sábado, 28 de julho de 2018

Um breve histórico da evolução urbana em Aracaju

Imagem reproduzida do site: liboriogandara.arq.br e postada pelo blog, 
para ilustrar o presente artigo.

Texto publicada originalmente no site do Jornal do Dia, em 22/03/2013

Um breve histórico da evolução urbana em Aracaju

Por Ronaldo Alves *

A Resolução nº 413 de 17 de março de 1855 da Assembleia Provincial elevou à categoria de cidade o Povoado Santo Antônio do Aracaju na Barra da Cotinguiba, que passou a se chamar "Cidade de Aracaju". Diferente do que muitos falam de que Aracaju nasceu na colina do Santo Antônio, a pesquisa de diversos historiadores sergipanos discordam da origem de Aracaju. Aracaju já nasce Capital, e para atender os anseios e as necessidades as quais diretamente influenciaram na transferência da Capital, o então Presidente da Província Inácio Joaquim Barbosa visando o crescimento econômico e social que adviria com a mudança contrata os serviços do Engenheiro Sebastião José Basílio Pirro, que com o seu projeto edificaria a nova Capital na parte baixa do antigo povoado e não na parte alta da então Colina de Santo Antônio.

O Projeto de Pirro ficou conhecido como o "Quadrado de Pirro" e começou onde atualmente encontra-se a Praça Fausto Cardoso, a partir de então aquela área passaria a ser o centro administrativo da Capital e logo se edificaria o Palácio Olímpio Campos para sediar o Governo Provincial e os outros órgãos necessários na administração. O projeto de Pirro inspirado em um tabuleiro de xadrez alavancou o crescimento da nova capital no sentido norte/sul a partir da Praça Fausto Cardoso e aproximadamente onde hoje está localizado o Edifício Estado de Sergipe (conhecido como Maria Feliciana) e leste/oeste a partir da Rua da Frente com seus limites no Morro do Bonfim, atual Rodoviária Velha.

A evolução urbana de Aracaju no século XIX tem início com o projeto de Pirro, dentro desse quadrado as famílias mais ricas oriundas da elite canavieira e principalmente do Vale do Cotinguiba edificavam as primeiras residências no local, que também seriam utilizadas para acompanhar a venda do açúcar no então Porto de Aracaju. Segundo a historiadora Maria Nely Santos em seu livro "Aracaju: Um olhar sobre sua evolução" a então Capital da Província ainda nos anos 70 do século XIX não tinha o aspecto de uma Capital, a cidade apresentava a falta de saneamento, higiene, calçamento, arborização, iluminação, dentre outros serviços necessários tornando-se uma das áreas mais insalubres da Província. Entretanto ao passar dos anos 70 o aterro e o esgotamento dos mangues e alagados que circundavam a crescente Capital contribuíam na manutenção da salubridade pública que naquele momento era indispensável.

Assim a área central passava a ser habitada pelas famílias mais ricas que edificavam suas residências, não apenas na região da Praça da Matriz e do Palácio, mas em outras ruas que passavam a apresentar condições como as ruas Itaporanga, Propriá, Santo Amaro, Capela, Laranjeiras, Santa Luzia, Arauá, Estância e Maruim. Então só restou à população mais pobre o distanciamento dessa região, que com as fiscalizações retiravam as primitivas casas de palhas que tentavam resistir à evolução urbana de Aracaju, e surgia então a formação das áreas periféricas, dentre elas citamos a que mais tarde se chamaria o Curral.

No curso do século XX Aracaju passava a ter ares urbanos. Na cidade em 1908 é implantado o abastecimento de água da Capital, em 1909 os bondes puxados por tração animal, em 1913 a instalação da luz elétrica e em 1916 a implantação da rede de esgoto e da rede telefônica que preconizaram o desenvolvimento urbano da cidade. Entretanto nos anos de 1920, Aracaju viveria o seu maior desenvolvimento no que concerne a urbanização, o qual se destacou o Governo de Graccho Cardoso como impulsionador das grandes mudanças arquitetônicas e urbanas, que foram demandadas pelo pensamento higienista que permeou a época e que influenciaria de certa forma no processo de urbanização.

Em 1918 o governo traz a Aracaju um grupo de arquitetos e escultores italianos que estavam na Bahia com a finalidade de reforma o Palácio do Governo e assim acabaram contribuindo com outras obras na cidade. Isso contribuiu com uma nova visão arquitetônica que passou a ser empregada nas construções e assim remodelaria a cidade, com isso surgem os palacetes que compuseram a paisagem urbana de Aracaju a partir dos anos 20 como os palacetes da Rua Estância, Rua Itabaiana, da Av. Barão de Maruim, da Praça Camerino entre outras ruas que nos dias de hoje exibem poucos exemplares dessa época e que na sua maioria foram demolidos para construção de estacionamentos no centro da capital.

O estilo predominante nesse período foi o Art Nouveau, caracterizado pela riqueza das ornamentações composta por flores, folhagens e animais, como exemplo o casarão que pertenceu a Nicola Mandarino situado na Praça Olímpio Campos entre a Rua Santa Luzia e que hoje pertence à Cúria Metropolitana. Nos anos de 1930 seguindo as tendências arquitetônicas em voga o estilo Art Décor caracterizado pelas formas geométricas e grandiosidade monumental passa a compor a paisagem urbana de Aracaju, como exemplo o edifício do Arquivo Público do Estado de Sergipe situado na Praça Fausto Cardoso e da sede do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe Situado na Rua Itabaianinha ambos no centro da Capital.

Nos anos de 1950 com o crescimento da população advindo com o progresso e a evolução da Capital, o problema da falta de moradia exigia a ampliação e a adequação de políticas voltada para a modernização urbana já que a legislação anterior já não mais atendia aos anseios gerados pelo crescimento populacional. Segundo o historiador Waldefrankly Rolim em seu artigo "Modernidade e Moradia: Aspectos do pensamento sobre habitação popular no processo de modernização das cidades sergipanas (1890-1955)" observa a necessidade de Reformas Urbanas, e também salienta a questão de modernização das cidades em Sergipe, essas reformas ocorreram a partir da preocupação com a habitação popular, quando por pressões sociais e pela própria demanda, o Governo do Estado construiu em 1953 o conjunto habitacional Agamenon Magalhães que surge como uma proposta para evitar a proliferação de favelas na cidade, visto que duas se destacaram nesse período, Ilha das Cobras, nas imediações do bairro Industrial e o Curral, nas imediações da Av. Pedro Calazans.

Outro evento que marcou a evolução e a modernização urbana em Aracaju ocorreu com a derrubada do Morro do Bonfim no Centro da cidade, para construção da atual Rodoviária Velha, esse evento aconteceu em 1955 no governo de Leandro Maciel tornando-se uma das mais importantes intervenções urbanísticas da época. Segundo o arquiteto e urbanista Fernando Antônio Santos Souza em seu artigo "Um olhar sobre Aracaju em busca de um novo paradigma urbano" até o final dos anos de 1950 a população de Aracaju crescia sem alterar a configuração social da cidade, que se instalou no "Quadrado de Pirro" desde a fundação da cidade em 1855, contudo o governo sempre buscou medidas para manter a área central inalterada socialmente, o que gerou a formação de núcleos periféricos levando a intervenção do governo através da construção dos primeiros conjuntos habitacionais, mais tarde em 1960 com a instalação da PETROBRAS o desenvolvimento urbano de Aracaju passou por uma nova configuração em virtude da implantação do terminal e escritórios da empresa e da exigência de mão de obra qualificada, com isso a expansão da cidade ocorria do centro em direção a periferia, o que gerou um processo de fragmentação territorial.

Entre os anos de 1977 e 1989 foram construídos em Aracaju conjuntos habitacionais na periferia em parceria com a COHAB, que foi uma medida para impedir o acesso da população pobre à Capital e afastá-la. Enfim o crescimento urbano de Aracaju sempre esteve associado aos interesses das elites que desde a sua fundação estabeleceram uma relação com o Governo, e que teve origem na colonização do Brasil com a distribuição de sesmarias. Para a geógrafa Vera Lúcia Alves França em seu artigo "O Direito à cidade de Aracaju" o crescimento urbano e a ocupação do espaço construído entre 1968 e 2002 teve a participação da COHAB como agente propulsor de tal desenvolvimento, a exemplo a implantação de grandes conjuntos habitacionais nos anos de 1980 como o Augusto Franco e o Orlando Dantas.

Atualmente Aracaju tem estendido sua área territorial para o sul da cidade na região denominada Zona de

Expansão, contudo é necessário pensar políticas e reformas na gestão urbana democrática para que no futuro possam diminuir a fragmentação e segregação urbana e social decorrente do processo histórico que ocasionou a fundação de Aracaju.

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* Ronaldo Alves é historiador, Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Memória e Patrimônio Sergipano - GEMPS/CNPq/UFS. [E-mail: ronaldo_jfas@hotmail.com]

Referências Bibliográficas:

SANTOS, Maria Nely. Aracaju: Um olhar sobre sua evolução. Aracaju: Triunfo, 2008.
SOUZA, Fernando Antônio Santos. Um olhar sobre Aracaju em busca de um novo paradigma urbano. In: FRANÇA, Vera Lúcia Alves; FALCON, Maria Lúcia de Oliveira. Aracaju: 150 anos de vida urbana. Aracaju: PMA/SEPLAN, 2005, p. 41-52.

FRANÇA, Vera Lúcia Alves. O direito à cidade de Aracaju. In: FRANÇA, Vera Lúcia Alves; FALCON, Maria Lúcia de Oliveira. Aracaju: 150 anos de vida urbana. Aracaju: PMA/SEPLAN, 2005, p. 95-108.

SANTOS, Waldefrankly Rolim de Almeida. Modernidade e Moradia: Aspectos do pensamento sobre habitação popular no processo de modernização das cidades sergipanas (1890-1955). Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. n.40. Aracaju: 2010, p. 93-112.

Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br

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