Foto: André Moreira
Publicado originalmente no site de Jornal da Cidade, em 03/11/2015
Paixão por vinil movimenta mercado em SE
Colecionadores buscam relíquias e chegam a pagar caro para
adquirir discos que emitem som de qualidade
Por Anna Paula Aquino/Da Equipe JC
Curtir um som de
qualidade. Essa é a intenção de quem coleciona discos de vinil em pleno 2015.
Por mais raro que se ache que é encontrar as peças na capital sergipana, o que
não falta é opção de loja ou de relíquia que chega a custar de R$ 2 até R$
2.500.
Grandes, com capas marcantes ou polêmicas, marcaram momentos
ou época e continuam no auge. Sim, os discos não morreram e suas vendas estão
em pleno vapor em Aracaju. Nos mercados, no Centro e até na zona sul, é fácil
encontrar esses objetos valiosos.
Na lateral do Mercado Albano Franco, existe um local assim.
Conservando a paixão do pai, que também é do ramo, Dalvo José Souza faz do seu
comércio um ponto de encontro de admiradores. Em meio a CDs, também, ele tem
guardados mais de dois mil tesouros de todos os tipos.
Há cerca de 10 anos por lá, o comerciante destacou que a sua
paixão é grande pelos discos. “Conheci os discos através da influência do meu
pai e quis seguir. Adquiri experiência com isso. Aqui é um espaço de vendas e
dedicação ao que eu gosto”, comentou.
Para o acervo, ele compra sempre de outras pessoas e tem
clientes fiéis. “Várias pessoas voltam para procurar os seus preferidos. Os
mais procurados são de rock e reggae. Por aqui, os clientes valorizam ainda
quando os artistas morrem, são os tesouros, após a notícia da morte”, explicou.
Mais à frente, no cruzamento das Ruas Geru e Lagarto, outra
coleção. Com mais de quatro mil discos atualmente em sua loja, Natan de
Albuquerque se encantou aos 13 anos com eles. No coração, a lembrança ainda do
seu primeiro disco de Fernando Mendes de 1973 e o sentimento de continuar
procurando os preciosos.
No lugar, seu gosto por MPB se mistura com outros. Chico
Buarque, Caetano Veloso e João Bosco estão junto de Raul Seixas, Tim Maia, além
de internacionais que fazem o maior sucesso entre os colecionadores. Com R$ 3
facilmente, a pessoa pode sair com a trilha sonora garantida dali ou com R$ 100
o consumidor pode ter em sua estante, João Gilberto no seu primeiro álbum.
Natan ressaltou que o movimento nunca parou de verdade. “O
vinil não para. Começaram a fabricar radiolas novas e o pessoal percebeu que é
melhor o som que o do CD, além da durabilidade”, afirmou.
Detalhando melhor o seu hobby, ele falou do ritual prazeroso
de ouvir um vinil que encanta pessoas de todas as idades. “O disco leva a
pessoa a um ritual por conta do sensorial, ela ouve um lado e depois o outro.
Você tem que parar para ouvir música e no CD não, às vezes coloca no carro e
nem escuta ou presta atenção”, contou lembrando que na lista de clientes, estão
pessoas de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco que a cada
parada na capital sergipana, aumentam seu estoque musical.
Pesquisa
De Aracaju, André Teixeira, universitário que é frequentador
fiel do ponto. Tão envolvido com o tema e a rotina, ele também abriu um espaço
no Inácio Barbosa e já prepara seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) para o
curso de Jornalismo sobre isso.
A decisão do tema do TCC foi após a perda de um dos amigos
colecionadores que participavam frequentemente dos encontros realizados em
Nossa Senhora do Socorro. Nas referências, contatos que já estão no seu
cotidiano e recordações de lugares que estão na história da cidade para este
segmento. “No TCC, eu pretendo buscar um pouco dessas memórias e dessas lojas
clássicas como a “Litte Light Music” que ficava no Beco do Alecrim, localizado
no Centro, em Aracaju. Ed Motta chegou a comprar discos lá”, relatou.
Na rotina, André participa de eventos que reúnem novos e
antigos interessados no assunto. Definida como uma abertura de acervo por ele,
cada ocasião está tendo um saldo positivo atualmente. “Tem aparecido tanta
gente nova, comprando aparelho de som ou buscando consertar. A cada encontro,
tem gente que não deixa de comprar e outras que estão procurando pela primeira
vez”, informou.
Na análise do estudo e das vendas do seu negócio, ele
ressalta ainda verdadeiras riquezas. “Comecei a comprar discos repetidos e
atualmente 90% do que tenho na lojinha é meu. Tenho discos a partir de R$ 5,
mas existem raros no país que podem chegar a R$ 25 mil. Entre os mais
procurados está o primeiro disco do Roberto Carlos que pode custar cerca de R$
5 mil. Na minha lojinha, o disco mais caro é o primeiro de Tom Jobim que eu não
vendo por menos de R$ 2.500, álbum Sinfonia Popular do Rio de Janeiro, de
1953”.
Para os que pretendem iniciar-se na mania, ele ensinou os
truques básicos. “É bom saber o que está comprando. Uma vitrola de R$ 300 pode
ser barata, mas sair cara, se não tiver uma assistência técnica aqui em
Sergipe. Para investir em um som, recomendo a pessoa a pesquisar o modelo e
comparar com outros. Às vezes pode ser mais interessante comprar na internet,
do que aqui”, indicou.
André finalizou esclarecendo que essa era não acabou. “O
vinil nunca morreu, só deixou de ser produzido na escala industrial que era e
passou a ser quase que numa escala caseira. Por conta do advento da música
mediada pelos meios digitais, tem uma redução inclusive a própria durabilidade.
É um produto
Som vibra pela agulha
Os discos vinis foram criados em 1948 com os primeiros
feitos de goma-laca de 78 rotações. Desde então, se transformou em LP (Long
Play), EP (Extended Play), Single (Single Play) ou Máxi (Máxi Single). Num
aparelho de som ou vitrola com o funcionamento através da vibração da agulha,
ele pode tocar canções com uma qualidade sem igual.
Aracaju tem guardião de vitrolas
No centro da capital, um verdadeiro tesouro é guardado com
cuidado. São mais de 35 aparelhos de som e 800 discos cuidados com carinho pelo
comerciante Gamaliel Souza.
Desde o primeiro aparelho, há cerca de 40 anos, ele começou
a sua coleção para incentivar o gosto de sua esposa pelas antiguidades. Em um
desses passeios na busca por tesouros, ele encontrou sua primeira vitrola e
começou a busca incansável pelo som perfeito.
No arquivo, estão discos de cera de carnaúba que tocavam
perfeitamente nas peças mais antigas. De todos os tamanhos, modelos e
especialidades, ele guarda todos com zelo para proteger de sujeira e do tempo.
Entre elas, o primeiro aparelho de som do mundo, o Fonográfo criado em 1877. No
local, ele recebe visitantes do sudeste que admiram os objetos antigos e são
recebidos com alegria pelo apaixonado.
Nos seus relatos, ele lembra como encontrou a mais difícil
de todas. “Essa peça de 1770 é uma caixa de música que tocava discos com
gravuras de 60 centímetros de diâmetro. Consegui com um rapaz que vende
antiguidade. Ele descobriu a peça em Itabuna, na Bahia, e me ligou. Esperei ele
enviar a foto, quando recebi, não pensei e comprei há cerca de 10 anos”,
contou.
Buscando conservar a cultura, Gamaliel já expôs suas paixões
uma vez, mas disse não querer mais viver essa experiência. “Infelizmente,
cultura nesse país e nada é a mesma coisa. O meu acervo é um dos maiores do
mundo e ninguém no país tem. Infelizmente isso deixa o Brasil sem memória”,
desabafou.
Sem incentivo ou perspectiva de propostas que valorizem
esses bens que são responsáveis pela história, ele falou da sua última decisão.
“Tirei as fotos de todas as peças para enviar para as embaixadas de países que
incentivam a cultura e fabricaram as peças. A intenção agora é vender. Os meus
filhos não querem tomar conta e assim vai ter quem conserve isso, até porque
todas funcionam”.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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