quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Apologia da saga de Chico de Miguel, feita por um pesquisador

Foto reproduzida da capa do livro 'Chico de Miguel a História de um Líder',
 de Carlos Mendonça, Gráfica J Andrade e postada pelo 
"Blog Minha Terra é SERGIPE",  para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 20/07/2011 

Apologia da saga de Chico de Miguel, feita por um pesquisador

Francisco Teles de Mendonça, o cordato “Chico de Miguel”, no fundo de sua alma, sempre foi um homem bom e dizendo para que veio.

Por Clarêncio Martins Fontes*

Surpreendeu ao Estado de Sergipe, e principalmente às regiões sertanejas, do semiárido, e da caatinga, bem como ao universo da política estadual e da história da nossa terra, o oportuno lançamento da obra do jovem Carlos Mendonça, focalizando, com conhecimento de causa, a trajetória vital, os percalços, as injustiças e as diatribes perpetradas contra a figura de um líder popular que aprendeu na escola da experiência da vida, mas dono do seu nariz, e imbatível vencedor nas suas projeções de luta pública, enfrentando os inimigos e os opositores partidários, sem entretanto nunca esmorecer.

Francisco Teles de Mendonça, o cordato “Chico de Miguel”, no fundo de sua alma, sempre foi um homem bom e dizendo para que veio. E apesar de não ter cursado os bancos acadêmicos, possuía uma sagacidade instintiva no estudo psicológico comportamental dos seus conterrâneos, conduzindo na palma da mão uma geopolítica que compreendia a vivência cabal de toda a vizinhança de Itabaiana Grande, sem nunca ter se arvorado em impositor de vontades eleitorais, nem nunca apregoar a crueldade imerecida de que malevolamente fora apodado. Ele não era o que muitos pensavam, ou faziam crer do seu caráter. Era um lutador, cioso daquilo que queria, só dando tréguas aos contemporâneos e aos correligionários que não o entendiam satisfatoriamente, quando a voz da sua consciência ditava a palavra maior do amor a Itabaiana.

A obra de Carlos Mendonça é recheada de episódios interessantes e atrativos, e até densa de experiências e citações de testemunhas, algumas oculares do acompanhamento fidedigno do trabalho árduo de um velho guerreiro cujo lar, no qual testemunhei, vivia tomado por uma legião de admiradores e pessoas outras que para lá demandavam em busca de favores e de apoio nas difíceis horas da vida cotidiana.

Chico fazia política, mas na prática era compreensível e caritativo, foi perseguido e preso, acercou-se de falsos companheiros que o abandonaram na hora precisa, homem que controlava suas emoções, mas, entretanto, se condoía e se constrangia nas avalanches maldosas que eram precipitadas sobre os seus ombros e o seu espírito forte, sem que isso o esmorecesse ou o deixasse de cama.

O escritor é detalhista, minudente, pormenorizado nos seus apanhados biográficos e de vida política do notável sertanejo “Chico de Miguel”, filho digno e indômito da “Velha Loba”. Quem estava afeito às regulares conversações com a pessoa simples de Chico, o ouvia acuradamente, e fazia reflexões nada ingênuas sobre o cabedal de tormentos e falácias de que o velho líder foi e vinha sendo alvo, quando na verdade os que o conheciam verdadeiramente, sabiam tratar-se de um timoneiro amoroso na condução do destino do município-celeiro da economia sergipana.

Por outro lado, embora acusado de truculências e de odiosidades, Chico nunca perdeu enquanto vivo o seu senso de humor, e seu olhar compassivo e misericordioso em face das faltas daqueles que vivendo nas suas proximidades e dentro do mesmo palco existencial, achavam curioso que a sua liderança sempre vingasse na concepção de bons sufrágios eleitorais, e de copiosos aplausos pela continuidade de sua liderança maior.

E tanto isso é verdade, que ainda hoje o seu legado foi transferido para a prole, e particularmente referimo-nos à desenvoltura e ao comportamento admirável de sua filha dileta, a ex-prefeita por dois mandatos e ocupando uma cadeira na Assembleia Legislativa do Estado pela quarta vez. Maria Mendonça é sobranceira, elegante nas suas atitudes, mas não foge à ética que norteou por décadas o primado de vida pública de seu genitor.

É de se concluir, que Itabaiana irá sempre muito bem quando continuar à frente de seus desígnios essa mulher inteligente e prática, além de afeiçoada ao convívio com as classes mais humildes e carentes de Itabaiana.

Parabéns ao povo itabaianense e, particularmente, ao jovem Carlos Mendonça que preencheu uma lacuna biográfica para que Sergipe conhecesse melhor a história de um líder autêntico, querido, ainda hoje chorado pelos clãs, correligionários, pelas greis, e até pela elite itabaianense, pois na memória do tempo o perfil de Chico perdurará indelével.

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* O autor é um dos jornalistas mais antigos do Estado, poeta, bibliófilo, pesquisador, redator, diretor de pesquisa da Associação Sergipana de Imprensa e presidente do CIRLAP, além de ser neto e bisneto de magistrados, sendo que seu avô, doutor Fiel Martins Fontes, além de itabaianense teve na terra natal sua primeira Comarca. Já o seu bisavô, o juiz José Martins Fontes, além de ter sido capitão-mor no Império chegou a governar a Província de Sergipe.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net

Um comentário:

  1. Só tenho que agradecer ao grande amigo e jornalista (in memorian), Clarencio Martins Fontes, por este magnífico artigo, não somente sobre o conteúdo do meu primeiro livro, mas, sobretudo, a respeito do personagem da história. Grato.

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