Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida,
em 07/06/2018
Tobias Barreto e a Educação da Mulher
Dia 7 de junho, marca a data natalícia de Tobias Barreto de
Menezes, o genial sergipano nascido na Vila de Campos, (hoje cidade Tobias
Barreto) Sergipe, em 1839. Faleceu no dia 26 de
junho de 1889, em Pernambuco.
Tobias Barreto e a Educação da Mulher, do livro "Tobias Barreto "- autoria de Luiz
Antonio Barreto -1994.
Parte da vida cinquentenária de Tobias Barreto foi dedicada
à educação. Ainda em Sergipe, em Lagarto e Itabaiana, foi professor de Latim,
com uma titulação passada para toda a Província. No Recife dedicou-se ao
magistério particular e tentou, por três vezes, o ingresso no ensino
secundário: duas vezes concorreu à cadeira de Latim, do Curso Preparatório da
Faculdade de Direito, perdendo para seu conterrâneo e parente, o padre Felix
Vasconcelos Barreto, e uma vez à cadeira de Filosofia do Ginásio Pernambucano,
passando em primeiro lugar, mas sendo preterido pelo Governo, que deu
preferência ao professor José Soriano de Souza, que obteve o segundo lugar,
pelo fato de ser casado e Tobias solteiro. Nos seus jornais, dedicou atenção
especial ao problema da educação da mulher e, em geral, à condição feminina,
como um pioneiro ainda hoje atual com sua visão inovadora e algumas vezes
revolucionária. Seu trabalho sobre A Alma da Mulher, de comentário a Die Psyche
des Weibes, de Adolfo Jellinek, judeu alemão, pregador da sinagoga de Berlim,
editado em 1873, é um libelo em favor da educação feminina, tema familiar ao
autor nº. 129, na Assembleia Provincial de Pernambuco, criando o
Partenogógio[M1] do Recife.
Quando deputado, representando o Partido Liberal e o
eleitorado de Escada, no Biênio 1878/79, Tobias Barreto se envolveu na
discussão parlamentar, principalmente com o médico Malaquias Antônio Gonçalves,
em defesa de um auxilio, a ser dado pelo Governo da Província, no valor de cem
mil réis, para que Josefa Felisbela de Oliveira pudesse estudar medicina nos
Estados Unidos ou na Suíça. Além de defender a concessão de auxílio, Tobias
Barreto apresentou uma emenda em favor em favor de outra moça, Maria Amélia
Florentina, para o mesmo estudo no exterior. No calor da discussão, Tobias
Barreto refutou, um a um, os argumentos utilizados pelo Dr. Malaquias para
vetar o auxílio, todos eles inferiorizando a mulher.
Para realçar sua defesa, Tobias Barreto chama a atenção do
Plenário e especialmente do Dr. Malaquias, dizendo: “Nós sabemos da grande
importância, do grande desenvolvimento, que tem tido a doutrina da Seleção
Natural de Darwin, sobretudo reformada e engrandecida em mais de um ponto por
Ernest Haeckel. Pois bem: entre as leis da conformação ou adaptação indireta,
de que fala Haeckel, está em primeiro lugar aquela que ele chama da adaptação
individual, segundo a qual os indivíduos de uma mesma espécie, nunca são
totalmente iguais.” E arremata: “E sendo assim, como querer-se, comparando a
mulher com o homem, deduzir de pequenas diferenças no órgão do pensamento uma
enorme distância entre um e outro na capacidade intelectual? É inadmissível.”
Tobias Barreto ganhara a questão e sua emenda, aprovada, garantia a Maria
Amélia Florentina o direito ao auxílio da sua Província para estudar medicina
no exterior.
Enquanto discutia, em várias sessões legislativas, o Projeto
61/79 dos auxílios, Tobias Barreto apresentou, debaixo de longas
justificativas, o seu Projeto de Lei, nº. 129, criando o Partenogógio do
Recife, estabelecimento público, de cultura literária e profissional para
moças, dividido em duas Escolas: Escola Média, ao modelo alemão das
Mittelschuele, e a Escola Superior, a Honere Schule. O Projeto lido na sessão
de 28 de março de 1879 e aprovado em primeira discussão no dia 2 de maio do
mesmo ano. O que movia Tobias, segundo ele próprio, era os ensinamentos de
Frederico Diesterweg, que com Pestalozzi e Froebel, integrava uma tríade de
pedagogos modernos, ao dizer que “A liberdade do povo, e a felicidade do povo,
pela cultura do povo, não pode ser conseguida por meio de instrução parcial,
ministrada a um só sexo.”
A novidade não estava na criação de uma escola feminina,
pois já existia em Recife a Escola Normal, atendendo, naquele ano de 1879, a 42
alunas. Mas, sim, na criação de uma Escola Superior, ao lado de uma Escola
Média, pois equivaleria a libertar a mulher daquela condição de portadora de
uma certa cultura da vaidade, formada por um pouco de música, um pouco de
desenho e pelo gaguejar de uma ou duas línguas estrangeiras, como fixa, em sua
justificativa, o próprio Tobias, abonado por Eduardo von Hartmann.
Quando o Projeto voltou ao Plenário da Assembleia para a
segunda discussão, em 5 de março de 1880, já Tobias Barreto não era deputado, A
defesa coube ao Barão de Nazaré, também signatário do Projeto, que enfrentou a
reação forte do deputado Ermírio Coutinho, para quem o projeto não acautelava
suficientemente a moralidade do sexo feminino. O deputado baseava-se no fato de
que o Projeto autorizava, num dos seus artigos, que o Governo da Província,
enquanto não dispusesse de condições para construir o Partenogógico,
matriculasse as suas alunas no prédio do Ginásio Pernambucano. A proximidade
das moças do Partenogógico do Recife com os poucos alunos, crianças e rapazes,
do Ginásio Pernambucano representava, na visão do deputado Ermírio Coutinho,
uma promiscuidade. Utilizando-se de teoria sobre a influência do clima no
desenvolvimento físico e nas paixões, o crítico demove o Plenário e faz aprovar
requerimento do deputado Ayres Gama, remetendo o Projeto do Partenogógico do
Recife para a Comissão de Instrução Pública, de onde nunca mais voltou.
... no conjunto de sua obra, Tobias Barreto põe a mulher em
lugar destacado, tanto pela ótica da poética, como da filosofia, da ciência, e
do direito.
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