segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Quadrado de Pirro: Nosso Eterno Centro (Parte 1)

Foto: Acervo do Professor Amâncio Cardoso.

Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, 01 de novembro de 2017

Quadrado de Pirro: Nosso Eterno Centro (Parte 1).
Por Osvaldo Ferreira Neto *

Para iniciar o especial “Aracaju e seus bairros”, da coluna “Senta que lá vem história”, nada melhor do que começar pelo Centro. Pois é por ele que a nossa querida Aracaju começou a se desenvolver. Então, vamos conhecer esse pedacinho da capital sergipana?

“Vamos pra Cidade?”, “Vamos pra lá pra baixo?”, “E aí, vai descer pro Comércio hoje?” … são com essas expressões populares que lhe chamo para conhecer a história do Bairro Centro.

OS PRIMEIROS PASSOS DO CENTRO

O Centro tem seu surgimento quando a cidade do Aracaju começou a emergir dos charcos, lagoas, mangues e dunas da antiga Praia da Olaria, que existia no povoado Santo Antônio do Aracaju. Essa região já estava sendo ocupada administrativamente desde de novembro de 1854. O recém chegado presidente da província, o carioca Inácio Joaquim Barbosa, transferiu a Alfândega e a Mesa de Rendas Provinciais. Ele tinha os mais claros desejos de prosperidade econômica para Sergipe. Criaram-se mais tarde uma Agência dos Correios e uma Sub-Delegacia Policial. Todos esses prédios públicos situando-se a margem direita do Rio Sergipe, na região da atual Praça Gal. Valadão.

O objetivo era o escoamento da produção açucareira provincial. Necessitava-se de um porto, pois já não se encontrava estrutura adequada e suporte em São Cristóvão. Todo o processo de transferência da capital é oficializado pela Resolução Provincial n° 413(94) que elevava essa região inóspita a condição de capital da Província de Sergipe del Rey.

Esse novo centro urbano planejado teve o engenheiro militar Sebastião José Basílio Pirro como projetista. Ele se encontrava aqui desde 1848, quando Inácio Barbosa, imbuído do espírito mais progressista e moderno da época, contratou Pirro para desenhar Aracaju sobre essa planície litorânea. O projeto seria de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no século XIX, a exemplo da grande reforma de Paris.

O TABULEIRO DE XADREZ

O Plano de Pirro se baseava no tabuleiro de xadrez, seu desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros. Tudo a partir de um ponto central, a Praça do Palácio (atual Praça Fausto Cardoso). Mas o plano se desenvolveu a partir da Alfândega (atual Centro Cultural de Aracaju) sentido sul, em direção da Avenida Barão de Maruim, margeando o rio, respeitando a simplicidade geográfica do relevo e rigor geométrico dos cálculos. As primeiras residências de alvenaria foram dos líderes da Região da Cotinguiba e de quem tinha apoiado a transferência da capital. As demais eram de palha e pau a pique, onde moravam os trabalhadores da nova capital.

Além dos primeiros prédios administrativos que ficariam situados nas proximidades da Alfândega ou nas margens do Rio. Em 1856 é erigida a primeira igreja católica de Aracaju, a Casa de Oração São Salvador (Larajeiras com joao pessoa) e a Assembleia Provincial (Escola do Legislativo da Alese). Nesse mesmo ano era colocado em prática as Posturas Municipais, que determinavam os primeiros passos das diretrizes urbanísticas que não contemplava os pobres e determinava 100 palmos de largura as ruas.

O IMPERADOR PASSOU POR AQUI

Em 1860 o Centro recebia a visita do Imperador D.Pedro II, a Imperatriz Tereza Cristina e sua comitiva. Desembarcaram no pequeno atracadouro de madeira que viria a levar o nome de Ponte do Imperador. Eles participaram de uma celebração na Igreja São Salvador e passaram uma noite hospedados no então Palácio do Governo (hoje a atual Delegacia da Receita Federal, na esquina da Praça Fausto Cardoso com a Av. Rio Branco). Foi nessa visita que a obra de construção do Palácio Provincial do Governo, que estava sendo erguido, foi vistoriada por Dom Pedro. A obra foi projetada pelo engenheiro Francisco Pereira da Silva, que tinha sido contratado por Inácio Barbosa para ajudar no projeto de Pirro. No ano 1863 o Palácio ficou pronto.

A CIDADE SE PREPARA PARA O SÉCULO XX

Outros prédios públicos também começavam a ocupar o Centro. Em 1869 a Cadeia Pública (atual Palácio Serigy, onde localiza-se a Secretaria Estadual da Saúde); em 1875 a Matriz da Conceição (atual Catedral Metropolitana); em 1890 o Tribunal da Relação (atual Memorial do Judiciário). Com esse conjunto de prédios, em estilo neoclássico, dava-se ao traçado de Pirro feições de uma cidade provinciana. A região se desenvolvia cada vez mais para o século XX que se aproximava e trazia novos ecos da modernidade.

Nesses últimos anos do século XIX, o Centro recebia novas definições do disciplinar Código de Posturas, aprovado pela Lei Provincial n°968 de abril 1871. A lei dificultava e segregava ainda mais o Quadrado de Pirro para os pobres. Eles eram empurrados para os “arrabaldes”, como dizia Fernando Porto em seus estudos. Cada vez mais o Centro era destinado aos mais ricos e poderosos.

No ano de 1873, a Câmara Municipal define as nomenclaturas das ruas do Tabuleiro. Capela, Santa Luzia, Arauá era incluídas no mapa como novos logradouros públicos. Já a rua dos Músicos vira Pacatuba; a rua Jabotiana se torna Itabaiana; Independência vira Santo Amaro; rua da Assembleia muda para Itaporanga; rua Pirro é alterada para Socorro e a rua da Conceição vira Japaratuba (hoje Rua João Pessoa). Enquanto as ruas da Aurora (a popular Rua da Frente), São Cristóvão, Laranjeiras, Maruim e Estância conservaram os nomes desde a fundação da cidade. A partir dessa alteração as ruas do Centro levaria os nomes dos principais municípios sergipanos até os dias atuais.

Gostou? Semana que vem tem mais. Fiquem atentos pois lançaremos a 2ª parte do artigo “Quadrado de Pirro: nosso eterno Centro” e finalizaremos a história do Centro. O Século XX chegou e um novo Centro começa a se moldar. Um Centro festivo, boêmio e de lazer ganha destaque na capital. E é claro que não deixaremos de passar pelo atuais desafios que o bairro enfrenta. Então acompanhem de pertinho a nossa série “Aracaju e seus bairros”. Passearemos pelas histórias, memórias e curiosidades dos nossos 39 bairros e a Zona de Expansão.

* Discente de História na Universidade Federal de Sergipe. Estagiou no Museu do Homem Sergipano e na Biblioteca Pública Epifânio Dória.

Texto e imagem reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br

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