sábado, 9 de dezembro de 2017

Um dia para a sergipanidade


Publicado originalmente no site AJN1, em 30/10/2017

Um dia para a sergipanidade
Por Terezinha Oliva.

Por muito tempo, Sergipe comemorou a sua Independência no dia 24 de outubro. Os registros da história e a memória dos antigos dão conta de celebrações em todo o Estado, que associavam solenidades religiosas e cívicas à festa popular, cheia das conhecidas manifestações da nossa cultura. Aliás, os primeiros festejos pela Independência de Sergipe de que se tem notícia, deram-se num 24 de outubro, em 1836. Naquela data também se entoou pela primeira vez o Hino Sergipano, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de Frei José de Santa Cecília.

Em 1839 o dia se tornaria feriado por decreto – o Feriado da Emancipação. Sabia-se, entretanto, que a Carta Régia pela qual D. João VI declarara Sergipe independente da Bahia, fora assinada em 08 de julho de 1820. Como explicar a outra data festejada? Em 1887 a Assembleia Provincial resolveu definir a questão e uma Comissão chefiada pelo geógrafo e historiador Laudelino Freire apresentou projeto que instituiu dois feriados – o 08 de julho, data em que Sergipe se tornou Capitania Independente e o 24 de outubro, data consagrada pelo povo, na força do hábito.

Com o passar dos anos, a festa popular deixou de acontecer. Continuamos com as duas datas por quase um século, até 1990, quando a Assembleia Legislativa Estadual cancelou o feriado de outubro, mantendo apenas a data festiva da assinatura da Carta Régia. Para não perder a memória da importância do 24 de outubro, este dia foi, ao mesmo tempo, consagrado à Sergipanidade.

Atribui-se ao estudioso Luiz Antônio Barreto, morto em 2012, a inspiração desta iniciativa do Governo do Estado. Ele mesmo, em artigo publicado inicialmente na página da Infonet e divulgado, em parte, pela revista Cumbuca (julho, 2013), intitulado Sergipanidade, um conceito em construção, procura explicar: “é o conjunto de traços típicos, a manifestação que distingue a identidade dos sergipanos, tornando-os diferentes dos demais brasileiros, embora preservando as raízes da história comum”.

Esta busca de traços distintivos de uma comunidade foi assunto para a militância intelectual, entre nós, desde o século XIX. Em Sergipe, Luiz Antônio Barreto encontrou em Prado Sampaio, discípulo de Tobias Barreto, o primeiro uso do termo Sergipanidade, em cuja construção se empenhou a geração criadora do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Muito mais tarde, estudando a formação do povo sergipano, o historiador José Silvério Leite Fontes utilizou o conceito.

Pensar a Sergipanidade hoje é pensar como nós queremos ser representados, neste mundo múltiplo e diversificado da Brasilidade. Quando o brilho dos intelectuais sergipanos se expressou com força no cenário cultural brasileiro, na constelação formada por Tobias Barreto, Sílvio Romero, Fausto Cardoso, João Ribeiro, Manoel Bomfim e outros nomes importantes, construiu-se Sergipe como um “ninho de águias”: a pequenez do seu território – o ninho – superada pelo voo das grandes inteligências.

Clodomir Silva, que escreveu o Minha Gente, publicado em 1926, destacou no sergipano o espírito alegre, festivo e também a coragem. Uma gente, ao mesmo tempo, trabalhadora e sentimental. E chamou a atenção para a migração que espalhou sergipanos por tantas outras terras em busca de oportunidades. Atribuiu-lhes a capacidade de “civilizar a plaga estranha e adversa”, constatando o papel de grupos de sergipanos que conseguiram fixar-se e ser reconhecidos em outros cantos do Brasil.

Como acentuou Luiz Antônio Barreto, Sergipanidade é um conceito em construção. O estudo da história, da cultura e até da espacialidade leva a novas considerações sobre este tema. Um exemplo é o da geógrafa Maria Augusta Vargas que, atraída pela grande ocorrência de festas populares, concluiu que “Sergipe é uma festa”, impressionada com as 3000 festas tradicionais e 300 eventos contemporâneos que conseguiu catalogar, numa estimativa de cerca de 10 festas por dia a acontecerem no nosso território, o que realça a capacidade de organizadores e de participantes (Revista Cumbuca, 2013).

Estamos a dois anos do bicentenário da nossa Emancipação Política. A trajetória dos sergipanos desafia novas interpretações e representações. Hoje somos mais de 2.000.000 de pessoas que expressam na sua convivência identidades que herdaram do passado juntamente com as novidades de que se apropriam ou que criam no presente. Uma mistura complexa, modos de ser sergipano, dizem o que é a Sergipanidade comemorada no último dia 24.

Texto e imagem reproduzidos do site: ajn1.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário