O museu funciona no prédio do antigo Colégio Atheneu Dom Pedro II,
conhecido como Atheneuzinho, erguido em 1926
Foto: Márcio Garcez
Publicado originalmente no site da Rede Brasil Atual, em 13/11/2016
No Museu da Gente Sergipana, a riqueza da produção popular
Aberto há cinco anos, o "primeiro museu de multimídia
interativo do Norte e Nordeste", mostra riquezas culturais do menor estado
do Brasil
Por Vitor Nuzzi
Ao longo da Avenida Ivo do Prado, região central de Aracaju,
estende-se o Rio Sergipe, que percorre mais de 200 quilômetros desde Nossa
Senhora da Glória, no sertão sergipano, até desaguar no Oceano Atlântico, entre
a capital e o município de Barra dos Coqueiros, do outro lado. Um pouco
adiante, fica a Ponte do Imperador, na verdade um ancoradouro construído em
1860 para receber Dom Pedro II e sua comitiva. Mais à frente, estão os
mercados municipais. É nesse perímetro que se localiza o Museu da Gente
Sergipana, que está completando cinco anos de instalação, após longo processo
de restauração no prédio do antigo Colégio Atheneu Dom Pedro II, conhecido como
Atheneuzinho, erguido em 1926.
O museu já é uma das principais atrações do estado. Foi
criado, segundo o então governador Marcelo Déda, para elevar a autoestima da
população. “Para que possamos perceber a grandeza da contribuição que o menor
estado do Brasil ofereceu à nação brasileira”, escreveu o governador, que
morreu em dezembro de 2013 e agora dá nome ao local. Segundo estimativa
divulgada em setembro pelo IBGE, Sergipe tem pouco menos de 2,3 milhões de
habitantes – 1,1% da população do país – e sua capital, 645 mil.
A inauguração do museu coincidiu com a concessão, pela
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
do título de Patrimônio Cultural da Humanidade à praça São Francisco, em São
Cristóvão, uma das cidades mais antigas do Brasil e primeira capital do estado.
Aracaju foi promovida em 1855.
Multimídia
Assim como o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, o da
Gente Sergipana se caracteriza pelo uso da tecnologia – apresenta-se como o
“primeiro museu de multimídia interativo do Norte e Nordeste”. Não é
coincidência. Seu curador é Marcello Dantas, ex-diretor artístico do congênere
paulistano. “Esse encontro entre a tradição e as novas linguagens tem o poder
multiplicador de criar consciência e afetividade sobre identidade para as
próximas gerações”, diz Dantas, na apresenção.
A interatividade é notada a cada passo. Logo depois da
entrada, no átrio, o visitante anda sobre um mapa de Sergipe, dividido por
territórios – agreste central, alto e médio sertão, baixo São Francisco... É
possível escutar o sotaque dos habitantes de cada um. Acima do mapa, pendurada,
uma enorme rede de pesca armazena produtos típicos.
Os nomes dados às áreas permanentes do museu enfatizam que
os protagonistas, ali, são as pessoas: Nossos Pratos, Nossos Cabras, Nossas
Festas, Nossos Leitos (em que os ecossistemas são projetados em 360 graus)...
Os “cabras” que aparecem nas telas nem sempre são nascidos lá: Lampião era de
Pernambuco, mas morreu no sertão de Sergipe, em 1938. Perto dos personagens
históricos, há um “jogo da memória” interativo, para ligar, por exemplo, um
objeto a um letra de música, ou a um verbete. Há várias mostras da produção
local, em couro, palha ou madeira, instrumentos musicais, artefatos de pesca.
Subindo a escada, a primeira parada é na instalação
conhecida como Josevende. Diversos produtos no balcão e nas prateleiras mostram
a variedade do comércio local, e é possível “negociar” o preço dos produtos com
um vendedor virtual. Saindo da “feira”, a caminho do local em que conhecerá os ecossistemas
da região, o visitante verá nas paredes, em letras grandes, nomes e expressões
populares, com suas respectivas “traduções”. Tarimba é... Uma cama
desconfortável.
Repente
Em um salão amplo, fica a midiateca, com o acervo do museu e
publicações para consulta e pesquisa. Ali também está a “Renda do Tempo”, um
painel com datas e fatos históricos, expostos em uma renda irlandesa, típica do
artesanato local. Em 2008, a técnica, tendo como referência a cidade de Divina
Pastora (a 40 quilômetros de Aracaju), foi reconhecida como Patrimônio Cultural
do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
No final da visita, há uma infinidade de folhetos pendurados nas
paredes com histórias de diversos personagens
Foto: Márcio Garcez
Quase no fim da visita, no andar de cima, também é possível
criar um repente ou um cordel, nas cabines destinadas a essas manifestações
culturais, em meio a uma infinidade de folhetos pendurados nas paredes, com
histórias sobre Antônio Conselheiro, Ariano Suassuna e até Michael Jackson,
entre muitos personagens e fatos. Dá para gravar e mandar para o Youtube.
Gerido pelo Instituto Banese (o banco público do estado), o
museu organiza visitas guiadas, especialmente para escolas, mas é possível
percorrer suas instalações sozinho. Há monitores em cada setor. O local tem
ainda uma loja e um café – ambos “da gente”.
Da abertura até setembro, o museu atingiu a marca de 395.622
visitantes. A maioria, como esperado, é de Sergipe, mas a procedência é
variada. No ano passado, por exemplo, foram 45 mil sergipanos, 34 mil pessoas
de outras regiões e quase 500 do exterior. Vem gente de todo canto para
conhecer, ver e ouvir o que tanta gente já fez e faz.
Museu da Gente Sergipana
Avenida Ivo do Prado, 398, centro, Aracaju.Funciona de terça
a sexta das 10h às 16h. Sábado, domingos e feriados das 10h às 15h. Fecha em
24, 25 e 31 de dezembro, 1º de janeiro, terça de carnaval, 7 de setembro e em
dias de eleições.
Na instalação Josevende, diversos produtos no balcão e nas
prateleiras mostram a
variedade do comércio local, e é possível “negociar”
o preço dos produtos com um vendedor virtual.
variedade do comércio local, e é possível “negociar”
o preço dos produtos com um vendedor virtual.
Foto: Márcio Garcez
Texto e imagens reproduzidos do site: redebrasilatual.com.br
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