Publicado originalmente no site F5News, em 14/03/2018
Aracaju: do xadrez de Pirro ao crescimento desordenado
Por
Fernanda Araujo
A fundação da cidade de Aracaju ocorreu ao contrário do
convencional para a época. A nova capital foi planejada especialmente para ser
a sede do Governo do Estado, passando à frente de municípios já estruturados
como a atual Barra dos Coqueiros e Laranjeiras.Com a mudança da capital para o
povoado Santo Antônio do Aracaju, depois denominado ‘Cidade de Aracaju’,
aprovada pelos barões das províncias, em assembleia provinciana, em 1855 um
engenheiro militar seria, então, o responsável pela obra urbanística em um
local onde, segundo historiadores, faltava saneamento, iluminação, higiene e
calçamento, entre outros serviços essenciais.
O “quadro ou quadrado de Pirro” como são conhecidas as ruas
tracejadas como um tabuleiro de xadrez, foi considerado um projeto engenhoso
para a época, de acordo com os modelos mais modernos das cidades da Europa no
século XIX.
Segundo o professor e historiador Adailton Andrade, a ideia
do tabuleiro objetivou que todas as ruas tivessem uma direção ao mar – ao porto
que seria construído. Na ótica do professor de história Fagner Araujo, o xadrez
como base remete à difusão do racionalismo na administração pública. Seu
desenho tinha um quadrado de 32 quadras, cada uma com ruas de 110 metros.
Sebastião José Basílio Pirro foi contratado por Inácio
Barbosa, governador na época (1853-1855), para elaborar a primeira planta da
nova cidade, formando quarteirões simétricos que causaram transformações no
vilarejo original. Ele era um tenente coronel que, segundo relatos históricos,
já se encontrava em Sergipe desde 1848, quando Inácio Barbosa o contratou.
De acordo com o historiador Adailton Andrade, Pirro era
capitão graduado pela Escola Militar da Corte e obtinha destaque na época, em
que o Exército era o responsável pelo corpo de engenharia. “Quando o engenheiro
elaborou o projeto, não sabia que alguns anos mais tarde seria homenageado por
outro engenheiro sergipano, Renato Conde Garcia, dando nome a um livro seu
intitulado ‘O Quadrado de Pirro’”, afirma.
Após a realização da obra, em 1 de maio de 1867 Pirro foi
eleito o 1º vice-presidente da província do Amazonas e foi quem abriu os
trabalhos na Assembleia Legislativa Provincial do Amazonas no dia 15 de maio
daquele ano. Porém, não demorou muito até que ele decidisse deixar a
administração, que durou menos de cinco meses. A administração foi passada no
dia 9 de setembro de 1867 para o 5º vice-presidente João Inácio Rodrigues do
Carmo, tendo assumido a presidência interinamente em apenas dezessete dias.
Atualmente, seu nome está gravado em uma das ruas do bairro
17 de Março, na zona Sul da capital sergipana.
O Quadro de Pirro e o impacto ambiental
No desenho do plano do tabuleiro havia um quadrado de 32
quadras, cada uma com ruas de 110 metros. Segundo historiadores, começou na
Praça do Povo, atual Praça Fausto Cardoso, onde passou a ser o centro
administrativo da Capital, com a construção do Palácio Olímpio Campos para
sediar o Governo Provincial e os outros órgãos da administração, alavancando o
crescimento no sentido norte/sul. Se desenvolveu a partir da Alfândega (atual
Centro Cultural de Aracaju) sentido sul, em direção à Avenida Barão de Maruim,
margeando o rio. E seguiu onde hoje está localizado o Edifício Estado de
Sergipe (conhecido como Maria Feliciana) e leste/oeste a partir da Rua da
Frente com seus limites no Morro do Bonfim, atual Rodoviária Velha. Pesquisas
apontam que, em 1856, foram colocadas em prática as primeiras diretrizes
urbanísticas da época, determinando que as ruas tivessem largura de 100 palmos.
“O projeto da nova cidade, imaginada por Pirro, consistia de não mais que
algumas quadras, distribuídas, não no outeiro, no arraial de Santo Antônio,
como antes se estabeleceu, mas na restinga, por necessidade de se acalmarem os
ânimos, justificando-se a melhor localização para um porto, servindo ao
baronato inconformado”, afirma o historiador Adailton Andrade.
Neste quadrado as primeiras residências de alvenaria foram
estabelecidas por famílias poderosas, da elite canavieira e principalmente do
Vale do Cotinguiba, que segundo historiadores, seriam utilizadas para
acompanhar a venda do açúcar no então Porto de Aracaju.
Para o pesquisador, a engenhosidade da obra trouxe à época a
luz da modernidade, porém, hoje se transformou num grande problema de
mobilidade. “A cada 100 metros um cruzamento, um sinal, ruas estreitas”, diz.
Texto e fotos reproduzidos do site: f5news.com.br
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