quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Aracaju, não caia na barafunda

Foto reproduzida do site: biblioteca.ibge.gov.br e postada
 pelo blog "Minha Terra é SERGIPE", para ilustrar o presente artigo

Texto reproduzido do site JornaldaCidade.Net, em  31/05/2016

Aracaju, não caia na barafunda
Por Clarêncio Martins Fontes*

Creio que o acadêmico Murilo Mellins seja o mais angustiado sergipano da Capital, por ter sido testemunha ocular e vivido uma Aracaju romântica no passado, e agora vê-la oprimida pela mixórdia, os improvisos desastrosos, a insegurança visível, e imprevisível, sempre de tocaia para agredir os menos avisados, os ingênuos, os incautos. E depois por que a Barbosópolis hoje é fruto de uma mescla de muitas vicissitudes geradas pelo atraso moral, a ignorância e a ausência de pelo menos um senso comum regular.

Como Mellins, outros cantaram e decantaram Aracaju, como Mário Cabral, Antonio Rocha (o conheci como aluno do curso científico do Atheneu Sergipense), José Calazans Brandão e Silva, João Freire Ribeiro, e hoje batemos palmas para a providencial  iniciativa do Acadêmico José Anderson Nascimento em refrescar nossa memória curta, ou quase apagada, quanto à vida pregressa de algumas artérias e logradouros principais de Aracaju.

Mas Aracaju de outrora, com a Rua da Aurora, hoje chamada de Avenida “Ivo do Prado”, desaguando, ao pé da orla fluvial dos rios Sergipe-Cotinguiba teve a honra de, nas imediações do local onde situa-se o escritório do Dr. Jorge Prado Leite, na “Rua da Frente”  ter um residente ilustre, Manoel Bonfim, e na proximidade, o Trapiche Lima, dos irmãos Torquato e Gaspar Fontes, fazendo parte do grupo Claudomir Andrade Vieira, genitor da Deputada atual Ana Lucia Vieira de Menezes, e do talentoso poeta, Mário Jorge, que partiu cedo do nosso convívio. E prosseguindo para as bandas da Capitania dos Portos, deparando-nos com a casa onde viveu toda a sua existência, esse fenômeno da Náutica e da coragem marítima que foi o cognominado “Zé Peixe”. Ali onde, próximo a uma das janelas do seu domicílio debruçava-se o irmão Elpídio Nunes, a ler o filósofo alemão Friederich Nietzsche, para, segundo Floriano Valente, filho da dona do Hotel Avenida, dona Rosa (hoje no local é a sede a AGU- Advocacia Geral da União), chamar a atenção daqueles que passavam, vindos dos entretenimentos de final de semana da Associação Atlética, na Rua Vila Cristina...

Abro aqui um espaço para citar o que asseverou Ilma Fontes,  inteligência perspicaz, de mulher com senso atilado e vigilante para o retrocesso de Aracaju, ela mesmo até hoje morando na outrora Rua da Aurora, onde viveu o diplomata e cordial Aderbal, seu genitor, que faleceu aos 93 anos: “Aracaju hoje não mais se emociona”.

A poética Rua da Frente, com sua lírica “Praia Formosa”, hoje continua, quando a maré está seca, a exalar das águas invadidas por dejetos domésticos dos esgotos um odor fétido de cloaca. E na realidade são 03(três) Avenidas em uma só dimensão geográfica urbana: a “Othoniel Dórea”, “Ivo do Prado” e a “Beira-Mar”. O rio perdeu o seu ar inspirador, e o Bairro mudando o nome para “Treze de Julho”, vendo nascer a parte mais privilegiada arquitetônica de Aracaju, perdeu em sentido o convidativo mirante que poderia ser no século XXI, se a poluição e o abandono dos Administradores não fossem tão gritante e indiferente...

Aracaju hoje divide-se em três: a velha, do nascedouro, ao norte, a “chic” progressista e evoluída do sul, e a do oeste, onde sobressai-se o febril Bairro “Siqueira Campos”, enquanto a da parte leste inclui-se, junto com o Centro, no cadinho do relegado e do superado, com muitas residências dando lugar a novos, pequenos e médios, estabelecimentos comerciais...

Mas o retrato falado, sem retoques, é o de uma Aracaju velha que caiu na barafunda, com as calçadas quebradas, dificultando o andamento dos transeuntes, principalmente dos deficientes, os logradoros sem vida e não obstante terem sido cuidados, faltam postos de informação orientadora para os visitantes e turistas, faltam pontos de atendimento emergencial de saúde, falta uma melhor e mais assídua e diligente segurança para o cidadão, e o mercado informal afronta o estabelecido legal, que paga impostos, e o Código de Posturas, parece-nos, permanece engavetado.

Como transformaram o Palácio “Olympio Campos” em Museu, que o “Inácio Barbosa” também o seja, já que, conservando as suas linhas arquitetônicas e o seu interior e dependências tendo sido caprichosamente embelezados, daria lugar a ser tanto um Museu como um Centro Cultural, e seria um ponto-chave de curiosidade e visitação, com melhor fluxo que a bonita obra da Praça “General Valadão” , muito atraente, mas, dizem alguns, pouco visitada pelos filhos da Terra. Com a palavra a professora Aglaé D’Avila Fontes...

* Jornalista e pesquisador.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net

Nenhum comentário:

Postar um comentário