Publicado originalmente no site FAN F1, em 19/05/2018
Neto leva trio pé de serra a sepultamento para prestar
última homenagem a avô
Por Célia Silva
Seu Juremo era figura folclórica de Porto da Folha,
município no sertão sergipano, distante a 190 km de Aracaju. Foi dono do
primeiro cabaré da cidade e era “doido” por forró. Não perdia um sequer, e
dizia que era o melhor forrozeiro da região. Nascido no povoado Mocambo,
comunidade quilombola em Porto da Folha, morreu aos 81 anos na quinta-feira,
17, vítima de AVC. Foi velado em casa, como manda a tradição no interior
sergipano, com rezas e rituais católicos, mas no meio do cortejo fúnebre, na
manhã da sexta, 18, a caminho do cemitério paroquial, o fole roncou do jeito
que seu Juremo gostava.
“Foi uma surpresa. Ninguém esperava. O caixão, ao despontar
na praça Matriz, o fole roncou e o trio pé de serra começou a tocar. Tocou por
uma hora. O caixão foi posto embaixo da tenda armada, as pessoas dançaram e
depois, o trio fez o cortejo, entrou no cemitério e tocou até o sepultamento.
Foi muito bonito, porque era o que seu Juremo gostava. Foi uma forma que o neto
encontrou para homenageá-lo “, contou ao Fan F1 o professor de Língua
Portuguesa da rede estadual de Porto da Folha e estudioso das tradições do
município, José Ailton Braga. O neto a qual ele se refere é Salmo Lucas,
conhecido como Salminho.
Seu Juremo não perdia um forró, nem um concurso de forró. E
dizia que ganhava todos! E na maioria das vezes ganhava, não só pela maestria
nos passos, mas também pela irreverência e popularidade na cidade. “Era uma
pessoa muito popular”, disse o professor, e muitas vezes conquistava o título
porque era muito extrovertido.
Primeiro cabaré – Além de irreverente e bem humorado, seu
Juremo era boêmio. Na década de 80, criou o primeiro cabaré da cidade. Era na
localidade Lagoa Salgada. O bordel fez sucesso na região, mas logo ele se
apaixonou por uma moça que lavava roupas para a burguesia de Porto da Folha.
Dona Lila era moça de respeito. Casou-se, fechou o bordel e
com ela teve cinco filhos. Mas a boêmia parece que estava no sangue de seu
Juremo, e dona Lila, já falecida, não aguentou as farras e do marido e se
separaram.
Vieram mais duas mulheres e outros 15 filhos – seu Juremo
morreu jurando que teve 23 filhos e não os 20 que a família alega que ele tem.
Os outros três, que ninguém nunca viu, morariam, segundo seu Juremo, em
Alagoas.
O último filho de seu Juremo tem 12 anos, fruto do
relacionamento com dona Luzinete, a esposa com quem ficou casado até os últimos
dias de sua vida.
Cismado – Boêmio, irreverente, extrovertido, popular e
cismado, como um bom sertanejo. O professor Ailton conta que seu Juremo, para
complementar a renda de servidor público municipal aposentado (ele foi durante
muitos anos, motorista de ambulância) vendia arroz-doce e sopa preparados por
dona Luzinete num carrinho de mão pelas ruas da cidade. “As pessoas já
conheciam ele, aí tiravam uma brincadeira, dizendo que estava doce ou salgado
demais. Ele não gostava e cismava”, disse.
Seu Juremo morreu em casa, cercado da família. Foi sepultado
ao som da música que gostava e com a alegria que sempre lhe acompanhou. Era
amigo das ex-mulheres e os 20 filhos, todos eles, segundo o professor Ailton,
se respeitam e se consideram irmãos. Deixou o legado de que da vida se leva a
alegria e que “com mulher direita, mulher séria e de respeito, não se deve
mexer nunca”, era o que ele sempre dizia, falou o professor.
Texto, imagem e vídeo reproduzidos dos sites: fanf1.com.br e youtube.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário