segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Um artigo que nos leva à Aracaju anos 60

Imagem de arquivo: @sj_bruno - Reproduzida do
site: imgrum.net/media e postada pelo blog Minha...,
para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no site Liberdades,  em 02/09/2017

Um artigo que nos leva à Aracaju anos 60

Por Gildo Simões Andrade *

O potó é um inseto da família Staphylinidae, conhecido como inseto errante, distribuído por todo o mundo, que se alimenta de material putrefato, seja animal ou vegetal, algumas espécies comem formigas, outras cupins, de tal modo que são úteis para o equilíbrio ecológico. Eles pertencem ao gênero Paederus, também chamados de insetos que provocam bolhas, gênero que agrupa 8(oito) espécies, bastante numerosos na primavera, verão e em épocas de chuvas.

Ao observarmos o potó vemos cabeça e tórax de coloração enegrecida assim como o abdome , sobre o qual há partes entremeadas de cor amarela. Temos um par de antenas emergindo da cabeça e outras do abdômen , com presença de pêlos, o que faz ele se locomover feito um escorpião; além disso, possui um par de pequenas asas posteriores, o que lhe possibilita voar. Dentro dos seus fluidos existe uma substância - a pederina, que em contato com a pele do homem provoca necrose cutânea. O grande problema é que quando o inseto pousa sobre a pele da pessoa, esta inadvertidamente bate sobre o inseto contra pele, no intuito de matá-lo, justamente o bastante para a liberação da substancia pederina, ocasionando assim as lesões de inflamação, formação de bolhas e feridas abertas, geralmente em áreas expostas do corpo, tais como braços, ante-braços, face e pescoço.

É no pescoço o local de maior incidência de lesões pelo fato do inseto possuir pequenas asas posteriores, fazendo vôos pequenos. Na face, pode provocar prejuízo maior se próximo aos olhos. Não só no campo se verifica grande incidência deste inseto como também no mar, nas plataformas petrolíferas, dificultando o trabalho dos funcionários já que as lesões são muito dolorosas. Este relato nos remete aos anos 60 quando houve um período onde quem passava pelo parque (praça da catedral - Praça Olímpio Campos) era muito raro não ser 'picado" pelo potó, muito embora este sendo de uma outra espécie, de tamanho bem menor, atingia de preferência os olhos e era conhecido como "lacerdinha".

Na época, o Colégio Jackson de Figueiredo, sob o comando do casal Profa. Judite e Prof. Benedito, reunia grande número de alunos, os quais presenciavam o suplício das pessoas que pela manhã tinham que atravessar o parque com seus inúmeros pés de oiti e tamarindo para irem aos seus empregos na rua de João Pessoa e adjacências. Muitas vezes os próprios estudantes eram os alvos do inseto potó. O sofrimento resultava em falta escolar na caderneta do aluno, o qual impreterivelmente tinha que apresentar o pedido dos pais explicando o motivo pelo qual o aluno faltou, de modo que o Prof. Benedito ou Profa. Judite pudesse abonar as faltas. O que na verdade poucos sabiam na época é que o segredo para não sofrer as temíveis lesões que o potó causava era simples: bastava um "peteleco" para afastar o inseto da pele, ou fazê-lo através de um pedaço de papel ou ainda soprando, quando perto do olho , de modo que se evitasse esmagá-lo sobre o tecido, para que não houvesse a liberação da substância pederina - o vilão da história.

* Formado em Medicina, Fundador da Sociedade Brasileira de Dermatologia regional de Sergipe/80

Texto reproduzido do site: liberdades.com

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