quarta-feira, 21 de março de 2018

Explosão que abalou Aracaju completa 38 anos


Publicado originalmente no site do Cinform, em 20 de março de 2018

Explosão que abalou Aracaju completa 38 anos

Por Thayná Ferreira 

Relatos de uma tragédia que matou doze pessoas e atingiu centenas de pessoas

Aracaju/SE.13 de abril de 1980. Domingo à noite. Um depósito clandestino de fogos de artifício e dinamite. Uma explosão. Doze vidas ceifadas. Centenas de pessoas feridas. Famílias sem teto. Sonhos encerrados por uma tragédia. Talvez você não fosse nascido nessa época, assim como eu, ou nunca tenha ouvido falar dessa tragédia. Pois bem. Tudo isso aconteceu na Avenida Cotinguiba, atual Edézio Vieira de Melo, bairro Suíssa, a tão famosa Avenida da Explosão. Ela carrega esse nome justamente pelo fato deste depósito instalado nos fundos da casa do subtenente José Pedro, do Corpo de Bombeiros, explodir e destruir a vida de centenas de pessoas.

Relatos 

Quase todos que dormiam naquela noite tiveram o sono interrompido devido ao forte estrondo que atingiu vários locais da cidade. A dona de casa Maria dos Santos, na época tinha 8 anos de idade. Ela lembra até hoje do barulho, que foi tão grande a ponto de ouvir da sua casa, na época localizada no bairro José Conrado de Araújo. Foi assustador. “Faz muito tempo, eu era criança, mas mesmo assim eu consigo lembrar do que aconteceu. Minha mãe acordou todo mundo, nervosa, mandando a gente correr. Acho que ela chegou a pensar que era alguma catástrofe natural. Lembro que chorávamos sem parar, todos apreensivos sem saber o que realmente tinha acontecido”, afirma.

A aposentada Hodenice Santiago vivenciou de perto a tragédia. Ele conta que morava a 16 casas do depósito que explodiu. Na época tinha 19 anos, na sua casa moravam 20 pessoas. O muro caiu com a explosão e, por sorte, não machucou nenhum dos seus familiares. Como seu pai era pedreiro, fez alguns ajustes na sua residência e não precisou ser transferida para outro local. Hodenice relata que algumas pessoas que perderam seus lares foram transferidas para o Conjunto Bugio, com muitas casas desocupadas, e serviu de abrigo para as vítimas. Ela aproveita para destacar que o poder público dava para as famílias materiais de construção para reerguer suas casas, mas os bens materiais não foram ressarcidos. Na época o governador de Sergipe era Augusto Franco e o prefeito Heráclito Rollemberg.

“Lembro que na época os governantes alegaram que não era obrigação deles ressarcir os bens materiais das vítimas. Teve gente que morreu ainda no outro dia, quando fazia a mudança de algumas coisas para o Bugio, caíram do caminhão e faleceram na hora. Até têm pessoas que não vêm mais aqui no bairro, porque perderam parentes. Eu perdi muitos vizinhos e amigos, foi muito triste. Tenho trauma de explosão”, relembra.

História 

No intuito de buscar mais detalhes sobre a tragédia, procurei um historiador para me auxiliar na reportagem. Adailton Andrade foi a sugestão que recebi de um colega. Em conversa com o historiador, ele conta que é amante da história de Sergipe e já escreveu sobre 23 bairros de Aracaju. Ao falar sobre a Avenida da Explosão, deu para sentir o entusiasmo no assunto. No ano de 2010 ele escreveu em seu blog detalhes de sua pesquisa sobre a explosão de 1980. Lá informa que os efeitos da explosão atingiram um raio de quase 10 quilômetros, o equivalente a meia maratona, destruindo 96 casas somente nas proximidades do depósito de explosivos.

Adailton informa que 200 pessoas ficaram feridas e 12 morreram, entre elas um filho e a nora do proprietário do depósito. Ao todo 150 famílias ficaram desabrigadas, de acordo com a pesquisa. O Colégio Municipal Freitas Brandão, que fica próximo ao local da tragédia, teve o telhado de amianto inteiramente destruído. Parte dos desabrigados ficou alojada na escola e posteriormente remanejados pela Cohab, para casas no Conjunto Bugio, como informado por Hodenice. O historiador afirma que o Governo do Estado e a Prefeitura ajudaram na reconstrução das casas.

Ainda de acordo com sua pesquisa, o Hospital Cirurgia e a Clínica Santa Helena tiveram suas vidraças destruídas com a explosão, bem como algumas residências nos bairros São José, Siqueira Campos e até mesmo no Santo Antônio. A residência do subtenente José Pedro tinha dois andares e ficou totalmente destruída, assim como os dois veículos que se encontravam na garagem: uma kombi e um opala. José Pedro e sua esposa, que se encontravam no local no momento da explosão, foram arremessados para o meio da avenida bastante feridos, mas não chegaram a falecer. Adailton informa ainda que na noite da explosão, homens do Exército, Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros tentavam resgatar os feridos debaixo dos escombros, contando com a ajuda de populares que conduziam os feridos até as ambulâncias. O subtenente Pedro e sua esposa foram morar no Conjunto Médici depois do ocorrido. Pedro morreu em 2010, não há informações sobre o paradeiro de sua esposa.

Causas da explosão 

Segundo informações no blog de Adailton, o Instituto Nacional de Criminalística do Departamento de Policia Federal, através dos peritos Joao Dantas de Carvalho e Jethro Oliveira, relatou que na análise foi encontrada a presença de nitrato de potássio (salitre), cloreto de potássio e enxofre, componentes utilizados na manufatura de pólvora para fogos. O explosivo existente no local foi identificado como pólvora. No relatório dos peritos informa que, embora a pólvora não esteja agrupada nos explosivos denominados de “alta força” ou “alto explosivo”, ela possui uma deflagração considerada de boa intensidade, atingido uma velocidade de decomposição (combustão), de cerca de 500 a 1000 m/s. Dependendo das condições do local e da maneira de estocagem, sua “explosão” pode causar danos seríssimos. Os peritos executaram seus trabalhos quatro dias após a explosão, quando a área já estava limpa. Os escombros e aterros trouxe muita dificuldade na realização dos trabalhos técnico periciais. Ainda segundo detalhes da pesquisa, os peritos diziam que a escavação foi feita com a ajuda do irmão do proprietário do deposito clandestino de fogos. Eles esclareceram ainda que a pólvora preparada em casa geralmente é mais potente que a pólvora negra comum, pois sofre alteração na sua fórmula com a adição de outros componentes.

Dado complementar 

Os peritos efetuaram cuidadosamente raspagem no interior de um pilão de madeira do tipo utilizado normalmente para pilar cereais e que foram encontrados no local, tendo os exames de nitrato de potássio, substância utilizada para a preparação de pólvoras. No local foram encontradas serragens de madeiras e material que é usado comumente na fabricação de fogos de artifícios. Os cones de papelão de vários tamanhos encontrados e recolhidos sem vestígios de uso, são especialmente usados na confecção de fogos de artifícios conhecido como vulcão. Os restos de bastões ou canudos de papel resistente reúnem elementos expostos que configuraram tecnicamente que no local existia a prática de pirotecnia.

Texto e imagem reproduzidos do site: cinform.com.br

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