sábado, 30 de dezembro de 2017

Paixão por vinil movimenta mercado em SE

Foto: André Moreira

Publicado originalmente no site de Jornal da Cidade, em 03/11/2015

Paixão por vinil movimenta mercado em SE

Colecionadores buscam relíquias e chegam a pagar caro para adquirir discos que emitem som de qualidade

Por Anna Paula Aquino/Da Equipe JC

 Curtir um som de qualidade. Essa é a intenção de quem coleciona discos de vinil em pleno 2015. Por mais raro que se ache que é encontrar as peças na capital sergipana, o que não falta é opção de loja ou de relíquia que chega a custar de R$ 2 até R$ 2.500.

Grandes, com capas marcantes ou polêmicas, marcaram momentos ou época e continuam no auge. Sim, os discos não morreram e suas vendas estão em pleno vapor em Aracaju. Nos mercados, no Centro e até na zona sul, é fácil encontrar esses objetos valiosos.

Na lateral do Mercado Albano Franco, existe um local assim. Conservando a paixão do pai, que também é do ramo, Dalvo José Souza faz do seu comércio um ponto de encontro de admiradores. Em meio a CDs, também, ele tem guardados mais de dois mil tesouros de todos os tipos.

Há cerca de 10 anos por lá, o comerciante destacou que a sua paixão é grande pelos discos. “Conheci os discos através da influência do meu pai e quis seguir. Adquiri experiência com isso. Aqui é um espaço de vendas e dedicação ao que eu gosto”, comentou.

Para o acervo, ele compra sempre de outras pessoas e tem clientes fiéis. “Várias pessoas voltam para procurar os seus preferidos. Os mais procurados são de rock e reggae. Por aqui, os clientes valorizam ainda quando os artistas morrem, são os tesouros, após a notícia da morte”, explicou.

Mais à frente, no cruzamento das Ruas Geru e Lagarto, outra coleção. Com mais de quatro mil discos atualmente em sua loja, Natan de Albuquerque se encantou aos 13 anos com eles. No coração, a lembrança ainda do seu primeiro disco de Fernando Mendes de 1973 e o sentimento de continuar procurando os preciosos.

No lugar, seu gosto por MPB se mistura com outros. Chico Buarque, Caetano Veloso e João Bosco estão junto de Raul Seixas, Tim Maia, além de internacionais que fazem o maior sucesso entre os colecionadores. Com R$ 3 facilmente, a pessoa pode sair com a trilha sonora garantida dali ou com R$ 100 o consumidor pode ter em sua estante, João Gilberto no seu primeiro álbum.

Natan ressaltou que o movimento nunca parou de verdade. “O vinil não para. Começaram a fabricar radiolas novas e o pessoal percebeu que é melhor o som que o do CD, além da durabilidade”, afirmou.

Detalhando melhor o seu hobby, ele falou do ritual prazeroso de ouvir um vinil que encanta pessoas de todas as idades. “O disco leva a pessoa a um ritual por conta do sensorial, ela ouve um lado e depois o outro. Você tem que parar para ouvir música e no CD não, às vezes coloca no carro e nem escuta ou presta atenção”, contou lembrando que na lista de clientes, estão pessoas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco que a cada parada na capital sergipana, aumentam seu estoque musical.

Pesquisa

De Aracaju, André Teixeira, universitário que é frequentador fiel do ponto. Tão envolvido com o tema e a rotina, ele também abriu um espaço no Inácio Barbosa e já prepara seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para o curso de Jornalismo sobre isso.

A decisão do tema do TCC foi após a perda de um dos amigos colecionadores que participavam frequentemente dos encontros realizados em Nossa Senhora do Socorro. Nas referências, contatos que já estão no seu cotidiano e recordações de lugares que estão na história da cidade para este segmento. “No TCC, eu pretendo buscar um pouco dessas memórias e dessas lojas clássicas como a “Litte Light Music” que ficava no Beco do Alecrim, localizado no Centro, em Aracaju. Ed Motta chegou a comprar discos lá”, relatou.

Na rotina, André participa de eventos que reúnem novos e antigos interessados no assunto. Definida como uma abertura de acervo por ele, cada ocasião está tendo um saldo positivo atualmente. “Tem aparecido tanta gente nova, comprando aparelho de som ou buscando consertar. A cada encontro, tem gente que não deixa de comprar e outras que estão procurando pela primeira vez”, informou. 

Na análise do estudo e das vendas do seu negócio, ele ressalta ainda verdadeiras riquezas. “Comecei a comprar discos repetidos e atualmente 90% do que tenho na lojinha é meu. Tenho discos a partir de R$ 5, mas existem raros no país que podem chegar a R$ 25 mil. Entre os mais procurados está o primeiro disco do Roberto Carlos que pode custar cerca de R$ 5 mil. Na minha lojinha, o disco mais caro é o primeiro de Tom Jobim que eu não vendo por menos de R$ 2.500, álbum Sinfonia Popular do Rio de Janeiro, de 1953”.

Para os que pretendem iniciar-se na mania, ele ensinou os truques básicos. “É bom saber o que está comprando. Uma vitrola de R$ 300 pode ser barata, mas sair cara, se não tiver uma assistência técnica aqui em Sergipe. Para investir em um som, recomendo a pessoa a pesquisar o modelo e comparar com outros. Às vezes pode ser mais interessante comprar na internet, do que aqui”, indicou.

André finalizou esclarecendo que essa era não acabou. “O vinil nunca morreu, só deixou de ser produzido na escala industrial que era e passou a ser quase que numa escala caseira. Por conta do advento da música mediada pelos meios digitais, tem uma redução inclusive a própria durabilidade. É um produto

Som vibra pela agulha

Os discos vinis foram criados em 1948 com os primeiros feitos de goma-laca de 78 rotações. Desde então, se transformou em LP (Long Play), EP (Extended Play), Single (Single Play) ou Máxi (Máxi Single). Num aparelho de som ou vitrola com o funcionamento através da vibração da agulha, ele pode tocar canções com uma qualidade sem igual.

Aracaju tem guardião de vitrolas

No centro da capital, um verdadeiro tesouro é guardado com cuidado. São mais de 35 aparelhos de som e 800 discos cuidados com carinho pelo comerciante Gamaliel Souza.

Desde o primeiro aparelho, há cerca de 40 anos, ele começou a sua coleção para incentivar o gosto de sua esposa pelas antiguidades. Em um desses passeios na busca por tesouros, ele encontrou sua primeira vitrola e começou a busca incansável pelo som perfeito.

No arquivo, estão discos de cera de carnaúba que tocavam perfeitamente nas peças mais antigas. De todos os tamanhos, modelos e especialidades, ele guarda todos com zelo para proteger de sujeira e do tempo. Entre elas, o primeiro aparelho de som do mundo, o Fonográfo criado em 1877. No local, ele recebe visitantes do sudeste que admiram os objetos antigos e são recebidos com alegria pelo apaixonado.

Nos seus relatos, ele lembra como encontrou a mais difícil de todas. “Essa peça de 1770 é uma caixa de música que tocava discos com gravuras de 60 centímetros de diâmetro. Consegui com um rapaz que vende antiguidade. Ele descobriu a peça em Itabuna, na Bahia, e me ligou. Esperei ele enviar a foto, quando recebi, não pensei e comprei há cerca de 10 anos”, contou.

Buscando conservar a cultura, Gamaliel já expôs suas paixões uma vez, mas disse não querer mais viver essa experiência. “Infelizmente, cultura nesse país e nada é a mesma coisa. O meu acervo é um dos maiores do mundo e ninguém no país tem. Infelizmente isso deixa o Brasil sem memória”, desabafou.

Sem incentivo ou perspectiva de propostas que valorizem esses bens que são responsáveis pela história, ele falou da sua última decisão. “Tirei as fotos de todas as peças para enviar para as embaixadas de países que incentivam a cultura e fabricaram as peças. A intenção agora é vender. Os meus filhos não querem tomar conta e assim vai ter quem conserve isso, até porque todas funcionam”.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

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