Fotos reproduzidas do site pontosturisticosde.com.br e postadas pelo blog
'Minha Terra é SERGIPE', para ilustrar o presente artigo.
Publicado originalmente no site do jornal Correio de Sergipe, em 04/09/2017.
Aracaju, em agosto.
Por Terezinha Oliva.
Acabou o mês que uma crença popular associa a “desgosto”.
Ainda que não se saiba explicar a razão dessa crença, a história de Aracaju
está bem marcada pelo “desgosto de agosto”. Assim foi com a tragédia de Fausto
Cardoso, o torpedeamento dos navios brasileiros e o suicídio do Presidente
Getúlio Vargas, fatos que trouxeram dor para os aracajuanos em diferentes
agostos.
No primeiro dia de agosto de 1906, Aracaju engalanada
acolhia a visita do deputado federal Fausto Cardoso, filho ilustre da terra,
que brilhara no Parlamento brasileiro, denunciando a política econômica do
Ministro Joaquim Murtinho. Iniciando novo mandato, ele enchia de esperança os
conterrâneos, que aspiravam dias melhores para Sergipe, confiando no seu
prestígio político e na sua coragem. Advogado, professor, jornalista, poeta,
orador, o deputado carismático tinha um discurso de fé na liberdade e no
progresso. A partir do dia 10, ele liderou um movimento político que resultou
na queda do governador Guilherme Campos e apontou para o fim da oligarquia
Olímpio Campos. Aracaju viveu belos dias. Mas a intervenção federal, com o
envio de dois batalhões do Exército para Sergipe, viria garantir a reposição do
grupo olimpista e encher de sangue e de consternação a jovem capital.
Fausto Cardoso foi morto com um tiro no baixo ventre, na
porta do Palácio do Governo. Desarmado e sozinho, ele enfrentou de peito aberto
os soldados que lhe tiraram a vida, numa cena pungente e apoteótica. Tentou
defender o “palácio dos sergipanos”, mas viu um amigo ser ferido e outro morto.
No desespero, ofereceu sua vida “à honra de Sergipe”. Era 28 de agosto de 1906.
Por alguns anos, não só o mês de agosto, mas o dia 28 de cada mês, serviu às
explosões de dor pela lembrança da tragédia.
Entre 15 e 16 de agosto de 1942, Aracaju seria novamente
abalada. Os navios brasileiros Aníbal Benévolo, Araraquara e Baependy,
torpedeados por submarinos alemães na costa de Sergipe, atingiram diretamente a
capital, que passou a conviver com o horror de corpos desfigurados chegando à
praia, com as histórias dos sobreviventes que faziam chorar, com os destroços
dos navios afundados, com a realidade da guerra. O historiador Luiz Antônio
Pinto Cruz mostra que o medo, a vigilância, a desconfiança, a escuridão noturna
imposta para cumprimento do Black out, tudo configurava a pavorosa realidade,
que tinha chegado, de chofre, para incorporar-se ao dia a dia dos aracajuanos.
Numa cidade pouco populosa, muitos se tornaram suspeitos.
Acreditava-se haver um inimigo interno, que era preciso combater: os
integralistas, os comunistas, os simpatizantes da causa alemã, tidos como
“quinta-coluna”, acusados de estarem colaborando com interesses considerados
antipatrióticos. Brasileiros e estrangeiros foram alvos da fúria e do ardor de
estudantes que depredavam residências, invadiam estabelecimentos comerciais,
acusavam suspeitos de espionagem e pichavam com um “V” a frente das suas
residências, numa alusão aos “homens V”, voluntários a serviço do nazismo.
Nessa situação os jovens mobilizavam a população pela entrada do Brasil na
Guerra contra os países do Eixo. Sua vontade de servir à Pátria inquietava os
familiares, fazia crescer a angústia entre as mães e tornava inesquecível
aquele mês de agosto, marco de tantos desdobramentos.
Em 24 de agosto de 1954 suicidou-se Getúlio Vargas. A
notícia chegou aos aracajuanos pelo rádio. A Carta Testamento foi lida na Rádio
Difusora e os comentários cheios de emoção provocaram choro e desespero em
muitos ouvintes. Governava o Estado o Partido Social Democrata, o PSD de
Arnaldo Garcez. A União Democrática Nacional, UDN, que em Sergipe era liderada
por Leandro Maciel, era tida, nacionalmente, como culpada pelo gesto do
Presidente da República.
Ibarê Dantas mostra que a dor da tragédia pessoal de Vargas,
explorada com sensacionalismo, levou pessoas às ruas, em Aracaju, clamando
contra o partido da oposição. Na Praça Fausto Cardoso, as manifestações
terminaram com o assassinato de um homem, enquanto em toda a cidade, casas de
udenistas foram depredadas e houve tentativas de invadir o sítio pertencente a
Leandro Maciel, no Bairro Cirurgia. Veículos de comunicação também foram
atacados. Tentou-se invadir a Rádio Liberdade e a sede do Correio de Aracaju
foi depredada; o jornal parou de circular por um tempo.
Que coincidência! Aracaju colecionou agostos trágicos…
Texto reproduzido do site: ajn1.com.br/blogs
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