Praça Dom José Thomaz | Foto: Arquivo Municipal da Prefeitura Municipal de Aracaju.
Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em 15 de novembro de 2017
"Do Velho Aribé ao Siqueira Campos".
De Osvaldo Ferreira Neto.
Dando continuidade a nossa série especial “Aracaju e seus
bairros”, iremos nos descolocar a oeste do nosso Centro. Chegamos a um dos
bairros mais antigos e importantes da nossa cidade, o Siqueira Campos. Vamos
conhecer esse local de tantas memórias? Vamos passear pelos estados do Brasil
sem sair de Aracaju? Então vamos lá ao nosso Siqueira!
OS PRIMEIROS PASSOS DO ARIBÉ
Muitos que conhecem hoje o Siqueira Campos, não devem nem
imaginar que o nome antigo era Aribé. Aribé? Sim, Aribé. Significa frigideira
de barro grande, usada na região do rio São Francisco e no seu entorno. Na
região havia uma grande produção de vasos de cerâmica, os aribés, dando origem
ao primeiro nome do local.
O engenheiro Fernando de Figueiredo Porto chamava os bairros
periféricas de “os arrabaldes do Aracaju”. Significa dizer que todos as localidades
fora do Centro do Quadrado de Pirro eram regiões pobres. E assim era o Aribé.
Sua população foi resultado da fixação de escravos libertos pós 1888. Trouxeram
suas tradições e histórias, como o candomblé, que encontrará nessa região um
refúgio e segurança para os cultos aos orixás. Além disso, vieram pessoas do
interior do estado que fugiam principalmente da seca no Alto Sertão e dos
conflitos provocados pelo cangaço.
A ESTAÇÃO DA LESTE
Com a chegada da ferrovia na década de 1910, a região
acelerou seu desenvolvimento. Margeando o eixo ferroviário da capital
sergipana, muitos passaram a desembarcar na região. Eram provenientes de várias
locais do estado. Em fevereiro de 1914, as oficinas de manutenção da Estação
Leste foram instaladas no Aribé. Com isso, as primeiras residências dos
funcionários das oficinas e dos ferroviários trouxeram para a região o nome de
“Oficinas”. Tinha um sentido restrito, abrangendo melhor a área que estava no
entorno do conjunto de prédio das oficinas. Contudo, o nome Aribé sempre
preponderou.
No ano 1923, na administração municipal de Adolfo
Espinheira, notando o aflorar do desenvolvimento urbano do local. Determinou
seu levantamento topográfico e o plano de arruamento. O trabalho foi realizado
pelo topografo e auxiliar técnico da Intendência Municipal, Basílio Martins
Peralva. As novas ruas teriam 15 metros de largura, em vez dos 13,20m, vigentes
no resto da cidade. Adotou-se o critério de que elas teriam os nomes dos
estados brasileiros. Uma homenagem à nacionalidade.
O ARIBÉ SE TRANSFORMOU EM SIQUEIRA CAMPOS
Oito anos depois, no dia 06 de janeiro de 1931, o bairro
Aribé mudaria de nomenclatura para Siqueira Campos, através do Ato n° 1. O novo
nome é em homenagem ao herói tenentista Antônio de Siqueira Campos, que
participou da Revolta dos 18 do Forte Copacabana e da Revolução de 1930. A
mudança aconteceu na gestão do Intendente Camilo Calazans.
Os anos 30 e 40 foram momento de progresso e desenvolvimento
do Siqueira Campos. Começando com a chegada da energia elétrica em 12 de março
de 1933. A primeira residência do bairro a ser eletrificada foi a casa nª 470,
na esquina entre as ruas Amazonas com Santa Catarina. Após a região começou a
ganhar visibilidade na cidade. Muitos proprietários de terrenos começaram a
lotear e vender muitos desses lotes. Dentre os proprietários estão: Mariano
Salmeron, Carlos Corrêa e Mário Valois. Muitos deles dão nomes a logradouros
públicos do bairro.
PRAÇA DO SIQUEIRA, O CORAÇÃO DO BAIRRO
No dia 12 de maio 1944, era fundada a Paróquia Nossa Senhora
de Lourdes. A igreja foi construída pela própria comunidade, que literalmente
meteu a mão na massa. Outras grandes instituições e prédios públicos também
foram construídos. Por exemplo, a primeira instituição pública municipal de
Educação Infantil de Aracaju. O Jardim de Infância José Garcez Vieira foi
inaugurado em 11 de novembro 1944. A escola tinha como finalidade atender uma
parcela da população quase que totalmente excluída das poucas políticas
públicas de educação. Ambos localizados na famosa Praça do Siqueira.
Nesse período, a então Praça do Siqueira, era um campo
aberto de areia branquinha e uma grande Lagoa no centro que se chamava Lagoa do
Barro Vermelho. Nesse período é aterrada e a Praça iria ter os primeiros traços
de um importante logradouro público. No ano 1948, na administração de Marcos
Ferreira de Jesus, a Praça do Siqueira recebe o nome do primeiro Bispo de
Aracaju, o Dom José Thomaz Gomes de Souza.
O MERCADO E OS CINEMAS
Também nos anos 40, a grande feira do bairro ganha o Mercado
Municipal Carlos Firpo. As margens da linha férrea, recebia muitas mercadorias
que chegavam à Aracaju nas composições dos trens.
Com o passar dos anos, de 1950 até os anos 80, o bairro se
tornaria o maior de Aracaju. Com três cinemas bem movimentados. São eles:
‘Bonfim’ e ‘Vera Cruz’ na rua Carlos Correia (antiga rua Goiás) e o ‘Plaza’ na
Rua Santa Catarina (hoje a Catedral da Igreja Universal).
A DIVERSIDADE RELIGIOSA
Falando em igreja, é nesse período que chegam grandes
Igrejas Evangélicas ao bairro. Como a Assembleia de Deus na Rua Bahia, a
Congregação Cristã na rua Amazonas, a Igreja Batista Memorial na rua Paraíba e
a Igreja Universal do Reino de Deus na rua Santa Catarina. É construída também
a Capela da Santa Cruz, na esquina da Rua Sergipe com Quintino Marques, e a
Capela Santa Rita de Cássia. Além disso, nesse período também chegava os
primeiros Centros Espíritas na região. Com todos esses espaços religiosos no
bairro (além dos Terreiros, citados no início do texto e que permanecem até
hoje), o Siqueira Campos ficou conhecido também pela diversidade religiosa.
AS ESCOLAS DO SIQUEIRA
Seguindo, no início da década de 60 foi inaugurado na Escola
Paroquial o “Instituto Dom Fernando Gomes”, em homenagem ao segundo Bispo de
Aracaju, o Dom Fernando Gomes. Outros grandes colégios públicos e privados
também são fundados, como: Presidente Vargas, Rodrigues Doria, General
Siqueira, Cristo Rei etc.
O CEMITÉRIO E A FÁBRICA DE CIMENTO
Já em 12 de março de 1964, foi inaugurado o maior cemitério
público da cidade, o Cemitério São João Batista. No final dos anos 60 chegou a
primeira fábrica ao bairro. A Fábrica de Cimento Poty da Votorantim, que vai se
instalar na Avenida Rio de Janeiro. Porém, o empreendimento causou grande
impacto ambiental e trouxe sérias complicações à saúde dos moradores do local e
adjacências. Após a transferência da fábrica foi construído o condomínio
residencial Vivendas de Aracaju.
A CASA DO SERGIPE
Vizinho à antiga fábrica está o Estádio João Hora de
Oliveira. Fundado no dia 26 de Julho de 1970, foi recebido pelos moradores e
torcedores da Rua Amapá. Eles fizeram uma grande campanha para a transferência
da sede do “Gipão” para o bairro. O Club Sportivo Sergipe deixava à Praça
Inácio Barbosa, na Rua da Frente, no São Jose para o Siqueira Campos. Nesse
mesmo período foi fundado o conjunto habitacional Costa e Silva.
E assim foi se desenvolvendo o Siqueira Campos. Hoje é um
pedacinho significativo da nossa Aracaju. Muitos dizem que é um segundo Centro,
pois tem tudo: bancos, supermercados, colégios, lojas, clínicas, fábrica,
estádio de futebol e muitos mais!
Texto e imagem reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br
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