Imagem: Antigo cartão postal de Aracaju
Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em 8 de novembro de 2017Quadrado de Pirro: Nosso eterno centro (Parte 2)
Por Osvaldo Ferreira Neto.
Seguimos o especial “Aracaju e seus bairros”, da coluna
“Senta que lá vem história”, com a segunda parte do Centro.
Sem mais delongas, vamos lá…
NOVO TEMPO E UM NOVO CENTRO
Com o novo século XX e a República, a ordem era modernizar o
Centro e concedê-lo ares de uma cidade republicana. Essas mudanças começam em
1904, quando o italiano Nicolau Pungitori inaugurou, na rua Japaratuba (hoje
João Pessoa), o Teatro Carlos Gomes. Mais tarde transformado em Cine Teatro Rio
Branco, seria por um bom tempo o principal palco de Aracaju e o templo da
sétima arte.
Em 1908, no Governo de Guilherme Campos, foi implementado o
sistema de bondes à tração animal. Em 07 de Dezembro de 1913, a cidade era
iluminada pela luz elétrica. Chegou também nesse período a água encanada,
esgoto e as primeiras linhas telefônicas ao Centro.
Em 05 de agosto de 1915, partia o primeiro trem da Estação
Central de Aracaju da Rede Ferroviária Federal S.A. A Estação ficava no Centro
Comercial, na região da atual Praça de Eventos Hilton Lopes nos Mercados. Ficou
lá até 1950, quando o desembarque em Aracaju passou a ser na atual Estação da
Leste, no bairro Getúlio Vargas.
NOVOS PRÉDIOS E ARQUITETURA
Com os governos de Rodrigues Doria, Siqueira de Meneses,
General Valadão, Pereira Lobo e Graccho Cardoso, as praças centrais e os
prédios públicos foram remodelados com os traços do ecletismo. Novos e
importantes prédios ganharam espaços, como: a reforma eclética da tradicional
Associação Comercial de Sergipe; a Escola Normal (atual Rua do Turista), em
1911; o Palácio Inácio Barbosa (antiga Prefeitura), em 1924; em 1926, o Mercado
Antônio Franco e o Atheneu Pedro II (atual Museu da Gente Sergipana). Também no
ano de 26 os bondes elétricos chegaram em nossa cidade e tem suas linhas
ampliadas.
Nesse mesmo período grandes intendentes municipais, cargo
equivalente ao prefeito nos dias atuais, eram nomeados e realizaram importantes
obras. Como Teófilo Correia Dantas que construiu o Velatório Público na Praça
Almirante Barroso. Já Camilo Calazans saneou várias vias centrais.
Na antiga Rua Japaratuba era onde se encontravam as
principais lojas e estabelecimentos de alto padrão. Como: Fiat Lux, Café
Central, o tradicional Ponto Chic, Chevrolet, Casa Colombo e Hotel Marozzi.
Nos anos 30, o estilo arquitetônico Art. Déco toma conta do
Centro. O Palácio Serigy, Palácio Carvalho Neto, Quartel Central do Corpo de
Bombeiros, Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IGHSE) e inúmeras residências
tiveram o engenheiro civil alemão Hermann Otto Altenesch como principal
criador.
A VERTICALIZAÇÃO E O AUTOMÓVEL
É na Rua João Pessoa, na década de 50, que o Centro começa a
sentir a verticalização de Aracaju com o Edifício Mayara. O primeiro da região
seria chamado popularmente de “A Moda”. O Edifício Aliança e o Edifício Santana
também seguiam em direção aos céus. Nos anos 60, o Edifício do Hotel Palace. Em
1969 era inaugurado os 27 andares do Edifício Estado de Sergipe, o popular
Maria Feliciana. Além de todos estes, outros iam tomando a área central de
Aracaju.
Além da verticalização, nesse período o Brasil investia em
malha rodoviária e na política automobilística. E o Centro sentiu os sinais. As
marinetes faziam os transportes do Centro para outros bairros e municípios
sergipanos. Em 31 de janeiro de 1962 era inaugurada a Estação Rodoviária
Governador Luiz Garcia, na então Praça João XXIII.
O MORRO DO BONFIM
Para a construção da Rodoviária, foi necessário o desmonte
do antigo e grande Morro do Bonfim. O morro de areia branquinha era ocupado por
trabalhadores pobres que não podiam morar no restrito ‘Quadrado de Pirro’. Após
o desmonte na década de 50, alguns receberam casas populares no Agamenon
Magalhães e outros foram expulsos para ocupações que existiam na cidade.
Segundo os jornais, moravam mais de 134 famílias na região. Para muitos líderes
políticos da época e parte da burguesia sergipana, o Morro do Bonfim era
inconveniente para a paisagem de Aracaju.
Segundo o pesquisador Luiz Antônio Barreto, “o desmonte do
Morro do Bonfim criou várias alternativas para a urbanização do centro
comercial e das ruas centrais: Vitória (avenida Carlos Burlamaqui); Bonfim
(avenida Sete de Setembro, antes Nobre de Lacerda e Getúlio Vargas); Divina
Pastora; Capela; Geru; Lagarto; Santo Amaro e Itabaianinha. Nivelado, o terreno
foi imediatamente ocupado com diversas construções comerciais e
administrativas, que foram logo incorporadas ao traçado da cidade”.
UM CENTRO FESTIVO, BOÊMIO E DE LAZER
Como a área central era mais desenvolvida, era nela que
estavam a maioria dos atrativos de lazer. Já foi dito que o Cine Teatro Rio
Branco era o principal palco cênico e cinematográfico. Nele se apresentou
famosos artistas, como: a cantora Bidu Saião, Joracy Camargo, Procópio
Ferreira, a “Rainha do Rádio” Emilinha Borba e a atriz Eva Todor. Além do Rio
Branco, o Centro tinha mais quatro cinemas que eram o popular ‘Rex’, o
‘Guarani’, o ‘Vitória’ e o sofisticado ‘Cine Palace’. Além dos cinemas, as
sorveterias faziam parte do lazer do aracajuano no Centro. Eram elas a
Primavera, a Iara, a tradicional Cinelândia e a Sorveteria Real (existente até
os dias de hoje na Praça Almirante Barroso).
Era no Centro que ocorria o tradicional Natal da Praça
Olímpio Campos com o lúdico Carrossel do Tobias e o saboroso Cachorro-Quente de
seu João. Na área central acontecia também os desfiles dos carros alegóricos e
os primeiros blocos carnavalescos da cidade. Os antigos desfiles de 7 de
setembro na Praça Fausto Cardoso, a Procissão do Bom Jesus dos Navegantes e a
Procissão de Nossa Senhora da Conceição, no dia 08 de Dezembro, completavam o calendário festivo do nosso
Centro.
Já a vida boêmia era animadíssima com os Cabarés, Cassinos e
Bares. Destacavam-se ‘O Vaticano’, ‘Miramar’, mais tarde o ‘Xangai’,
‘Imperial’, ‘Cassino 8 de Julho’, ‘Shell’, ‘Cacique Chá’, ‘Bar do Português’,
entre outros nas proximidades do Mercado Central. Muito dessa vida boêmia foi
destacada em inúmeras obras do escritor baiano Jorge Amado.
O CENTRO HOJE E SEUS DESAFIOS
Não poderia passar sem lembrar que o nosso Centro hoje tem
muitos desafios. Enfrentar o abandono, o mau uso dos espaços públicos, o
tráfico e as drogas que tomam esta área. Além da poluição visual que danifica
os prédios históricos e a destruição de muitos deles para dar espaço aos
estacionamentos rotativos.
O Centro precisa de uma revitalização urgente. Um olhar mais
democrático e contemporâneo para o uso de muitos prédios abandonados. O Centro
tem um grande número de edificações vazias, sem utilidade, numa cidade com um
grande número de trabalhadores sem-teto.
Precisamos olhar o Centro como um dos nossos principais
cartões postais da capital e um lugar de muita memória. Esse bairro tem nas
suas praças, vilas, mercados, becos, ruas e prédios a história da nossa Aracaju
e de seu povo.
ALGUNS DADOS E SUA LOCALIZAÇÃO
O bairro Centro em destaque no mapa | Imagem: Google Maps
Segundo o levantamento do último Censo do IBGE, em 2010, o
Centro tinha 7.572 habitantes. Os limites do bairro são: leste Rio Sergipe;
oeste Avenida Pedro Calazans; sul Avenida Barão de Maruim; e norte Avenida
Coelho e Campos. Os bairros vizinhos são: ao sul São José; oeste Cirurgia e
Getúlio Vargas; e norte Santo Antônio e Industrial.
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Tintiliano abrilhanta nosso especial com sua obra de arte
Gostou? Semana que vem tem mais. Fiquem atentos, pois
lançaremos os textos e vídeos sobre o bairro Siqueira Campos. Então acompanhem
de pertinho a nossa série “Aracaju e seus bairros”. Passearemos pelas
histórias, memórias e curiosidades dos nossos 39 bairros e a Zona de Expansão.
Texto e imagem reproduzido do site: expressaosergipana.com.br
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