terça-feira, 10 de julho de 2018

Tobias Barreto e a Educação da Mulher


Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida, em 07/06/2018

Tobias Barreto e a Educação da Mulher

Dia 7 de junho, marca a data natalícia de Tobias Barreto de Menezes, o genial sergipano nascido na Vila de Campos,  (hoje cidade Tobias Barreto) Sergipe, em 1839.  Faleceu no dia 26 de junho de 1889, em Pernambuco.

Tobias Barreto e a Educação da Mulher, do livro "Tobias Barreto "- autoria de Luiz Antonio Barreto -1994.

Parte da vida cinquentenária de Tobias Barreto foi dedicada à educação. Ainda em Sergipe, em Lagarto e Itabaiana, foi professor de Latim, com uma titulação passada para toda a Província. No Recife dedicou-se ao magistério particular e tentou, por três vezes, o ingresso no ensino secundário: duas vezes concorreu à cadeira de Latim, do Curso Preparatório da Faculdade de Direito, perdendo para seu conterrâneo e parente, o padre Felix Vasconcelos Barreto, e uma vez à cadeira de Filosofia do Ginásio Pernambucano, passando em primeiro lugar, mas sendo preterido pelo Governo, que deu preferência ao professor José Soriano de Souza, que obteve o segundo lugar, pelo fato de ser casado e Tobias solteiro. Nos seus jornais, dedicou atenção especial ao problema da educação da mulher e, em geral, à condição feminina, como um pioneiro ainda hoje atual com sua visão inovadora e algumas vezes revolucionária. Seu trabalho sobre A Alma da Mulher, de comentário a Die Psyche des Weibes, de Adolfo Jellinek, judeu alemão, pregador da sinagoga de Berlim, editado em 1873, é um libelo em favor da educação feminina, tema familiar ao autor nº. 129, na Assembleia Provincial de Pernambuco, criando o Partenogógio[M1]  do Recife.

Quando deputado, representando o Partido Liberal e o eleitorado de Escada, no Biênio 1878/79, Tobias Barreto se envolveu na discussão parlamentar, principalmente com o médico Malaquias Antônio Gonçalves, em defesa de um auxilio, a ser dado pelo Governo da Província, no valor de cem mil réis, para que Josefa Felisbela de Oliveira pudesse estudar medicina nos Estados Unidos ou na Suíça. Além de defender a concessão de auxílio, Tobias Barreto apresentou uma emenda em favor em favor de outra moça, Maria Amélia Florentina, para o mesmo estudo no exterior. No calor da discussão, Tobias Barreto refutou, um a um, os argumentos utilizados pelo Dr. Malaquias para vetar o auxílio, todos eles inferiorizando a mulher. 

Para realçar sua defesa, Tobias Barreto chama a atenção do Plenário e especialmente do Dr. Malaquias, dizendo: “Nós sabemos da grande importância, do grande desenvolvimento, que tem tido a doutrina da Seleção Natural de Darwin, sobretudo reformada e engrandecida em mais de um ponto por Ernest Haeckel. Pois bem: entre as leis da conformação ou adaptação indireta, de que fala Haeckel, está em primeiro lugar aquela que ele chama da adaptação individual, segundo a qual os indivíduos de uma mesma espécie, nunca são totalmente iguais.” E arremata: “E sendo assim, como querer-se, comparando a mulher com o homem, deduzir de pequenas diferenças no órgão do pensamento uma enorme distância entre um e outro na capacidade intelectual? É inadmissível.” Tobias Barreto ganhara a questão e sua emenda, aprovada, garantia a Maria Amélia Florentina o direito ao auxílio da sua Província para estudar medicina no exterior.

Enquanto discutia, em várias sessões legislativas, o Projeto 61/79 dos auxílios, Tobias Barreto apresentou, debaixo de longas justificativas, o seu Projeto de Lei, nº. 129, criando o Partenogógio do Recife, estabelecimento público, de cultura literária e profissional para moças, dividido em duas Escolas: Escola Média, ao modelo alemão das Mittelschuele, e a Escola Superior, a Honere Schule. O Projeto lido na sessão de 28 de março de 1879 e aprovado em primeira discussão no dia 2 de maio do mesmo ano. O que movia Tobias, segundo ele próprio, era os ensinamentos de Frederico Diesterweg, que com Pestalozzi e Froebel, integrava uma tríade de pedagogos modernos, ao dizer que “A liberdade do povo, e a felicidade do povo, pela cultura do povo, não pode ser conseguida por meio de instrução parcial, ministrada a um só sexo.”

A novidade não estava na criação de uma escola feminina, pois já existia em Recife a Escola Normal, atendendo, naquele ano de 1879, a 42 alunas. Mas, sim, na criação de uma Escola Superior, ao lado de uma Escola Média, pois equivaleria a libertar a mulher daquela condição de portadora de uma certa cultura da vaidade, formada por um pouco de música, um pouco de desenho e pelo gaguejar de uma ou duas línguas estrangeiras, como fixa, em sua justificativa, o próprio Tobias, abonado por Eduardo von Hartmann.

Quando o Projeto voltou ao Plenário da Assembleia para a segunda discussão, em 5 de março de 1880, já Tobias Barreto não era deputado, A defesa coube ao Barão de Nazaré, também signatário do Projeto, que enfrentou a reação forte do deputado Ermírio Coutinho, para quem o projeto não acautelava suficientemente a moralidade do sexo feminino. O deputado baseava-se no fato de que o Projeto autorizava, num dos seus artigos, que o Governo da Província, enquanto não dispusesse de condições para construir o Partenogógico, matriculasse as suas alunas no prédio do Ginásio Pernambucano. A proximidade das moças do Partenogógico do Recife com os poucos alunos, crianças e rapazes, do Ginásio Pernambucano representava, na visão do deputado Ermírio Coutinho, uma promiscuidade. Utilizando-se de teoria sobre a influência do clima no desenvolvimento físico e nas paixões, o crítico demove o Plenário e faz aprovar requerimento do deputado Ayres Gama, remetendo o Projeto do Partenogógico do Recife para a Comissão de Instrução Pública, de onde nunca mais voltou.

... no conjunto de sua obra, Tobias Barreto põe a mulher em lugar destacado, tanto pela ótica da poética, como da filosofia, da ciência, e do direito.

Texto e imagem reproduzidos do blog: academialiterariadevida.blogspot.com 

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