que também funciona como relógio,
causando entre as pessoas que convivem e trabalham nas mediações do templo
fundamental importância para a demarcação do horário.
Atualmente, é considerada um dos mais belos pontos
turísticos de Aracaju. Os turistas católicos e até não católicos, que visitam
Aracaju, têm como referencial da fé da gente aracajuana a adequada localização
e a imponência da bela Igreja Catedral. Foi tombada pelo decreto de número
6819, de 28 de janeiro de 1985 pelo Patrimônio Histórico Estadual. Na época, a
seleção e necessidade de proteção do bem patrimonial do prédio da Catedral
Metropolitana de Aracaju se deu, mediante a importância da ação da Igreja
Católica para o desenvolvimento direto e eficaz da capital sergipana, no que
diz respeito ao campo não só religioso, como também as demais contribuições da
mesma. Vale a pena destacar em síntese, algumas das contribuições da Igreja
para a História de Aracaju e por que não dizer, do povo sergipano. São elas:
fundação da Academia Sergipana de Letras; os beneméritos padres salesianos
fundaram o Colégio Salesiano Nª. Srª. Auxiliadora; foi construído e instalado
na Praça Tobias Barreto em Aracaju, o Colégio Patrocínio de São José;
instalação do Seminário, o grande precursor do ensino superior em Sergipe; criação
do Colégio Arquidiocesano e do Instituto Dom Fernando Gomes; fundação do SAME
(asilo dos idosos carentes); Instalação da faculdade de Filosofia e Serviço
Social, posteriormente, foi decisiva para a criação da Universidade Federal de
Sergipe; fundação do Hospital São José; construção da Casa da Doméstica, Creche
Dom Távora e Rádio Cultura de Sergipe; criação do Museu de Arte Sacra de
Sergipe, entre outros mais variados contributos.
A Catedral de Aracaju é local de grandes manifestações
artísticas e culturais, além de conservar as obras do renomado artista
sergipano Horácio Hora, também serviu de espaço para as apresentações do coral
da Sofise e até hoje, outros grupos musicais apresentam seus concertos, a
exemplo da orquestra Sinfônica de Sergipe. Atualmente propõe-se a execução de
uma restauração para a mesma, a fim de que, o imponente prédio histórico,
artístico e religioso, seja preservado para as futuras gerações e continue
servindo como atrativo cultural e turístico na capital sergipana.
Hoje, passados todos estes anos, somos testemunhas do
progresso da Igreja Católica em Sergipe e herdeiros de uma maravilhosa
construção arquitetônica, que é o prédio da Catedral. É preciso salvaguardar
não somente o prédio de “pedra e cal” revestido de bela arquitetura e pintura,
mas pela sua importância que teve e ainda tem para a história dos aracajuanos.
Texto escrito por Dhiego Guimarães
Texto e imagens reproduzidos do site: arquidiocesedearacaju.org