segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Santo Antônio, o Bairro que nasceu da Colina (Parte 1)

 Colina do Santo Antônio

 Avenida João Ribeiro | Foto: MELINS, Murillo. Aracaju romântica que vi e vivi.
 Anos 40 e 50. Aracaju: UNIT,2007.

 Placa na entrada do Cemitério Santa Isabel | Foto: José de Oliveira B. Filho

 Bonde puxado por burros | Foto: BARRETO, Armando. Cadastro industrial,
 comercial, agrícola e informativo de Sergipe, 1953.

 Colina do Santo Antônio | Foto: Revista Renascença nr. 08 – 1935

 Praça Princesa Isabel na década de 30, com o Cemitério ao fundo 
 Foto: Acervo da Biblioteca Pública Epifânio Dórea

Avenida João Ribeiro, vista do alto da Igreja do Santo Antônio | Foto: BARRETO, Armando. Cadastro industrial, comercial e informativo de Sergipe,1934.

Publicado originalmente no site Expressao Sergipana, em 2 de dezembro de 2017

SANTO ANTÔNIO, O BAIRRO QUE NASCEU DA COLINA (PARTE 1)

Por Osvaldo Ferreira Neto 

O bairro Santo Antônio ganhou a enquete entre os leitores da Expressão Sergipana e dará continuidade ao especial “Aracaju e seus bairros”. Então, a coluna ‘Senta que lá vem história’ vai contar um pouco da história deste lugar tão especial para os aracajuanos durante as próximas semanas. Vamos lá subir a Colina e desvendar as memórias e tradições deste pedacinho de Aracaju?

OS PRIMÓRDIOS DO POVOADO DO SANTO ANTÔNIO DA COTINGUIBA

Tudo começa antes da cidade de Aracaju existir. Como dizia o historiador Sebrão Sobrinho: “de muito tempo já existia o inóspito povoado sob a tutela da freguesia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro da Cotinguiba, atual município de Nossa Senhora do Socorro, antes de Aracaju ser fundada”. Também existe registro de uma carta do vigário José da Maria dos Santos Lima, que descreve em 1757 o pequenino povoado do Santo Antônio da Cotinguiba: “que veria homenagear o santo português franciscano, pois no povoado avia no alto da Collina onde se via a Barra, otos casas umildes e uma ermida com emagem sacra do santo”.

Com o passar do tempo, o número de casas foi aumentando na aldeia. A sua maioria habitada por pescadores que trabalhavam no rio Sergipe. A capela de taipa que resistia aos anos, com o seu Santo Antônio, no ano de 1843 veio abaixo depois de uma forte chuva e ventos. O santo então ficou na única casa de alvenaria da localidade. A do senhor João Pedro Cunha da Silva, proprietário de algumas terras na região. O vínculo da comunidade com Santo Antônio persistiu pelo tempo até os dias atuais.

A MUDANÇA DA CAPITAL

Em 1854, um órgão público era instalado na Colina. A Mesa de Rendas passou dois meses até ser transferida definitivamente para a Praia da Olaria, onde iria ganhar o prédio próprio na atual Praça Gal. Valadão. Nas margens do rio Sergipe, em 17 de março em 1855, o agora povoado do Santo Antônio do Aracaju, participou da transferência da capital como referência geográfica e jurídica na fundação de Aracaju.

Portanto, o projeto do Quadrado de Pirro não se adequava à colina do povoado do Santo Antônio. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a cidade foi projetada para a planície. Após a transferência, o povoado vai inclusive ser isolado dos interesses da província. Fato curioso que reforça o isolamento é que os mudancistas estavam cansados dos morros e colinas de São Cristóvão e desejosos ao porto nas margens do rio. Mesmo assim, Inácio Joaquim Barbosa ordenou a abertura de uma estrada que ligasse diretamente a cidade ao povoado.

A obra só começou com Barão de Maruim, em 30 de novembro 1855 e continuou com Salvador Correia de Sá e Benevides, sob a responsabilidade de Pirro. Ladrilhada em 17 de abril 1857, a estrada sai da Fonte do Coqueiro (início da atual Av. Carlos Firpo, onde se encontra o antigo Edifício do INSS) e chega até a porta da nova e reconstruída Capela de Santo Antônio. O povo logo denominou de “Estrada Nova” (hoje conhecida como Av. João Ribeiro) e permaneceu assim por um bom tempo.

O CEMITÉRIO E AS NASCENTES DO MANÉ PRETO

Em 25 de fevereiro de 1862, fundou-se o novo cemitério da capital no Santo Antônio. O campo santo foi financiado pelo Imperador D. Pedro II. O Cemitério de Nossa Senhora da Conceição (atual Cemitério Santa Isabel) abria as suas covas para os defuntos de Aracaju e região.

Nesse período, a cidade não tinha uma rede de abastecimento de água potável. O que ajudou a população no abastecimento foram as fontes. E nas proximidades, ao norte da colina, irá se destacar as maravilhosas águas limpas da Fonte do Mané Preto. Ela foi disputada pelos aracajuanos por muito tempo. Nela era vendida água para todos os cantos da capital. O Mané Preto pertencerá ao bairro Santo Antônio até 1982.

O BAIRRO SANTO ANTÔNIO NO INÍCIO SÉCULO XX

Com a chegada do novo século, a cidade foi conhecendo novos serviços públicos e novas tecnologias. Não foi diferente no Santo Antônio. Em 08 de dezembro 1912, chegou a “Linha 2” do bonde puxado por burros, facilitando o transporte dos cidadãos entre o Santo Antônio e outras regiões da capital.

A Capela de Santo Antônio foi elevada à Paróquia em 21 de dezembro de 1915. Foi quando a igreja passou por uma grande reforma, modificando os traços do templo construído no século XIX. Ganhou traços do ecletismo e em especial o estilo gótico, bem destacado na sua singular torre.

Em 13 de dezembro de 1917, chegou a luz elétrica ao bairro. Foi eletrificado o conjunto de casas do lado oeste da ladeira da Estada Nova (Casas à esquerda na foto da capa). Em 1919, foi a vez do esgoto e da água encanada em algumas casas do bairro. Depois as primeiras linhas telefônicas. Em 1926, os bondes elétricos passam a circular pelas ruas do bairro.

Na década de 1920, o entorno da Igreja foi traçado um logradouro público que recebeu um busto do então ex-presidente de Sergipe, José de Siqueira Meneses. Por ser o ponto urbanizado mais alto da cidade, clima ameno e ar puro, a praça foi por muitos anos local de veraneio de famílias abastadas. Se tornou local de moradia de figuras importantes da capital, como: Dra. Maria Rita; José Rolemberg Leite; Teodomiro Andrade; Coronel Silva Ribeiro e o Poeta Garcia Rosa. Inclusive Garcia Rosa abriu sua residência para a ‘Hora Literária’, que se tornaria mais tarde um embrião da Academia Sergipana de Letras. O local também era muito procurado por pessoas doentes, via indicação médica.

AS HOMENAGENS NOS LOGRADOUROS

Em 1921, o Campo do Cemitério muda o nome para a Praça Princesa Isabel, em homenagem ao seu falecimento. No dia 07 de setembro de 1922, na administração municipal Antônio Batista Bitencourt, a Estrada Nova se tornou Avenida da Independência, em homenagem ao centenário da Independência do Brasil. Também é nesse período que alguns sergipanos célebres da cultura, da política e literatura ganhariam homenagens com as nomenclaturas das principais ruas do bairro, devido ao centenário da emancipação política de Sergipe. São eles: Gumercindo Bessa, Sílvio Romero, Armindo Guaraná, Simeão Sobral entre outros.

Na década de 30, o bairro passará por muitas mudanças. Como a duplicação e melhoramentos da Avenida Independência. Que em 1934, após o falecimento do intelectual e filólogo João Ribeiro, por sugestão do Instituto Histórico e Geografico de Sergipe (IHGSE), o intendente Francisco Porto, mudou o nome da Avenida para João Ribeiro, permanecendo até os dias de hoje. Além disso, uma grande reforma foi feita na Praça Siqueira de Menezes, que recebeu belos jardins e iluminação pública moderna.

Além dos tradicionais bondes, começou a circular os vagarosos ônibus, popularmente chamados de “jardineiras”. A linha do Santo Antônio tinha o nome de Jubileu de Ouro, que segundo o memorialista Murillo Melins, seu ônibus pertencia ao carteiro Jerson.

DIVISÃO SOCIAL DO SANTO ANTÔNIO

Nesse momento da história, observamos que a Av. João Ribeiro, Av. Simeão Sobral e a Praça Siqueira de Menezes se destacavam pelos casarões das famílias mais abastardas e poderosas de Aracaju. Já no interior do bairro, nas matas e margens das principais vias, viviam os trabalhadores e a população mais humilde. Estes se destacariam na geografia do bairro nas seguintes direções: ao lado oeste moravam aqueles que fugiam da seca do Alto Sertão Sergipano. Já no lado leste, na fronteira com o Bairro Industrial, próximo a Mata dos Caboclos, a Matinha e as nascentes do Mané Preto habitavam os negros libertos, os operários das fábricas do Bairro Industrial e descendentes de índios.

Texto e imagens reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br

Um comentário: