sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Um pouco de Laranjeiras

Foto: Turismo Sergipe/Divulgação.

Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em 20 de junho de 2016.

Um pouco de Laranjeiras.

O conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de Laranjeiras foi tombado pelo Iphan, em 1996, devido ao valor arquitetônico e histórico atribuído ao conjunto. O tombamento ocorreu devido à sua importância no desenvolvimento da região, identificado pela presença do primeiro porto, além da expressividade e da força da arquitetura antiga, representada pelo casario do século XIX e pelo cenário monumental religioso do século XVIII. O município é um dos poucos onde ainda se pode ver a força da arquitetura colonial, onde se destacam ruas, igrejas e outras edificações. Na área tombada estão, aproximadamente, 500 edificações.

Laranjeiras foi a mais importante cidade sergipana. As praças e ruas alinham-se, obedecendo ao traçado fluvial, onde estão implantados os principais edifícios, trapiches, sobrados comerciais e residenciais, mercado, centro administrativo e também as edificações destinadas ao lazer como os antigos Cine Teatro Iris e o Tetro Santo Antônio. Na cidade, destaca-se as igrejas, o estilo barroco da arquitetura, a paisagem e as grutas. A cidade foi construída em função do rio Cotinguiba e sobre a encosta do Morro do Bonfim, a população estabeleceu suas residências.

O desenvolvimento econômico ocorreu com a chegada do cultivo da cana-de-açúcar, no século XVIII, gerando um apogeu financeiro que atraiu comerciantes de várias partes do Estado. Na época, existiam muitas laranjeiras no local que deram origem ao seu nome. Berço da economia da província, se destacou com o comércio de escravos, que deixaram uma forte influência na cultura local. No início do século XIX, a cidade ainda era muito importante como um grande centro comercial e exportador, o que levou o governo a designá-la como a primeira Alfândega de Sergipe.

História – Depois que as tropas de Cristóvão de Barros arrasaram nações indígenas da região, por volta de 1530, muitos colonos se fixaram às margens do rio Cotinguiba, em terras que pertenciam à Freguesia de Socorro. A presença marcante dos jesuítas, que ergueram a primeira igreja e uma residência conhecida como Retiro às margens do riacho São Pedro – no Vale do Cotinguiba – foi decisiva para fixar definitivamente o povoado, inicialmente denominado Vila de Nossa Senhora do Socorro. Fundada em 1605, Laranjeiras é a segunda cidade mais antiga de Sergipe.

Naquela região, foi construído um pequeno porto onde havia inúmeras e frondosas laranjeiras à beira do rio. Moradores e viajantes começaram a identificar o local como porto das laranjeiras. A movimentação pelo rio era intensa e, logo, o porto passou a ser parada obrigatória. Em torno dele, o comércio ganhou espaço, principalmente com a troca de escravos. Surgiram as primeiras residências e, a partir de 1637, o pequeno povoado das Laranjeiras também sofreu com os ataques e depois com o domínio holandês, durante o qual muitas casas foram destruídas. Entretanto, o porto – um ponto estratégico – foi preservado. Apenas por volta de 1645, os holandeses saíram de Sergipe.

O Porto das Laranjeiras fez retornar o progresso ao povoado que se reerguia com grande velocidade depois da passagem dos holandeses. Em 1701, os padres jesuítas construíram a primeira igreja com convento, no local, à margem esquerda do riacho São Pedro, um pouco afastada do porto. Eles procuravam sossego e deram nome de Retiro, ao lugar. Os jesuítas construíram outra igreja em um dos pontos mais elevados do povoado: em 1731, no alto de uma colina, ergueram a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Comandaroba, verdadeira obra-prima da arquitetura colonial e um dos mais importantes monumentos arquitetônicos do Estado.

Em 1808, a povoação possuía – na sede e em suas redondezas – um dos mais importantes núcleos de moagem e beneficiamento da cana-de-açúcar, do Brasil. Graças à produção e o comércio de cana, coco e gado, além do grande movimento do porto, Laranjeiras alcançou grande desenvolvimento e realizava feiras que reunia moradores de povoados e freguesias da região. Em 1832, a influência política dos proprietários de terras e comerciantes levou a Assembleia Geral da Província a transformar o povoado em vila independente e anexar o território de Nossa Senhora do Socorro ao de Laranjeiras, que foi elevada à cidade, em 1848. Laranjeiras poderia ter se tornado a capital de Sergipe se não tivesse havido uma manobra política do Barão de Maruim, que transferiu a sede do Estado, antes em São Cristóvão, para Aracaju.

Monumentos e espaços públicos tombados: Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus, Capela do Engenho Jesus Maria José (Capela Jesus, Maria e José), quarteirão dos Trapiches, casarão dos Rollemberg e sobrado ao lado, casarão de oitão da Praça da República, calçadão Getúlio Vargas, Avenida Municipal, e as praças Coronel José de Faro, Samuel de Oliveira, Sagrado Coração de Jesus, da República e do Trapiche Santo Antônio, entre outros.

Casa de Ti Herculano – No século XIX, Laranjeiras viveu sua idade de ouro: pelo Vale do Rio Cotinguiba espalhavam-se engenhos de açúcar e uma expressiva população negra e escrava. Muitos dos negros, porém, residiam na cidade, trabalhando nos trapiches, no comércio ou em ofícios urbanos, e vários deles conseguiram sua alforria antes da Abolição da Escravatura. A Casa de Ti Herculano remonta à segunda metade do século XIX, e foi o segundo espaço em que se organizaram os cultos coletivos de matriz africana em Laranjeiras, seguindo a Casa de Ti Henrique, que desapareceu. Seu proprietário, Herculano Barbosa, era um africano liberto, que dirigiu o culto nagô de Laranjeiras até sua morte, em 1907.

A casa aparece no seu inventário como um sítio, vizinho ao antigo Engenho da Comandaroba, com um quintal que se estendia até o rio Cotinguiba – do qual ainda resta um trecho. Quando a casa foi herdada pela viúva Bernarda Barbosa, os santos de Ti Herculano passaram aos cuidados dos seus descendentes. O cargo de chefia do grupo foi transmitido a Umbelina Araújo que, no início do século XX, passou a realizar parte dos festejos em sua casa – o Terreiro de Santa Bárbara Virgem, na Rua da Cacimba. A Casa de Ti Herculano permanece como casa matriz e espaço referencial da tradição nagô de Laranjeiras.

Engenho Retiro: casa e Capela de Santo Antônio – A casa do Engenho Retiro foi residência dos jesuítas, estabelecidos no local durante o século XVII. Sua construção é datada de 1701, e a capela passou por reformas no início do século XIX. Possui dois pavimentos e varanda apoiada sobre colunas em madeira. No seu interior, destaca-se o altar-mor que possui colunas em estilo greco-romano e decoração em motivos florais, entre outros elementos.

Igreja de Comandaroba (Igreja de Nossa Senhora da Conceição) – Localizada no distrito de Comandaroba, município de Laranjeiras, e tombada em 1943. Construída em 1734, segundo a inscrição existente em um de seus portais. Acredita-se que, em 1731, após algum tempo sendo administrada pelos capuchinhos, a congregação passou a ficar a cargo dos jesuítas. A igreja foi restaurada no início dos anos 1950. Fazem parte do acervo, imagens de Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia, São Benedito, São Gonçalo e o Cristo crucificado.

Igreja Matriz do Coração de Jesus – No Arquivo Público de Laranjeiras estão documentos de 1790, contendo o pedido (em ofício) dos moradores das Laranjeiras da Freguesia de Cotinguaba de Sergipe d’el Rey, dirigido à Rainha D. Maria, requisitando a permissão para a construção de uma capela dedicada ao Coração de Jesus. Entre as pinturas, há uma que representa a Sagrada Família, e elas são atribuídas à José Teófilo de Jesus. Na sacristia, está uma arca em folhas almofadadas. O portão da capela do Santíssimo é em madeira trabalhada e com vedação das folhas e bandeira em vidro.

Fontes: Iphan/Arquivo Noronha Santos, Sítios Históricos e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais – Volume I: Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Iphan/Programa Monumenta), Inventário Nacional de Bens Imóveis/Sítios Urbanos Tombados – Manual de Preenchimento – Volume 82 (Iphan/Edições do Senado Federal) e IBGE.

Texto e imagem reproduzidos do site: expressaosergipana.wordpress.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário