domingo, 29 de abril de 2018

Lagarto celebra 138 anos

Grupo Parafusos de Lagarto

Trecho extraído de artigo publicado originalmente no site do Jornal da Cidade

Lagarto celebra 138 anos

Lagarto é a segunda maior cidade de Estado, e com certeza é orgulho para todos os sergipanos. Na última sexta-feira, 20, a cidade que mais cresce em Sergipe completou 138 anos. O município, de acordo com estimativa do Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui área de 1.036 quilômetros quadrados e conta com uma população de cerca de 100 mil habitantes...

Cultura

“Quem quiser ver o bonito, saia fora e venha ver, venha ver o parafuso a torcer e a distorcer”. Durantes anos, homens travestidos de anáguas, cara pintada de branco, com chapéu e fita vermelha saem às ruas de Lagarto e do Brasil girando e cantando ao som de um trio pé de serra. Trata-se da mais original e tradicional manifestação cultural do povo lagartense.

O Grupo Parafusos, assim denominado pelo historiador Adalberto Fonseca, embora suas origens remontem ao século XIX (atribuída, com certa dubiedade, ao Padre Saraiva Salomão, sobretudo em que pese este ainda ter alcançado a assinatura da Lei Áurea), se firmou enquanto manifestação popular a partir dos anos 1980, quando é convidado a participar do Festival de Folclore de Olímpia.

Tornando-se uma atração à parte daquele importante festival da cultura brasileira, que ocorre até hoje em São Paulo, o Grupo Parafusos alcançou uma expressão nunca antes vista, com destaque tanto a nível regional como nacional.

A origem

Alguns historiadores defendem a tese de que Lagarto nasceu no Povoado Santo Antônio, distante 6 quilômetros da atual sede do município, onde ainda existe o marco inicial erguido próximo à capela que leva o nome do povoado. A divisão de terras, que aconteceu no período da colonização, fez com que cooperativas fossem montadas, a exemplo da instituição erguida na Colônia 13, fundada em 1960, e que permitiu a produção por colonos em todas as direções.

Segundo o saudoso historiador Luiz Antônio Barreto, o lugar foi tão bem dividido que, em 1757, quando os vigários fizeram relatos e deram notícias das freguesias de Sergipe, a de Lagarto chamava a atenção, pois as povoações estavam muito próximas uma das outras, coisa de légua e meia ou em meia légua de distância, o que explica a existência de mais de uma centena de povoados. Como reserva de riquezas naturais, possui argila, calcário e pedras para a fabricação de brita e paralelepípedo.

Lagarto também foi sede de um dos três distritos militares de Sergipe em 1658. A elevação de freguesia à categoria de vila aconteceu em 1698, dois anos depois da criação da Ouvidoria Autônoma de Sergipe. Passou à categoria de cidade em 20 de abril de 1880, data oficial da emancipação política. As terras também deram origem a outros municípios, a exemplo de Riachão do Dantas e Simão Dias.

O primeiro governante municipal foi monsenhor João Baptista de Carvalho Daltro, que exerceu o mandato de 1890 a 1893. O atual prefeito é José Valmir Monteiro, eleito em 2016. Valmir da Madeireira, como é conhecido, já havia comandado Lagarto entre os anos de 2009 e 2012.

Trecho de artigo e imagem reproduzidos do site: prozeus.com.br

Tragédia Ferroviária em Sergipe...

Suburbano, após o acidente, cercado por curiosos
Fonte: site Estações Ferroviárias

Publicado originalmente no site Expressao Sergipana, em 26 de Abril de 2018

Tragédia Ferroviária em Sergipe: Dezenas de Mortos e um julgamento controverso

Acidente ocorrido em 1946 é considerado um dos maiores desastres ferroviários do Brasil

De Redação 

Nas primeiras décadas do século XX, o trem era o principal meio de transporte de massa em Sergipe. Em um trecho da ferrovia entre as cidades de Laranjeiras e Riachuelo, dezenas de pessoas morreram em um desastre que comoveu o país – jornais chegaram a falar em centenas de vítimas fatais. O desfecho da investigação sobre o acidente, porém, deixou dúvidas sobre as causas e a condenação, que transformou em drama a vida de João Claro dos Santos.

O pesquisador Luiz Paulo Bezerra estudou o processo-crime do caso, combinado a fontes bibliográficas, para entender o que aconteceu no acidente que é considerado a maior tragédia ferroviária do Brasil. A pesquisa resultou na dissertação que Luiz apresentou ao Mestrado em História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), orientado pelo professor Petrônio José Domingues.

No ano do ocorrido, 1946, o transporte de passageiros nas rodovias ainda era tímido. Era principalmente pelas ferrovias que se locomoviam pessoas e se transportavam mercadorias. Apelidado de Suburbano, o trem da empresa Viação Férrea Federal Leste Brasileiro percorria a principal linha de Sergipe: saía da capital, Aracaju, em direção ao norte do estado, passando por Laranjeiras e Riachuelo, concluindo o percurso em Capela.

Com capacidade para 240 passageiros sentados, o Suburbano saía sempre lotado da estação ferroviária da capital, no bairro Siqueira Campos. Segundo a empresa férrea, 246 pessoas compraram bilhetes no dia da tragédia, distribuídas na primeira e segunda classes.

No entanto, informações recuperadas por Luiz Paulo no processo judicial indicam que havia bem mais do que 246 passageiros naquela viagem. Nos depoimentos, todos os viajantes ouvidos pela polícia confirmaram a superlotação.

Um funcionário do Suburbano, João Félix, relatou que a quantidade de passageiros era “fora do comum”. “Razão pela qual os passageiros iam se apinhando por toda parte”*, diz o depoimento de João, que era o guarda-freio do trem, profissional responsável pela supervisão e acionamento dos freios de veículos ferroviários.

O viajante Benício Vieira narrou aos investigadores que foi obrigado a procurar um lugar entre o amontoado de pessoas e mercadorias. Manoel dos Santos, outro passageiro, viajava em pé em um dos vagões “num aperto medonho”, segundo seu depoimento no processo. A “enchente de pessôas era incalculável”, completa sua fala à polícia.

Jornais da época, encontrados por Luiz Paulo em sua pesquisa, apontavam que a superlotação nas ferrovias sergipanas era corriqueira. É o que mostra uma manchete do Diário de Sergipe, de 19 de agosto de 1946: “Socorro e Laranjeiras não se passaram nada de anormal a registrar-se. As classes superlotadas, os passageiros reclamando, tudo na forma do costume”.

Depois de passar por Laranjeiras, em caminho a Riachuelo, o Suburbano tem dificuldade para subir uma ladeira, segundo relatos de passageiros. O maquinista, então, para o trem, tenta nova arrancada e ultrapassa a subida, iniciando uma descida em alta velocidade, também confirmada pelos depoimentos – o soldado João Batista dos Santos, que viajava no Suburbano, “ouviu dizer” que “o maquinista dissera que iria tirar o atrazo, e assim parecia porque após a subida, o trem parecia um motociclo a toda velocidade”.

Momentos depois, ouve-se o barulho de uma das composições do Suburbano saindo dos trilhos, causando um engavetamento dos três vagões da composição. Em poucos segundos, a viagem se transforma em uma tragédia: dezenas de mortos e feridos, desespero, incredulidade.

A TRAGÉDIA

Já havia anoitecido naquele 28 de março de 1946, quando ocorreu o acidente. O local da tragédia, o povoado Pedrinhas, se transformou em um cenário de dor e desolação. Pessoas mortas, mutiladas, feridas, sobreviventes desesperados.

Luiz Paulo Bezerra reconstruiu a história do maior desastre ferroviário de Sergipe 
Foto: Adilson Andrade - Ascom/UFS

É o caso do ajudante de caminhão Manoel Ferreira dos Santos, 19 anos de idade, que viajou em pé, na segunda classe. Ele ficou preso aos destroços até a chegada do salvamento – que não demorou, segundo testemunhas, apesar do difícil acesso e da escuridão.

Outro sobrevivente narrou seu tormento ao Sergipe-Jornal, sob anonimato. “Ouvi gritos de toda a parte, lamentos femininos e masculinos, choro de crianças, soluços profundos, e senti a primeira classe virando comigo, se fazendo em pedaços”, relatou.

Os muitos feridos foram levados a hospitais da região, de acordo com a gravidade das lesões. No entanto, Luiz Paulo não conseguiu recuperar os dados a respeito dos sobreviventes e possíveis óbitos resultantes do desastre. O fato contribui para dificultar a precisão no número de mortos.

“Fomos atrás dos próprios laudos médicos emitidos pelo hospital, mas, infelizmente, não conseguimos encontrar, o que nos preocupa. Tal material nos forneceria informações fundamentais sobre as gravidades dos ferimentos”, relata o pesquisador em seu trabalho. Ele visitou os hospitais Cirurgia e Santa Isabel, além do pequeno centro hospitalar de Riachuelo.

A quantidade de mortos e feridos era tão grande, que médicos e enfermeiros foram sobrecarregados, segundo o relato da polícia. Foram contabilizados naquele momento 30 mortos identificados e outros 13 não identificados. Quanto aos feridos, 53 foram avaliados pelos médicos, sendo 16 em estado muito grave.

A imprensa do Rio de Janeiro – então capital do Brasil – noticiava cerca de 200 mortos. Já os jornais de Sergipe, em sua maioria, atinham-se aos dados oficiais – o Sergipe-Jornal, porém, chegou a noticiar 120 mortos, com a possibilidade ainda de haver outros 60 sob os escombros.

Luiz Paulo não conseguiu recuperar informações que esclarecessem o caso. Mas acredita que os números sejam mesmo superiores aos oficiais, ainda que não alcancem os exorbitantes 200 mortos e 300 feridos noticiados pela imprensa fluminense.

“[De acordo com as fontes pesquisadas,] dá para entender que muitas pessoas que morreram no local foram levadas para outros locais para serem enterradas e não foram contabilizadas. Tudo indica que foram acima dos dados oficiais”, admite.

O desespero após o acidente foi também o início do drama de João Claro dos Santos, o maquinista da locomotiva. Naquele cenário de tumulto, sobreviventes tentaram linchar o condutor do trem, que fugiu para Laranjeiras, onde, por medo, se apresentou à polícia da cidade.

Enquanto isso, a perícia iniciava seu trabalho no povoado Pedrinhas. Três engenheiros realizaram a perícia técnica, enquanto a polícia investigava o ocorrido, colhendo depoimentos dos sobreviventes.

AS INVESTIGAÇÕES

As perícias e a apuração do caso caminharam junto à atuação da imprensa. Com uma postura sensacionalista, os jornais impressos cobravam pressa para que se chegasse a um responsável. Ao mesmo tempo em que exigiam das autoridades uma solução, os jornais – de Sergipe e do Rio de Janeiro – já tratavam João Claro como culpado pela tragédia.

Acima: o engavetamento dos vagões do Suburbano provocou o grande número de mortos
 À esquerda: vítimas fatais ficaram irreconhecíveis (Fotos anexadas ao processo).
 À direita: mapa do local onde ocorreu o acidente 
Fonte: www.estacoesferroviarias.com

A perícia realizada pelos engenheiros indicou que a linha férrea naquele trecho estava em perfeito estado de conservação. E concluiu que “a aplicação brusca de freios num momento em que a composição desenvolvia velocidade superior a admissível no trecho em que se deu o acidente”, segundo consta nos autos.

Por outro lado, a perícia identificou que a única pastilha de freios encontrada nos destroços do Suburbano estava desgastada. As demais pastilhas poderiam ter sido reutilizadas em outras máquinas, prática aparentemente costumeira.

Em seu depoimento, João Claro denunciou a superlotação do Suburbano, ocorrida, segundo ele, por uma invasão aos vagões. Afirma ainda que chamou a atenção do chefe de trem, Edgar Simas, sobre o excesso de passageiros.

O chefe acionou um policial que conseguiu fazer descer os passageiros excedentes. Porém, segundo o maquinista, a medida não funcionou, já que com o trem em movimento, ocorreu nova invasão. Outra vez, João Claro denunciou ao chefe de trem, mas nenhuma providência foi tomada.

O maquinista relatou ainda que a parada que antecedeu a subida de uma ladeira e posterior descida em velocidade foi motivada por um problema na última classe, que precisou de reparo – o conserto foi feito pelo funcionário do trem responsável pela tarefa, o foguista.

Após iniciar a descida, outra vez o maquinista percebe o mesmo problema, a interrupção da torneira de ar, causando o isolamento dos freios de ar comprimido. João Claro acusa a superlotação como causa para o problema, já que os passageiros que viajavam em pé podiam ter provocado a obstrução.

Em depoimento, o maquinista auxiliar João Moura Cabral confirma o relato de Claro. Ele conta que em certo momento da viagem notou que a torneira da bomba de ar achava-se aberta, fechando-o logo em seguida. Outro maquinista presente no Suburbano, Manoel Leite da Silva, também testemunha essas informações.

Por fim, em seu depoimento João Claro assegura que a impossibilidade de controlar a velocidade da locomotiva e a existência de muitas pedras nos trilhos após uma curva provocaram o descarrilamento.

Em uma nova perícia realizada pelos mesmos engenheiros, a pedido e sob o acompanhamento dos advogados de Claro, percebeu-se que a locomotiva não possuía nenhuma baliza de freios, comprometendo certamente a qualidade da frenagem – considerando a quantidade e o peso dos vagões.

O relatório policial chegou a ponderar que não foram “encontrados nos autos provas suficientes para criminar dolosa ou culposamente o maquinista”. Apesar disso, o próprio relatório determina a investigação da vida pregressa do maquinista.

UM COMUNISTA NOS TRILHOS

João Claro tinha 37 anos na data do acidente. Casado, morava com a família no bairro Siqueira Campos, em Aracaju. Era negro, o que no ano de 1946 significava ainda mais do que hoje.

Jornais do Rio de Janeiro apontaram grande número de vítimas e se apressaram em responsabilizar João Claro dos Santos pelo acidente.
Abaixo, à esquerda, no sentido horário: Jornal A noite, de 22/03/1946; Diário de Notícias, 21/03/1946; Gazeta de Notícias, 21/03/1946; e Jornal Diário da Noite, 19/03/1946.

Começou a trabalhar aos 13 anos na oficina da Viação Férrea como aprendiz de ajustador mecânico, sem receber nenhum salário durante o primeiro ano. Progrediu nos quadros da empresa até receber a formação de maquinista, em 1936, dez anos antes da tragédia de Pedrinhas.

Além de fundador da União Espírita Sergipana, João Claro foi o presidente da União Beneficente dos Ferroviários, uma espécie de sindicato dos funcionários da Viação Férrea. Sua atuação política junto aos trabalhadores e outros setores sociais o levou a ser eleito vereador de Aracaju pelo Partido Comunista.

Apesar da investigação sobre a vida do maquinista, nada foi encontrado que comprometesse sua reputação.

Por outro lado, diversos fatores contribuíram para o desastre. A Viação Férrea Federal Leste Brasileiro poderia ter sido melhor investigada por causa da situação em que se encontravam seus veículos, assim como pela superlotação do Suburbano.

Segundo os relatos da imprensa, os trilhos também não apresentavam condições adequadas, fator que talvez não influenciasse no processo por conta da conclusão do laudo pericial – que garantiu estar em bom estado pelo menos o trecho onde ocorreu o acidente. Mas o poder público também devia ser investigado, entre os responsabilizados pela tragédia, pois o controle da superlotação a partir da estação ferroviária de Aracaju era tarefa dos agentes públicos.

No entanto, apesar de os indícios apontarem múltiplas responsabilidades, João Claro foi o único condenado no processo criminal. A Promotoria da cidade de Laranjeiras denunciou João Claro como causador do “horrôroso desastre”, sendo o processo encaminhado para a Comarca de Aracaju.

Embora seja conhecida a condenação de João Claro, o pesquisador Luiz Paulo não conseguiu incluir a sentença em seu trabalho, pois o documento havia sido retirado do processo-crime.

Este não foi o único desaparecimento de documento sobre o caso. O historiador denuncia que, após ter defendido sua dissertação, voltou ao Arquivo Judiciário para colher mais informações e, para sua surpresa, o próprio processo-crime havia desaparecido. “Não está mais na pasta em que eu pesquisei”, afirma.

“Algumas partes do processo você não conseguia encontrar”, completa Luiz. O historiador especula que, talvez pela repercussão que o caso teve, algumas pessoas ou setores prefiram que a conclusão do processo não seja evidenciada.

RACISMO

Luiz Paulo Bezerra foca suas pesquisas na história pós-abolicionista do povo negro no Brasil – período que sucedeu a libertação dos negros escravizados, que ocorreu em 1888. Ele acredita que o racismo foi preponderante para a condenação de João Claro.

João Claro dos Santos foi o único condenado na tragédia do Suburbano.
Foto anexada ao processo

“O protagonismo negro, ser negro naquela época, levava ainda dificuldade para pessoas que tentavam ultrapassar certos limites; João Claro foi um desses”, explica Luiz, “um personagem importante para a história de Sergipe, no sentido do que um negro poderia na década de 1940”.

A pressão dos jornais e a pressa da população, por se encontrar um responsável pelo desastre, foram fatores que, combinados com o racismo, levaram o maquinista a ser o “condenado conveniente”, acredita o historiador. “Um negro, comunista, líder de centro espírita… de repente podia incomodar”, considera Luiz.

Outro obstáculo para preencher algumas lacunas na pesquisa foi a impossibilidade de conversar com familiares de João Claro.

“Não consegui ter acesso à família”, diz. “Possivelmente pela repercussão negativa, porque, imagine: um negro, na década de 1940, que conseguiu ter acesso a coisas que dificilmente conseguiria ter… e de repente tem sua vida destruída por causa de um acidente…”, reflete o pesquisador, sugerindo a possibilidade de haver um sentimento, por parte dos descendentes de Claro, de ter havido injustiça na condenação.

O cientista compara o caso de João Claro ao chamado “crime do restaurante chinês”, que aconteceu em São Paulo na década de 1930. Um casal de chineses, donos de um restaurante, e dois funcionários foram brutalmente assassinados. Um ex-garçom foi condenado pelos homicídios. O historiador Boris Fausto publicou um livro sobre o massacre, também analisando o processo-crime e a atuação da imprensa.

Para Luiz, quando as evidências são nebulosas, existe uma tendência – que pode ser reforçada pelos meios de comunicação – de condenar aqueles personagens já censurados pela própria sociedade.

RUA VEREADOR JOÃO CLARO

Desde 1954, ou seja, quase dez anos após o acidente, a rua Sergipe, no bairro Siqueira Campos, passou a se chamar Rua Vereador João Claro. É o endereço do Centro Espírita Irmãos Fêgo, na época comandada por Claro e que continua em atividade.

Para o historiador Luiz Paulo, a homenagem é mais um indício da inocência do maquinista. “Não seria nada ético e bem visto pela população uma rua ser denominada em nome de um criminoso que causou tantas mortes”, reflete.

PARA SABER MAIS

A dissertação intitulada “Nos trilhos da morte: tragédia ferroviária, debate judicial e racismo em Sergipe nos anos 40” pode ser acessada, na íntegra, no Repositório Institucional da UFS

* As falas dos personagens da tragédia foram transcritas como constam nos autos do processo, inclusive com a grafia da época

Texto e imagens reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br

sábado, 28 de abril de 2018

Parque da Sementeira, em Aracaju

Foto: Marcos Rodrigues (PMA)
Reproduzida do site: comunicacaovip.com.br

Retrofit preserva edificação histórica de supermercado


Publicado originalmente no site Comunicação Vip, em 27 de março de 2018

Retrofit preserva edificação histórica de supermercado

O GBarbosa inaugurou mais duas lojas unindo o preço do atacado à comodidade dos serviços do varejo na terça-feira, 27 de março: o GBarbosa Mercado e o Atacado, ambos no centro de Aracaju.

A loja do Mercado é uma das mais antigas da rede e recebeu um projeto de retrofit para conservação e resgate do patrimônio histórico. Na reforma especializada para edificações antigas, como a do Mercado, houve inclusive mudança de piso e além da pintura externa, toda estrutura interna fora reformada. O novo formato destas lojas vem ganhando força, crescendo e conquistando todas as classes sociais, com foco em alimentos, higiene e limpeza. Em Sergipe, outros sete supermercados da rede já atualizaram o mix e formato de atendimento.

A mudança na disposição das mercadorias também é um diferencial. Além de uma nova comunicação visual, as etiquetas de preço contam com dois valores: o de varejo e o desconto progressivo (comprando mais unidades de um mesmo produto, o preço unitário pode reduzir). Destaque ainda para a ampliação de produtos na linha food service, voltada para pequenos e médios comerciantes, e principalmente, embalagens família e packs promocionais.

“Estas lojas do GBarbosa no centro de Aracaju contam um pouco da história do surgimento da própria rede, que nasceu há 63 anos aqui neste ambiente. Hoje na inauguração até presenciamos várias pessoas fazendo fotos da fachada da loja Mercado. Com este novo modelo, vamos agradar tanto com a preservação destes edifícios, como com o preço e o diferencial dos produtos”, destacou o gerente regional de Operações do GBarbosa, Paulo Barreto.

Texto e imagem reproduzidos do site: comunicacaovip.com.br

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Grupo Imbuaça dá continuidade a apresentações na praça









Fotos: Pritty Reis/ Ascom Secult

Publicado originalmente no site da SECULT. em 26 de abril de 2018

Grupo Imbuaça dá continuidade a apresentações na praça

Grupo sergipano interpretou sua mais nova montagem na Praça Fausto Cardoso

Sob as palmas do povo e o clima agradável da tarde da última quarta-feira, 25, o Grupo Imbuaça apresentou sua mais recente peça que comemora os 40 anos de existência da Companhia. O espaço delimitado pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult) para a realização do IV Festival Sergipano de Artes Cênicas, na Praça Fausto Cardoso, ficou lotado de amantes do teatro que foram assistir ao espetáculo “Mar de Fitas, Nau de Ilusão”.

Além de celebrar a quarta década, a peça também foi criada em prol de celebrar e reafirmar a crença na cultura popular e na arte pública. Nela, mestres, dramaturgos, personagens, diretores e brincantes são relembrados em forma de canto e dança, desvelando toda a trajetória do primeiro trabalho do grupo até os dias atuais.

Iradilson Bispo dirige e atua na peça que congratula a história de um dos mais antigos grupos de teatros de rua em atividade no Brasil. “Apresentar esta peça no Festival de Artes Cênicas é de extrema importância pra gente, já que normalmente não temos tantas oportunidades ao longo do ano. Nesta oportunidade, rememoramos toda a trajetória do Imbuaça, incluindo canções de outros espetáculos que realizamos”, salientou.

Dagoberto Machado é gaúcho, mas mora em Sergipe a cerca de 10 anos. Pela primeira vez levou o filho para acompanhar o teatro de rua. “Não conhecia o grupo, mas ouvia falar muito bem. Adorei a peça, que promoveu uma série de sentimentos bons em quem estava assistindo. Sempre que eu posso, tento compartilhar com meu filho, todas essas representatividades culturais que aqui existem, e nisso o teatro de rua está incluso”, ressaltou.

Sobre o Festival

O IV Festival Sergipano de Artes Cênicas é uma realização do Governo de Sergipe através da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), que reúne apresentações diversas em mais de um mês de atividade. Todas as atividades são gratuitas, viabilizadas pelo Fundo de Desenvolvimento Cultural e Artístico (Funcart) e aprovado pelo Conselho Estadual de Cultura, e contam com o apoio da Impacto Comunicação Digital, Fundação Aperipê e Bipolar Operações Artísticas. A programação completa e mais informações podem ser acompanhadas pelo site www.cultura.se.gov.br e pelas redes sociais da Secult.

Texto e imagens reproduzidos do site: cultura.se.gov.br

Vista aérea do município de Riachuelo

Foto reproduzida do site: f5news.com.br

Adoção de áreas verdes, em Aracaju





Fotos: Marcos Rodrigues

Publicado originalmente no site da PMA, em 25/04/18

Adoção de áreas verdes contribui para manutenção de espaços públicos na capital

A Prefeitura de Aracaju, através da Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), está trabalhando para mudar a cara da cidade, revitalizando os espaços públicos. Diariamente, a empresa municipal realiza a manutenção de praças, canteiros e logradouros públicos, no entanto, em alguns pontos da cidade, essas áreas são adotadas por empresas privadas ou associações que se tornam responsáveis por sua manutenção.

As áreas verdes dos canteiros localizados em toda a extensão da avenida Silvio Teixeira (entre a avenida Beira Mar e Hermes Fontes), no bairro Jardins, na zona Sul da capital, estão sob responsabilidade do Shopping Jardins. O centro de compras, adotou o espaço e, durante esta semana, realiza a manutenção e revitalização do mesmo com serviços como irrigação, poda, plantio de grama, plantas ornamentais e palmeiras.

“A parceria público-privada é vista com bons olhos pelo prefeito Edvaldo Nogueira, não só pela economia gerada para a gestão municipal, como também pela garantia de uma cidade bem cuidada. Atualmente a empresa municipal está em processo de renovação de contrato com diversas empresas”, enfatizou o diretor de Espaços Públicos da Emsurb, Bira Rabelo.

Outros exemplos

No último dia 15 de março, a Emsurb entregou aos administradores do condomínio residencial Ariovaldo Souza o termo de adoção da praça localizada na rua Maria Vasconcelos de Andrade, no bairro Aruana. No dia 23 do mesmo mês, a empresa renovou com a construtora Celi Ltda o termo de adoção para conservação, manutenção e irrigação da praça Luciano Barreto Júnior, localizada na avenida Jorge Amado, bairro Jardins.

Outro exemplo de adoção é a nova via do bairro Coroa do Meio. Construída em parceria com o shopping Riomar, a rua Dr. José Augusto Soares Barreto, que fica nas imediações do centro de compras, tem sua manutenção feita pelo grupo que mantém o shopping. Também foi assinado um termo de adoção dos canteiros centrais localizados na avenida Delmiro Gouveia, no trecho compreendido entre a descida da ponte Godofredo Diniz e o cruzamento com a rua Alda Mesquita.

A praça Raul Andrade, no conjunto Jardim Esperança, foi adotada em outubro de 2017 pela associação de moradores do lugar. Em julho do ano passado, também foi firmada a parceria entre a Prefeitura de Aracaju e o grupo Assaí Atacadista para reforma e manutenção de duas praças localizadas no bairro Olaria.

A adoção

Cada contrato de adoção tem duração de um ano, podendo ser renovado. Qualquer empresa, associação de moradores ou pessoa física pode adotar. Após demonstrar o interesse, a Emsurb verifica se o interessado terá condições de arcar com a manutenção e, logo após, o contrato é assinado. Quem adota fica responsável pela limpeza, irrigação e poda das árvores, além de apresentar um plano para arborizar ainda mais o local.

Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Duas Imagens recentes, da Cidade de Aracaju

 Calçadão da Rua João Pessoa, no centro comercial da cidade de Aracaju

Avenida Adélia Franco, em Aracaju
Fotos: Ascom/Emurb
Reproduzidas do site: aracaju.se.gov.br

terça-feira, 24 de abril de 2018

Palácio de Veraneio, na Av. Beira Mar, Bairro Atalaia, em Aracaju



Fotos: WG
Reproduzidas do site: agencia.se.gov.br

Amendoim sergipano: único


Publicado originalmente no site do Cinform, em 23 de abril de 2018

Amendoim sergipano: único

Por Juliana Paixão 

Para achar alguém vendendo amendoim cozido em Aracaju basta dar uma volta. As chances de encontrar a iguaria no primeiro carrinho de frutas, espalhados pelas esquinas da cidade são grandes. O que muitos sergipanos não sabem é que esse amendoim é pouco conhecido em outras regiões do país, já que seu modo de preparo é exclusivo de Sergipe.


A sergipana Fátima dos Santos, que mora no Rio de Janeiro há vinte anos, sempre que tem uma oportunidade de comer o amendoim de Sergipe aproveita. “Aqui no Rio não tem amendoim, a gente que é nordestino é que conhece, então a gente sempre pede para trazer quando vem alguém daí. O amendoim de Sergipe é muito mais gostoso, o daqui só vende em supermercado e tem que torrar em casa. É difícil a gente chegar em uma feira aqui e procurar amendoim, ninguém conhece, só sergipano mesmo”, conta.

Plantado no começo do período de chuva, entre o final de abril e começo de maio, o amendoim demora de dois meses a três meses para ser colhido. Após o período ele pode ter dois preparos. Em um, a leguminosa é colocada para secar e depois torrada. Já no outro preparo após lavar a vagem do amendoim ele é cozido com água, sal e limão.

SEAGRI

Segundo a assessoria da Secretaria de Estado da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), em 2017 foram produzidas 1.859 toneladas da leguminosa. “Esse resultado está dentro da média estadual, tomando como base os anos anteriores: 2014 com 1.786, 2015 com 1.912 sofrendo uma queda em 2016, que resultou na produção de 992 toneladas pelo fato de ter sido o ano mais crítico em termos de estiagem. A seca de 2016 atingiu inclusive os perímetros irrigados com a baixa das barragens públicas”.

O município de Itabaiana teve a maior área irrigada no perímetro da Ribeira, com 356 toneladas de amendoim, sendo seguida dos perímetros Piauí, em Lagarto, com 147 toneladas, 63 toneladas em Jacarecica II, em Malhador, e Jacarecica I também em Itabaiana, com 36 toneladas.

“É importante dizer que o modo de preparar o amendoim verde cozido, depois de arrancado da terra e cozido na água, sal e limão, virou Patrimônio Imaterial de Sergipe no ano de 2013, através do Projeto de Lei aprovado na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese)”

Lei 7.682/2013

Em 2013 a deputada Ana Lucia conseguiu que o projeto de lei nº 7.682/2013 fosse aprovado, tornando o amendoim um Patrimônio Imaterial de Sergipe, porém a parlamentar conta que a lei trouxe apenas impacto cultural para o estado.

“Infelizmente, o impacto foi apenas cultural. O fato de ter virado Patrimônio Imaterial de Sergipe foi muito bem aceito pela população, porém até o momento o Governo do Estado não priorizou e não criou ações para que toda a cadeia produtiva que existe em torno do amendoim, desde o pequeno produtor ao vendedor, fosse valorizada”, comenta.

Cuidado


A nutricionista Rafaela Batalha faz um alerta em relação ao consumo,já que como o amendoim possui umidade pelo seu armazenamento no solo,pode causar a contaminação.

“A aflatoxina é uma micotoxina que causa alergia. Por isso tem a Abicab, que dá um selo de qualidade a alimentos com essa matéria prima. É tolerado o consumo de 20 gramas dessa substancia por dia”, comenta.

Porém, o amendoim em quantidades certas pode ser um aliado na dieta, pois garante saciedade. “Ele garante saciedade. Rico em ácido graxos insaturados, fibras, vitaminas, minerais e fitoquímicos. É rico em fitoesterois também, que tem estrutura parecida com o colesterol, driblando a absorção deste pelo corpo. É como se você “enganasse” o corpo, na hora que vê o fitoesterol, ele absorve e isso ajuda a reduzir os níveis deLDL”, explica.

Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br

Hotéis na Orla de Atalaia, em Aracaju

Foto: Ana Lícia Menezes
Reproduzida do site:  aracaju.se.gov.br

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Visite Sergipe no meio do ano

Foto: André Moreira

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 17/04/2018 

Visite Sergipe no meio do ano

A música, o colorido e as luzes dos fogos de artifício são bons motivos para agendar a viagem.

Por: Portal Viagem

A música, o colorido e as luzes dos fogos de artifício são bons motivos para agendar a viagem a Sergipe para o meio do ano. Já em maio o clima dos festejos juninos começa a dominar todo o estado, que é o menor do Brasil em área. O Forró Caju e o Arraiá do Povo, em Aracaju, e o Forró Siri, em Nossa Senhora do Socorro, são o ponto alto da festança.

Melhor ainda é que o clima quente da região, com temperatura média anual de 26ºC, permite que se aproveitem também as praias. Tudo bem que elas não sejam as mais badaladas do nordeste, mas quem botar os pés na areia e mergulhar nas águas verdes e tranquilas da Praia do Saco, a 70 quilômetros ao sul de Aracaju, vai concordar com os rankings que a encaixam na lista das mais belas do Brasil.

E a orla bem cuidada da capital do estado surpreende. Ficar por ali curtindo as praias limpas, como Atalaia, a boa infraestrutura e a ciclovia é um ótimo programa. Se ouvir um toque-toque constante, saiba que ele vem das barracas à beira-mar, do hábito de quebrar caranguejo. Martelo, base de pedra e umas horinhas garimpando a carne nas patas do crustáceo fazem parte do ritual do qual poucos visitantes da cidade escapam.

Do passado colonial, com presença de franceses e holandeses e retomada do domínio português no século 17, Sergipe guarda atrações arquitetônicas como os municípios de São Cristóvão e Laranjeiras. E o mais bacana é que, como se trata de um território pequeno, fica fácil se deslocar entre litoral e interior para aproveitar o melhor de cada lugar. Na Semana Santa, os casarões de São Cristóvão são iluminados pela Procissão do Fogaréu. O centro histórico da cidade recebeu em 2010 o título de Patrimônio Mundial da Unesco.

Em Laranjeiras, a segunda cidade mais antiga do estado, linda e cheia de história, há festas populares e comemorações religiosas. Quem passa pelo interior de Sergipe acrescenta ao vocabulário termos como chegança, cavalhada, pastoril, lambe-sujos e caboclinhos, manifestações culturais que tomam as ruas num calendário de festas embaladas a cuíca, pandeiro, reco-reco, caixa e ganzá. Mas se a ideia é continuar curtindo o litoral, aponte para o norte de Aracaju e chegue à primeira estação do Projeto Tamar (centro de estudos e preservação de tartaruga marinha) no país, à Lagoa Redonda, ao Mirante do Robalo e à Praia de Ponta dos Mangues, essa com ondas boas para surfe.

Já na divisa com Alagoas, um deslumbramento: o Delta do São Francisco, com dunas de areia branquíssima, coqueiros e piscinas naturais. Enveredando pelo sertão, lá na ponta oeste, chega-se aos cânions surgidos pelo represamento da águas do Velho Chico para a construção da Hidrelétrica do Xingo. Ali, passeios de barco em águas esverdeadas vão revelar paisagens impressionantes de fendas de paredes avermelhadas, formações rochosas espetaculares e piscinas naturais.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

terça-feira, 17 de abril de 2018

Estudo analisa as práticas amorosas em Sergipe (fim do séc XIX)

 Joelma Dias Matias: "Antes do período de Emília, até metade do período que Emília viveu, 
as relações eram muito controladas pela família e pela sociedade" 
Foto: Adilson Andrade - Ascom/UFS

 'Luz na tormenta', livro publicado por Emília Fontes, contendo uma coletânea de 140 cartas trocadas entre ela e Joaquim Fontes (acervo da autora)

Emília Rosa de Marsillac Mota e Joaquim Martins Fontes
Fotos: Arquivo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe

Publicado originalmente no site Ciencia UFS, em  27 de março de 2018
  
Romance e história: o amor e normas socioculturais nas cartas de Emília e Joaquim Fontes
Estudo analisa as práticas amorosas em Sergipe no fim do século XIX, a partir da experiência do casal

Definir um relacionamento como uma história de amor depende de muitos fatores e nem é preciso dar certo no fim pra que seja descrita como tal. A sociedade e suas regras para os sentimentos dos românticos interferem muito mais do que imaginamos nas nossas relações afetivas.

A pesquisadora Joelma Dias Matias traz em sua dissertação de mestrado uma análise das práticas amorosas na capital sergipana a partir das cartas trocadas por Emília e Joaquim Fontes. Intitulado “Práticas amorosas e normas socioculturais nas narrativas epistolares de Emília e Joaquim Fontes”, o trabalho faz uma análise completa dos conceitos de amor vividos em diferentes épocas, até chegar no tempo em que os apaixonados sergipanos viveram.

As correspondências amorosas que nos permitiram conhecer a história de Emília e Joaquim foram reveladas através do livro lançado pela própria Emília, Luz na tormenta. A obra é composta por uma coletânea de 140 cartas, 110 delas trocadas entre a autora e Joaquim durante o conturbado noivado entre os dois, entre 1890 e 1894.

Joelma identificou três diferentes conceitos de amor ao longo do tempo: Eros, Philia e Cárita. Do pensamento de Platão, surgiu o Eros, representando o amor romântico, sofrimento e o desejo pela pessoa amada através da ideia de paixão. Os gregos não confiavam no Eros, pois, segundo eles, isso alterava a racionalidade humana.

Depois, Aristóteles nos trouxe o conceito de Philia, que tratava do amor como algo relacionado à amizade, a vontade de estar na companhia do outro e na manifestação das virtudes humanas. Em seguida, o pensamento cristão disseminou o conceito de Cárita, ou Ágape, um conceito de amor que estava mais ligado ao pensamento bíblico de amor ao próximo.

Além dos pensadores, o contexto econômico e político também alteravam a percepção humana sobre as práticas amorosas. De acordo com Joelma, na Idade Medieval o amor era tratado como um amor cortês, onde a servidão do homem era a maior demonstração do sentimento, a mulher tinha que ser conquistada a todo custo.

Já na Idade Média, esse conceito foi mais ao extremo, quando o amor era vivido como sofrimento, e se casar com a mulher amada não era mais um prêmio. Quanto maiores fossem os obstáculos entre os amantes, maior era o amor.

O conceito que chegou ao Brasil, de acordo com a pesquisadora, foi o do amor burguês, entre o final do século XVIII e início do século XIX. Era o amor distante, irrealizável e que era proibido de ser demonstrado publicamente.

As cartas como fontes históricas

De acordo com o historiador e professor de História do Brasil e História de Sergipe e também do Mestrado em História da UFS, Samuel Albuquerque, o livro publicado por Emília se caracteriza como uma fonte histórica rica em detalhes sobre aquela época.

“O conceito de fonte histórica é bastante amplo. Tudo que é capaz de preservar informações sobre grupos e indivíduos de uma dada sociedade é, potencialmente, uma fonte histórica”, explica Samuel, que complementa dizendo que “mais que nunca, a ‘escrita de si’, que são os testemunhos autobiográficos (cartas, postais, memórias, diários, autobiografias), interessam aos estudiosos do nosso passado. É ascendente o número de trabalhos e estudiosos renomados que se debruçam sobre esse tipo de fonte histórica”.

“Algumas cartas se perderam, como ela mesma fala, e a gente entende como historiadora e pesquisadora que ela pode ter publicado apenas o que ela quis publicar”, relata Joelma.

Emília e Joaquim

Emília Rosa de Marsillac Mota foi uma mulher que respeitou as regras que a sociedade impôs nas relações amorosas das moças daquela época, mas foi capaz de, sutilmente, desafiá-las para viver o seu amor com Joaquim Martins Fontes. A história de amor vivida em Aracaju entre os anos de 1890 e 1895 se transformou em livro, no qual a protagonista revela, através de cartas trocadas com o noivo, os conturbados momentos até que o casal finalmente fosse reconhecido como Emília e Joaquim Fontes. A primeira batalha para que o casamento acontecesse foi a de aceitação da própria Emília de ser amada pelo pretendente.

“Ela se achava numa condição tão pequena, pensava que não poderia ser objeto de cobiça pelos homens. Ela se achava feia, tinha alguns predicados que falava de si mesma, de não saber escrever bem; não se achava mulher para quem os homens pudessem olhar. Não acreditava muito no amor que Joaquim sentia, até todas as provas que ele deu. Quando ele a convenceu de que realmente a amava e a queria como esposa, foi que ela realmente acabou aceitando e, indiretamente, lutando pra que conseguisse se casar com ele”, revela a pesquisadora.

Joelma aponta que Emília foi muito reconhecida na região sudeste, onde morou após seu casamento com Joaquim, devido ao trabalho que o marido exercia como promotor público. Mas lamenta o fato de a história do casal não ser conhecida no próprio estado onde nasceram. Há exemplares do livro de Emília no Instituto Histórico de Sergipe, mas praticamente não houve circulação da obra no estado.

“Ela é uma mulher de dois tempos. Ela nasceu e viveu numa parte do século XIX e já pegou uma transição do século XX onde as coisas, principalmente onde ela foi morar, já estavam totalmente à frente do que ela via aqui no nosso estado”, assinala Joelma.

Controle religioso

Era comum que a igreja influenciasse as famílias a escolherem os pretendentes de seus herdeiros. O principal motivo seria a contribuição que essas famílias abastadas realizavam para as paróquias na época. Dividir a riqueza de uma família rica com outra família menos favorecidas economicamente poderia trazer como consequência a diminuição da doação espontânea para a igreja.

Mas, até nesse aspecto, Emília conseguiu vencer. Quem realizou seu casamento foi o próprio Monsenhor Olímpio Campos, amigo influente da família e de toda a sociedade religiosa que viveu naquela época. Dessa forma, até a aceitação da igreja foi possível graças à sua insistência em viver o amor que Joaquim lhe oferecia.

“A igreja controlava a questão da castidade, de casar virgem, que a mulher era criada para casar e procriar. Que a mulher fosse criada para ser boa dona de casa, boa mãe de família, boa esposa e que o marido ele tinha toda a liberdade do mundo para fazer o que ele quisesse, em relação ao prazer e ao sexo, com outras mulheres e não com sua esposa” conta a pesquisadora, e acrescenta que “quando a igreja controla uma sociedade, cria-se um padrão de comportamento”.

A mulher na sociedade oitocentista

Se as regras para viver o amor mudavam através dos séculos, as mulheres eram as que mais sentiam essa mudança. O controle patriarcal nas relações amorosas pesava mais para as moças da época, de quem os comportamentos inadequados eram considerados abomináveis.

“Antes do período de Emília, até metade do período que Emília viveu, as relações eram muito controladas pela família e pela sociedade. Até a mulher se impor e verdadeiramente escolher o seu par, seu futuro esposo, tinha todo esse controle que ela vivenciou”, aponta Joelma.

As moças precisavam de paciência e estratégia para conseguir viver um romance. As mulheres em condição de escravidão que acompanhavam as senhoras faziam o papel de intermediadoras amorosas, levando e trazendo recados dos amantes, acompanhando-as em passeios curtos pelas ruas - embora, por outro lado, não fosse bem visto uma mulher sair sem a companhia de um homem. Em casos extremos, as mulheres escravizadas chegavam a ajudar sua senhora em supostos “sequestros”, que nada mais eram do que fugas planejadas, em que a moça só voltaria para casa depois que sua família aceitasse o casamento com o pretendente “raptor”.

A pesquisadora reconhece que Emília foi uma mulher que quebrou essas regras sociais em relação ao casamento, mesmo que tenha feito isso de forma velada. O fato é que ela teve que mobilizar grande parte de sua família e amigos influentes para que seu pai aceitasse o noivado com Joaquim.

“Os irmãos também fizeram uma intervenção junto ao pai, a madrasta tentou aprontar algumas para que o pai aceitasse – e depois se arrependia. Ela [Emília] usou algumas estratégias para poder fazer com que o pai se convencesse de que eles se amavam e que ela queria casar com Joaquim. Apesar de que o pai apresentava outros pretendentes a ela”, destaca Joelma.

Ainda somos oitocentistas?

Joelma também dá aulas para mulheres em cidades do interior do estado e explica que algumas práticas ainda não foram superadas em relação ao controle das mulheres. Episódios em que alunas são impedidas de assistir as aulas pelos seus maridos ainda são recorrentes, por exemplo. Opiniões fundadas, pela forma como as mulheres agem perante a sociedade, demonstram também a imposição moral religiosa influenciando as famílias do século XXI.

“Alguns resquícios do século XIX e do patriarcalismo ainda persistem na nossa sociedade, sobretudo os que são impostos a nós, mulheres. A mulher ainda é muito cobrada no que diz respeito à sua função como mulher e esposa”, conclui Joelma.

Marília Souza (bolsista)
Marcilio Costa
comunica@ufs.br

Texto e imagens reproduzidos do site: ciencia.ufs.br