Foto reproduzida do site: biblioteca.ibge.gov.br e postada
pelo blog "Minha Terra é SERGIPE", para ilustrar o presente artigo
Texto reproduzido do site JornaldaCidade.Net, em 31/05/2016
Aracaju, não caia na barafunda
Por Clarêncio Martins Fontes*
Creio que o acadêmico Murilo Mellins seja o mais angustiado
sergipano da Capital, por ter sido testemunha ocular e vivido uma Aracaju
romântica no passado, e agora vê-la oprimida pela mixórdia, os improvisos
desastrosos, a insegurança visível, e imprevisível, sempre de tocaia para
agredir os menos avisados, os ingênuos, os incautos. E depois por que a
Barbosópolis hoje é fruto de uma mescla de muitas vicissitudes geradas pelo
atraso moral, a ignorância e a ausência de pelo menos um senso comum regular.
Como Mellins, outros cantaram e decantaram Aracaju, como
Mário Cabral, Antonio Rocha (o conheci como aluno do curso científico do
Atheneu Sergipense), José Calazans Brandão e Silva, João Freire Ribeiro, e hoje
batemos palmas para a providencial
iniciativa do Acadêmico José Anderson Nascimento em refrescar nossa
memória curta, ou quase apagada, quanto à vida pregressa de algumas artérias e
logradouros principais de Aracaju.
Mas Aracaju de outrora, com a Rua da Aurora, hoje chamada de
Avenida “Ivo do Prado”, desaguando, ao pé da orla fluvial dos rios
Sergipe-Cotinguiba teve a honra de, nas imediações do local onde situa-se o
escritório do Dr. Jorge Prado Leite, na “Rua da Frente” ter um residente ilustre, Manoel Bonfim, e na
proximidade, o Trapiche Lima, dos irmãos Torquato e Gaspar Fontes, fazendo
parte do grupo Claudomir Andrade Vieira, genitor da Deputada atual Ana Lucia
Vieira de Menezes, e do talentoso poeta, Mário Jorge, que partiu cedo do nosso
convívio. E prosseguindo para as bandas da Capitania dos Portos, deparando-nos
com a casa onde viveu toda a sua existência, esse fenômeno da Náutica e da
coragem marítima que foi o cognominado “Zé Peixe”. Ali onde, próximo a uma das
janelas do seu domicílio debruçava-se o irmão Elpídio Nunes, a ler o filósofo
alemão Friederich Nietzsche, para, segundo Floriano Valente, filho da dona do
Hotel Avenida, dona Rosa (hoje no local é a sede a AGU- Advocacia Geral da
União), chamar a atenção daqueles que passavam, vindos dos entretenimentos de
final de semana da Associação Atlética, na Rua Vila Cristina...
Abro aqui um espaço para citar o que asseverou Ilma
Fontes, inteligência perspicaz, de
mulher com senso atilado e vigilante para o retrocesso de Aracaju, ela mesmo
até hoje morando na outrora Rua da Aurora, onde viveu o diplomata e cordial
Aderbal, seu genitor, que faleceu aos 93 anos: “Aracaju hoje não mais se
emociona”.
A poética Rua da Frente, com sua lírica “Praia Formosa”,
hoje continua, quando a maré está seca, a exalar das águas invadidas por
dejetos domésticos dos esgotos um odor fétido de cloaca. E na realidade são
03(três) Avenidas em uma só dimensão geográfica urbana: a “Othoniel Dórea”,
“Ivo do Prado” e a “Beira-Mar”. O rio perdeu o seu ar inspirador, e o Bairro
mudando o nome para “Treze de Julho”, vendo nascer a parte mais privilegiada
arquitetônica de Aracaju, perdeu em sentido o convidativo mirante que poderia
ser no século XXI, se a poluição e o abandono dos Administradores não fossem
tão gritante e indiferente...
Aracaju hoje divide-se em três: a velha, do nascedouro, ao
norte, a “chic” progressista e evoluída do sul, e a do oeste, onde sobressai-se
o febril Bairro “Siqueira Campos”, enquanto a da parte leste inclui-se, junto
com o Centro, no cadinho do relegado e do superado, com muitas residências
dando lugar a novos, pequenos e médios, estabelecimentos comerciais...
Mas o retrato falado, sem retoques, é o de uma Aracaju velha
que caiu na barafunda, com as calçadas quebradas, dificultando o andamento dos
transeuntes, principalmente dos deficientes, os logradoros sem vida e não
obstante terem sido cuidados, faltam postos de informação orientadora para os
visitantes e turistas, faltam pontos de atendimento emergencial de saúde, falta
uma melhor e mais assídua e diligente segurança para o cidadão, e o mercado
informal afronta o estabelecido legal, que paga impostos, e o Código de
Posturas, parece-nos, permanece engavetado.
Como transformaram o Palácio “Olympio Campos” em Museu, que
o “Inácio Barbosa” também o seja, já que, conservando as suas linhas
arquitetônicas e o seu interior e dependências tendo sido caprichosamente embelezados,
daria lugar a ser tanto um Museu como um Centro Cultural, e seria um
ponto-chave de curiosidade e visitação, com melhor fluxo que a bonita obra da
Praça “General Valadão” , muito atraente, mas, dizem alguns, pouco visitada
pelos filhos da Terra. Com a palavra a professora Aglaé D’Avila Fontes...
* Jornalista e pesquisador.
Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
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