Cartazes de filmes feitos por Cândido quando começa a trabalhar
com cinema em Paris (à esquerda, p.154; à direita, p.178)
Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em 11 de setembro de 2018
ELE CONQUISTOU O MUNDO COM SUAS ILUSTRAÇÕES: CONHEÇA A OBRA
E A VIDA DESTE SERGIPANO
Livro lançado na França e em Sergipe reúne o trabalho de
pesquisa de dois anos sobre o ilustrador Cândido de Faria
De Redação
Um sergipano que ganhou o mundo por meio de suas
ilustrações. Alcançou o auge de sua carreira em Paris, desenhando cartazes de
cinema, depois de ter atuado como caricaturista e ilustrador de jornais. Criou
um formato para seus cartazes que se tornou padrão para o cinema no mundo todo.
Cândido Aragones de Faria nasceu em Laranjeiras (SE) e viveu
de 1849 a 1911. Sua história está sendo contada agora no livro “Cândido de
Faria – um ilustrador sergipano das artes aplicadas”, lançado pela Editora UFS.
O livro é fruto do trabalho de um grupo de pesquisa do curso
de Design Gráfico da UFS. Orientados pela professora Germana Araújo, os
estudantes Beatriz Matos, Cybelle Nascimento e Jean Carvalho foram também
responsáveis pelo trabalho.
Para a professora Germana Araújo, uma das competências do
desenho de Cândido
é retratar de maneira realista o que pretendia representar
Fotos: Márcio Santana/ Ascom UFS
“A gente ajudou a construir montagem e tratamento de imagem
e cada um ficou responsável em pesquisar uma parte específica da vida dele
[Cândido Araújo]. A pesquisa é sobre análise da imagem e como ele formulava
isso dentro da cultura que estava produzindo”, afirma Beatriz, estudante do 7º
período.
O LIVRO, PASSO A PASSO
Seu enredo faz uma amarração, em quatro partes, sobre quem
foi Cândido e sua caminhada. “O nosso foco era descortiná-lo de maneira
completa. Toda a vida dele, onde nasceu e onde faleceu. E durante essa
trajetória, conhecer o que ele produziu, onde trabalhou e quais eram as
características desse trabalho”, diz Germana Araújo.
A primeira parte – intitulada “A Laranjeiras de Faria” – foi
escrita por Beatriz Góis, historiadora de Sergipe, para tratar de um lado mais
pessoal da vida de Cândido.
Cândido de Faria nasceu em Laranjeiras em 1849. Após perder
o pai (vítima da cólera), foi com a família para o Rio de Janeiro em 1858, onde
ficou também órfão de mãe em 1862 e inicia sua trajetória no mundo das artes
aos 17 anos, ao ingressar na Academia Imperial de Belas Artes.
Ilustrações para o periódico A Vida Fluminense, de 1872 (p.
66)
Na parte dois – com o título “Um raro ilustrador brasileiro
num mar de estrangeiros na imprensa nacional” -, o livro aborda o início do
lado profissional de Cândido. Apesar da pouca idade e de ser um dos únicos
brasileiros na área, ele foi conquistando espaço no trabalho de ilustração
(desenhando caricaturas), sendo reconhecido como um artista das artes aplicadas.
A partir dessa conquista, Faria amadurece suas técnicas e
passa a ter papel importante na produção intensa das publicações impressas.
Nomeada de “Faria e a comunicação de impressos”, essa terceira parte foca em
trazer para o leitor que, mesmo sendo pouco citado no Design, Cândido não era
um completo desconhecido.
Já na parte quatro, última do livro, a migração de Cândido
para o exterior deixa claro como ele estava inquieto com sua área de atuação no
Brasil, pois buscava mais valorização.
Em 1879, vai morar em Buenos Aires buscando solos melhores
para sua arte e seis anos depois, se muda para Paris, onde atua no cenário de
bastante movimentação cultural da França, o do cinema.
Nomeado como “O que Faria em Paris”, o capítulo aborda a
atividade do sergipano na ilustração de cartazes para filmes. Produções da
então maior empresa cinematográfica da França foram divulgadas por cartazes
desenhados por Cândido.
“A Stéphanie descobriu que ele entregava, em três meses,
nove mil cartazes. Ele foi o maior produtor do cartaz de cinema do começo do
século XX e o tamanho do cartaz do que ele produzia (1,20 x 1,60 m) até hoje é
utilizado por Hollywood. Então é um sergipano que gera o formato padrão de
cinema no mundo e isso é impressionante”, afirma Germana, que também é
coordenadora gráfica da Editora UFS e professora do Mestrado em Culturas
Populares.
As estudantes de Design Gráfico, Cybelle Nascimento e
Beatriz Matos, participaram
do projeto que trata da trajetória pessoal e
profissional de Cândido Faria
DESIGN E CULTURA
A investigação do personagem protagonista do livro surgiu a
partir do momento que Germana Araújo ingressou na Academia de Letras de Aracaju
em 2015, tendo que escolher um patrono (figura intelectual representada por um
membro da Academia) por consequência.
“Não se sabia muito sobre ele, apenas que já tinha sido
descortinado, e assim ele foi uma alternativa. Como eu não sou uma pessoa de
Letras, sou da visualidade, achei a ideia bastante interessante porque na época
só se sabia que ele tinha sido um sergipano de Laranjeiras que tinha ido
produzir cartazes de cinema pela Pathé”, diz a organizadora da obra.
Da escolha do patrono, Germana trouxe o nome de Cândido para
o Design e Cultura, grupo de pesquisa que coordena. Dessa forma, ela e os três
alunos foram estudando Cândido através da linha “Análise e produção da imagem”,
destinada exclusivamente para isso.
“A questão de amadurecer como estudante e também como
profissional foi sensacional. Eu comecei esse projeto sem pretensão alguma e
saí apaixonada por pesquisa”, conta Cybelle Nascimento, que cursa o 8º período
de Design Gráfico.
A discente diz também que uma das competências do desenho de
Cândido é retratar de maneira realista o que pretendia representar. “O traço
dele é muito característico e o desenho é muito particular. O traço que eu digo
é aquela forma como ele trabalhava a caricatura e distorcia, mas não tanto para
descaracterizar a pessoa. Ele evoluiu muito no trabalho, mas sem deixar essa
sua marca registrada”, diz a estudante.
Obras de Faria nos impressos; no Rio de Janeiro (à esquerda,
p. 109) e em Buenos Aires (à direita, p. 124)
A ideia de organizar os resultados de pesquisa em um livro
surgiu após um ano e meio de estudo, quando Germana foi até a Fundação Pathé –
local que preserva o acervo da Produtora Pathé -, em Paris.
A obra começou a ser escrita no começo de junho de 2017, em
setembro estava sendo corrigida e foi finalizada em dezembro. E para quem fez
parte de sua construção, a sensação de realização fica nítida.
“A experiência de pesquisar alguém é gratificante porque
você se sente um investigador e de repente a pessoa vai tomando forma no seu
imaginário e no imaginário dos outros integrantes do projeto. Você pensa em
como vai apresentá-lo para as outras pessoas que também não o conheciam ainda”,
explica Beatriz.
Além dos textos dos estudantes, o livro conta com
contribuições importantes no cenário da história e do design. O prefácio é
escrito por Rafael Cardoso (designer), enquanto colaboraram na escrita da
publicação Beatriz Góis (historiadora de Sergipe) e Stéphanie Salmon
(responsável pelo acervo da Fundação Pathé), que também ajudou na tradução para
o francês. O posfácio foi escrito por Norberto Gaudêncio Júnior (designer e
professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie), que teve participação
durante todo o processo de pesquisa, já que sua tese de doutorado foi um
embasamento para o grupo.
Cartazes de filmes feitos por Cândido quando começa a
trabalhar
com cinema em Paris (à esquerda, p.154; à direita, p.178)
DESAFIOS NA TRAJETÓRIA
Apesar da boa relação que o grupo de pesquisa teve com a
sugestão do nome de Cândido, a dificuldade para entender quem realmente ele foi
e sua influência no cenário internacional foi um dos pontos principais a serem
superados. Germana, Cybelle, Beatriz e Jean se depararam com a pouca quantidade
de obras a respeito do sergipano.
“Não existia nada especificamente sobre ele. Todo material
trabalhava a história da imprensa no Brasil ou sobre a história da caricatura,
mas quase nada sobre ele. Foi bem difícil, mas conseguimos adquirir obras,
estudamos trabalhos científicos que não tinham foco no Faria, mas em pessoas
que eram contemporâneas a ele, então descobrimos essa historia maravilhosa de
Cândido”, explica a professora.
Paralelamente a essa situação, algumas análises apontavam o
ilustrador como argentino, o que fez com que os alunos intensificassem ainda
mais a pesquisa. “O que fez a gente também se apegar a Cândido foi o fato de
ele ser sergipano e não ser reconhecido como tal. Um cara tão fantástico, tão
maravilhoso e, por vezes, passava batido. Em um grupo de pesquisa, a gente
descobriu quanta riqueza Cândido pôde trazer”, diz Cybelle.
E para entender a relevância desse estudo sobre o artista,
vale observar que o grupo de pesquisa da UFS é um dos três grupos no Brasil que
aprofundam o conhecimento acerca de Cândido, de acordo com Germana Araújo.
“Uma coisa muito interessante é que como somos o único grupo
dos três que reside em Sergipe e, por isso, uma coisa que eu queria que o livro
tivesse como comissão de frente era a historia de Laranjeiras. Esse nosso livro
é o único no mundo que trata exclusivamente sobre ele. É a única bibliografia
específica sobre o Cândido, então tem um peso muito significante”, explica a
coordenadora do grupo.
Germana Araújo: “O tamanho do cartaz do que ele produzia
(1,20 x 1,60 m)
até hoje é utilizado por Hollywood” (p.170)
FUTUROS PROJETOS
O livro foi lançado em Paris em março de 2018 e em Aracaju
em maio, mas o trabalho sobre Cândido não está finalizado. Além da manutenção
do grupo de pesquisa, Germana está produzindo outros projetos, frutos da ideia
inicial do livro.
“Pensei que o livro iria me dar uma tranquilidade de tarefa
cumprida, mas não. Está sendo bem mais que isso. Estamos produzindo também
outro livro sobre ele, mas dessa vez com questões bastante específicas da área
do design da informação. Estamos produzindo um minicurta em animação, sobre a
vida dele, para apresentar no 10º Lobo Fest – Festival Internacional de Filmes;
e em 2019 estaremos com 12 cartazes originais dele dentro do Museu Histórico
Nacional, no Rio de janeiro.”
CÂNDIDO DE FARIA
Em 1911, Cândido falece em Paris, onde se consagrou como o
nome mais importante das artes visuais no início do século XX. “O Cândido é um
ilustrador e nós somos da área do design gráfico. Então por ele assumir a
linguagem da ilustração e fazer dela tão importante para o cinema e para os
impressos, a gente se sente extremamente confortável de estar oferecendo esse
livro para a sociedade”, conclui Germana.
PARA SABER MAIS:
O LIVRO - Pode ser encontrado nos sites Estante Virtual e
Amazon.
POR - Letícia Nery (bolsista) e Marcilio Costa
FONTE - Ascom UFS | comunica@ufs.br
TAGS - Cândido de FariaUFS
Texto e imagens reproduzidos do site: expressaosergipana.com.br
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