domingo, 3 de setembro de 2017

Grupo Imbuaça comemora 36 anos de teatro (hoje 40 anos)


Fotos: Divulgação.

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 19/08/2013. 

Grupo Imbuaça comemora 36 anos de teatro (hoje 40 anos).

Por Osmário Santos.

Fundado oficialmente no dia 27 de agosto de 1977, o Grupo Imbuaça comemora 36 anos (hoje 40 anos) de conquistas, muito trabalho e muita luta para a sua sobrevivência, em vista que é preciso lutar muito para fazer teatro de rua no Brasil, é o que revela o ator e fundador do grupo, Lindolfo Amaral.

Lindolfo informa que o Imbuaça conseguiu se manter ao longo desse tempo, através de uma luta cotidiana, um verdadeiro ato de resistência, respeitando as suas raízes, respeitando a proposta dos companheiros que fundaram o grupo, ou seja: trabalhar a cultura popular em todos os seus aspectos e utilizar a literatura de cordel como dramaturgia.

A história do grupo começa diante da realização em Aracaju de três oficinas de teatro ministradas por professores pernambucanos. “Professor Lúcio Lombardi, que por muitos anos foi diretor do espetáculo em Nova Jerusalém da Paixão de Cristo, veio a Aracaju em julho de 1977 e deu uma oficina de direção. Gilson Oliveira, de interpretação e José Francisco, oficina de corpo. A vinda dos três atores para Aracaju foi através do Serviço Nacional do Teatro, em convênio com a Secretaria de Estado da Educação, que na época tinha como assessor de cultura o jornalista Luiz Antônio Barreto”, explica.

De acordo com Amaral não havia naquela época nenhuma estrutura nem federal, estadual e municipal. “Aliás, a administração cultural neste País é muito recente. Só tem 23 anos. Em 1985 foi criado o Ministério da Cultura. Em Aracaju, ainda este ano, foi criada a Fundação Cultural do Estado de Sergipe que teve Fernando Lins como seu primeiro presidente”, complementa.

Lindolfo diz que hoje em Aracaju, além do grupo Imbuaça que oferece oficina de teatro, o grupo liderado por Lindemberg, Stultifera Navis, também faz oficina. “Muita gente participa dessas oficinas. Hoje, tem grupos novos que surgiram de oficinas a exemplo do Grupo Boca de Cena, fruto de um curso que o Imbuaça realizou na Rua Muribeca”, revela.

Amaral acrescenta que hoje existem na faixa de 23 grupos teatrais atuando em Sergipe, uma significativa fase no nosso teatro, que em tempo algum despertou tamanho interesse pelo teatro sergipano. “Acredito que várias pessoas são responsáveis por essa conquista, a exemplo de Luís Carlos D’ Santi que está em Estância e lá desenvolveu um núcleo de trabalho que passa pelo Imbuaça. Em Lagarto, Angélica, Assuele, Ivilmar, falecido no ano passado em acidente automobilístico. Em Santo Amaro das Brotas, Tarcio que criou o Grupo Pernas de Pau. Em Maruim tem o grupo de Dio Costa - o Bombassa. Ou seja, pessoas que participaram de grupos de teatro em Aracaju, voltaram para o interior e montaram seus grupos. Essa quantidade de grupos, a gente nunca teve no interior”, diz com entusiasmo.

Sungundo Lindolfo Amaral atualmente, não se têm Lei Estadual de Incentivo à Cultura e Lei Municipal de Incentivo à Cultura. “Aliás, a lei municipal existe, mas não funciona desde 1999. Quando o PT assumiu a prefeitura de Aracaju, não colocou em prática essa lei. Ou seja: são 13 anos sem a Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Política pública não se faz só com eventos. Política pública se faz com ações cotidianas. Com cursos, oficinas, estudos, um trabalho de projeção, intercâmbio do que é produzido, apresentação e também de eventos”, pontua.

O motivo do nome

“Imbuaça é uma homenagem que a gente faz a Mané Embuaça, que morava na Rua Santa Luzia, esquina com Campos. Ele era um embolador. Tirava versos com o pandeiro. Mas ele foi assassinado em fevereiro de 1978 na Atalaia. Então o grupo resolveu homenageá-lo”, explica.

Componentes

Lindolfo destaca Antônio Amaral e José Amaral, Francisco Carlos que trabalha na comunicação da Petrobras, Virgínia Lúcia que continua trabalhando com teatro. Cícero Alberto que continua no teatro com o seu grupo Imagem, Pierre Feitosa, um grande nome. Maurelina, pesquisadora da cultura popular, Maria das Dores já aposentada.

“Eu entrei no Imbuaça em janeiro de 1978, seis meses depois que o grupo foi fundado. Depois veio Valdice que faleceu. Mariano que faleceu em acidente de automóvel, Isabel que está no Imbuaça há 32 anos e daí outras pessoas foram entrando, como Fernandes, Paulo Roberto, o finado Douglas”, diz o fundador do Imbuaça.

Para Lindolfo Amaral, os dois primeiros anos do grupo foram de dificuldade diante das discussões e dos debates políticos entre os componentes do grupo. “A gente fazia parte do movimento estudantil e trazia a discussão para dentro do grupo. Assim o grupo terminou conhecendo um outro grupo de rua, o Teatro Livre da Bahia, coordenado pelo João Augusto e Benvindo Siqueira, que deram aulas em Aracaju de teatro de rua, em um curso promovido pela  Sociedade de Cultura Artística de Sergipe. Daí Antônio Amaral participou dessa oficina e levou a ideia para o Imbuaça. Foi a partir daí que começou, em 1978, oficialmente o teatro de rua Imbuaça com a literatura de cordel”, detalha.

Apresentações

A primeira apresentação do Imbuaça aconteceu na Praça Nossa Senhora de Lourdes no Bairro Siqueira Campos em um dia de domingo, após a missa.

“Saímos do mercado na Rua Carlos Correia seguindo até a praça. Quem tocava a zabumba era o José Amaral, Antonio Amaral tocava triângulo, a gente cantando e ainda tinha o estandarte que desde o início já tinha aquele pandeiro. A ideia do estandarte partiu de Francisco Carlos e vem da idade medieval – das cruzadas”, relembra enfático.

As dificuldades

Lindolfo pontua que a maior dificuldade atualmente é o de manutenção e financeiro. No início cada componente tirava do seu salário um percentual para uma caixinha. Além da caixinha, existia horário de chegada e quem chegasse após as 14h, não participava dos trabalhos do grupo.

“Um belo dia eu mesmo cheguei de moto junto com o Mariano com atraso de uma hora, por causa do trânsito. A porta já estava fechada e não entramos. Por causa da disciplina, o Imbuaça era tido como um grupo militar. Essa exigência levamos até para o espetáculo. Sempre o espetáculo é iniciado no horário marcado”, completa.

Sede

Por muitos anos o Imbuaça fez uso da sede do DCE da UFS e assim funcionou na Ruas Campos, Santa Luzia, Itabaiana, Praça Camerino. O DCE alugava a casa e o grupo utilizava um quarto.

Amaral afirma que por um tempo o Imbuaça ficava no porão do Cultart. Em seguida alugou uma casa na Avenida Hermes Fontes, depois uma outra casa na Rua São João e, por fim, ocupou a Escola Municipal Abdias Bezerra, na Rua Muribeca, que na época estava abandonada. Essa ocupação aconteceu em julho de 1991 e até hoje o grupo de teatro lá permanece. 
Houve uma invasão na escola e o Imbuaça enviou ao então prefeito de Aracaju, Wellington Paixão, uma solicitação para que fosse encaminhado um pedido de contrato de comodata para a Câmara Municipal. O prefeito encaminhou e foi aprovado por unanimidade pelos vereadores, por 20 anos. “Inclusive, já solicitamos ao prefeito João Alves a prorrogação”.

De acordo com Amaral, o espaço está todo reformado com recursos do Imbuaça. “Acreditamos que o prefeito dará continuidade. O nosso espaço tornou-se uma referência não só para Aracaju, mas para todo o Brasil. Basta dizer que neste final de semana, 17 e 19 de agosto, vamos receber uma equipe de pesquisadores de São Paulo que irá fazer um documentário sobre o Imbuaça, chamado ‘Teatro e sua circunstância, onde o Imbuaça aparece’. Em uma de suas últimas entrevistas, Mariano falou que ninguém vai escrever a história do teatro brasileiro sem dedicar uma página ao grupo Imbuaça”, descreve.

O Grupo Imbuaça já apresentou 26 espetáculos e sua maior dificuldade é a financeira. “Não podemos negar que nos últimos anos os editais do Ministério da Cultura via Funart têm propiciado a continuidade dos trabalhos do Imbuaça. “No Projeto Comunitário já passamos por vários patrocinadores. Banespa durante um ano, Criança Esperança por um ano, Ministério da Cultura no Ponto de Cultura durante dois anos e o Banese já ajudou por um determinado período. Hoje, infelizmente, não temos patrocinadores”, finaliza Lindolfo Amaral.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

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