quinta-feira, 12 de julho de 2018

Sr. Faustino recorda momentos em 80 anos do Itabaiana

Faustino Menezes, ex-jogador do Itabaiana (Foto: Osmar Rios/GloboEsporte.com) 

Publicado originalmente no site Globo Esporte Sergipe, em 10/07/2018 

"Ceboleiro da gema", Sr. Faustino recorda momentos em 80 anos do Itabaiana

Um dos símbolos do clube hoje é conselheiro, mas já foi jogador e treinador do Tremendão

Por Osmar Rios, GloboEsporte.com, Itabaiana

"Sou ceboleiro da gema com muito orgulho", disse sorrindo um dos caras que mais representa a Associação Olímpica de Itabaiana. Faustino Alves Menezes, hoje mais conhecido por Sr. Faustino, tem o clube como se fosse um membro da família. Não é pra menos, nascido na Zona Rural de Itabaiana, ele começou cedo por lá e, pelo visto, vai permanecer ajudando de alguma forma sempre que for possível.

- Eu comecei com 9 anos no Itabaiana, eu levava material para o campo. Só que naquela época o Itabaiana não era um time consistente. Ele aparecia, depois desaparecia. Antes dele, existiam dois times, o Brasil e o Santa Cruz. Então em 1938 resolveram fazer uma fusão dos dois, inclusive nas cores. Um era azul e branco e o outro vermelho e branco. Por isso, colocaram o time tricolor, para agradar aos dois lados - explicou o Sr. Faustino.

1959: Primeiro título do Itabaiana (Foto: Arquivo/AOItabaiana) 

Aos 86 anos, ele ainda lembra bem da fusão entre os clubes amadores Brasil Football Club e o Balípodo Club Santa Cruz, a fim de existir uma equipe mais participativa, com um calendário regular. Com isso, no dia 10 de julho de 1938 nascia um novo time no município serrano, o Botafogo Sport Club.

Mas este nome não durou muito, pois vários integrantes não se deram por satisfeitos. Então, um homem chamado Sr. Irineu Pereira Andrade tomou a iniciativa de marcar uma reunião e no dia 6 de outubro, daquele mesmo ano, a equipe trocou apenas o primeiro nome, colocando o nome da cidade onde foi fundado: Itabaiana Sport Club. O que conhecemos hoje por Associação Olímpica de Itabaiana só foi instituído em 1950. Nove anos depois, o Tricolor da Serra conquistava o primeiro título, ainda como amador.

Faustino, camisa 4 do Itabaiana em 1959 (Foto: Osmar Rios/GloboEsporte.com) 

E quem estava no elenco? Ele mesmo, o Sr. Faustino. O "cabeça de área" (volante) do Tremendão era titular absoluto e vestia a camisa 4. Aliás, veste até hoje, com muito orgulho, mas fora das quatro linhas. Naquela conquista que levava o nome de Zona Centro de Sergipe ele tinha 27 anos.

- A partir dos 14 anos eu me inscrevi como atleta do Itabaiana para jogar no juvenil, fui o primeiro a fazer isso. Minha primeira passagem no Itabaiana foi de 1947 até 1952. Depois, de 1952 a 1955, eu fui jogar no Sudeste e retornei para minha cidade em 1955, quando joguei no Canta Galo, um time que surgiu para fazer frente ao Itabaiana, até 1958. Então, em 1959, voltei o Tricolor e fui campeão, conquistando o primeiro troféu do clube - conta Sr. Faustino.

Agnélio, Zé de Chico, Fernando, Divo, Zé de Ermoges, Faustino, Gonçalinho, Zé de Neném Faete, Valdenor, Pirrozinho e Antônio ("Tonho") Negão. Esse foi o time titular da Olímpica na conquista do primeiro título em 1959. E Faustino lembra bem dos nomes, foi falando cada um, inclusive recordou até da final. Uma festa que está escrita em três cores no coração do ex-volante que vestia geralmente a camisa 4 do Tremendão.

Itabaiana, 1959: solenidade de entrega das faixas ao campeão da Zona Centro
 (Foto: Arquivo/AOItabaiana) 

- Lembro! Nós batemos o Rio Branco lá em Capela, por 2 a 1, gols de Faete e Valdenor. Fiquei muito feliz. Foi uma empolgação muito grande. Foi muita alegria na cidade, chamou a atenção de todo mundo. Aí o clube passou a receber uma ajuda financeira maior - destacou o ex-volante do Tricolor da Serra.

No ano seguinte, Sr. Faustino virou treinador do clube, uma espécie de colaborador, como ele mesmo definiu. Mas não demorou muito por lá, foi apenas uma passagem para marcar ainda mais o nome dele na história do Itabaiana.

- Eu era um treinador amador, fui para colaborar com o clube, porque em 1960 foi instituído o chamado "misto profissional" pela Federação Sergipana de Futebol. Só que em 60 eu já estava com uma atividade que exigia muito de mim, era sapateiro, então deixei de ser técnico e nós levamos para lá o primeiro treinador profissional. Daí em diante acompanhei o time de outras formas - afirmou Sr. Faustino Menezes.

Itabaiana pentacampeão sergipano (Foto: Arquivo/AOItabaiana) 

O primeiro título do Itabaiana já como profissional veio dez anos depois (1969) e, pra ser mais especial ainda, foi justamente no antigo Estádio Etelvino Mendonça. Um ano depois, Faustino veio morar na capital sergipana, mas nunca deixou de seguir o Tremendão nas partidas. Foi justamente no final daquela década e no início da década de 80 que a Olímpica conquistou o pentacampeonato sergipano (78, 79, 80, 81 e 82), mostrando o quanto o clube já tinha crescido em tão pouco tempo e já se tornava uma das referências do Estado.

Faustino também lembra dessa conquista, mas pra ele o melhor time que viu jogar foi o de 1971, que foi campeão do Nordeste. Segundo o clube, apesar de ainda não ser oficializado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), "está registrado nos anais da história através de diversos jornais e do Boletim Oficial da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD)".

Itabaiana campeão do Nordeste em 1971 (Foto: Arquivo/AOItabaiana) 

Outra recordação do ex-jogador/técnico, conselheiro e torcedor tricolor foi do dia 23 de fevereiro de 1980, quando o Itabaiana, que vinha de um bi estadual, derrotou o Internacional, então tricampeão brasileiro, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro de 80 (Taça Ouro) em pleno Estádio Beira Rio.

- No penta eu já era apenas torcedor. Foi muito bom, muita emoção! Mais um momento de festa na cidade, e de orgulho acima de tudo. Mas pra mim foi o melhor time que vi jogar foi o de 1971, que foi campeão do Nordeste. Do jogo contra o Internacional, eu lembro de uma história legal. O Itabaiana ganhou do Internacional que era um timão, lá dentro do Beira Rio. Havia um rapaz que morava perto de onde eu trabalhava, era como se fosse meu vizinho.Nós nos reuníamos para bater papo. E nesse dia da vitória do Itabaiana ele "encheu a cara", bebeu todas, e disse que estava fazendo isso porque acreditava que um feito desse só aconteceria depois de 100 anos ou mais - conta Faustino Alves Menezes.

Itabaiana vence o Internacional no Beira Rio em 1971 pela Taça Ouro 
(Foto: Arquivo/AOItabaiana) 

E uma das coisas que ele mais se orgulha é de ter participado da comissão que correu atrás da construção do estádio Presidente Médici, hoje Etelvino Mendonça, no mesmo ano do título regional, que teve como time titular na inauguração: Marcelo, Augusto, Humberto, Elísio e Messias; Gustinho, Bené e Zequinha; Edmilson, Horácio e Tatica. O técnico era Alberto Menezes. Vale lembrar que no atual Mendonção ele tem uma cadeira cativa e vai a todos os jogos do Tremendão.

Estádio Presidente Médici (Foto: Arquivo/Matheus Lima)

- Time que tem dono é porque ninguém mais dá opinião. Não é o caso do Itabaiana, que é uma instituição organizada, que tem estatuto, diretoria e é patrimônio de todos, não de uma pessoa só. Estive à frente de uma comissão, na qual reunimos diversas pessoas importantes de Itabaiana, independente de política, para buscar esse estádio. Nosso porta-voz foi Antônio Barbosa. Eu era até fiscal de obra, olhava tudo, cada detalhe, para que ficasse pronto da melhor forma possível. E nós conseguimos! Eu me orgulho muito disso, foi um grande feito para o futebol de Itabaiana. Naquele dia da inauguração foi festa geral, bandeiras espalhadas por toda cidade - disse Sr. Faustino.

E, neste dia especial, Faustino Alves Menezes fez questão de colocar a camisa preferida, que informa na frente o título de 1959 e deixa eternizado nas costas o número 4 e o nome daquele que é um dos maiores símbolos dessa Associação Olímpica que completa 80 anos de fundação neste 10 de julho de 2018. Ah, e a faixa de campeão? Essa ele também guarda com muito carinho.

Faustino, ex-jogador do Itabaiana (Foto: Osmar Rios/GloboEsporte.com) 

"Essa faixa aqui eu vou morrer e ela vai ficar. Já me pediram, já quiserem comprar, mas não tem jeito. Eu respeito o gosto de todo mundo, mas pra mim essa é a mais bonita de todas", afirmou Sr. Faustino.

Texto e imagens reproduzidos do site: globoesporte.globo.com/se

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