sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Itabaianinha: “A cidade brasileira dos anões”




Publicado originalmente no site do jornal A Gazeta, em 3 de outubro de 2017.

Itabaianinha: “A cidade brasileira dos anões”

Em Sergipe, com 40 mil habitantes, nela vivem cerca
de 150 pessoas com menos de 1,45m de altura

Por Redação Portal Lagartense

Maria perdeu os pais aos sete anos. Até os 80, ela e os irmãos sustentaram a família trabalhando em sua plantação de milho próxima à cidade de Itabaianinha, em Sergipe. Maria nunca atingiu um metro de altura.

Itabaianinha, explica a fotógrafa Luisa Dorr, é chamada de “cidade brasileira dos anões” pela grande população de adultos com menos de 1,45 metro de altura. A cidade de 40 mil habitantes é o lar de estimados 70 a 150 anões — eles preferem ser chamados de anões a outros termos — significando que um em cada 266 moradores tem baixa estatura. (Em comparação, no resto do Brasil você tem uma pessoa com nanismo para cada 10 mil pessoas de altura média.)

A fotojornalista, que passou três dias conhecendo os anões de Itabaianinha e os fotografando para o projeto “Terra de Gigantes”, inicialmente teve problemas para explicar suas intenções à comunidade. Muitos achavam que ela, como muita gente antes, era outra produtora procurando atores para programas de comédia na TV. Alguns pediram dinheiro para serem fotografados; Dorr, mesmo não sendo moralmente contra pagar os personagens, preferiu não fazer isso.

A fotógrafa conseguiu fazer contatos horas depois de chegar. Ela fez amizade com uma das pessoas que fotografou ao comprar um cachorro quente de sua barraquinha e começando uma conversa. Ela encontrou um homem chamado Sérgio no Facebook, e ele e seus amigos mostraram a cidade para ela e a convidaram para assistir uma partida de futebol de anões locais.

Em Itabaianinha faz de um calor sufocante em março, quando a fotógrafa visitou a cidade. Dorr se limitou a fotografar nas horas em que o sol não estava a pino, mas entendeu um pouco do trabalho duro que muitas dessas famílias fazem. Apesar de ajustar suas casas e carros para seu tamanho, as pessoas com baixa estatura têm os mesmos empregos que todo mundo.

O tipo de nanismo que a maioria das pessoas em Itabaianinha têm não é o mais comum do mundo; eles compartilham uma mutação genética que os torna mais baixos, mas com as mesmas proporções de pessoas de estatura média.

A fotógrafa conheceu pessoas com nanismo que se sentem seguras e confortáveis com seu tamanho atual. Maria era um deles. Confiante com a altura que tinha, Maria não queria ter o tamanho de uma pessoa comum. Ainda assim, a população de anões de Itabaianinha está diminuindo, provavelmente devido ao aumento dos casamentos com pessoas de tamanho considerado normal. A maioria dos anões que restaram já são idosos.

Quando Dorr visitou a cidade fez questão de compartilhar suas fotos com as pessoas que encontrou pelo caminho. “É uma área pobre do Brasil”, ela diz. “Algumas pessoas nunca tiveram suas fotos impressas.”

Dorr ficou sabendo alguns meses atrás que Maria faleceu, aos 101 anos. Pensando no dia que passou no sítio dela, a fotógrafa escreveu: “É uma família simples com uma história muito bonita. Mesmo tendo trabalhado a vida inteira, eles são felizes e agradecidos pelo que têm”.

Texto e imagens reproduzidos do site: agazetase.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário