Foto: Acervo do Professor Amâncio Cardoso.
Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, 01 de novembro de 2017
Quadrado de Pirro: Nosso Eterno Centro (Parte 1).
Por Osvaldo Ferreira Neto *
Para iniciar o especial “Aracaju e seus bairros”, da coluna “Senta que lá vem história”, nada melhor do que começar pelo Centro. Pois é por ele que a nossa querida Aracaju começou a se desenvolver. Então, vamos conhecer esse pedacinho da capital sergipana?
“Vamos pra Cidade?”, “Vamos pra lá pra baixo?”, “E aí, vai
descer pro Comércio hoje?” … são com essas expressões populares que lhe chamo
para conhecer a história do Bairro Centro.
OS PRIMEIROS PASSOS DO CENTRO
O Centro tem seu surgimento quando a cidade do Aracaju
começou a emergir dos charcos, lagoas, mangues e dunas da antiga Praia da
Olaria, que existia no povoado Santo Antônio do Aracaju. Essa região já estava
sendo ocupada administrativamente desde de novembro de 1854. O recém chegado
presidente da província, o carioca Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a
Alfândega e a Mesa de Rendas Provinciais. Ele tinha os mais claros desejos de
prosperidade econômica para Sergipe. Criaram-se mais tarde uma Agência dos Correios
e uma Sub-Delegacia Policial. Todos esses prédios públicos situando-se a margem
direita do Rio Sergipe, na região da atual Praça Gal. Valadão.
O objetivo era o escoamento da produção açucareira
provincial. Necessitava-se de um porto, pois já não se encontrava estrutura
adequada e suporte em São Cristóvão. Todo o processo de transferência da
capital é oficializado pela Resolução Provincial n° 413(94) que elevava essa
região inóspita a condição de capital da Província de Sergipe del Rey.
Esse novo centro urbano planejado teve o engenheiro militar
Sebastião José Basílio Pirro como projetista. Ele se encontrava aqui desde
1848, quando Inácio Barbosa, imbuído do espírito mais progressista e moderno da
época, contratou Pirro para desenhar Aracaju sobre essa planície litorânea. O
projeto seria de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no
século XIX, a exemplo da grande reforma de Paris.
O TABULEIRO DE XADREZ
O Plano de Pirro se baseava no tabuleiro de xadrez, seu
desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros. Tudo
a partir de um ponto central, a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso).
Mas o plano se desenvolveu a partir da Alfândega (atual Centro Cultural de
Aracaju) sentido sul, em direção da Avenida Barão de Maruim, margeando o rio,
respeitando a simplicidade geográfica do relevo e rigor geométrico dos
cálculos. As primeiras residências de alvenaria foram dos líderes da Região da
Cotinguiba e de quem tinha apoiado a transferência da capital. As demais eram
de palha e pau a pique, onde moravam os trabalhadores da nova capital.
Além dos primeiros prédios administrativos que ficariam
situados nas proximidades da Alfândega ou nas margens do Rio. Em 1856 é erigida
a primeira igreja católica de Aracaju, a Casa de Oração São Salvador
(Larajeiras com joao pessoa) e a Assembleia Provincial (Escola do Legislativo
da Alese). Nesse mesmo ano era colocado em prática as Posturas Municipais, que
determinavam os primeiros passos das diretrizes urbanísticas que não contemplava
os pobres e determinava 100 palmos de largura as ruas.
O IMPERADOR PASSOU POR AQUI
Em 1860 o Centro recebia a visita do Imperador D.Pedro II, a
Imperatriz Tereza Cristina e sua comitiva. Desembarcaram no pequeno atracadouro
de madeira que viria a levar o nome de Ponte do Imperador. Eles participaram de
uma celebração na Igreja São Salvador e passaram uma noite hospedados no então
Palácio do Governo (hoje a atual Delegacia da Receita Federal, na esquina da
Praça Fausto Cardoso com a Av. Rio Branco). Foi nessa visita que a obra de
construção do Palácio Provincial do Governo, que estava sendo erguido, foi
vistoriada por Dom Pedro. A obra foi projetada pelo engenheiro Francisco
Pereira da Silva, que tinha sido contratado por Inácio Barbosa para ajudar no
projeto de Pirro. No ano 1863 o Palácio ficou pronto.
A CIDADE SE PREPARA PARA O SÉCULO XX
Outros prédios públicos também começavam a ocupar o Centro.
Em 1869 a Cadeia Pública (atual Palácio Serigy, onde localiza-se a Secretaria
Estadual da Saúde); em 1875 a Matriz da Conceição (atual Catedral
Metropolitana); em 1890 o Tribunal da Relação (atual Memorial do Judiciário).
Com esse conjunto de prédios, em estilo neoclássico, dava-se ao traçado de
Pirro feições de uma cidade provinciana. A região se desenvolvia cada vez mais
para o século XX que se aproximava e trazia novos ecos da modernidade.
Nesses últimos anos do século XIX, o Centro recebia novas
definições do disciplinar Código de Posturas, aprovado pela Lei Provincial
n°968 de abril 1871. A lei dificultava e segregava ainda mais o Quadrado de
Pirro para os pobres. Eles eram empurrados para os “arrabaldes”, como dizia
Fernando Porto em seus estudos. Cada vez mais o Centro era destinado aos mais
ricos e poderosos.
No ano de 1873, a Câmara Municipal define as nomenclaturas
das ruas do Tabuleiro. Capela, Santa Luzia, Arauá era incluídas no mapa como
novos logradouros públicos. Já a rua dos Músicos vira Pacatuba; a rua Jabotiana
se torna Itabaiana; Independência vira Santo Amaro; rua da Assembleia muda para
Itaporanga; rua Pirro é alterada para Socorro e a rua da Conceição vira
Japaratuba (hoje Rua João Pessoa). Enquanto as ruas da Aurora (a popular Rua da
Frente), São Cristóvão, Laranjeiras, Maruim e Estância conservaram os nomes
desde a fundação da cidade. A partir dessa alteração as ruas do Centro levaria
os nomes dos principais municípios sergipanos até os dias atuais.
Gostou? Semana que vem tem mais. Fiquem atentos pois
lançaremos a 2ª parte do artigo “Quadrado de Pirro: nosso eterno Centro” e
finalizaremos a história do Centro. O Século XX chegou e um novo Centro começa
a se moldar. Um Centro festivo, boêmio e de lazer ganha destaque na capital. E
é claro que não deixaremos de passar pelo atuais desafios que o bairro
enfrenta. Então acompanhem de pertinho a nossa série “Aracaju e seus bairros”.
Passearemos pelas histórias, memórias e curiosidades dos nossos 39 bairros e a
Zona de Expansão.
* Discente de História na Universidade Federal de Sergipe.
Estagiou no Museu do Homem Sergipano e na Biblioteca Pública Epifânio Dória.
Texto e imagem reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br
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